sábado, 31 de janeiro de 2009

Carlos Moura - 20 anos de fotografia


Em Janeiro, a Casa Municipal da Cultura apresentou a exposição "20Ver" - 20 anos de fotografia de Carlos Moura, uma selecção de imagens fotográficas do autor, que comemora em 2009 não só os 20 anos de profissão mas também o 40º aniversário, a 6 de Julho.


Trata-se de uma pequena exposição retrospectiva, que evidencia o seu gosto pela cor e pelas texturas, muito bem interligadas nas fotografias do "Sino de Santa Rita", da vinha ("Curva"), das árvores com as cores do Outono ("Fim-de-tarde") ou das mãos da queijeira (cartaz de uma Feira do Queijo, salvo erro em 2003). No entanto, a exposição pareceu-me sumária, muito breve e sem apresentar dados técnicos sobre as fotografias (título, local, ano, dados técnicos), importantes para definir uma cronologia dos 20 anos e distinguir os momentos mais importantes desse percurso - que se vislumbram na biografia distribuída. Assim, passa ao lado do visitante a presumível importância dessas imagens no contexto dos 20 anos, mas também a noção exacta do nível artístico atingido por Carlos Moura - que pode ser mais e melhor observado no seu blog: www.carlosmoura-cmoura.blogspot.com
Confirma-se, aí, a existência de um "estilo" pessoal de combinação da cor e da textura, mais evidente na fotografia não-documental, onde o artista se liberta, mas cuja gramática consegue aplicar em outros tipos de trabalho fotográfico - o que constitui sem dúvida uma garantia acrescida de qualidade.

"Carlos Moura (C. Moura) nasceu em Loriga em 1969. Reside em Seia. Em Janeiro de 1989 “abraça a fotografia”, iniciando um percurso que o leva a obter vários destaques dignos de registo no seu currículo artístico. De 1990 a 1998 é fotógrafo profissional. Trabalhou como fotojornalista em Lisboa, em 1994 e 1995. Em 2006, iniciou a prática da fotografia digital, ano em que efectua a 301ª reportagem de casamento.

No seu currículo regista a participação na Exposição de Fotografia a Preto e Branco (Loriga e Lisboa, 1995); Curso de Foto Estúdio IADE (Lisboa, 1995); 1º Lugar no Concurso Nacional de Fotografia de Seia (1995); Fotografismo Publicações Europa – América (1995/1996); Colaborador Fotográfico no Centro Nacional de Cultura (1996); Exposição de Fotografia (Seia, 1997 e 2004); Exposição de Fotografia (Celorico da Beira, 2004) e ARTIS IV, V, VI e VII (Seia, 2005, 2006, 2007 e 2008).


É detentor de um arquivo fotográfico de cerca de 50 mil fotogramas e é autor de 3 colecções de postais. As suas fotos têm sido publicadas por diversos jornais e revistas, com destaque para o jornal “Expresso” , revistas “Visão” e “Foto” e nos jornais locais – “Porta da Estrela”, “Noticias da Serra”, “Garganta de Loriga” “A Neve”, “Folha do Centro”, Jornal do Deficiente, e Midia Shoping.Carlos Moura anda há 20 anos de olho na objectiva, apesar da sua deficiência visual, daí esta exposição – “20Ver”."

Fontes:
Informação da Casa Municipal da Cultura / folheto de apresentação do autor e da exposição.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Porta da Estrela - a "cena" do título

Há alguns dias, em conversa com amigos a propósito da recente demissão do Director do jornal Porta da Estrela, Albano Figueiredo, surgiu novamente a confusão sobre os títulos do PE no período de tempo em que eu desempenhei efectivamente (Outubro de 1994-Novembro de 1996) o cargo de Director. Em tempo, prestei alguns esclarecimentos sobre aquilo a que um desses amigos chamou “a cena do título” e julguei que esse episódio estivesse compreendido e assimilado, mas parece que ainda não.

Em Setembro de 1994, o então Director do jornal Porta da Estrela, António Silva Brito, teve de abandonar o cargo por motivos pessoais, após seis anos de esforçado e produtivo desempenho – descrito em jeito de balanço, pelo próprio, na PE Revista nº 2 (suplemento do PE nº 418, 20/01/1996), pág. 12, e PE nº 648, 20/12/2002, pág. 12). Durante esses anos, o jornal Porta da Estrela evoluiu substancialmente, parecendo-me muito justa a constatação de “um progresso continuado” em todos os domínios, sobretudo atendendo aos meios então disponíveis. A paginação electrónica do PE começou a fazer-se timidamente no final de 1995, já no meu tempo. Não havia meios para tratamento e edição da imagem e tudo o que fosse publicar desenho ou pintura levantava mil e um problemas pois até o tipo de papel e a qualidade da tinta utilizada pela tipografia limitava a qualidade da reprodução. Esta, fez-se a preto e branco (com títulos a uma cor) até Junho de 1996 (PE nº 432).



“Porta da Estrela”, 1988

“Porta da Estrela”, 1994

Quando fui convidado a substituir Silva Brito, imaginei uma renovação do jornal a partir do esquema gráfico, com um novo título e outra arrumação das matérias. O antigo Director criara uma importante ligação às freguesias do concelho, fomentando a colaboração de correspondentes, chegavam regularmente à redacção matérias das mais diversas áreas e a publicidade tinha já um volume respeitável, mas faltava arrumar tudo isso perseguindo o mesmo objectivo traçado a 15 de Dezembro de 1988 por Silva Brito: “melhorar até onde for possível o conteúdo e o aspecto gráfico do PE de modo que cada leitor possa abordá-lo com mais agrado e reconhecê-lo mais familiar em cada página”.

O novo título, criado por mim, destacava as iniciais "P E" criando um logótipo com forma de chave, relacionável com o conceito de “Porta da Estrela”. O jornal PE passaria a ser apresentado como “chave” de entrada na Estrela, permitindo conhecer a realidade do concelho e constituir um espaço efectivamente partilhado pelos leitores. A estrela de cinco pontas que se destacava no título, remetia para o símbolo maior da região, utilizado por diversas instituições e empresas de toda a região da Serra da Estrela. Apareceu pela primeira vez no PE nº 374, de 10/10/1994.

“Porta da Estrela”, 1994

O objectivo da cor no título (vermelho, verde ou azul) era destacá-lo na primeira página a preto e branco, variando de número para número de modo a impedir uma fixação da função simbólica da cor.

O logótipo PE funcionou bem na revista, a primeira a ser publicada como suplemento de um jornal regional no interior (1 de Dezembro de 1994). O segundo número, previsto para Dezembro de 1995, atrasou-se um pouco e saiu apenas em Janeiro de 1996.
“PE Revista” Nº1 (Dezembro de 1994)


"PE Revista Nº2 (Janeiro de 1996)
Com a mudança para a cor, em Junho de 1996, colocando-se a questão das cores do título, foi decidido manter a proposta original, com fundo azul – evocando os espaços abertos, a cor dos volumes serranos na paisagem, a profundidade cerúlea – e o vermelho intenso, vibrante. Perdeu-se, no entanto, a estrela do título, a pedido de quem de direito. Parece que, apesar de identificada com a serra que a leva no nome, incomodou algumas pessoas habituadas a descortinar politiquice em tudo, até nas estrelas, e substituí-a por um traço enigmático no mesmo local.

“Porta da Estrela”, 1996

Muito diferente foi a introdução abusiva do desenho da Torre a preto e branco no espaço do título, sem qualquer explicação. Acabei por abandonar o cargo no final de 1996, mas o meu nome continuou a sair como Director do jornal até final de 2002, devido a alegada dificuldade para encontrar sucessor, apesar das providências tomadas.

“Porta da Estrela” nº 645

A 20 de Novembro de 2002, caiu definitivamente o pano sobre a “cena” do título, não sem um derradeiro desvario “técnico”: ao mesmo tempo que anunciavam “nova Imagem e nova Direcção” para o número seguinte, a “renovada” equipa escangalhava totalmente a primeira página do nº 645 (20 de Novembro de 2002), o último jornal a sair com a indicação de Sérgio Reis como Director.

“Porta da Estrela” nº 646


No mesmo espírito da “nova Imagem e nova Direcção”, a revista “25 Anos Passados para 25 Futuros” foi distribuída com o PE nº 646, o primeiro número da nova direcção (Luís Vaz) e novo grafismo (Márcio Martins), sem qualquer referência às revistas PE suas antecessoras nem ao anterior Director. No meio de tanta celebração, nem uma palavra. Um ano depois (Novembro de 2003), Luís Vaz demitiu-se do cargo de Director do PE mas não por motivos pessoais. Dá que pensar.

Já agora, o PE nº 849, de 12 de Janeiro de 2009, não indica o nome do Director nem do Subdirector. Por lapso?

JAIME ISIDORO (1924-2009) - pintor, galerista, animador cultural

Jaime Isidoro morreu a 21 de Janeiro, no Porto. Desapareceu o pintor, o galerista, o coleccionador de arte e o animador cultural, uma das figuras de proa das artes portuenses e um dos criadores e organizadores da Bienal de Cerveira.



Como pintor, Jaime Isidoro distinguiu-se na aguarela e na pintura com espátula, técnicas que lhe permitiram abordar os seus temas de eleição – o casario da sua cidade natal e as brumas do rio Douro, captando impressivamente o efeito do nevoeiro do rio nas formas e nas cores citadinas.


Porto, 2003, Óleo s/tela, 170X210 cm


Participou activamente na vanguarda do Porto desde os anos 50, quando o Porto era pouco mais que um deserto cultural e a ditadura estava particularmente vigilante, criando a Galeria Alvarez (1954) e a Academia Livre de Desenho e Pintura Domingos Alvarez. O seu desempenho como galerista, promovendo a difusão das mais modernas correntes pictóricas no meio artístico portuense e disponibilizando um local de exposição a novos artistas, contribuiu para a afirmação da denominada “Escola do Porto”, centrada na Escola Superior de Belas Artes e em Júlio Resende. Datam desses anos os seus principais prémios: Prémio Rocha Cabral, da Academia Nacional de Belas-Artes (1948); Prémio do S.N.I. (Serviço Nacional de Informação) no I Salão de Pintura de Matosinhos (1951); Prémio António Carneiro (1955); Prémio Henrique Pousão (1956); 2ª medalha em aguarela na Sociedade Nacional de Belas-Artes (1957).



Pintor com um projecto, desenhado através do tempo, participou (com José Rodrigues e outros) na criação da Bienal Internacional de Vila Nova de Cerveira (1978), que se impôs graças ao seu dinamismo e com particular sacrifício já que, enquanto membro do júri, ficava impedido de participar nas bienais. Reconhecendo o seu trabalho, a Câmara de Cerveira atribuiu-lhe a Medalha de Mérito em 1982, distinção que lhe foi igualmente atribuída pela Câmara Municipal do Porto (1988) e Vila Nova de Gaia (2002).


Foi sepultado a 22 de Janeiro no cemitério de Agramonte, entre cortinas de bruma.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

HELENA ABREU

Há dias, a propósito do centenário do nascimento de Tavares Correia, afirmei logo no início que “Tavares Correia e Helena Abreu são, sem qualquer dúvida, os mais importantes artistas senenses de sempre.” Natural de Santa Eulália, onde nasceu em 1924, Helena Abreu é de facto uma artista que engrandece o nome de Seia no exterior, sendo de longe a mais consagrada artista senense de sempre. O nome e alguma obra da artista são hoje conhecidos pelos senenses, sobretudo aqueles que melhor tratam os assuntos da sua terra.

Não era assim em 1993, quando o jornal Porta da Estrela (então dirigido por António Brito) publicou a 10 de Julho de 1993 um artigo de minha autoria intitulado - “Helena Abreu – uma artista de renome internacional natural de Santa Eulália”, que surpreendeu quase toda a gente. A artista tomou conhecimento do artigo e dirigiu-me uma carta muito amável, da qual transcrevo o seguinte:

“…estando eu há longos anos afastada da minha terra, não imaginava que nela fosse lembrada com palavras tão elogiosas e sentidas! Vivi em Santa Eulália e em S. Tiago até aos 11 anos; sobretudo de S. Tiago recordo com profunda saudade os cantinhos onde brinquei, a Escola onde meus pais foram professores e as amigas que tive, muitas já desaparecidas.”

Helena Abreu e Almeida Santos na sua exposição em Seia - 03/07/2001(JSM 16/07/01)
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Com vida familiar e profissional estabelecida no Porto desde 1935, os esparsos contactos com familiares (a artista é prima do Dr. Almeida Santos) e amigos de infância não foram suficientes para revelar localmente a artista que já era reconhecida além fronteiras. Não constava do exaustivo inventário de J. Quelhas Bigotte (“Escritores e Artistas Senenses”, Seia, 1986), muito menos da sua “Monografia da Cidade e Conselho de Seia” e nem aqueles que haviam estudado pelos seus livros, no Liceu, alguma vez sonharam que a desembaraçada autora de tão expressivas ilustrações e rigorosas composições geométricas era sua conterrânea, e muito menos sonhavam que seria uma das mais importantes artistas portuguesas, como ficou provado na exposição retrospectiva que realizou em 2004 na Câmara Municipal de Matosinhos. Também eu segui – no antigo Liceu de Santa Maria da Feira – os preceitos desses manuais, apreciando sobretudo as linhas fluidas e elegantes dos desenhos de Helena Abreu, que são aliás a base distintiva das suas obras. Folheando esses livros, verdadeiros manuais práticos de desenho e utilização da cor, percebe-se bem por que foram livros únicos durante 15 anos.



De resto, Helena Abreu colaborou como ilustradora na edição de outras obras. Logo em 1948, ano em que termina o Curso Especial de Pintura, é convidada pelo Mestre Joaquim Lopes a ilustrar o seu livro “Soares dos Reis”.


Capa de Helena Abreu - Livraria Civilização, 1961


Em 1999, o nome e currículo da artista foi naturalmente incluído no catálogo da I Exposição Colectiva de Artistas Senenses, que pretendia oferecer uma panorâmica exaustiva das artes em Seia, desde o artista mais antigo que se conhecia aos artistas senenses mais jovens. No ano seguinte, a pretexto de uma exposição colectiva do MAC em Seia (Dezembro de 2000), eu e o Mário Jorge Branquinho convidámos Helena Abreu a expor como representante dos artistas senenses no evento. As obras da artista destacaram-se naturalmente na exposição, pela qualidade do desenho e sentido da cor, impressionando os visitantes e os artistas de Coimbra, em particular o saudoso Pinho Dinis. Um dos senenses que se rendeu imediatamente à obra de Helena Abreu foi José Santos, então Presidente do Orfeão de Seia. Logo de seguida, o Orfeão de Seia editou uma serigrafia reproduzindo uma tela de Helena Abreu, colaboração repetida em 2007, com a edição de duas peças da Vista Alegre com desenhos da artista.


Serigrafia editada pelo Orfeão de Seia

Como ficou definitivamente provado na exposição retrospectiva de 2004, a obra de Helena Abreu possui características únicas e um lugar importante na História da Arte portuguesa do século XX – sendo citada sem favor na obra de referência do meio artístico nacional até 1990 (edição de actualização em 1991), o “Dicionário de Pintores e Escultores”, de Fernando Pamplona. De resto, a especificidade da sua obra tem sido sublinhada por diversos críticos e resultará da interacção de alguns princípios ordenadores, com destaque para as temáticas, que condicionam todo o trabalho. A preferência pela figura feminina e crianças, envoltas em serenidade, afectividade e alegria, deixa entrever uma concepção intimista de um mundo exterior agressivo e carregado de incertezas, mas transmite uma enorme ternura e redobrada esperança no próximo. “Esta tensão entre a objectividade e a interioridade, sempre perceptível nos seus trabalhos, manifesta-se principalmente na sua concepção de formas femininas” (Margarida Botelho, Diário de Lisboa, 06-04-1982).


Óleo de Helena Abreu


O elemento mais distintivo da sua obra, o desenho, está sempre visível e é estruturante, sem ser demasiado narrativo. Esquemático, com traços diluídos, o desenho define as formas, marcando a composição muito equilibrada, com fundos apenas sugeridos ou mesmo abstractos, jogando com as transparências e opacidades do claro-escuro para criar a ilusão da profundidade. Finalmente, a leveza e a luminosidade da cor percorre toda a obra. As cores frias predominam, reservando-se as cores quentes e os tons claros para as figuras principais.



Maria Helena Pais de Abreu nasceu em Santa Eulália, Seia, a 4 de Agosto de 1924. Reside no Porto desde 1935.

Licenciatura em Desenho – Escola Superior de Belas Artes do Porto e Universidade do Porto e Coimbra. Curso Especial de Pintura pela ESBAP. Curso de Pintura a Fresco dirigido pelo Mestre Dórdio Gomes.

Em 1952, inicia a sua actividade docente, que exerceu durante 36 anos. Publica entretanto o “Compêndio de Geometria Descritiva” (em parceria com o Dr. Ferrer Antunes), assim como o “Compêndio de Desenho” (em parceria com o Arq. Francisco Pessegueiro), que foi seleccionado como livro único durante quinze anos.

É mãe do arquitecto e pintor Abreu Pessegueiro.

Participou em mais de uma centena de exposições colectivas, de entre as quais: “Levantamento da Arte do Séc. XX”, Museu Soares dos Reis e Sociedade Nacional de Belas Artes (1975); “Salon des Artistes Français”, Grand-Palais, Paris (1977, 1980, 1985); “Salon d’Automne, Grand-Palais, Paris (1978); exposição em Charlotte (USA, 1981); XVIII Prix International d’Art Contemporain (Monte Carlo, Mónaco,1984); I, II, III, IV e V Bienal Internacional de Arte de V. N. Cerveira; I, II, III Bienal de Desenho, Cooperativa Árvore (Porto, 1983, 85, 87); Exposição da Cruz Vermelha, Expo’98; várias edições da Bienal dos Rotários de Vila Nova de Gaia; Estugarda (1991); várias exposições colectivas na Galeria de Arte do Casino Estoril.

Em 1968, realizou a sua primeira exposição individual, no Ateneu Comercial do Porto. Outras exposições individuais: Lourenço Marques (Maputo), 1972; Fundação Engº António de Almeida (1974, 78, 81, 83, 84, 86, 88); Vigo (Galiza) (1976); Museu de Aveiro (1986); Galeria Tempo, Lisboa (1987); Galeria de Arte do Casino Estoril (1992); Galeria Espaço d’Arte TLP, Porto (1993); Gonfilarte Galeria, Vila Praia de Âncora (1993); Biblioteca Municipal de Seia – CMS (1994); Paços do Concelho de Matosinhos (1995, 98, 2000); Sala de exposições do Posto de Turismo de Seia (2001- exposição integrada nas comemorações da elevação de Seia a cidade – 3 de Julho).

Em 2004, realizou uma importante exposição retrospectiva na Câmara Municipal de Matosinhos.
Em 2001, o Orfeão de Seia editou uma serigrafia a partir de uma obra da artista e, em 2007, duas peças em porcelana da Vista Alegre com desenhos de Helena Abreu, assinalando o 30º aniversário da colectividade.

Prémio Rodrigues Júnior em 1945 e 46. Menções Honrosas nos “Salon des Artistes Français”, Paris, 1978 e 1980; Prémio Almada Negreiros, 1994.

Membro da “Societé des Artistes Français” desde 1980.

Foi agraciada com as medalhas “Grau Prata” (1989) e Municipal de Mérito “Grau Ouro” pela Câmara Municipal do Porto.
Câmpanula de Mérito Cultural do Município de Seia, 03 de Julho de 2009.

Representada em Museus nacionais e em colecções oficiais e particulares, em Portugal e no estrangeiro, com destaque para: Fundação Engº António de Almeida, Porto; Museu de Arte Contemporânea, Lisboa; Museu Nacional de Aveiro; Ministério da Justiça; Câmara Municipal do Porto; Câmara Municipal de Matosinhos; Câmara Municipal de Maputo-Moçambique; Câmara Municipal de Seia; Palácio de São Bento (Assembleia da República), Lisboa.



Aguarela de Helena Abreu


Fontes: Helena Abreu, Bial, 1991 / “Dicionário de Pintores e Escultores”, de Fernando Pamplona / catálogos de exposições da artista / Jornal Porta da Estrela

domingo, 11 de janeiro de 2009

TODOS OS NOMES - OS OUTROS SÉRGIO REIS

É certo que os nomes interessam menos que as pessoas mas também é certo que passamos imenso tempo em busca de traços comuns, gostos ou interesses ou assuntos que nos associem uns aos outros, principalmente para não nos sentirmos sós ou isolados no meio da multidão.

A não ser que a associação onomástica seja ditada por mera comodidade de arrumação, como acontece nas enciclopédias, ela terá sempre consequências positivas. Mesmo que seja restrita, no caso dos nomes e apelidos raros, invulgares e condicionados pela genealogia, ou mais alargada, como acontece com os nomes vulgares e os apelidos comuns (os nossos Antónios e Josés Silvas, equivalentes ao John Smith britânico). Não me refiro evidentemente ao nome completo, que escapou inteiro ao arbítrio do nomeado, mas sim ao nome efectivamente utilizado pelas pessoas, geralmente um nome e um apelido, incluindo nomes artísticos e pseudónimos. Esses sim, foram escolhidos e até melhorados pelos próprios com vista a uma maior identificação – até ao exagero dos heterónimos, que se enquadram melhor nos distúrbios de personalidade, mesmo que forjados em contexto criativo, artístico ou literário.

A fixação doentia num nome é o fio condutor do romance de José Saramago, “Todos os Nomes” (1997). Ao contrário do Sr. José, protagonista dessa obra, não sou coleccionador de nomes nem estou disposto a correr todos os riscos para desembrulhar vidas alheias. Limitei-me a uma breve pesquisa no Google, completada com outras consultas mais convencionais, e terminei com seis Sérgios Reis, três dos quais ligados à criação e expressão artísticas.


Escultura de Sérgio Reis - eu - 1994

O Sérgio Reis mais famoso é nome artístico de Sérgio Bavine, cantor sertanejo muito popular no Brasil, mas interessei-me particularmente pelos dois Sérgios Reis portugueses, também naturais de Lisboa, com obras mais que interessantes nas áreas da Escultura/Medalhística e da Fotografia - ver olhares.aeiou.pt/o_outono_repousa_foto256335.html por exemplo. O Sérgio Reis Escultor tem uma curiosa ligação a Seia.


O fotógrafo Sérgio Reis

Outro Sérgio Reis é conhecido no Brasil pelos seus livros sobre os caminhos de Santiago e é uma figura da rádio e da TV de Porto Alegre. Ver mais dados sobre este Sérgio Reis em www.geocities.com/alkaest_2000/sergioreis.htm



Os dois restantes Sérgio Reis – o Director de Marketing de uma grande empresa brasileira e o Director Geral do Hotel Altis Belém – não me dizem tanto, por desenvolverem a sua actividade em áreas que não me interessam particularmente, mas registe-se que a sua nomeação para estes cargos ocorreu em 2008.


O Sérgio Reis Escultor

Nasceu na Lapa, Lisboa, a 1 de Julho de 1980 e reside em Vialonga. Curso de Escultura da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e formação específica na área da Medalhística e Artes Visuais para Monitores e Educadores de Expressão Plástica. Frequenta actualmente o Mestrado em Museologia e Museografia da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e tem exercido funções docentes de Educação Tecnológica e Educação Visual no ensino oficial.


O artista tem algumas ligações a Seia, em termos de experiência profissional, pois desempenhou funções de monitor numa colónia de férias em Seia na Quinta do Crestelo em 2006 e 2007.
É membro do Centro de Investigação de Medalha Contemporânea “Volte Face”, da Associação de Artistas Plásticos do Concelho de Vila Franca de Xira e membro fundador dos D’Forma 4.
Escultura de Sérgio Reis, 2008

Participou em diversas exposições colectivas em Portugal (Alhandra, Arruda dos Vinhos, Caxias, Horta – Faial, Lisboa, Moura, Parede, Seixal, Sobral de Monte Agraço, Vila Franca de Xira, Vila Verde), EUA (Filadélfia, Nova Iorque), Brasil (Rio de Janeiro), Finlândia, Áustria (Viena), Japão.
O artista tem desenvolvido um trabalho interessante no campo da escultura de espaços abertos, privilegiando a forma humana em posições dinâmicas ou de relacionamento.


Parque da Serafina, Monsanto, 2005

Tem obtido particular sucesso na área da Medalhística, com Menções Honrosas em diversos concursos nacionais e internacionais de Medalhas, com destaque para a Bienal Internacional de Medalha Contemporânea do Seixal (2003) e Bienal Internacional de Medalha Contemporânea Dorita Castel-Branco (2005 e 2007), assim como alguns prémios em concursos de troféus: Troféu FIKE (Festival Internacional de Curtas Metragens de Évora) em 2001; Troféu para o “Prémio Literário Fernando Namora” da Estoril Sol em 2004; troféu para o “Mundial de Pirotecnia de Lisboa 2006”.


O Sérgio Reis Cantor

Sérgio Bavine nasceu em São Paulo (Bairro de Santana*), a 23 de Junho de 1940.

Começou na Jovem Guarda, onde obteve sucesso com “Coração de papel” (1967) e gravou o seu primeiro disco de música sertaneja em 1972. O seu disco "O Melhor de Sérgio Reis", lançado em 1981, vendeu mais de 1 milhão de cópias.


O cantor sertanejo ficou conhecido em Portugal desde a sua participação na telenovela “O Rei do Gado” (Rede Globo, 1996/1997), onde desempenhou o papel de cantor num dueto sertanejo de ficção denominado "Pirilampo & Saracura" e assinou algumas músicas da trilha sonora. Na telenovela “Pantanal” (1990, Rede Manchete) fez o papel de Tibério.

Em 2003, gravou seu primeiro DVD, "Sérgio Reis e filhos - violas e violeiros". Grandes nomes da música popular brasileira gravaram duetos com Sérgio Reis, que possui um disco de homenagem a Roberto Carlos.

Mais dados na página oficial: http://www.sergioreis.com.br

O artista é autor da maior parte das suas canções. Uma delas, intitula-se “O Pincel e o Criador”:

O Pincel E O Criador (Sérgio Reis)

Se Desenhar O Céu Colorir O Mar
Navegar Num Barquinho De Papel
Seguindo O Brilho Da Imaginação
Que Sai Do Pincel
Vai Ver A Lua Dançar E O Sol Sorrir
A Terra Com O Sonho Se Encontrar
A Vida Acordar Para Aplaudir
O Amor Cantar
Cada Passo Que Se Dá
Pra Sempre Em Sua Historia As Marcas Vão Ficar
Faça O Bem E O Bem Terá
É Só Acreditar Ter Fé Pra Tudo Realizar
Deixe A Luz De Cada Ser
Mostrar O Solo Que Ainda Não Pisou
Faça O Que Quiser Fazer
Sem Esquecer Que O Amor A Sua Imagem O Criou
Sorrindo, Cantando
Um Pedacinho De Papel
Na Mão Um Lápis E Um Pincel
Pra Retocar A Emoção
Fazer Feliz Um Coração


Fontes: indicadas no texto; Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço; Parque Recreativo do Alto da Serafina.

domingo, 4 de janeiro de 2009

José Santos e a “pintura com luz”

"Luzes" - Exposição no Museu Grão Vasco, Viseu, de 14 de Fevereiro a 21 de Março 2009.
"Senhor e Deus" - Exposição no Posto de Turismo de Seia, de 01 a 15 de Abril 2009.
Referência: Fernando Aznar (São Paulo, Brasil) em croquideluz.blogspot.com. Ver conteúdo.

A “pintura com luz” (ver texto em baixo) é uma modalidade recente mas cada vez mais explorada da fotografia, caracterizada pela utilização “plástica” da cor para exprimir conteúdos estéticos e poéticos da realidade. O termo “plástico” é a chave do conceito, na medida em que acciona uma identificação com a pintura (cuja matéria primordial é a cor), o que se compreende perfeitamente contemplando os trabalhos de José Santos.

Foto de José Santos

As fotografias de José Santos, que me parece ser um excepcional representante da actual “light painting”, caracterizam-se pelo elevado nível de utilização da cor, muitas vezes apresentada como corpo dinâmico, sugerindo ritmos, movimento, realçando os valores da cor e a interacção entre cores em composições abstractas de grande dinamismo e equilíbrio cromático. “Abstractas” no sentido em que valem por si próprias ao dispensarem qualquer sentido ou carga narrativa, mas com o poder de inspirar emoções, invocar memórias, induzir viagens imaginárias, fomentar o sonho – provando uma vez mais que são inúmeras as possibilidades de apreensão e exploração estética do real.

Estes resultados surpreendentes, acima das melhores expectativas, são alcançados com o mínimo de material e nenhum outro artifício para além da criteriosa selecção do objecto luminoso a fotografar e manipulação exclusiva dos meios mecânicos ao seu dispor, valendo-se do seu sentido estético sensível e de uma técnica fotográfica de experiência feita, sempre aberta a novas experimentações. Aí sobressai o melhor do artista, o entusiasmo com que explora de modo instintivo e emocional realidades apenas possíveis em universos que estão fora do alcance da visão humana comum.
Não se trata de uma fotografia “arranjada”, “manipulada”, “fabricada” em laboratório ou com recurso a programas informáticos – a denominada “fotografia fabricada”, uma das vertentes da “Fotografia manipulada”, que surgiu em meados dos anos 70 do século XX nos Estados Unidos e na Europa. José Santos recusa a utilização de software de optimização da imagem a nível da cor e até a tentação de alterar o enquadramento, com a preocupação de manter intacta a imagem inicial. Esta é, aliás, uma das condições da “light painting”, havendo quem vigie e critique estes procedimentos – como a artista canadense de origem russa, Tatiana Slepukhin, conselheira da “Photographic Society of America” na área da “light painting”.

Como artista, Tatiana Slepukhin pratica manipulações luminosas selectivas dos elementos a fotografar, geralmente monumentos e paisagens, intensificando o poder emotivo da cor no objecto fotográfico. A uma outra escala, as fotografias de José Santos impressionam igualmente pelo sentido poético da cor mas os conteúdos plásticos abstractos remetem para contextos estéticos marcados por uma enorme liberdade expressiva. Observando as fotografias de José Santos encontramos com facilidade as ambiências estéticas e as linhas definidoras da obra de Mikhaïl Larionov (Rayonismo), Willem de Kooning e Mark Rothko (Expressionismo abstracto), Jackson Pollock (Action Painting), Georges Mathieu (Arte informal), Frank Stella e Sol LeWitt (Minimal art).
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foto José Santos

Para os mais exigentes, a contemplação dos seus trabalhos de “pintura com luz” reclamará continuamente os parâmetros de interpretação plástica e usufruto estético próprios da pintura, numa saudável correspondência entre artes e géneros artísticos, concedendo à sua fotografia novos sentidos e horizontes. Uma interacção nada acidental, pois José Santos mantém há muitos anos uma relação pessoalíssima com a pintura. Conhecendo-se o Homem – de espírito jovem, curioso e dinâmico – compreende-se que a sua entrada no mundo das artes, como autor, não poderia ter sido de outra forma.


José Rodrigues Lopes dos Santos nasceu em Vila Verde e estudou no Porto, na Escola Raul Dória. Viveu seis anos nos Estados Unidos da América, onde frequentou a Union College, a Rutger’s University e participou activamente em várias iniciativas no campo cultural e nos media.
Foi Presidente do Orfeão de Seia, promovendo e dinamizando diversas acções de índole cultural e associativa, notavelmente o Primeiro Congresso Nacional de Coros (donde veio a ser criada a Federação Portuguesa de Coros), a promoção do Orfeão a Instituição de Utilidade Pública, a co-organização (com Mário Jorge Branquinho / jornal “Notícias da Serra”) da 1ª Gala do Concelho de Seia, preparação e apresentação de várias exposições, edição de serigrafias de Helena Abreu e António Joaquim, entre outras.

Dedica-se à fotografia nos tempos livres. A sua primeiríssima exposição decorrerá entre 14 de Fevereiro e 21 de Março de 2009 no Museu Grão Vasco, Viseu.

Foi distinguido, em 2008, com a Campânula de Mérito Empresarial, pelo Município de Seia, pelo trabalho de “mais de 50 anos na fábrica de curtumes que seu pai fundou, (…) acompanhando a evolução tanto do mercado como das técnicas de preparação das peles, protagonizando algumas acções que são marcos decisivos para que a empresa ainda hoje possa continuar a laborar.”

Fonte: “Mérito Municipal – Município de Seia – 03 JULHO 2008, edição CMS.


Desenhar e pintar com a luz

No período entre as duas grandes guerras do séc. XX, alguma fotografia já beneficiava de estatuto artístico e integrava as vanguardas artísticas internacionais, após a bem sucedida “batalha” dos “picturalistas”. No final do século XIX, os “picturalistas” justificavam a sua fotografia subjectiva, emocional, com as limitações da fotografia dita objectiva na apreensão do momento estético do real e exigiram a promoção da sua fotografia à categoria de Arte.

Robert Demachy, 1904

Artistas polivalentes como Man Ray, Robert Tatlin, Hans Bellmer, César Domela ou Alexandre Rodchenko integraram as suas experiências fotográficas na própria obra, praticando uma fotografia com preocupações artísticas e processos inovadores (fotomontagens, polarizações) que ficou conhecida por fotografia “plástica”.

Picasso desenhando com uma lanterna, 1924

Pablo Picasso realizou algumas experiências com luz, movido pela sua famosa curiosidade por tudo o que lhe parecia novo e diferente, a ponto de ser considerado um dos artistas mais polivalentes do séc. XX. Numa série de fotografias datadas de 1924, Picasso aparece a desenhar com uma lanterna. Utilizando recursos exclusivamente mecânicos (velocidade do obturador/tempo de exposição, abertura do diafragma), o fotógrafo de Picasso registou o movimento da lâmpada no escuro apreendendo e capturando todo o sentido do desenho do gesto, o percurso do ponto de luz, e finalmente o autor quando o flash dispara. Picasso chamou a este exercício “light graffitti” (rabisco de luz), sublinhando o desenho fotografado, designação que evoluiu para “Luminografia”, expressão que retoma a importância do processo fotográfico (foto+grafia = escrever com luz) na fixação do desenho de luz, e para “light paiting” (pintura com luz).

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Günter Grass: o Artista Plástico na Guarda

Decorre até 4 de Janeiro de 2009, na Galeria de Arte do Teatro Municipal da Guarda, uma exposição de desenhos, aguarelas, gravuras e esculturas de Günter Grass, Prémio Nobel de Literatura em 1999.

Günter Grass nasceu em Danzig, actual Gdansk, na Polónia, a 16 de Outubro de 1927. Autor de obras marcantes na área do romance e do teatro, caracterizadas pela sua força lírica. A sua obra teatral começou por enquadrar-se na corrente designada por teatro do absurdo. No romance, alcançou projecção internacional com O Tambor, adaptado ao cinema em 1979 por Volker Schlondörff. Posteriormente, optou por uma produção literária de carácter polémico e de compromisso político.


Em 2006, por ocasião do lançamento do seu livro "Descascando a Cebola - Autobiografia 1939-1959" (editado em Portugal em 2007, Casa das Letras) esteve no centro de uma intensa polémica após confessar numa entrevista ao diário alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung" que pertencera à Waffen-SS, as tropas especiais do III Reich, no final da II Guerra Mundial. Então um jovem idealista levado pela onda nazi, tal como a maioria dos alemães dessa época, Grass acompanhou a mudança das mentalidades imposta pelo resultado do conflito e pelo esforço de reconstrução da Alemanha, partida em duas pelo vergonhoso Muro de Berlim. Em 1955, iniciou a sua actividade literária juntando-se ao Grupo 47.

José Saramago, o nosso Nobel da Literatura (enquanto Lobo Antunes vai aguardando a vez e coleccionando distinções literárias como consolação) saiu em defesa de Grass, contribuindo para uma maior compreensão da atitude, em minha opinião muito digna, do Nobel alemão. Saramago lembrou que, na altura, Grass tinha apenas 17 anos, questionando de seguida "E o resto da vida não conta? Que juiz pode dizer que uma confissão vem demasiado tarde? A verdade é que o admitiu, fez a sua confissão" (Jornal de Notícias, 21 de Agosto de 2006).

A obra plástica de Günter Grass é relativamente importante, sobretudo no que respeita ao desenho, pelo que não deve perder-se a oportunidade proporcionada por esta exposição.

O Tavares Correia de Garanhuns

Na sequência do trabalho que venho realizando sobre Tavares Correia, no âmbito das Artes em Seia, fui há dias parar a Garanhuns, cidade brasileira do Estado de Pernambuco e terra natal do actual Presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva.
O artista senense Tavares Correia nunca passou por Garanhuns, tendo conhecido apenas o Rio de Janeiro, mas um seu homónimo dá nome a uma praça, um hotel e várias pequenas empresas dessa cidade. Meti-me a caminho de Garanhuns na Enciclopédia Geográfica e depois no Google, com a atenção bem desperta pois é frequente nestas deambulações ocasionais topar-se com particularidades dignas de nota e de muitos sublinhados. Foi o caso.


O Tavares Correia pernambucano foi afinal o “descobridor” de Garanhuns, uma cidade a 228 km de Recife, onde residem cerca de 118 mil almas. A origem de Garanhuns remonta às guerrilhas dos escravos Quilombolas (início do século XVIII) e deve o seu nome a um pássaro preto da região, “Guiránhum”. Ganhou o estatuto de cidade em 1879.

Porém, a maior particularidade de Garanhuns é a sua localização, no alto da Serra da Borborema, a 896 metros de altitude, na região denominada Agreste. Ou seja, em pleno Estado de Pernambuco, conhecido pelas praias magníficas e calor intenso, encontra-se uma cidade cujas temperaturas médias variam entre os 9 graus no Inverno (5 nos pontos mais altos do município) e os 25 graus no Verão (18 nos locais mais elevados) e fica sobre uma reserva hidromineral. Por esta razão é considerada “a suíça brasileira”, disputando o primeiro lugar na “categoria” com outra cidade muito fria para o padrão brasileiro, Campos do Jordão, no Estado de São Paulo.

Não admira, portanto, que Garanhuns viva do turismo, vendendo as benesses refrescantes do clima e a sua famosa água mineral, mas também o vinho – sendo Julho o melhor mês para o vinho e o fondue. No Inverno, uma verdadeira multidão de gorro, cachecol e luvas, reúne-se em Garanhuns para o Festival de Inverno, nove dias de animação “24 sobre 24 horas” com vários pólos de atracção.


A animação inclui as Artes Plásticas, com destaque para a Grande Exposição de Artes Plásticas ao Ar Livre, que reúne obras dos artistas locais, realizada precisamente na Praça Tavares Correia (defronte do Relógio de Flores), com o apoio da Prefeitura de Garanhuns, através do seu Departamento de Cultura.

A Praça Tavares Correia é um dos locais mais aprazíveis da cidade, contendo o busto de Tavares Correia e o Relógio de Flores. Este relógio, único no Norte e Nordeste do Brasil, possui 4 metros de diâmetro e funciona a cristal de quartzo.

Fontes: Enciclopédia Geográfica, SRD / Guia do Recife e Pernambuco / Jornal Folha de São Paulo / IBGE e Governo do Estado de Pernambuco (informação e créditos fotográficos) / wikipedia.

Localização, na planta de Seia, das ruas com nome de artistas

Voltando ao assunto da Rua Tavares Correia, apresenta-se agora o mapa da cidade (1) com a localização dessa e de outras artérias que evocam figuras das artes locais. Ignora-se se a rotunda actualmente em construção junto às piscinas municipais (nº 33 no Mapa), quebrando a Rua Tavares Correia em duas, permitirá manter a actual designação.

Existem várias avenidas e ruas com nomes de escritores / homens de letras locais, sem esquecer o incontornável Luís de Camões ou o agradável Silva Gaio (autor do romance “Mário”, cuja acção decorre em São Romão), mas no que respeita às artes chegámos a 4 nomes.


A – Rua José Tavares Correia de Carvalho (Seia, 1908 – Coimbra, 2005)
B – Rua Pintor Lucas Marrão (Seia, 1824 – Lisboa, 1894)
C – Travessa Eduardo Correia (Fotógrafo, Porto, 1881 – Seia, 1973)
D – Rua Dr. Avelino Cunhal (Seia, 1887 – Lisboa, 1966)



Avelino Henriques da Costa Cunhal não foi propriamente artista plástico mas era um intelectual multifacetado, com obra literária conhecida e alguma produção plástica.

Liberal e republicano, o pai de Álvaro Cunhal chegou a Governador Civil da Guarda durante a I República. Nunca foi comunista mas opôs-se frontalmente ao regime de Salazar ao defender presos políticos em tribunal, leccionando na "Universidade Popular", e até nas actividades de tempos livres, escrevendo e pintando.

Publicou cinco livros: Senalonga, Nevrose e três peças teatrais – sob o pseudónimo de Jorge Serôdio. Foi ainda colaborador da revista Seara Nova.

Na área da pintura, conhecem-se poucas obras de Avelino Cunhal. Há coisa de dois anos, apareceu no mercado um quadro a óleo s/madeira, de sua autoria, que esteve exposto na Sociedade Nacional de Belas Artes.

A propósito de exposição na SNBA, refira-se que um dos seus quadros mais famosos é "O Menino da Bandeira Branca", que foi apreendido pela P.I.D.E. em Maio de 1947, por ocasião da II Exposição Geral de Artes Plásticas na SNBA. A exposição contou com 89 artistas participantes, muitos deles unidos na oposição ao regime salazarista. Avisado dos secretos objectivos da exposição, o regime reagiu na primeira página do jornal Diário da Manhã ("órgão da unidade nacional") e efectuou uma rusga policial à exposição. Foram apreendidos seis quadros, entre os quais o de Avelino Cunhal, e alguns artistas foram interrogados pela P.I.D.E. Este acontecimento é marcante na história do neo-realismo português pois transformou as Exposições Gerais da SNBA num reduto neo-realista e levou a censura prévia à exposição seguinte (Maio de 1948). Foi a primeira vez, em Portugal, que houve censura prévia nas artes plásticas. Eis mais uma curiosidade da vida de Avelino Cunhal.



www.vidaslusofonas.pt/alvaro_cunhal.htm



(Fontes: Roteiro Turístico de Seia, JFS-Héstia (mapa) / Escritores e Artistas Senenses, J. Quelhas Bigotte, 1986 / Exposições Gerais de Artes Plásticas - Arte Portuguesa-Anos Quarenta, FCG, vol.1, 1982.