quinta-feira, 29 de março de 2012

GRUPO 9

Coletiva do Grupo 9, 2 a 30 de abril 2012, no "Quarto Escuro"/Paulo Medeiros

“9, vamos considerá-lo um grupo de arte contemporânea. Apesar de não estar constituído como grupo organizado, o Grupo 9, grupo heterogéneo de artistas, reúne comunhões e ambições paralelas no campo das artes plásticas. Em suportes diferenciados e através de paletas e plasticidades distintas, pretendem mostrar o seu instinto contemporâneo de forma séria e sem preconceitos.

Apesar do vasto percurso individualmente traçado por cada um dos seus elementos, entenderam que era gratificante combinar este passado de experiência adquirida entrelaçando partilhas de saberes de forma a enriquecer o seu percurso pictórico.

Grupo aberto, pronto a receber novos elementos, mas, com uma abertura filtrada por padrões de qualidade.

Neste momento são onze: Chi Pardelinha, Florentina Resende, Hermínia Cândido, Manuela Carmo, Manuel Carvalho, Manuela Taxa, Maria João Cunha, Maria Rafael, Paulo Medeiros, Silvestre Raposo, Sérgio Reis.

A galeria virtual Quarto Escuro vai ser o local onde pela primeira vez será apresentado como grupo. Desfrutem e partilhem.”

Paulo Medeiros

Sobre o Quarto Escuro


Paulo Medeiros

Nasceu em Moçambique em 1965. Reside em Viseu. Licenciado em Educação Visual.

Realizou a sua primeira exposição individual em 1988, na Galeria FAOJ, Viseu. Desde então, tem mostrado individualmente o seu trabalho em diversas localidades, com regularidade. Entre as inúmeras exposições coletivas em que participou, destacam-se a Bienal de Vila Nova de Cerveira, 2007 e para a 7ª Bienal de Artes Plásticas da Marinha Grande, 2008.

Ver entrevista a Paulo Medeiros (DivulgARTE): Parte 1 / Parte 2 / Parte 3 / Parte 4

sábado, 10 de março de 2012

Virgínia Pinto

"Satélite", 2011

Em 1999, por ocasião da primeira exposição coletiva dos artistas senenses, constituiu uma agradável surpresa verificar que um significativo número de senenses de várias idades e formações se dedicavam de algum modo às artes. Faziam-no sobretudo por curiosidade cultural ou prazer ocupacional e poucos sonhavam com uma carreira artística de sucesso, que é muitas vezes confundida ou medida erradamente pelo sucesso comercial. E acharam importante mostrar regularmente algumas das suas obras numa exposição coletiva anual que começou por marcar o panorama cultural senense na viragem do século e sobrevive atualmente integrada no ARTIS – Festival de Artes Plásticas de Seia, cuja 11ª edição terá lugar já em maio. Embora os números não tenham rosto nem nome de gente e sejam por isso tão frios e enganadores, vale a pena sublinhar que cerca de 130 desses artistas, amadores no sentido mais inteiro do termo (aqueles que amam e se dedicam por gosto), expuseram pelo menos uma vez nas 14 mostras coletivas até hoje realizadas. Alguns, participaram repetidamente nessas exposições e a sua obra desenvolveu-se entre coletivas senenses, ganhando corpo e vontade para vencer as barreiras da interioridade.

Virgínia Pinto é uma artista senense (Sameice, 1976) revelada pelas grandes coletivas dos artistas senenses, nas quais participa desde a 3ª edição (2001). Artista autodidata, com formação na área da engenharia civil (Curso Técnico de Desenho e Medições do CICCOPN, Curso de Engenharia Civil na Escola Superior de Tecnologia de Viseu), sempre gostou de desenhar e pintar. Ao longo dos anos, foi descobrindo materiais, explorando técnicas, desenvolvendo o sentido da composição e a expressividade dos conteúdos plásticos. Há poucos anos, experimentou a escultura e as suas obras rapidamente entraram no circuito da arte contemporânea nacional, com boa recetividade em exposições nacionais e internacionais e feiras de arte.

Os seus primeiros trabalhos sobre tela datam de 1996. Quatro anos depois, realizou a sua primeira exposição individual, intitulada “Um som que senti”, na Quinta do Crestelo, em Seia. Sobretudo desde 2001, em obras como “O Anjo” (o “anjo das criações”, segundo a autora), as temáticas e o esquema pictórico clarificaram-se e dominam a sua pintura até ao presente, com maior nível de exigência a nível da representação e caracterização das figuras e tratamento da cor. A composição dinâmica combina abstrato e figurativo no mesmo campo visual, predominando a monocromia, aqui e ali animada com geometrizações coloridas. A lembrar que, no quotidiano monótono e vazio, os afetos são as principais alegrias mas também focos de sofrimento, e a vida das pessoas perpetua-se ou muda conforme o modo como elas se relacionam com essas alegrias e reagem ao sofrimento. Ora as alegrias e as tristezas são quase sempre construções mentais e parece-me interessante que a artista as geometrize em quadros predominantemente figurativos, como acontece por exemplo nas telas “Abraço” ou “Encontros” (2004). Em obras como “Corpos de Papel” (2008), as construções mentais são os próprios cabelos das personagens.

O ano da exposição individual “O meu sonho é ser pássaro” (Viseu, 2008), marca o final da primeira fase da obra de Virgínia Pinto. Em 2009, a artista senense iniciou-se na escultura, combinando materiais aparentemente tão diversos como o mármore, aço inox e madeira. Em poucos anos, as suas pequenas mas sugestivas esculturas ganharam visibilidade e abriram-lhe as portas de diversos certames artísticos nacionais e internacionais. Recentemente, criou um blogue na internet, onde se apresenta e disponibiliza imagens das suas esculturas mais recentes, mostrando que o artista não precisa de ser pássaro para elevar o espírito bem acima da matéria.

“O Anjo”, 2001, técnica mista s/tela

"Corpos de Papel", 2008, técnica mista (óleo, grafite, tinta) s/tela

Texto publicado no jornal Porta da Estrela nº941 de 15 de março 2012.

António Leal, José Almeida Pereira e Max Fernandes no LAB

As produções do LAB – Laboratório das Artes, prometem animar Guimarães 2012, Capital Europeia da Cultura. Trata-se de um espaço cultural fundado em 2001 por um grupo de artistas, localizado no centro histórico de Guimarães, no edifício do Café Milenário, que apresenta projetos vanguardistas desenvolvidos por artistas jovens.

No passado dia 9 de março, foi inaugurada nesse espaço a exposição “Toural”, que deve o nome à localização (Praça do Toural), lugar ancestral de encontro, partilha, troca de bens. Ocupando os três pisos do edifício do LAB, a exposição reúne três mostras individuais dos artistas António Leal, Max Fernandes e José Almeida Pereira, com instalações que incluem vídeo e performance e “questionam, de forma obliqua, a sociedade, o imaginário e o enquadramento temporal deste território.”

António Leal (n. Porto, 1979) é licenciado em Artes Plásticas – Pintura pela FBAUP. Expõe coletivamente desde 2000 e individualmente desde 2004, tendo apresentado projetos artísticos na Galeria Graça Brandão e Artes em Partes, no Porto. A sua exposição no LAB (Piso 3) explora representações com base no imaginário simbólico medieval.

Max Fernandes (n. 1979), licenciado em Artes Plásticas, mestre em Práticas Artísticas Contemporâneas pela FBAUP,e professor na Escola Artística e Profissional Árvore, regressa ao LAB (Piso 2) com um projeto sobre a “materialidade e seu fluxo, e do corpo como instrumento manipulador dessa mesma matéria”.

José Almeida Pereira (n. Guimarães, 1979) é licenciado em Artes Plásticas e mestre em Práticas Artísticas Contemporâneas pela FBAUP, Prémio Rothschild de Pintura (2003) e artista premiado no âmbito da Exposição Coletiva “Outros Lugares”, promovida pela FLUP em 2004. No Piso 1 do LAB, apresenta uma instalação inspirada na atualidade económica e financeira, questionando algumas das abstrações que estruturam as relações humanas atuais.

As exposições decorrem até 14 de abril 2012.

Laboratório das Artes
Largo do Toural, edifício do Café Milenário, Guimarães - 4ª a sábado das 16h às 19h

terça-feira, 6 de março de 2012

Joana Vasconcelos em livro

A monografia de Joana Vasconcelos foi apresentada publicamente no dia 1 de março 2012, no seu atelier em Lisboa, na Doca de Alcântara Norte.

De grandes dimensões e cuidada edição (Livraria Fernando Machado com design gráfico de Ricardo Mealha), o livro aborda exaustivamente a obra da artista plástica portuguesa, com textos da historiadora Raquel Rodrigues da Silva, do filósofo Gilles Lipovetsky, do professor Jean Serroy e uma entrevista de Agustín Pérez Rubio. Está ainda disponível um “livro-obra”, o livro dentro de uma caixa vermelha criada por Joana Vasconcelos, numa edição especial limitada a 200 exemplares.

O lançamento contou com a presença de Gilles Lipovetsky, autor de “A Era do Vazio”, apreciador e estudioso da obra de Joana Vasconcelos, que sublinhou a interessante articulação das referências consumistas internacionais com as tradições portuguesas ancestrais.

Não se trata apenas do recurso a formas e objetos industriais para evocar ou reavivar símbolos ou costumes, nem sempre exclusivamente nacionais e, mesmo estes, uns mais tradicionais que outros, mas o modo como os evoca e reaviva. A ideia de construção, de estrutura fantástica com elementos surpreendentes e materiais improváveis, parece-me ser uma caraterística fundamental, para além da escala, já que Joana Vasconcelos produz obras geralmente de grandes dimensões, dando-lhes grande visibilidade e domínio do espaço – o que permite explorar novas interações com o observador. Essa apropriação crítica da forma e função dos objetos passa por um exercício de análise trocista da realidade, que é comum na arte (em certa medida, será até uma das suas funções sociais) que Joana Vasconcelos sintetiza em obras positivas, de forte encantamento visual. O resto da discussão (se será ou não “kitsch”, etc.) parece-me uma questão menor.

Em 2010, a propósito da sua exposição antológica no Museu Coleção Berardo, “Sem Rede”, já havia sido editado um excelente catálogo sobre a sua obra, completando com 200 páginas de imagens e textos, as 37 peças presentes nessa mostra – que alcançou um número recorde de visitantes.

Joana Vasconcelos tornou-se particularmente conhecida após a sua participação na Bienal Internacional de Veneza em 2005, com a peça intitulada “A Noiva”, um gigantesco lustre construído com vinte mil tampões higiénicos femininos. Entre as suas obras anteriores, contavam-se “Sofá Aspirina” (1997) e “Cama Vallium” (1998), realizados com embalagens blister de comprimidos. Desde então, Joana Vasconcelos foi somando participações em grandes certames internacionais e impôs a sua obra no circuito internacional de arte contemporânea.

Mas o sucesso dos portugueses no estrangeiro, à exceção talvez do desporto, parece incomodar muitos compatriotas, que não se esforçam muito por valorizar esses bons resultados. As notícias têm referido que a artista prepara atualmente uma exposição em Versalhes, França, mas não disseram o principal. Trata-se da exposição anual de arte contemporânea do Palácio de Versalhes, uma mostra realizada desde 2008 e por onde já passaram Jeff Koons, Xavier Veilhan, Bernar Venet e Takashi Murakami. Joana Vasconcelos será a primeira mulher e a mais jovem artista contemporânea a expor em Versalhes.

sábado, 3 de março de 2012

As 4 Estações de Beatriz Milhazes

Uma exposição surpreendente no CAM, de 17 de fevereiro a 20 de março 2012. A artista brasileira Beatriz Milhazes apresenta quatro pinturas monumentais sobre o tema das 4 estações e várias colagens, para além de uma escultura com movimento (“Gamboa”, 2010) e uma obra em vinil criada propositadamente para a exposição em Lisboa, realizada em parceria com a Fundação Beyeler de Basileia (onde B. M. expôs precisamente há um ano).

O tema das 4 estações está longe de ser original, houve artistas que o trataram de passagem ou trabalharam incansavelmente (1), mas o interesse destes trabalhos de Beatriz Milhazes reside sobretudo no modo como a artista mobiliza formas e cores do imaginário popular brasileiro, desde o elemento decorativo caseiro ao movimento e ritmo do carnaval, para criar as suas composições, recorrendo sem preconceitos a materiais plásticos para a concretização das suas obras – formas produzidas industrialmente e elementos recortados e aplicados sobre as mais diversas superfícies. Em Portugal, Ana Pimentel tem realizado trabalhos do género, com elementos geométricos florais (também omnipresentes na cultura popular portuguesa), embora sem a grandiosidade das obras de Beatriz Milhazes.

As dimensões invulgares das obras da artista carioca (Rio de Janeiro, 1960) devem-se à sua experiência com espaços sobredimensionados, já que se dedica à cenografia e conceção de fachadas. A largura dos quadros sobre as estações do ano varia conforme a duração da respetiva estação no Rio de Janeiro. As 4 estações no Brasil nada têm a ver com as 4 estações na Europa, o que obriga o observador a questionar as suas referências culturais e a relançar o olhar pesquisador por outras realidades, não totalmente estranhas mas sempre desafiantes.

(1) - Por exemplo: Arcimboldo, Pieter Brueghel - o Velho, François Boucher, Jacopo Bassano, David Hockney e até Adrian Henri, entre muitos outros pintores famosos ou com obra conhecida.

Imagem: divulgação CAM.