Não era assim em 1993, quando o jornal Porta da Estrela (então dirigido por António Brito) publicou a 10 de Julho de 1993 um artigo de minha autoria intitulado - “Helena Abreu – uma artista de renome internacional natural de Santa Eulália”, que surpreendeu quase toda a gente. A artista tomou conhecimento do artigo e dirigiu-me uma carta muito amável, da qual transcrevo o seguinte:
“…estando eu há longos anos afastada da minha terra, não imaginava que nela fosse lembrada com palavras tão elogiosas e sentidas! Vivi em Santa Eulália e em S. Tiago até aos 11 anos; sobretudo de S. Tiago recordo com profunda saudade os cantinhos onde brinquei, a Escola onde meus pais foram professores e as amigas que tive, muitas já desaparecidas.”
De resto, Helena Abreu colaborou como ilustradora na edição de outras obras. Logo em 1948, ano em que termina o Curso Especial de Pintura, é convidada pelo Mestre Joaquim Lopes a ilustrar o seu livro “Soares dos Reis”.
Em 1999, o nome e currículo da artista foi naturalmente incluído no catálogo da I Exposição Colectiva de Artistas Senenses, que pretendia oferecer uma panorâmica exaustiva das artes em Seia, desde o artista mais antigo que se conhecia aos artistas senenses mais jovens. No ano seguinte, a pretexto de uma exposição colectiva do MAC em Seia (Dezembro de 2000), eu e o Mário Jorge Branquinho convidámos Helena Abreu a expor como representante dos artistas senenses no evento. As obras da artista destacaram-se naturalmente na exposição, pela qualidade do desenho e sentido da cor, impressionando os visitantes e os artistas de Coimbra, em particular o saudoso Pinho Dinis. Um dos senenses que se rendeu imediatamente à obra de Helena Abreu foi José Santos, então Presidente do Orfeão de Seia. Logo de seguida, o Orfeão de Seia editou uma serigrafia reproduzindo uma tela de Helena Abreu, colaboração repetida em 2007, com a edição de duas peças da Vista Alegre com desenhos da artista.
Serigrafia editada pelo Orfeão de Seia
Como ficou definitivamente provado na exposição retrospectiva de 2004, a obra de Helena Abreu possui características únicas e um lugar importante na História da Arte portuguesa do século XX – sendo citada sem favor na obra de referência do meio artístico nacional até 1990 (edição de actualização em 1991), o “Dicionário de Pintores e Escultores”, de Fernando Pamplona. De resto, a especificidade da sua obra tem sido sublinhada por diversos críticos e resultará da interacção de alguns princípios ordenadores, com destaque para as temáticas, que condicionam todo o trabalho. A preferência pela figura feminina e crianças, envoltas em serenidade, afectividade e alegria, deixa entrever uma concepção intimista de um mundo exterior agressivo e carregado de incertezas, mas transmite uma enorme ternura e redobrada esperança no próximo. “Esta tensão entre a objectividade e a interioridade, sempre perceptível nos seus trabalhos, manifesta-se principalmente na sua concepção de formas femininas” (Margarida Botelho, Diário de Lisboa, 06-04-1982).
O elemento mais distintivo da sua obra, o desenho, está sempre visível e é estruturante, sem ser demasiado narrativo. Esquemático, com traços diluídos, o desenho define as formas, marcando a composição muito equilibrada, com fundos apenas sugeridos ou mesmo abstractos, jogando com as transparências e opacidades do claro-escuro para criar a ilusão da profundidade. Finalmente, a leveza e a luminosidade da cor percorre toda a obra. As cores frias predominam, reservando-se as cores quentes e os tons claros para as figuras principais.
Maria Helena Pais de Abreu nasceu em Santa Eulália, Seia, a 4 de Agosto de 1924. Reside no Porto desde 1935.
Licenciatura em Desenho – Escola Superior de Belas Artes do Porto e Universidade do Porto e Coimbra. Curso Especial de Pintura pela ESBAP. Curso de Pintura a Fresco dirigido pelo Mestre Dórdio Gomes.
Em 1952, inicia a sua actividade docente, que exerceu durante 36 anos. Publica entretanto o “Compêndio de Geometria Descritiva” (em parceria com o Dr. Ferrer Antunes), assim como o “Compêndio de Desenho” (em parceria com o Arq. Francisco Pessegueiro), que foi seleccionado como livro único durante quinze anos.
É mãe do arquitecto e pintor Abreu Pessegueiro.
Participou em mais de uma centena de exposições colectivas, de entre as quais: “Levantamento da Arte do Séc. XX”, Museu Soares dos Reis e Sociedade Nacional de Belas Artes (1975); “Salon des Artistes Français”, Grand-Palais, Paris (1977, 1980, 1985); “Salon d’Automne, Grand-Palais, Paris (1978); exposição em Charlotte (USA, 1981); XVIII Prix International d’Art Contemporain (Monte Carlo, Mónaco,1984); I, II, III, IV e V Bienal Internacional de Arte de V. N. Cerveira; I, II, III Bienal de Desenho, Cooperativa Árvore (Porto, 1983, 85, 87); Exposição da Cruz Vermelha, Expo’98; várias edições da Bienal dos Rotários de Vila Nova de Gaia; Estugarda (1991); várias exposições colectivas na Galeria de Arte do Casino Estoril.
Em 1968, realizou a sua primeira exposição individual, no Ateneu Comercial do Porto. Outras exposições individuais: Lourenço Marques (Maputo), 1972; Fundação Engº António de Almeida (1974, 78, 81, 83, 84, 86, 88); Vigo (Galiza) (1976); Museu de Aveiro (1986); Galeria Tempo, Lisboa (1987); Galeria de Arte do Casino Estoril (1992); Galeria Espaço d’Arte TLP, Porto (1993); Gonfilarte Galeria, Vila Praia de Âncora (1993); Biblioteca Municipal de Seia – CMS (1994); Paços do Concelho de Matosinhos (1995, 98, 2000); Sala de exposições do Posto de Turismo de Seia (2001- exposição integrada nas comemorações da elevação de Seia a cidade – 3 de Julho).
Em 2004, realizou uma importante exposição retrospectiva na Câmara Municipal de Matosinhos.
Em 2001, o Orfeão de Seia editou uma serigrafia a partir de uma obra da artista e, em 2007, duas peças em porcelana da Vista Alegre com desenhos de Helena Abreu, assinalando o 30º aniversário da colectividade.
Prémio Rodrigues Júnior em 1945 e 46. Menções Honrosas nos “Salon des Artistes Français”, Paris, 1978 e 1980; Prémio Almada Negreiros, 1994.
Membro da “Societé des Artistes Français” desde 1980.
Foi agraciada com as medalhas “Grau Prata” (1989) e Municipal de Mérito “Grau Ouro” pela Câmara Municipal do Porto. Câmpanula de Mérito Cultural do Município de Seia, 03 de Julho de 2009.
Representada em Museus nacionais e em colecções oficiais e particulares, em Portugal e no estrangeiro, com destaque para: Fundação Engº António de Almeida, Porto; Museu de Arte Contemporânea, Lisboa; Museu Nacional de Aveiro; Ministério da Justiça; Câmara Municipal do Porto; Câmara Municipal de Matosinhos; Câmara Municipal de Maputo-Moçambique; Câmara Municipal de Seia; Palácio de São Bento (Assembleia da República), Lisboa.
Aguarela de Helena Abreu
Fontes: Helena Abreu, Bial, 1991 / “Dicionário de Pintores e Escultores”, de Fernando Pamplona / catálogos de exposições da artista / Jornal Porta da Estrela
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