terça-feira, 27 de outubro de 2009

Prémio Amadeo de Souza-Cardoso 2009

Exposição de obras concorrentes ao Prémio Amadeo de Souza-Cardoso 2009, Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, Amarante, 31 de Outubro de 2009 a 03 de Janeiro de 2010. Entrada livre.


João Vieira e Ana Luísa Ribeiro foram os artistas portugueses distinguidos este ano na 7ª edição do Prémio Amadeo de Souza-Cardoso.

Ana Luísa Ribeiro nasceu em Lisboa em 1962. Estudou Bioquímica em Coimbra e Lisboa e realizou estudos de pintura na Ar.Co, Lisboa, entre 1988 e 1992. No ano seguinte, iniciou no Royal College of Art, em Londres, uma série de estudos no estrangeiro, tendo sido bolseira da Fundação Luso-Americana e da Fundação Calouste Gulbenkian. MA (“Master of Arts”) em Belas Artes (1) pelo Goldsmiths College, Universidade de Londres, em 1995. Vive e trabalha em Colónia, Berlim e Lisboa. Ver o site de Ana Luísa Ribeiro AQUI e a obra vencedora no site do Museu.

Concorreram ao prémio Amadeo de Souza-Cardoso 289 artistas, com o total de 483 obras. Para a exposição, foram seleccionadas 72 obras de 49 artistas.

O Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso foi atribuído a João Vieira (1934-2009), a título póstumo. O artista, falecido no início de Setembro, explorou os valores formais e simbólicos das letras do alfabeto, pelo que a distinção da obra “Sem título (Subject metter)”, de Ana Luísa Ribeiro, permite reconhecer pontos de contacto e estabelecer correspondências entre as duas abordagens plásticas.

Os prémios serão entregues a 31 de Outubro, pelas 16 horas, no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Amarante, possivelmente com a presença da nova Ministra da Cultura (2).


(1) - O M.A. – “Master of Arts” – é o segundo grau universitário em Artes no Reino Unido, excepto na Escócia, onde é o primeiro.
(2) - Presença sujeita a confirmação, segundo o Convite.

Um retrato da família de Abel Manta na Guarda

“Retrato de família” – Museu da Guarda – 21 de Outubro a 29 de Novembro 2009. Entrada livre.

Comemorações do 120º Aniversário do nascimento de Abel Manta (1888-2008)

Decorre até ao final de Novembro, no Museu da Guarda, a exposição “Retrato de Família”, reunindo obras de pintura de Abel Manta (1888-1982), Clementina Moura (1898-1992), João Abel Manta (81 anos) e Isabel Manta (57 anos). A iniciativa conta com a colaboração da Câmara Municipal de Gouveia e Museu de Abel Manta, inserindo-se nas comemorações do 120º aniversário do nascimento do pintor gouveense e um dos pioneiros do modernismo português, a par de Amadeo de Souza-Cardoso ou Eduardo Viana.

Abel Manta, Auto-retrato com paleta, 1939

Abel Manta nasceu em Gouveia, a 12 de Outubro de 1888. Aos seis anos, passou a residir em Lisboa, mas, ao longo da sua vida, nunca perdeu o contacto com a sua terra natal.

Entre 1908 e 1915, estudou Pintura na Escola de Belas Artes de Lisboa. Em 1919, partiu para Paris, onde ficou seis anos, viajando pela Europa para estudar a pintura dos grandes mestres. Destacou-se como paisagista, onde alcançou um estilo próprio após a influência inicial de Cézanne, e como retratista, compondo expressivos auto-retratos e retratos incisivos de personalidades como Aquilino Ribeiro, Teófilo Russel, Paiva Couceiro, Bento de Jesus Caraça, o violinista Bohet, José de Bragança, o jornalista Luís Teixeira, para além do retrato de conjunto “Grupo do Consultório”, também conhecido por “A Leitura” (1955). Ainda na pintura, abordou igualmente com desenvoltura o tema da “natureza-morta”, sendo também autor de inúmeros desenhos e gravuras, alguns vitrais e caricaturas.

Abel Manta não foi mais conhecido pois era um artista discreto, movimentando-se sobretudo num grupo restrito de amigos cultos. Participou em diversas e importantes exposições colectivas mas, em toda a sua vida, realizou apenas uma exposição individual – em 1925, em Lisboa, no Salão Bobone. Concorreu a várias iniciativas internacionais como a Bienal de Veneza (1950) e Bienal de São Paulo (1955), mas essas tentativas não tiveram seguimento pois Abel Manta não pertencia ao “status quo” da época, apesar de ser admitido frequentemente nos salões do S.P.N. e nas exposições da SNBA, onde recebeu uma medalha em 1934. No entanto, realiza a magnífica composição “Beira” (obra que se perdeu no incêndio da Galeria de Arte Moderna, em 1981) para o pavilhão de Portugal na Exposição de Paris de 1937, três anos depois de ter sido recusado no concurso para professor da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa - facto que o próprio pintor consideraria depois ter sido decisivo para a sua carreira, permitindo-lhe manter-se na vanguarda do modernismo. Com alguma ironia, certamente, dizia que as suas “modestas pinturas” eram produto de “trabalho a horas vagas” (1).

Em 1927, casou com a pintora Clementina Carneiro de Moura (Lisboa, 1898-Lisboa, 1992). Diplomada em Pintura pela Escola de Belas Artes de Lisboa, onde foi dicípula de Columbano, Clementina Moura dedicou-se ao ensino técnico (nas escolas Afonso Domingos, Machado de Castro e Josefa d'Óbidos), sendo autora da obra “História da Arte Popular em Portugal”. A sua obra plástica inclui a pintura (“Auto-Retrato com o Filho João Abel“, “Vista de Gouveia”, … entre outras obras patentes no Museu Abel Manta, e as artes aplicadas aos tecidos. Neste contexto, ficou conhecida como a “mestre do pachwork”.

A 29 de Janeiro de 1928, nasceu em Lisboa o filho de Abel Manta e Clementina Moura, João Abel Manta, que se formou em Arquitectura em 1951. Mais conhecido como cartoonista e designer gráfico, João Abel Manta possui igualmente uma obra importante no âmbito da “arte pública” – integrada em edifícios e espaços públicos (murais, azulejos, pavimentos, etc.). Ler biografia de J. A. M. por Osvaldo Macedo de Sousa AQUI.

Em 1952, nasceu a neta de Abel Manta, Isabel Manta, filha de João Abel e de sua mulher, Sílvia. Diplomada em Arquitectura, é mestre em História de Arte pela Universidade Lusíada. Docente do ensino secundário desde 1979, lecciona História de Arte e Desenho. “No que respeita à pintura, não me levo muito a sério”, disse, numa entrevista. “Foi por opção e não por obrigação, que sou professora”.

Abel Manta pintou o seu último auto-retrato em 1975, quatro anos antes de ser condecorado pelo Presidente da República, Ramalho Eanes, com a comenda da Ordem de Sant'Iago de Espada. Outra distinção importante foi o 1º Prémio de Pintura na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1957.

O pintor gouveense faleceu em Lisboa a 09 de Agosto de 1982. Residia no Bairro Alto.

Ao longo dos últimos 27 anos, tem sido recordado em diversas iniciativas, exposições, edições e comemorações, com destaque para a retrospectiva na Bienal do Avante de 1984, comemorações do centenário do nascimento (1988) e 25 anos do seu desaparecimento (2007). Nesta última evocação, foi criado o Prémio Abel Manta de Pintura. O vencedor de 2009 foi um artista de Penacova, José Fonte – que participou em 1993 no Prémio Nacional de Pintura Tavares Correia, realizado em Seia.

José Fonte, "One Hundred and Twenty" - Prémio Abel Manta, Maio 2009. Isabel Manta fez parte do júri.

Para saber tudo sobre o Mestre gouveense, pode visitar o excelente site de Eduardo Mota, A Casa de Abel Manta, clicando AQUI. Eduardo Mota dirigiu o Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta, em Gouveia, que foi inaugurado em 1985, e publicou em 1987 o livro “Abel Manta”, uma edição integrada nas comemorações do I Centenário do Nascimento do Pintor Abel Manta.

(1)-citado por Eduardo Mota, “Abel Manta”, Gouveia, 1987.

sábado, 17 de outubro de 2009

15ª Festa do Cinema em Seia

Festival de Cinema de Ambiente da Serra da Estrela é hoje uma referência internacional

Sérgio Reis
(
artigo publicado no semanário Terras da Beira, suplemento Especial CineEco, 15 de Outubro de 2009)

Fazendo uma retrospectiva mesmo ligeira dos 14 anos do CineEco - Festival Internacional de Cinema e Video do Ambiente da Serra da Estrela e do que testemunhei enquanto colaborador (1999), membro de júris (2000, 2001 e 2002) ou na mera qualidade de espectador interessado desde 1995, fica a impressão global de um acontecimento único na história de Seia, com potencialidades e benefícios evidentes para o concelho e região da Serra da Estrela. Além do afamado “Bom Cinema e Bom Ambiente”, há a destacar as múltiplas iniciativas paralelas para as quais foram convocados e envolvidos outros agentes culturais e os mais diversos públicos, sendo hoje clara a importância do festival no contexto global do desenvolvimento cultural senense e na projecção nacional e internacional de Seia, enquanto marca de qualidade e campo fértil de novas oportunidades. Quando participei nos júris do CineEco, o Festival tinha já uma ligação segura com os países lusófonos e ganhava crescente prestígio na Europa latina. Hoje, o festival senense beneficia de um grande prestígio internacional e afirmou-se finalmente na região e no país contra ventos e marés adversos.

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O Festival Internacional de Cinema e Video do Ambiente da Serra da Estrela nasceu de uma experiência relativamente bem sucedida, o I Festival Nacional de Vídeo Serra da Estrela, organizado em 1994 por um grupo de cinéfilos do qual faziam parte Carlos Teófilo Furtado e Mário Jorge Branquinho – ainda hoje as principais figuras da comissão executiva do CineEco. Por sua vez, esse festival de vídeo tinha surgido no contexto de uma nova dinâmica transversal criada pela vitória de Eduardo Brito nas eleições autárquicas de 1993, informada por dois grandes debates muito participados sobre as perspectivas culturais do concelho: a conferência integrada no II Encontro dos Antigos Alunos do Colégio Simões Pereira, em Novembro de 1992, e o debate organizado pelo Telecentro Rural de Seia, jornal Porta da Estrela e Associação Projecto Beirão, em Maio de 1994, quatro meses após a tomada de posse de Eduardo Brito. Ainda à procura de uma estratégia cultural no adiado desenvolvimento de Seia, o novo executivo decidiu em boa hora apoiar a transição do pequeno festival de vídeo para um verdadeiro festival internacional de cinema e vídeo. O primeiro CineEco serviu também para inaugurar o novo Salão dos Congressos, a primeira obra pública de vulto da nova Câmara.

Tratando-se de um festival dispendioso, no contexto das finanças locais, a Câmara Municipal procurou desde logo parceiros promotores, sobretudo na área do ambiente – considerando o peso institucional do Parque Natural e a marca turística Serra da Estrela. Nos primeiros anos, o CineEco foi crescendo ao sabor das ambições da organização em diálogo com a disponibilidade financeira dos promotores e patrocinadores. Em 1997, as limitações financeiras comprometeram a evolução do CineEco para Festival da Lusofonia, uma aspiração veiculada pela designação desse ano, a única a conter uma alusão à lusofonia (III Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Ambiente e Lusofonia da Serra da Estrela) mas não impediram a criação do prémio especial da lusofonia, o segundo maior do festival, que se manteve até ao presente. Em 2001 e 2006, as vitórias de Eduardo Brito nas eleições autárquicas com maioria absoluta (59,4 e 62,91%, respectivamente) prometiam novos impulsos financeiros para o CineEco mas os promotores e outros patrocinadores deixaram a Câmara como único suporte fiável do festival por ocasião das fortes restrições orçamentais impostas pelo governo de Durão Barroso em 2002, que quase paralisaram a dinâmica cultural nacional, agravada pela crise de 2003, a crise política gerada pelo curto governo de Santana Lopes, a contenção orçamental praticada pelo governo de maioria absoluta de José Sócrates, mais tarde agravada pela crise internacional. Mesmo assim, estes foram anos de grandes festivais, com destaque para o CineEco 2003, até então o maior de sempre (mais de trezentas obras a concurso, representando quarenta e um países) e o CineEco 2005, com novos recordes (mais de 400 obras de 45 países) que só seriam batidos em 2008 (512 filmes oriundos de cerca de 50 países). A qualidade global e moldura humana alcançadas em 2005, rondando os 10 mil espectadores, permitiram a conquista em 2006 de um importante galardão, o Prémio Nacional do Ambiente, atribuído pela Confederação Portuguesa de Associações de Defesa do Ambiente, integrada por 110 Associações de Defesa do Ambiente/ONGs de Ambiente.

A 15ª edição do CineEco representa o fim de uma era, assinalando o final de quatro mandatos consecutivos de Eduardo Brito à frente da Câmara de Seia (16 anos) e o fim de mais de 30 anos de actividade autárquica. São de esperar, por isso, algumas mudanças significativas no CineEco 2010, assim como nas mais diversas áreas da vida concelhia influenciadas pela autarquia. Quase certo será o envolvimento das escolas nas actividades promovidas pela Câmara, um dos sinais distintivos da estratégia cultural de Eduardo Brito, logo adoptada como princípio programático pelo CineEco. O festival possui uma inegável vocação formativa, ao nível da programação mas também da competição, atribuindo anualmente o Prémio de Educação Ambiental.

O principal objectivo do CineEco é promover e divulgar obras de cinema e vídeo que de algum modo abordem a problemática do Ambiente na sua mais ampla acepção, a do Homem no seu Meio – e por essa razão uma das secções paralelas do festival denomina-se precisamente “Outras terras, Outras gentes”. Nesse sentido, o festival contribuiu desde a primeira edição para a evolução de um conceito até então limitado ao Meio Ambiente. A sensibilidade pelos temas e problemas ambientais mudou muito desde 1995, à escala mundial, sendo hoje mais fácil encontrar grandes filmes abertamente ambientalistas, como os célebres documentários de Al Gore e Leonardo Di Caprio, que passou no CineEco 2007, ou o fantástico “Home”, a exibir em 2009. Além disso, verifica-se um acréscimo de inscrições (e da qualidade, segundo Lauro António) de filmes produzidos na Beira Interior, incluindo o concelho de Seia, comprovando os reflexos positivos do CineEco na área da criação e produção do cinema de autor.


O premiadíssimo filme de Jorge Pelicano passou no CineEco 2007

Sendo o Homem parte indissociável e até produto do seu Ambiente, com o qual interage muitas vezes com resultados positivos, não quero deixar de me referir às pessoas excelentíssimas que conheci no CineEco, a começar pelo seu director técnico desde a primeira edição, Lauro António, a alma do festival senense e o elo fundamental de ligação com realizadores, produtores e outros festivais nacionais e internacionais. Mereceu plenamente a Campânula de Mérito Municipal (2009) pelos serviços prestados à Cultura senense desde 1995.

As equipas lideradas por Carlos Teófilo Furtado fizeram maravilhas com os meios disponíveis e orçamentos muito limitados. Como membro do júri tive acesso a quase todos os momentos representativos desses festivais e recordo com muito agrado a organização atenta, positiva e dinâmica. Não esteve isenta de erros, que são inevitáveis nos grandes eventos, mas foi suficientemente elástica para absorver contrariedades em vez de perder tempo e energias a lutar contra elas, aprendeu com os erros e superou-os prontamente.

Diversificados mas unidos pelas causas do bom cinema e do bom ambiente, os júris têm sido determinantes para elevar o patamar da qualidade e prestígio do festival. Recheados de nomes sonantes e personalidades fabulosas, a começar pelos distintos presidentes dos júris internacionais homenageados nas cerimónias oficiais do CineEco. Para reunir essas conhecidas figuras do cinema e das televisões nacionais, valeu o conhecimento e prestígio de Lauro António, que estruturou e moldou os júris (também) de acordo com a máxima do festival, “Bom Cinema e Bom Ambiente”.

Um Bom Ambiente que passa por amizades de fortes laços, com destaque para o inesquecível Camacho Costa. O actor participou no CineEco pela primeira vez em 1996, como elemento do júri, tendo depois colaborado activamente na promoção e divulgação do festival. Esteve pela última vez no CineEco 2002 para rever amigos e apresentar o livro de Palmira Correia. A morte levou-o em 2003, ano em que a cerimónia de abertura do festival foi marcada pelas emoções: uma homenagem a Camacho Costa, que passou a ter um prémio com o seu nome no CineEco, e um espectáculo de Raul Solnado, assinalando os 50 anos de carreira do actor.

Por tudo isto e o muito mais que paira nas entrelinhas ou ficou por dizer, termino subscrevendo as palavras que Mário Jorge Branquinho escreveu a propósito do 10º CineEco, em Outubro de 2004: “Até aqui, valeu muito a dita Vontade e o empenho de quem na iniciativa apostou. A partir daqui a história deve continuar”.









terça-feira, 13 de outubro de 2009

A Cidade digital de Renato Paz


"Cidade", arte digital de Renato Paz - 17 de Outubro a 29 de Novembro de 2009, no Foyer do Cine-Teatro da Casa Municipal da Cultura de Seia. Entrada livre.

A imagem mais imediata e acessível da cidade, com os seus espaços de ocupação e circulação, superfícies verticais, contrastes de luz e de cor, foi utilizada como campo de exploração criativa e comunicativa de Renato Paz para esta exposição de arte digital.

A escolha de imagens de edifícios e espaços reconhecíveis, onde intervém para modificar o seu sentido global recorrendo sobretudo a texturas e cores, reforça não só a ligação ao observador como um certo posicionamento crítico do artista perante a sociedade, bem evidentes em trabalhos anteriores (ver obras de Renato Paz).

A arte digital é uma modalidade artística relativamente recente que consiste na criação de obras originais através da modificação ou reconstrução criativa de imagens (fotografias, pinturas, desenhos) no computador.

Como seriam os espaços, as cores e texturas da cidade se cada um de nós pudesse interagir com ela, (re)vesti-la, (re)decorá-la, intervir criticamente ou já com espírito criativo, através de pesquisas de novas soluções formais e estéticas? Em certa medida é isto que os artistas do graffiti / graffiters fazem, em contextos muito localizados e com forte sentido social e até político, utilizando os meios que estão ao seu alcance. Os verdadeiros artistas, claro.

Renato Paz

Jorge Renato Arnatuh Pereira Esperança da Paz nasceu na Guarda em 1982 e reside em Seia, onde estudou e trabalha. Tem colaborado com a empresa “Varius” na edição de álbuns digitais e desenvolve trabalhos de composição gráfica de autor.

Expôs pela primeira vez na ARTIS 2009, em Seia.

Fontes: catálogo ARTIS 09, Agenda Cultural – CMS Set/Out, blog seiaportugal, e outras, incluídas no texto.

sábado, 10 de outubro de 2009

OBRAS DE ARTE EM SEIA - 9


Ângelo Ribeiro: Monumento aos Trabalhadores Têxteis (2009)

Localizada na rotunda de acesso ao Centro Escolar de Seia, em plena Rua José Tavares Correia de Carvalho, o Monumento aos Trabalhadores Têxteis foi inaugurado juntamente com o edifício concebido pelo arquitecto Miguel Krippahl, no dia 11 de Setembro de 2009.

Alguns anos após a colocação de um tear industrial na rotunda da Praça Fernandes Simões, junto à Beira Lã (ex-Fisel), evocando a ligação histórica de Seia à indústria têxtil, a autarquia decidiu, segundo disse Eduardo Brito na inauguração, “homenagear uma geração de mulheres e homens que trabalharam na indústria têxtil” (…) e “que em circunstâncias muito difíceis ajudaram a construir aquilo que somos hoje”.


Para homenagear esses senenses, foi escolhida uma obra de Ângelo Ribeiro, o escultor de Gaia que tem colaborado com a autarquia de Seia na área da escultura pública.


Em 2005 e 2008, Ângelo Ribeiro expôs em Seia, primeiro na Casa Municipal da Cultura e, depois, no espaço verde da quinta do Carvalhal, no CISE - Centro de Interpretação da Serra da Estrela, juntamente com o escultor Moisés Tomé. O escultor gaiense concebeu o Monumento aos Combatentes do Ultramar, inaugurado no dia 25 de Abril de 2008, e o troféu Campânula de Mérito Municipal, atribuído anualmente pelo Município de Seia a personalidades e instituições do concelho.





A escultura inspira-se nas obras de Claes Oldenburg, escultor da Pop Art americana, famoso por reproduzir objectos de uso corrente a uma escala incomum, sendo composta por duas formas dinâmicas simplificadas e uma terceira estática, quase vertical. Uma primeira observação mostra-nos claramente uma tira de tecido e uma agulha de coser com a linha (vermelha) enfiada. No entanto, outra leitura mais abrangente é possível, já que a conjugação das formas dinâmicas sugere um navio (casco/mastro/vela), representando a determinação para o futuro (viagem, descoberta, conquista). A orientação do monumento também é significativa (voltada para a ex-Fisel e Fercol, com a paisagem aberta a servir de fundo), mesmo considerando que, nessa posição, tem melhor visibilidade de ambos os lados da referida rua.
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A área envolvente da escultura foi cuidada e o monumento completa-se com alguns dados evocativos.

O Monumento aos Trabalhadores Têxteis e o Centro Escolar de Seia foram as últimas obras inauguradas por Eduardo Brito, que deixa este ano a autarquia senense, após mais de trinta anos de actividade autárquica.

domingo, 4 de outubro de 2009

Novo edifício com forma de diamante no Porto


No dia em que se comemora o Dia Mundial da Arquitectura (primeira 2ª feira de Outubro, coincidindo com o Dia Mundial do Habitat), destacarei mais uma obra recente de arquitectos portugueses: o edifício Sede da Vodafone no Porto, recentemente concluído, que não deixa indiferente quem sobe ou desce a Avenida da Boavista.
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Erigido no cruzamento da Avenida da Boavista com a Rua Correia de Sá, quase em frente ao Colégio Nossa Senhora do Rosário, os seus volumes surpreendentes sugerem globalmente um “diamante em bruto”, sendo o segundo grande edifício em forma de diamante no Porto – e na zona da Boavista, após a construção da Casa da Música (1).

A sede da Vodafone em Lisboa (Parque das Nações) impressiona pelo tratamento da superfície e cobertura das janelas – que mudam o aspecto do edifício conforme estejam tapadas ou destapadas. O edifício da Vodafone no Porto possui uma estrutura mais complexa (base aproximadamente rectangular, dois núcleos de geometria rectangular no interior do edifício e apenas dois pilar-parede no centro do edifício) e a sua configuração dinâmica “tenta reflectir a atitude vodafone live – a vida em movimento"(2).

“A solução arquitectónica da fachada desenvolvida para este edifício, resulta num conceito estrutural pouco habitual mas não menos eficiente. A estrutura do seu interior é resolvida com sistemas correntes mas, a geometria da fachada, torna-a única. O comportamento da fachada enquadra-se num princípio estrutural milenar - o Arco - que, complementado por outro princípio estrutural mais recente - o triângulo - permite gerar um elevado valor arquitectónico e, simultaneamente, um eficaz desempenho estrutural”.
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Com uma área de cerca de 3.500 metros quadrados e oito pisos (3 abaixo do solo e cinco acima), o edifício é da autoria dos arquitectos José António Barbosa e Pedro Guimarães (Barbosa & Guimarães Arquitectos), os vencedores de um concurso de ideias realizado em 2006, no qual participaram 50 arquitectos.

A nova sede da Vodafone no Porto acolherá cerca de 250 funcionários, distribuídos por áreas de trabalho (do tipo open-space) nos pisos 1, 2, 3,e 4. No rés-do-chão e piso inferior, funcionará uma galeria comercial (Megastore), um auditório para 70 pessoas e o apoio ao cliente.

O edifício pertence ao Millennium BCP, proprietário dos terrenos e financiador da construção, que estabeleceu com a Vodafone um contrato de arrendamento de longo prazo.

Notas
(1)-A obra polémica do arquitecto holandês Rem Koolhaas foi encomendada para o Porto 2001. As obras começaram em 1999 mas o edifício só foi inaugurado em Abril de 2005.
(2)-Jornal de Notícias, 22/01/2007



sexta-feira, 2 de outubro de 2009

3 Arquitectos Senenses

Seia dispõe hoje de uma boa oferta de arquitectos, atendendo à dimensão do concelho, alguns deles trabalhando a tempo inteiro. Para além das preocupações funcionais, as suas obras são produtos artísticos que reflectem as realidades locais e regionais. Desse grupo, destacam-se Fritz Wessling e Miguel Krippahl, pela projecção da sua obra, embora outros valores seguros não devam ser esquecidos, como Pedro Albano ou Carlos Brito.

Em Abril de 2006, a Câmara Municipal de Seia deu a conhecer a obra destes quatro arquitectos através de uma exposição denominada “Viver a Arquitectura”. No Dia Mundial da Arquitectura de 2009, recordo aqui três destes arquitectos.

Pedro Albano
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Natural de Seia, formou-se em Arquitectura em 1995.

Para Pedro Albano, “os arquitectos são técnicos que tentam, de uma forma artística, resolver e solucionar os problemas de cada cliente”, trabalhando os aspectos práticos e funcionais da arquitectura, pois, “quando se compra uma casa, normalmente é para uma vida inteira”.
“É preciso cada vez mais promover e divulgar os valores da arquitectura junto daqueles que mais interagem com ela – O cidadão comum. No entanto deverá ser quem os representa, que terá de tomar consciência que os lugares e as cidades não são só nós rodoviários, vias de circulação externa, viadutos ou outros sinais de uma errada contemporaneidade. (…) Uma arquitectura de qualidade tanto ao nível do planeamento como das obras edificadas, pode contribuir eficazmente para a coesão social, para a promoção do turismo regional, da cultura e consequentemente para a criação de emprego e desenvolvimento económico regional” (Pedro Albano, “Ouse Arquitectura, com arquitectos, claro!”, Porta da Estrela nº669 - 20/07/2003).

Miguel Krippahl


Natural de Lisboa, Miguel Krippahl licenciou-se em arquitectura em 1988, ano em que veio para Seia frequentar um estágio de pós-graduação no PNSE. Gostou da terra e por cá ficou. Trabalhou 12 anos no ICN e, em 2001, criou o atelier Arquitecto Miguel Krippahl Lda, que desenvolve projectos de arquitectura e especialidades com recurso a tecnologias BIM - Building Information Model.

Para além do ensino de ArchiCAD no curso de arquitectura da Universidade Católica (desde 2004) e na ArchiCAD University Europe,como tutor convidado pela Universidade de Nottingham (2004, 2005, 2007 e 2009), integra um grupo de investigação industrial que desenvolve o PLAGE, Plataforma electrónica para a contratualização e a gestão integrada e sustentável de projectos ou empreendimento baseada em bases de dados BIM, e colabora com a Mota-Engil e a VICO na implementação de modelos tridimensionais para planeamento e gestão de obra.

Realizou diversos projectos de arquitectura na região da Serra da Estrela, de que são exemplo a Estância de Esqui da Torre, a ampliação do Hotel das Penhas da Saúde e da Estalagem dos Carqueijais (Covilhã), o novo cemitério municipal de Seia, a ampliação do cinema, o Centro Escolar de Seia e o Centro Escolar de São Romão.

Para Krippahl, “a qualidade é a mais-valia de um projecto feito por um arquitecto”. Pode encontrar e acompanhar o seu trabalho no seu site ou no blog architruques.

De Abril a Setembro de 2004, publicou uma série de tiras desenhadas no Jornal de Santa Marinha, intituladas “Serrano & Bordaleira”.

Juntamente com Bruno Krippahl, recebeu uma Menção Honrosa no CIneEco 2000, na categoria de Video Não-profissional, pelo seu trabalho "Blocos Erráticos da Serra da Estrela".


Centro Escolar de Seia (2009)

Fritz Wessling

Nasceu em Essen, Alemanha, e formou-se na Universidade Técnica de Braunscheweig.

Veio para Portugal em 1987, fixando-se em São Romão – Seia, colaborando com a Casa de Santa Isabel. No início dos anos 90, criou a empresa Arquitecto Fritz Wessling Unipessoal Lda.

Autor de numerosos projectos e mais de meia centena de obras construídas (moradias unifamiliares, recuperação de edifícios antigos, equipamentos sociais, …) nos concelhos de Seia, Oliveira do Hospital e Mangualde. Em 2008, realizou o projecto da Galeria de Arte que a Câmara Municipal pretende instalar no centro histórico de Seia, ocupando três casas antigas degradadas.

Participou em diversas conferências sobre a pedagogia Waldorf e arquitectura. Autor da obra Arquitectura Orgânica, cujo primeiro capítulo pode ler
AQUI, divulgada em Portugal, Brasil, Espanha e Alemanha.

Para Fritz Wessling, a sensibilidade e a qualidade deveriam ser as linhas orientadoras da arquitectura, sendo fundamental envolver os arquitectos nos processos de expansão e renovação das localidades.

Projecto de Galeria de Arte (2008)