sexta-feira, 29 de julho de 2011

RUI MONTEIRO NA 16ª BIENAL DE CERVEIRA


Entre as escassas dezenas de artistas portugueses selecionados para a 16ª Bienal de Cerveira, que abriu no passado dia 16 e decorre até 17 de setembro em Vila Nova de Cerveira, conta-se um artista de Oliveira do Hospital, Rui Monteiro.

É a segunda vez que o artista participa na prestigiada bienal portuguesa, uma estreia que remonta a 2001. Nesse ano, a Bienal de Cerveira realizou-se sob o tema da Arte, Tecnologia e Ciência. Em 2011, integrado na proposta curatorial do fotógrafo Carlos Casteleira, “Ecúmeno”, Rui Monteiro apresenta no Fórum Cultural de Cerveira uma curiosa instalação digital audio visual em formato video intitulada “Land Scape”, assim como uma performance audio visual, “Diat0m”. “Land Scape” apresenta a correspondência entre a interpretação matemática da paisagem natural e a representação digital tridimensional desses dados, utilizando sistemas de observação e identificação próprios da visão artificial. Foi ainda apresentada pelo artista, no dia de abertura da Bienal, a nova versão de “2handmotion”, “2hand12cc3d” (2011), um projeto na área dos novos instrumentos eletroacústicos que pode ser conhecido mais em pormenor no site do artista: www.ruimonteiro.net

Licenciado em Design pelas Belas Artes do Porto, Rui Monteiro chegou a trabalhar como designer gráfico mas dedica-se atualmente à investigação em novas tecnologias nas áreas da música eletroacústica e digital, visão por computador e programação. Um aspeto fundamental da sua obra é a interação entre Arte, Ciência e Tecnologia, traduzida em performances sonoras, instalações Interativas e composições audiovisuais, especialmente desde o surpreendente “Spectrum portrait “ (2005).
As suas obras já foram apresentadas no Porto 2001, Bienal de Cerveira, Futurartes (Caldas da Rainha) e Agirarte (Oliveira do Hospital), entre outros acontecimentos e festivais em Portugal, França e EUA.

O projeto curatorial “Ecúmeno” propõe-se “questionar a nossa relação com a natureza e o meio ambiente” (...) num momento em que “a Arte é inspirada pela cooperação entre as ciências da vida, o natural, o artificial e a tecnologia”. Para além de Rui Monteiro, apresenta os artistas franceses Erick Samakh e Victoria Klotz, os brasileiros Rodrigo Braga e Paulo Meira e a portuguesa Laetitia Morais.

Na sua 16ª edição, a Bienal de artes mais antiga de Portugal oferece um conjunto diversificado de iniciativas centradas nas exposições em Vila Nova de Cerveira, conhecida no norte de Portugal e na vizinha Galiza como a “Vila das Artes”. As obras do concurso internacional e artistas convidados (cerca de centena e meia de obras de pintura, escultura, instalação, fotografia, desenho, video, cerâmica, arte digital) distribuem-se pelo Fórum Cultural e Castelo de Cerveira. No Convento de San Payo, pode ser visitada uma exposição de homenagem ao escultor José Rodrigues. A Bienal integra ainda exposições em Vigo e no Porto, para promover e alargar o âmbito do evento.

VER este texto na edição Internet do jornal Correio da Beira Serra

sábado, 23 de julho de 2011

LUCIAN FREUD (1922-2011)

Francis Bacon, "Três estudos para um retrato de Lucian Freud".

Lucian Freud nasceu em Berlim em 1922. Quando ele tinha 11 anos, a sua família emigrou para Londres voluntariamente. Era neto de Sigmund Freud, que também partiu para Londres em 1938, depois da anexação da Áustria pela Alemanha – ao contrário das suas quatro irmãs, que pereceram em campos de extermínio nazis. Lucian Freud adquiriu a nacionalidade britânica em 1939 e serviu brevemente na marinha mercante britânica durante a II Guerra Mundial, tendo sido devolvido aos estudos de Belas-Artes por uma doença incapacitante. Viria a tornar-se um dos mais famosos pintores neofigurativos contemporâneos.

A pintura que o tornou conhecido privilegia o retrato com modelo, cujos volumes preferencialmente nus trabalhou com pinceladas expressivas. Para muitos, as suas melhores obras foram realizadas nos anos 50, antes dos primeiros nus (anos 60) e nus masculinos (finais dos anos 70) e, por isso, é considerado um pintor do pós-guerra. Pintou também naturezas mortas e retratos de família e amigos, sem restrições nem pudor, apresentando inperpretações plásticas muito próprias, às vezes crueis, outras vezes grotescas, mas sempre perturbantes “pelas razões de sempre - a presença real (mais do que realista) da figura humana nos seus quadros, a excessiva veemência física dos corpos representados como carne, a nudez crua dos seus modelos femininos e masculinos observados sem complacência e sem pudor, a desmesura e a deselegância de algum desses modelos, a relação pessoal do pintor com os corpos devassados e expostos das suas mulheres, amantes, filhos e amigos.”(1) Recorde-se, a propósito, o polémico retrato da rainha Elizabeth II, que o artista pintou em 2001, por ocasião dos 50 anos do seu reinado. A rainha pousou para o retrato, posteriormente doado pelo artista à Royal Collection, mas a crítica conservadora não apreciou a obra de pequeno formato, apresentando a rainha com feições distorcidas e excessivo envelhecimento da face.

Freud realizou a sua primeira exposição individual em 1944, na Alex Reid and Lefevre Gallery, em Londres. Representou a Inglaterra na 27ª Bienal de Veneza (com Ben Nicholson e Francis Bacon) em 1954, mas só em 1987 ganhou visibilidade internacional graças à retrospetiva organizada pelo British Council na capital norte-americana. Foi a sua primeira grande exposição fora de Inglaterra, mostrada depois em Paris, Londres e Berlim. A sua obra teve grande projeção internacional nos anos 90 e na primeira década do século XXI, com grandes exposições e várias retrospetivas na Europa, Japão, Austrália e EUA. Uma das suas obras (“Naked Girl with Egg”, 1980-81) encontra-se atualmente exposta no Porto, integrada na exposição “My Choice”, na sede da EDP no Porto, até 23 de outubro. Não está representado na Coleção Berardo. Muitos dos seus trabalhos atingiram valores impressionantes, especialmente "Benefits Supervisor Sleeping", um retrato de 1995, foi vendido em 2008 por 33,6 milhões de dólares.

Lucian Freud viveu e trabalhou sempre em Londres. Aí faleceu, no passado dia 2o de julho, em consequência de uma doença não divulgada.


(1) – Alexandre Pomar, AQUI.
VER FOTOS E FILMES sobre Lucian Freud.

OFF THE WALL


Arte "fora da parede" e obras de arte ativadas pelo visitante

“Off the Wall” é o título da exposição patente no Museu de Serralves até 02 de outubro 2011, reunindo diversas ações performativas de artistas internacionais de referência, realizadas principalmente na segunda metade do século XX. Trata-se de uma versão da mostra apresentada em 2010 no Whitney Museum of American Art, em Nova Iorque, acrescentada com novas obras, sobretudo de artistas portugueses - Helena Almeida, Alberto Carneiro e Fernando Calhau, e prolongada com a exposição de obras de Robert Morris.

Umas das principais características da arte do século XX é o cruzamento de géneros artísticos e formas de expressão, o que permite reinventar os modos de produção artística, alargar o conceito de arte e integrá-la mais diretamente no quotidiano. A obra de arte deixa de ser apenas um quadro para pendurar na parede, ou uma escultura, mas sim o próprio acontecimento artístico, gestos e atos performativos onde interagem as artes visuais, as artes do movimento, a música e a experimentação sonora. Porém, o caráter sempre efémero desses atos é minimizado através de registos fotográficos, cinema e video – e são estes registos que se apresentam em Serralves, quase todos na parede.

Os dadaístas, que pregavam a não-arte e criavam obras totalmente ao arrepio das conceções artísticas da época, estão na origem de todas as irreverências, mas a performance, enquanto género artístico, nasce com a compreensão e valorização do próprio ato criativo e não exclusivamente na obra final, exposta para ser contemplada no plano vertical da parede. Artistas como Jackson Pollock transformaram o ato de criar em autênticas performances, enquanto outros preferem intervir mais diretamente no espaço real da vida, para veicular mensagens filosóficas e poéticas de redescoberta da individualidade e sentido da existência, muitas vezes com intuitos de crítica social. O que o artista procura é romper os limites opressivos do quadro (formatos, bidimensionalidade, imobilidade, silêncio) e dos espaços artísticos convencionais (sala de exposição, galeria, museu), também no sentido que lhe dá Michael Jackson no seu tema de 1979 “Off the Wall”, (“Live life off the wall”, etc.), de rotura com os padrões e normas sociais, o que implicou um desenvolvimento do conceito de Arte e de museu. Nem por acaso, a exposição abre com uma obra de John Baldessari, de 1971, com uma só frase escrita centenas de vezes nas paredes da entrada: “I will not make any more boring art” (Nunca mais farei arte aborrecida).

Off the Wall / Fora da Parede, apresenta o desenvolvimento da Performance desde 1948, ano de realização da obra mais antiga da exposição (o filme de Maya Deren, “Meditation on Violence”) até aos anos 80 – um percurso resumido de modo simples e claro por Chrissie Iles (curadora do Whitney Museum of American Art) no texto de apresentação da exposição.

A partir de hoje, 23 de julho, pode também ser visitada em Serralves a exposição “Robert Morris: filmes, vídeos e “BodySpaceMotionThings”. Robert Morris (Kansas City, EUA, 1931), engenheiro de formação e um dos fundadores do Judson Dance Theater em Nova Iorque, desenvolveu uma obra centrada nos novos materiais e novas perspetivas artísticas, criando esculturas com materiais reciclados, intervenções artísticas de grandes dimensões na paisagem (“earthworks”), performances relacionando o corpo e o espaço e experiências inovadoras conjugando o cinema e as artes visuais. Representado na exposição “Off the Wall”, Morris foi o primeiro artista a conceber uma exposição cujas obras de arte são ativadas pela participação física do visitante – que deixa, assim, de ser um mero espectador passivo para se tornar parte integrante da obra.

Artistas representados na exposição Off the Wall (por ordem alfabética do apelido): Vito Acconci; Helena Almeida; Carl Andre; John Baldessari, Lynda Benglis, Dara Birnbaum; Jonathan Borofsky; James Lee Byars; Fernando Calhau; Alberto Carneiro; John Coplans, Maya Deren; Jimmy DeSana; Trisha Donnelly; Simone Forti; Dara Friedman; Jack Goldstein; Dan Graham, Scott Grieger; Walter Gutman; David Hammons; Lyle Ashton Harris; Jenny Holzer; Peter Hujar; Joan Jonas; Richard Kostelanetz; Elad Lassry; Roy Lichtenstein; Kalup Linzy, Robert Longo; Nate Lowman; Robert Mapplethorpe; Anthony McCall; Paul McCarthy; Ray K. Metzker; MICA-TV; Robert Norris; Bruce Nauman, Claes Oldenburg; Yoko Ono; Dennis Oppenheim, Tony Oursler & Sonic Youth; Frank Owen; Jack Pierson; Yvone Rainer; Charles Ray; Martha Rosler; David Salle; Lucas Samaras; Raymond Saroff; Carolee Schneemann; Richard Serra; Cindy Sherman; Laurie Simmons; Jack Smith; Keith Sonnier; Rudolf Stingel; Francesc Torres; Andu Warhol; Hannah Wilke; Jordan Wolfson; Francesca Woodman.

Para quando, já agora, uma exposição de John Baldessari em Serralves?


John Baldessari "I will not make any more boring art", 1971


John Baldessari, "6 Colorful Inside Jobs", 1977 - filme 16 mm, 30 m, cor, mudo.

Jack Goldstein, "A Suit of Nine 7'' inch Records with Sound Effects", 1976,



Alberto Carneiro, "A Floresta", 1978 - fotografia e desenho s/papel (24 elementos)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

DESENHAR LISBOA

Nos dias 21, 22 e 23 de Julho, decorre em Lisboa o II International Urban Sketching Symposium. Cerca de 200 desenhadores de 20 países percorrerão o centro de Lisboa (consultar itinerários e horários) registando nos seus cadernos de esboços, diários gráficos ou diários de viagem, a tipicidade da paisagem urbana da nossa capital, os pormenores visuais, histórios e culturais que mais os surpreendam. Paralelamente, decorrerão workshops, palestras e exposições centradas no desenho, em particular esta modalidade – que reúne um significativo número de adeptos e praticantes em Portugal, entre os quais: Eduardo Salavisa, Jorge Colombo, Manuel San Payo, Mário Linhares, Mónica Cid, Luís Ançã, António José Gonçalves.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

16ª BIENAL DE CERVEIRA

Inês Osório distinguida com o Prémio Bienal de Cerveira
Presidente da República na homenagem a José Rodrigues
Artista de Oliveira do Hospital presente na Bienal

O escultor José Rodrigues foi homenageado na abertura da bienal

O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, inaugurou este ano a mais antiga bienal de artes portuguesa, que se realiza desde 1978. Na ocasião solene, recebeu das mãos do Presidente da Câmara de Vila Nova de Cerveira, José Manuel Vaz Carpinteira, a chave de ouro do município. A criação da Bienal deve-se principalmente a Jaime Isidoro (1924-2009) mas um dos artistas mais ligados às suas origens e consolidação é o escultor José Rodrigues, homenageado na cerimónia de abertura e através de uma exposição no Convento de San Payo. José Rodrigues, que fará 75 anos em outubro, recebeu o maior troféu da Bienal, o Cervo de ouro, das mãos do Presidente da República. A exposição de homenagem no Convento de San Payo permite conhecer uma faceta menos divulgada do escultor, a de cenógrafo. Recordo-me bem da sua colaboração com o Teatro Experimental do Porto nos anos 80, quando vários escultores portuenses decidiram experimentar a cenografia e conceberam diversos cenários e objetos cénicos para o TEP e Seiva Trupe.

O júri da 16ª Bienal de Cerveira deliberou atribuir o Prémio Bienal de Cerveira (10 000 euros) a Inês Osório. O júri foi composto por Ana Luísa Barão (crítica de arte), Augusto Canedo (diretor da Bienal), Silvestre Pestana (artista plástico), Xurxo Oro Claro (artista plástico) e Carlos Casteleira (curador), a substituir Fátima Lambert, que não pôde comparecer. Na apresentação da Bienal, Augusto Canedo referiu a prioridade do júri de selecionar e distinguir jovens artistas.

A artista portuense Inês Osório foi distinguida pela sua instalação com tiras de borracha preta e anilhas metálicas patente no castelo de Cerveira

Inês Osório nasceu no Porto em 1984. Licenciatura em Artes Plásticas – Escultura (2008) e Mestrado em Escultura (2009) pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto – com a Tese “Do Espaço à Escultura: Transferências de um Corpo” – a base teórica da instalação patente no castelo de Cerveira, a obra vencedora do Grande Prémio da 16ª Bienal.
A artista desenvolve diversas correspondências e interações artísticas sobretudo nas áreas da escultura e instalação – um processo dinâmico que extrai contributos da sua formação multifacetada (Ballet Clássico e Dança Contemporânea, Design de Produto-especialização em cerâmica, fotografia, escultura, artes digitais, desenho técnico assistido por computador e, recentemente, teatro). Leciona em Matosinhos e dinamiza, no Porto, o Espaço João Pedro Rodrigues – Oficina de Artes. Mostra publicamente o seu trabalho desde 2006, através de intervenções/instalações em espaços públicos e galerias, individualmente ou integrada em projetos coletivos.


Nuno Nunes Ferreira – “Camouflage”, técnica mista s/tela, 250X180 cm – Prémio IPJ

Nuno Nunes Ferreira nasceu em Lisboa em 1976. Licenciado em Arquitetura pela Universidade Lusíada de Lisboa. Participou em diversas exposições coletivas na Alemanha e sobretudo em Espanha, com presença nas feiras de arte internacionais Arte Lisboa, Arco, Arte Santander e Valência Art. A obra premiada na Bienal de Cerveira, da série “Camouflage”, representa o trabalho plástico do jovem artista, que recorre de modo obsessivo a imagens de árvores e florestas para explorar “a temática da memória retratando o horror com uma estética de belo, invertendo o que é do senso comum”.

Na sua 16ª edição, a Bienal oferece um conjunto diversificado de iniciativas (ver programa completo), centradas nas exposições de arte. As obras do concurso internacional e artistas convidados (cerca de centena e meia de obras de pintura, escultura, cerâmica, instalação, fotografia, video, desenho) distribuem-se pelo Forum Cultural e Castelo de Cerveira. No Forum Cultural e na vizinha Casa Vermelha, podem ser visitados vários projetos curatoriais. Num deles, intitulado “Ecúmeno”, participa um artista de Oliveira do Hospital, Rui Monteiro, ao lado dos artistas franceses Erick Samakh e Victoria Klotz, dos brasileiros Rodrigo Braga e Paulo Meira e da portuguesa Laetitia Morais.

O interessante projeto de Rui Monteiro apresentado na Bienal de Cerveira

Rui Monteiro reside em Oliveira do Hospital. Licenciado em Design pelas Belas Artes do Porto, chegou a trabalhar como designer gráfico mas dedica-se atualmente à investigação das novas tecnologias nas áreas da Música Eletroacústica e Digital, Visão por Computador e Programação. Um aspeto fundamental da sua obra é a interação entre Arte, Ciência e Tecnologia, traduzida em Performances Sonoras, Instalações Interativas e Composições Audiovisuais. Na Bienal de Cerveira, apresenta uma curiosa correspondência entre a interpretação matemática da paisagem natural e a representação tridimensional desses dados. No site de Rui Monteiro, podemos conhecer outros projetos curiosos, entre os quais “Spectrum portrait “ (2005) e “2handmotion” (2010).
As suas obras já foram apresentadas no Porto 2001, XI Bienal de Cerveira, na Futurartes (Caldas da Rainha) e Agirarte (Oliveira do Hospital), entre outros acontecimentos e festivais em Portugal, França e EUA.

Organizada pela primeira vez pela Fundação Bienal de Cerveira (reconhecida pelo Governo em janeiro 2010), sob o tema “Redes 2011”, a Bienal alarga-se este ano a Vigo e ao Porto - uma aposta iniciada em 2007 através da realização de atividades paralelas nos concelhos vizinhos e nos municípios galegos de Porriño, Tuy e Goyan. Na sua intervenção, Cavaco Silva referiu o contributo das Artes para o desenvolvimento de Vila Nova de Cerveira, justamente designada “Vila das Artes”, e para a projeção internacional de Portugal. Dessa intervenção, que pode ser lida na íntegra no
site da Presidência da República, gostaria de destacar alguns parágrafos que podem servir de exemplo ou de motivação para outros municípios.

“Já havia, é verdade, muito antes da Bienal, boas razões para visitar Vila Nova de Cerveira, desde o castelo à paisagem, passando pelas igrejas e solares de frontaria apalaçada.
O património natural e histórico, um pouco à semelhança do que acontece em outros lugares do nosso País, reveste-se aqui de uma exuberância e riqueza que impressionam o visitante.
Não basta, porém, termos herdado um património do qual podemos legitimamente orgulhar-nos. É preciso também saber geri-lo, dinamizá-lo, de forma a que as populações possam usufruir dele, quer do ponto de vista cultural e estético, quer do ponto de vista do desenvolvimento e da qualidade de vida. E, desse ponto de vista, a Bienal veio acrescentar uma dimensão completamente nova às potencialidades já existentes em Vila Nova de Cerveira.
A princípio, foi apenas um acontecimento efémero, aparentemente insólito, que surgia só de longe em longe. Com o correr do tempo, a música e outras artes associaram-se à pintura; o número de artistas e de visitantes foi aumentando; surgiram galerias e, muito em breve, será inaugurado um museu com obras apresentadas na Bienal. Damo-nos, pois, conta de que Vila Nova de Cerveira, além do local aprazível que sempre foi, é também um pólo internacional de arte contemporânea e um destino turístico para quem quiser conhecer os movimentos e tendências da arte nas últimas três décadas.
A importância que a Bienal adquiriu é bem visível no facto de ela se desenvolver, este ano, simultaneamente, aqui em Cerveira, no Porto e em Vigo. Mas o seu alcance vai muito para lá dessa dimensão local e regional. Ao projetar-se como iniciativa sem fronteiras, onde concorrem artistas de todo o Mundo, é também a imagem de Portugal que Cerveira projeta: a imagem de um País com um profundo enraizamento histórico e uma forte identidade, mas um País, também, onde a contemporaneidade tem lugar cativo.”

A 16ª Bienal Internacional de Cerveira decorre até 17 de Setembro 2011.


IMAGENS DA ABERTURA DA BIENAL (FORUM CULTURAL)



A Bienal de Cerveira à espera de Cavaco Silva.


O Presidente da República assina o livro de honra


O Presidente da Câmara Municipal de Cerveira, José Manuel Vaz Carpinteira, entrega ao Presidente da República a chave de ouro do município


O diretor da Bienal, Augusto Canedo


"Ó Kartistas" (Andrea Inocencio e Ana Maria)



Muito público


Vista parcial da exposição


A inauguração incluía uma prova de sabores locais.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

PAULA REGO NO PORTO


Com a presença de Paula Rego, abriram no Porto, na nova sede da EDP, as exposições “My Choice” e “A Caçadora Furtiva”. Estas exposições resultam de parcerias entre a Fundação EDP, a Fundação Paula Rego/Casa das Histórias e British Council.

Na sala de entrada, encontra-se exposto um conjunto de pinturas e desenhos de Paula Rego, intitulado “A Caçadora Furtiva”. Estas obras são produto de uma residência artística de Paula Rego na National Gallery, no início da década de noventa, como Artista Associada. Durante 18 meses, a artista portuguesa trabalhou num atelier na cave do museu, inspirando-se e absorvendo as obras dessa coleção: “(...) o que trago aqui para baixo varia imenso, mas trago sempre alguma coisa (...). Aqui sou uma espécie de caçadora furtiva” (1). Em alguns trabalhos, é possível vislumbrar essas influências e inferências, “quadros dentro dos quadros”, que a artista manipula e utiliza para contar outras histórias: “a minha única saída é tirar um bocado aqui e um bocado acolá e esperar que as histórias mantenham tudo unido” (1). Esta exposição resulta da colaboração entre a Fundação EDP e a Fundação Paula Rego/Casa das Histórias Paula Rego.


“My Choice” reune 87 obras (desenho, gravura, fotografia e pintura) de 51 artistas, selecionadas por Paula Rego do vasto espólio do British Council – uma instituição que promove a cultura britânica no mundo, tal como acontece com Instituto de Camões, em Portugal, ou com o Instituto Cervantes, na Espanha.

Os 51 artistas cujas obras foram escolhidas por Paula Rego são os seguintes: Michael Andrews, Frank Auerbach, Robert Sargent Austin, Michael Ayrton, Sir Cecil Beaton, Tony Bevan, Edmund Blampied, David Bomberg, Gerald Leslie Brockhurst, Edward Burra, Patrick Caulfield, Jake And Dinos Chapman, Prunella Clough, Robert Colquhoun, Charles Conder, John Copley, John Craxton, Ken Currie, Roy De Maistre, Lucian Freud, Harold Gilman, Charles Ginner, Richard Hamilton, Colin Hayes, David Hockney, Leonard Huskinson, Augustus John, Gwen John, R B Kitaj, Leon Kossoff, Percy Wyndham Lewis, Laurence Stephen Lowry, Jock McFadyen, Henry Moore, Paul Nash, Sir William Nicholson, Paul Noble, Chris Ofili, Sir William Orpen, Chris Orr, Grayson Perry, Raymond Ray-Jones, Albert Richards, Paul Shelving, Walter Richard Sickert, Sir Stanley Spencer, Graham Sutherland, Gerald Wilde, Victor Willing, Christopher Wood, Madame Yevonde.

Em outubro, a exposição “My Choice” será apresentada na Universidade de Coimbra (Casa das Caldeiras).

A galeria da nova sede da EDP no Porto, ao lado da Casa da Música, é composta por dois espaços amplos e agradáveis. A sala de entrada, de menores dimensões, fica ao nível da rua Ofélia Diogo da Costa e voltada para a entrada dos artistas na Casa da Música. O segundo espaço situa-se no nível inferior, com muito espaço e boa iluminação, lembrando as salas do piso inferior do CCB ocupadas pelas exposições da Coleção Berardo. Este espaço comunica com um pequeno jardim - onde foram servidos cocktails a todos os presentes na inauguração das exposições.


Nota:

(1)- Excertos de depoimentos de Paula Rego, no texto de Catarina Alfaro no desdobrável da exposição.
Paula Rego no Artes Vivas: Exposição no Porto; Casa das Histórias; "Les Planches Courbes".









quarta-feira, 13 de julho de 2011

PROCURAM-SE SKAPINAKIS

Museu Berardo procura obras de Skapinakis para retrospetiva em outubro


O Museu Coleção Berardo prepara atualmente uma exposição antológica de Nikias Skapinakis, pintor português (Lisboa, 1931) de ascendência grega, com vasta obra abrangendo a pintura, desenho, litografia, serigrafia e ilustração. Da sua obra pública, destacam-se o painel do Café "A Brasileira" do Chiado (1971) e o painel em cerâmica para o Metropolitano de Lisboa (2005). Nesse ano, foi-lhe atribuído o Grande Prémio Amadeo de Souza Cardoso, em Amarante.
Nikias Skapinakis teve já exposições retrospetivas da sua obra nos principais museu de arte contemporânea nacionais (Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1985, Museu de Arte Moderna da Fundação de Serralves, Porto, 2000) mas esta restrospectiva do Museu Coleção Berardo quer ser mesma “A Retrospetiva” e a organização procura os proprietários de algumas obras de Nikias Skapinakis, descritas AQUI.
A abertura da Exposição Antológica Nikias Skapinakis está agendada para 24 de outubro e decorre até 22 de janeiro de 2012. Para qualquer esclarecimento, o MCB indica os seguintes contactos: 213612918 / 927990219.


"A Sedução de Miss Europa", 1970 - uma das obras listadas pelo MCB

terça-feira, 12 de julho de 2011

EXPOSIÇÃO DE VICTOR MOTA NO TURISMO DE SEIA

Santo António” - Exposição de cerâmica de Victor Mota
Sala de exposições temporárias do Posto de Turismo de Seia, de 15 de junho a 17 de julho 2011


Victor Mota - "Nossa Senhora entrega Menino a Santo António

O ceramista e escultor Victor Mota regressa – e muito bem – a Seia, na sala de exposições temporárias do Posto de Turismo, com uma série de figuras em grés tratando o tema do Santo António e a simbologia que lhe está associada. Das 27 peças que integram a mostra, 25 são figuras de pequena dimensão, representando o santo em diversas situações, e duas são cenas da vida mítica do santo: “Nossa Senhora entrega Menino a Santo António” e “Santo António casamenteiro” – a peça mais trabalhada, uma composição narrativa em jeito de diorama. Na anterior, a utilização criteriosa da cor destaca e anima as figuras de Maria e do Menino, acentuando as forças em tensão no conjunto, com muitos vazios em volta das figuras e as linhas dos braços convergindo para o centro, onde a alegria incontida do menino transparece da massa fria e inerte da argila. Aliás, a delicadeza dos afetos e a emoção da fé transparece em muitas das peças expostas, levantadas em rude grés pelas mãos conhecedoras e sentido plástico do artista. De notar, ainda, o modo como Victor Mota incorpora elementos geometrizados na construção das figuras sem perder a referência do antropomorfismo e sugerindo algum dinamismo, o que resulta muito bem neste tipo de figuração, tradicionalmente estática.

Santo António foi figura de relevo na Idade Média europeia, suscitando grande popularidade graças à sua sabedoria, dotes oratórios e anunciados milagres, mas também a admiração e respeito dos homens letrados da época. Nascido em Lisboa no final do século XII com o nome de Fernando, o franciscano António notabilizou-se como pregador e ensinou Teologia na Itália e na França, para além do desempenho de cargos na estrutura organizativa dos franciscanos a convite do próprio Francisco de Assis. Foi declarado santo imediatamente após a sua morte, aos 36 anos (ou 40, dada a incerteza do ano de nascimento), no processo de canonização mais rápido de sempre da Igreja Católica. Em 1946, Pio XII proclamou-o Doutor da Igreja, mas o atributo do livro (símbolo da sabedoria e do teólogo) aparece já no primeiro retrato conhecido de Santo António, datado de 1270.

Na iconografia religiosa é incontornável a observância dos atributos – cânones que permitem identificar as figuras, servindo como tópicos visuais da narrativa mítica sancionada pela Igreja. No texto de apresentação da exposição, são referidos outros atributos de Santo António, como o hábito franciscano (às vezes mostrando por baixo o hábito dos agostinhos), a corda com os três nós (pobreza, castidade e obediência), o lírio (símbolo da pureza) e a cruz. O atributo do pão foi estabelecido no século XIX, lembrando que Santo António já aparecia em pinturas do século XVI e XVII distribuindo o “pão dos pobres”. Quanto ao Menino Jesus, este atributo evoca a aparição a Santo António em Camposampiero, testemunhada pelo Conde Tiso, sendo conhecida alguma iconografia mostrando Maria a oferecer o filho em adoração.

A mostra de Seia integra um conjunto de exposições com o mesmo tema, a primeira das quais decorreu em junho na Capela de São Sebastião, nas Caldas da Rainha, onde Victor Mota já tinha realizado em 2010 uma grande exposição sobre o Santo António (50 figuras) e o Presépio.

Victor Mota nasceu em Peniche em 1967.
Frequentou os cursos de modelação decorativa (1987), com o mestre Herculano Elias e Euclides Rebelo, e de escultura cerâmica de figura humana (1988) no CENCAL - Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica das Caldas da Rainha.
Participou ainda em workshops de cerâmica, com o ceramista e artista plástico galego Xhoan Viqueira (trabalhos sobre Bordalo Pinheiro) e com o designer belga Francis Beths (trabalhos sobre mobiliário urbano em cerâmica).
Iniciou a atividade artística na década de 90, tendo participado em várias exposições coletivas de cerâmica e escultura nas Caldas da Rainha, Óbidos e Massamá.
Em 1993, realizou a primeira exposição individual, nas Caldas da Rainha. Em 2010, mostrou o seu trabalho artístico em quatro importantes exposições individuais de cerâmica e escultura, na Capela de São Sebastião (“50 Esculturas de Santo António” e “60 Presépios”), no Céu de Vidro - Parque D. Carlos I (“Biodiversidade no Parque”) e na Junta de Freguesia de Nossa Senhora do Pópulo (“Presépios”), todas nas Caldas da Rainha. Em março de 2011, expôs no Posto de Turismo de Seia ("As 3 Faces da Deusa") e regressou à temática do Santo António nas exposições de verão nas Caldas da Rainha, Seia e Cadaval.






A escolha de Paula Rego



Em parceria com o British Council, a Fundação Paula Rego e Casa das Histórias, a Fundação EDP mostra no Porto a exposição “My Choice”, um conjunto de 87 obras (desenho, gravura, fotografia e pintura) selecionadas por Paula Rego do vasto espólio do British Council.

A exposição tem lugar na galeria da nova sede da EDP, junto à Casa da Música, e permite ver no Porto, pela primeira vez, obras de David Hockney, assim como “Naked Girl with Egg”, de Lucian Freud - “o Ingres do Existencialismo” segundo Arnold Hauser (1), neto de Sigmund Freud, um dos artistas mais relacionáveis com a pintura de Paula Rego dos anos 90 e seguintes.

Em simultâneo, inaugura a exposição de pintura e desenho de Paula Rego, “A Caçadora Furtiva”.

Em outubro, a exposição “My Choice” será apresentada na Universidade de Coimbra (Casa das Caldeiras).


Nota:
(1)- Contemporary British Art, Harmondsworth, 1951.


segunda-feira, 11 de julho de 2011

GóisOrosoArte' 11

Começa já na próxima sexta-feira a coletiva de Góis, este ano realizada em associação com o município galego de Oroso. A inauguração está marcada para as 18 horas, no Auditório da Casa do Artista.

Um dos artistas presentes na 15ª edição da coletiva de Góis será Mário Silva, na apresentação do livro de Licínia Girão, “Mário Silva: Pintor-Minotauro numa espécie de biografia” – no dia 16 de julho, sábado, pelas 19.30 horas.

Já apresentado na Figueira da Foz (81º aniversário de Mário Silva e lançamento oficial do livro) e em Vila Verde (Bienal Internacional de Arte Jovem), a obra não é uma biografia no sentido tradicional, como referiu a autora, mas sim uma viagem pela vida e obra do artista – que não terá apreciado o termo “Minotauro”. Segundo Licínia Girão, Mário Silva “é alguém que vive no labirinto da vida, alguém que continua a desenrolar o fio da vida».

Se puder, vá mais cedo, leve o fato de banho e dê um mergulho na excelente praia fluvial, a meia dúzia de metros do Auditório. Também se recomenda um passeio a pé pelo centro histórico e pelas margens do rio Ceira.

domingo, 10 de julho de 2011

Apostar seriamente no Turismo (Cultural)

Santiago, Seia



Por ocasião dos 25 anos da elevação de Seia a Cidade, verificou-se algum consenso quanto à necessidade de repensar o futuro da cidade e do concelho. O jornal Porta da Estrela (nº 926, 30 de junho 2011) publicou um conjunto de depoimentos de “personalidades de diversos setores da Sociedade Civil” com ideias e propostas concretas para o futuro do concelho, e a Câmara Municipal promoveu a realização de um debate na Casa Municipal da Cultura para “Pensar a Cidade”.

Fui uma das pessoas convidadas pelo jornal Porta da Estrela a opinar sobre o futuro do concelho de Seia, através de um texto necessariamente curto para cumprir o limite máximo de carateres referido no convite. Por este motivo, muito ficou de fora do meu texto final, após intensa poda do texto originial, e o que sobrou vai ser reproduzido mais à frente. Antes, gostaria de recuperar (da memória) algumas das ideias que ficaram apenas subentendidas no texto publicado e desfiar outras entretanto suscitadas.

Seja qual for o futuro do concelho de Seia, ele terá de passar por decisões politicas corajosas, com as necessárias consultas e discussão pública mas contrariando a tentação de chegarmos à noite ainda a discutir a frescura da manhã. Para haver um rumo é necessário apontar uma direção e a definição desse rumo fica facilitada e os riscos da viagem serão mais justamente partilhados se a denominada sociedade civil for chamada a pronunciar-se e ouvida. Será fundamental definir-se um rumo único, ou uma demanda baseada num interesse comum. Mário Jorge Branquinho – que continua a pensar o futuro de Seia e a intervir ativamente na sua construção diária – sugere um Conselho Económico Municipal, para “alinhar estratégias e um rumo”. E explicita: “A Câmara é o motor do desenvolvimento, mas esse mesmo progresso só é possivel se se contar com a participação e envolvência de todos. A iniciativa privada tem de ser mais vezes desafiada a investir. Tem de haver mais proximidade, depois de se alinhavar o tal rumo, com a definição de 3 ou 4 áreas prioritárias, porque o turismo sozinho não chega.” A maior vantagem e o maior perigo de um Conselho Económico é precisamente o de ser económico, em meios onde não é fácil conciliar interesses particulares (nem só os económicos, é certo) com interesses públicos e num país viciado em subsídios – apesar, e talvez mais ainda, por causa da crise. Um país que, por ter tais defeitos, já vai servindo de desculpa para tudo, como tão bem apontou Gonçalo M. Tavares em “Uma Viagem à Índia”: “Cada país é um pormenor que cada habitante utiliza como melhor lhe convém e como a lei permite.” Ou seja, não existe um único Portugal mas sim um Portugal diferente para cada português ( os “Portugais” de Alberto Pimenta) e esse Conselho que MJB propõe não deve ser exclusivamente uma troika económica mas sim conciliar protagonistas e intervenientes diversos com vista a um compromisso social o mais amplo possível, pois o tal rumo nunca deverá ser entendido como um engodo – a raposa que se mostra de longe à matilha de caça, ou a cenoura que se pendura diante do nariz do burro para o fazer andar.

Considerando a vocação turística do concelho de Seia, pareceu-me importante levantar a bandeira do turismo cultural, sublinhando que a maior parte das pessoas tem conceitos muito restritos de turismo e de cultura. Ora o turismo ligado à cultura deve ser pensado num contexto mais geral mas sempre local, para focar essas especificidades e rentabilizá-las. A unidade cultural de um concelho ou de uma região é sempre relativa, dada a artificialidade das fronteiras administrativas, havendo assim que valorizar e promover os elementos comuns unificadores. Sem cair na tentação de os recriar ou inventar, como aconteceu no Estado Novo com os trajes regionais e as casas típicas das antigas províncias portuguesas. Nem é por acaso que os monumentos ao pastor em Seia, Gouveia e Oliveira do Hospital são muito idênticos no essencial das formas e mesmo na composição das figuras, ao contrário do que acontece por exemplo em Celorico da beira (Monumento ao Pastor) ou Fornos de Algodres (Monumento aos Pastores e Queijeiras).

O envolvimento das freguesias pode despertá-las culturalmente e criar até alguma dinâmica económica – com algum incremento dos produtos regionais, a par da exploração das riquezas naturais, modos de vida e atividades tradicionais e de lazer, ou dos transportes, que são indissociáveis do turismo. Sem esquecer as várias vertentes do turismo cultural, que inclui o público que se desloca a Seia para um espetáculo ou uma competição desportiva, o turismo científico (visitas de estudo) e de congresso, que já tem alguma expressão na cidade. O que me pareceu útil foi sugerir a construção de um mapa inteligente de interesses que articulasse todas estas necessidades, idealmente asseguradas por micro-empresas ou empresas familiares, mesmo de constituição temporária ou sazonal, no conjunto da estrutura mais estável das indústrias locais.

O futuro de Seia, tal como a situação económica do país, pode parecer o “nó górdio” que muitos pretendem dar a ver (movidos por interesses inconfessáveis?) mas dispensa a mesma solução drástica. Seia precisa mais de soluções tipo “ovo de Colombo”, mas os novos tempos vão levar-nos certamente a modos mais criativos de entender e de fazer.


Apostar seriamente no Turismo (Cultural)


Nestes tempos de grande excitação cultural e competitividade entre criadores, agentes e empresas de cultura, para contrariar o pessimismo inspirado pela crise e reagir às restrições económicas, torna-se oportuno desafiarmos as “ideias feitas”, os estereótipos da cultura e do turismo, para pensarmos criativamente o turismo cultural em Seia, numa perspetiva global e integradora. A vocação turística do concelho de Seia é consensual e o turismo cultural deve proporcionar uma dinâmica de causa e efeito entre oferta cultural e turismo (em geral), sem pré-conceitos e muito menos angústias contraproducentes. Refiro-me, por exemplo, à habitual confusão entre excursionista e turista.
Apesar do concelho de Seia possuir já vários equipamentos culturais de qualidade, dinâmicos e prestigiados, o que continua a faltar é um espaço cultural de valorização e divulgação da história local. Idealmente, uma estrutura com vários espaços, âmbitos e dimensões, centrada na conservação, exposição e interpretação multimedia de objetos históricos relevantes e obras de arte, mas que dasafie os modelos tradicionais de divulgação e interação com a comunidade e com o mundo.
Esta ideia integra-se naturalmente num todo agregador, que é urgente discutir e implementar. Um conceito de turismo cultural que interessará a Seia, apresenta-o como a busca de novos conhecimentos e experiências, de interação com outras pessoas, comunidades e lugares, da curiosidade cultural, dos costumes, da tradição e da identidade cultural (Lise e Hélio Barroso, 2008). Com estes parâmetros, poderia desenhar-se um mapa de interesses sociais, culturais e económicos, para organizar e articular o máximo de intervenientes, detetar as falhas do sistema e instruir a implantação, mesmo sazonal, de atividades dinâmicas e criativas a cargo de grupos ou pequenas empresas, proporcionando desafios reais a jovens e menos jovens gestores, aliciantes experiências de trabalho para jovens e ocupação de reformados, mas, sobretudo, múltiplas oportunidades de trabalho e de negócio. Por tudo isto, o turismo em Seia deveria ser (re)pensado e constituir a principal linha orientadora de uma estratégia global para ajudar ao desafogo económico e ao futuro do concelho.

Sérgio Reis


Materiais e formas de ontem e de hoje convivem e dialogam entre si em Seia (nova sede dos Rotários, no centro histórico).

sábado, 9 de julho de 2011

NA COZINHA DOS ARTISTAS



Pieter Bruegel, o Velho – “O Alquimista”, gravura, c. 1558


A química e a arte (1)


A resolução nº 63 da UNESCO consagrou o ano de 2011 à Química, ciência indispensável no desenvolvimento do conhecimento humano. Um dos principais objectivos do AIQ é incrementar o interesse dos jovens pela Química.


A relação da arte com a química é a mais antiga entre todas as disciplinas científicas. As suas origens encontram-se interligadas e as interações são evidentes ao longo dos séculos da História. A descoberta, seleção e mistura de materiais, para além da compreensão das características dos suportes, impulsionaram a diversidade e o apuramento das técnicas expressivas, alargando o espaço de intervenção criativa dos artistas. Além disso, a química assegura grande parte da investigação científica das obras de arte. Explica, por exemplo, como chegaram até ao nosso tempo as pinturas de Lascaux ou Altamira, e permite hoje garantir, com reduzida margem de erro, a autenticidade de uma obra de autoria duvidosa. A química é ainda fundamental na conservação e restauro de peças artísticas históricas, quase todas insubstituíveis no contexto da memória coletiva que alicerça a identidade dos povos e da Humanidade em geral.
Trinta e cinco mil anos antes da nossa era, o homem já conhecia alguns pigmentos naturais e conseguia modificar os tons das terras, pela ação oxidante do fogo. Conheciam alguns ocres amarelos – predominando a goetite (a-FeO(OH), vermelhos - hematite (Fe2O3) e terra de sombra /terra de Úmbria – uma mistura de goetite + hematite + manganês (MnO2). O manganês natural e o carvão forneciam o preto. Os minerais eram moídos e misturados com água e aglutinantes orgânicos. Estes pigmentos ainda hoje são produzidos e utilizados, com novas técnicas e aglutinantes modernos, mas a maior parte das tintas que utilizamos são já sintéticas, ou seja, compostos artificiais obtidos por processos químicos.


O azul egípcio (CaCuSi4O10) foi o primeiro pigmento sintético. Surgiu no Egito antigo, no 3.º milénio a.C., e foi utilizado em todo o império romano. Nesse tempo e na Idade Média, as cores mais preciosas eram produtos de alquimista. O vermelho puro e quase sagrado, usado nos ícones religiosos para pintar o manto da virgem, era sulfato de mercúrio - uma substância infernal (mercúrio + enxofre), nascida de uma cozedura a alta temperatura e depois triturada e moída repetidamente. O pigmento ultramarine, outra cor incontornável na pintura religiosa, derivava do brilhante e dispendioso pó de lápis-lazúli, que continha lazurita ((Na,Ca)8(AlSiO4)6(S,SO4,Cl)1-2).


As tintas foram desenvolvidas ao longo dos séculos, com novos pigmentos, aglutinantes e aditivos, proporcionando a adoção de novos suportes. É assim que a têmpera (pigmentos com aglutinante de gema de ovo) aparece ligada à delicada pintura dos ícones religiosos e às iluminuras dos pergaminhos, enquanto os pigmentos com óleo (tinta de óleo) surgem em suportes robustos de madeira, nos retábulos medievais, ou em grossas telas esticadas em grades de madeira, desde o Renascimento. Outro suporte típico da expressão artística, o papel, foi progressivamente melhorado com novos aditivos e processos químicos de acordo com as suas diversas utilizações.


No século XIX, o interesse científico e as exigências da industrialização proporcionaram autênticas revoluções nas mais diversas áreas da vida humana. Uma delas foi a invenção e produção de cores sintéticas, oferecendo tintas uniformes e cores muito vivas, em quantidade e a preços mais acessíveis. Até então, as tintas eram produzidas pelos próprios artistas ou pelos ajudantes e aprendizes na cozinha da oficina, de acordo com receitas que passavam de mestre para discípulo, ou compradas em lojas especializadas, cujas fórmulas de produção de cores eram protegidas pelas associações. Algumas receitas eram caldos perigosos, com inúmeros riscos associados à produção e utilização de certas tintas e cores, sobretudo quando incorporavam substâncias inflamáveis, tóxicas ou contaminantes, como o chumbo (Ph) ou o mercúrio (Hg). O advento das tintas sintéticas permitiu oferecer aos artistas uma alternativa segura, para além de uma nova dimensão plástica da cor.


Inicialmente, a revolução artística despoletada pelo Impressionismo foi muito mal recebida. As novas cores começaram por chocar o público e os meios académicos conservadores, mas dominam hoje o nosso envolvimento visual e orientam os nossos gostos estéticos. Esta consciência alargada da cor deve-se aos estudos e obra de vários artistas e cientistas, desde o funcionamento do mecanismo da visão à conceção em laboratório de novas tintas, hoje enriquecidas com aditivos surpreendentes: aceleradores ou retardadores de secagem, agentes bacteriológicos (antifungos, por exemplo), pigmentos termocromáticos (cores que mudam de tom por ação da luz ou do calor) e até aromas artificiais (tintas aromáticas).


Para entender a arte contemporânea nas suas múltiplas implicações e sentidos, é indispensável considerar o contributo da química ao nível dos materiais, meios e processos da produção artística – desde a simples utilização do fogo ou o cruzamento criativo de materiais, reações fotoquímicas em tela e noutros suportes, reações químicas com polímeros na escultura, até ao recurso a processos bioquímicos – utilizados por artistas como Joseph Beuys ou Dieter Roth – e os novíssimos materiais compósitos biodegradáveis, cuja base pode ser simplesmente o amido, desenvolvidos de modo a imitar as vantagens do plástico sem custos ambientais.


A terminar, uma receita caseira para o Guache (do italiano “Guazzo”, “tinta de água”):


Ingredientes: 100 g de pigmento (à venda nas drogarias); 30 g de glicerina; 60 g de goma arábica.
Preparação: misturar os ingredientes e passar três vezes por uma peneira fina. Cozinhar em banho-maria, mexendo sempre. Conservar numa vasilha de vidro. Para usar, dissolver com água.



Sérgio Reis



(1) - Texto publicado no jornal "Vivências ...", nº3, Junho 2011

ARTIS X - em jeito de retrospetiva


O ARTIS marcou, mais uma vez, o panorama artístico regional, com grandes exposições de artes plásticas, uma curiosa exposição de fotografia em colaboração com os comerciantes locais, espetáculos de música, teatro, cinema e dança com assinalável público e merecidas homenagens a dois criadores senenses, com nome e obra reconhecidos no espaço nacional e até no estrangeiro.

Em jeito de retrospetiva, aqui ficam alguns links para o essencial do ARTIS X:

Notícia de abertura do ARTIS X - Festival de Artes Plásticas de Seia, 2011

Participantes (Pintura, Escultura, Fotografia)

Premiados (Pintura e Escultura) e entrega de prémios

Criadores senenses homenageados: António Nogueira e Jaime Reis (ver também notícia da digressão de Jaime Reis )

Encontro com o realizador senense Nuno Portugal .

Encontro com o fotógrafo José Pessoa .



Exposição de Fotografia (extensão do ARTIS X)

ARTES EM SEIA - COMENTÁRIO DOS ALUNOS

No mais recente número do jornal "Vivências ..."(1), do Agrupamento de Escolas de Seia, foi publicado um comentário sobre o colóquio Artes em Seia, que passo a citar:

"(...) Para além de tudo isto, fomos brindados com alguns colóquios no auditório da Escola Secundária de Seia. Salientamos o do professor/artista Sérgio Reis, através do qual divulgou artistas senenses de renome e as suas obras mais significativas, bem como deu a conhecer eventos culturais e artísticos, como a Artis X - uma exposição que existe, tal como a da nossa escola, há 10 anos, em Seia, e que tem contado com grandes artistas do nosso país. (...) Esta sessão foi, sem dúvida, a que nos colocou mais a par da situação artística do nosso concelho (...)."

Maria Isabel Mendonça e Nathalie João, 11º F - Curso de Artes Visuais


O Curso de Artes Visuais da Escola Secundária de Seia conta actualmente com um conjunto de alunos com inegável vocação para as artes, tal como aconteceu em alguns anos da última década. Essa vocação ficou bem patente na X Exposição de Artes da Escola Secundária de Seia (Maio 2011), na Feira de Arte e nos espectáculos "Arte: o único sentido" (12 de Março e 11 de Junho), apresentados no cineteatro de Seia.


Maria Isabel Mendonça evidencia sentido estético e desembaraço técnico no desenho e tem mostrado resultados em outras áreas artísticas, como a música e a literatura juvenil. Já passou pelo palco do Centro Cultural de Belém, como pianista, e obteve o 2º Prémio no Concurso Literário António Mota. Em 2010, recebeu um Prémio Municipal de Mérito Escolar. Nathalie João revela sensibilidade, sentido poético e capacidade técnica - como se pode ver no autoretrato:


Nathalie João, Autoretrato, 2011 (pormenor)



(1) - Jornal "Vivências ...", nº 3, Junho de 2011, pág. 13.