domingo, 28 de setembro de 2014

Sérgio Reis, deputado federal


Oi, caras.
Tem por aí gente que não cansa de me perguntar se estou correndo p´ra eleições, enchem meu mail com Parabéns, Que beleza de cartaz, Que cara mais jovem meu deus, a idade passou ao lado, nem vai ter jeito de ser velho antes de morrer, Vai em frente Sérgio Reis, isto para não falar no facebook, uma correnteza de likes que até entope o servidor, sorte a minha não ter celular, quebrou logo no arranque da crise, mas não, pode comer e dormir em sossego, minha gente, o cara aí é o tal Sérgio Reis do Brasil, que nem é nome dele mesmo, é pseudônimo, na realidade o tal de cantor sertanejo, ator de novela e outro tanto lá, mudou o apelido que era Bavini para Reis, deu folga na família, mas Bereraca insistiu, que eu era sim senhor esse tal, nem havia diferença a não ser a barba e o chapéu e os óculos, tirando tanta diferença eu passava por ser o mesmo cara, Bereraca é de Casa Mole, nasceu teimosa e não adianta esclarecer os nordestinos teimosos de Casa Mole, mas ainda assim eu respondi, Pôxa, você gostava mesmo de me atirar às feras, lá no Brasil nem podia me candidatar e cá também não tem jeito, tenho mais onde me esfarrapar, Sérgio Reis Bavini para mim é assunto arrumado, é certo que vai ganhar e o mesmo desejo a Tiririca, que faz piada com tudo e a gente já não ri desde a Copa do Mundo, agora acho que vou parar de escrever à José Saramago e mandar daqui para vocês, amigos brasileiros, um abraço do tamanho do mundo, não vale a pena exagerar.
Sérgio Reis*


*De Portugal, escrevendo em português do Brasil ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.


El Greco: Arte e Ofício

As comemorações do IV Centenário da morte de El Greco, que reuniram em Toledo a maior parte das suas obras ao longo de 2014, entrou na reta final com a exposição “El Greco: Arte e Ofício”, no Museu de Santa Cruz de Toledo, Sacristia da Catedral e Museu de El Greco. Através de mais de 90 obras oriundas de todo o mundo e até 9 de dezembro, o visitante pode perceber como o pintor de Toledo transformava as ideias em obras de arte. Entre as preciosidades expostas contam-se “São Francisco e o Irmão Leão” (proveniente de Cádiz) ou a recém restaurada “Madalena Penitente” (Worcester Art Museum – Texas, EUA), assim como 4 desenhos e 4 estampas realizadas sob orientação de El Greco no final da sua vida. 

O Museu do Exército, em Toledo, mostra ao vivo as armas pintadas por El Greco nas suas telas.


Madrid acolhe atualmente duas importantes exposições, “El Griego e a Pintura Moderna” (Museu do Prado, até 5 de outubro) e a exposição que esteve patente até agosto em Valladolid, 'Entre o céu e a Terra” (Academia de Belas Artes de São Fernando, até 8 de novembro).

Página oficial El Greco 2014

sábado, 27 de setembro de 2014

Pintura Surrealista de Luiz Morgadinho no Museu Abel Manta - Gouveia

Luiz Morgadinho

Foi hoje inaugurada a exposição de Pintura de Luiz Morgadinho, no espaço que o Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta reserva às exposições temporárias. Sem maiores formalidades, a ocasião reuniu um vasto grupo de amigos do artista, muitos deles também artistas, algum público local e contou com a presença do Presidente da Câmara, Luís Tadeu Marques, e esposa, do Presidente da Junta de Freguesia de Gouveia, João Amaro, e da Diretora do Museu Abel Manta.

A exposição reúne obras de pintura a acrílico sobre tela e técnica mista (pintura e colagem) produzidas desde 2011. As obras mais recentes, de 2014, demonstram o elevado grau de exigência técnica do artista, como na tela “Núpcias” (um forte comentário visual aos costumes populares), com a novidade das colagens – recortes de fotos combinadas com a pintura, uma ligação que resulta em formas bem trabalhadas, sendo necessária uma observação atenta para perceber onde acaba a fotografia e começa a pintura, e vice-versa. Destaca-se ainda a série “Tudo vê”, um conjunto de acrílicos s/tela de pequeno formato explorando o conceito de “big brother” (difundido por George Orwell no último romance que escreveu, “1984”, em 1949) com amplas conotações, sociais, políticas e religiosas que remetem para este nosso tempo de liberdades aparentes, irreverências controladas, felicidade pré-fabricada.

Como se sabe, não existe apenas um surrealismo, cada artista propõe e explora a sua ideia de surrealismo. A ideia surrealista, mais que um conceito, é um sinónimo de liberdade. O surrealismo moderno de Luiz Morgadinho combina o realismo (e mesmo o hiper-realismo) com grafismos populares e caricaturas, muitas vezes em ambientes oníricos ou exóticos, combinando a pintura clássica com o cartoon para elaborar mensagens de caráter social e político, inspiradas e inspiradoras.

De resto, mantenho o que escrevi em 2009 sobre a pintura de Morgadinho, um texto reproduzido parcialmente na promoção que a Câmara Municipal de Gouveia faz à exposição na sua página oficial:

Luiz Morgadinho, na sua obra criativa, utiliza técnicas de pintura convencionais para nos mostrar mais caminhos de comunicação, alargar as janelas e corredores do gosto artístico tradicional, ao mesmo tempo que desafia o acomodado entendimento da realidade. Servindo-se de um dos métodos preferidos dos surrealistas, o ilusionismo fotográfico, e guiado pelo princípio da imaginação como motor da criação, constrói malabarismos filosóficos para desmascarar as incongruências do nosso tempo.” 

A exposição decorre até 26 de outubro 2014.


Vista parcial da exposição.

Vista parcial da esxposição.


sábado, 20 de setembro de 2014

Rute Gonzalez na Casa da Cultura – uma lição de desenho

"Avós", Rute Gonzalez. Vista parcial da exposição.

Em exposição na Casa Municipal da Cultura de Seia até final de setembro, as obras de Rute Gonzalez demonstram as possibilidades do desenho e permitem entender como essa forma universal de conhecer e comunicar através do “risco” (como era antigamente referido o desenho) reforça os seus poderes expressivos ao confluir com a pintura. Para além do interesse técnico e artístico específico de cada obra, a exposição oferece uma visão muito completa do projeto desenvolvido pela artista desde 2013, que tem por base o retrato da pessoa idosa.

O desenho e a pintura são áreas artísticas com a mesma origem e limites comuns, em constante diálogo histórico e grande protagonismo nos atuais meios e processos de difusão da informação e conhecimento. Mesmo nas obras mais clássicas de pura pintura, realista ou abstrata, é evidente a presença de um desenho que organiza cada obra desde a sua origem, o processo de criação, à interpretação pelo público. Esse desenho pode estar claramente definido e integrado na pintura ou existir mesmo num domínio virtual – no caso dos pintores que trabalhavam as cores diretamente na tela (como Columbano, por exemplo) e que reconheciam a preexistência de um desenho trabalhado no plano da imaginação, uma imagem mental, uma construção intelectual.

Na conceção das suas obras, Rute Gonzalez opta claramente pelo gestualismo, criando traços que se desenvolvem criteriosamente no espaço do suporte de papel kraft colorido, limitado em altura (2,3 metros) pelo alcance da mão da artista. À expressividade do traço, a artista junta a mancha colorida e a subtil mistura de cores, utilizando um material vocacionado para fundir desenho e pintura, o pastel de óleo. A construção dos seus retratos imaginados de “Idosos” ou de “Avós” compreende assim um mapa de gestos centralizados na máscara facial, que secundariza o retrato puro e simples, os sinais distintivos da identidade, para destacar as marcas da idade, o envelhecimento traduzido em linhas, texturas, cor.

O amplo espaço do salão das magnólias e as galerias da Casa da Cultura de Seia permitiram a exposição de 30 desenhos de Rute Gonzalez - a maior parte das obras produzidas no âmbito deste projeto específico, visando a exploração simultaneamente gráfica e plástica de retratos de idosos. Desde 2013, a artista mostrou algumas das peças deste seu projeto em espaços mais contidos: Montebelo Aguieira Resort (agosto de 2013); Cineteatro de Mortágua (setembro de 2013); TR Bar (Lisboa, outubro 2013); Biblioteca Municipal de Condeixa (fevereiro 2013), Biblioteca Municipal João Brandão (Tábua, maio de 2013).


Natural de Mortágua, Rute Gonzalez licenciou-se em Pintura na ARCA de Coimbra, tendo já exposto individual ou coletivamente nas principais cidades portuguesas e em diversas localidades do centro do país.





Segunda série de “Visita Guiada”

O programa de rádio (Antena 1) e televisão (RTP2) sobre o Património cultural português, “Visita Guiada”, regressou a 15 de setembro com nova série de 13 programas.

No primeiro episódio, Paula Moura Pinheiro e Ana Alcoforado (diretora do Museu Nacional Machado de Castro) guiam-nos na descoberta da “Última Ceia” que o escultor francês Hodart realizou entre 1530 e 1534 para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Composta pelas figuras de Cristo e dos apóstolos moldadas em barro à escala natural, a obra é tão avançada para a época que, em tempos, chegou a ser considerada barroca. Considerando a semelhança das figuras de Hodart com os esboços de Leonardo da Vinci para a pintura da sua famosa “Última Ceia” é provável que o escultor francês tenha sido influenciado pelo génio do Renascimento, produzindo a obra escultórica mais importante do Renascimento português que é considerada pioneira do Maneirismo.

Nos episódios seguintes, “Visita Guiada” passará pelo Palácio Fronteira a caminho do Museu Soares dos Reis, no Porto, onde será lembrado o eternamente jovem pintor Henrique Pousão (1859-1884).

Antena 1 - sábado, 13:10
RTP 2 - segunda, 22:45


Os 13 programas da primeira série podem ser revistos AQUI.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Aqueles que não podem morrer sem dizer tudo

Lançado em Itália no final de Agosto, “Alabardas, alabardas”, o livro que Saramago deixou apenas esboçado, chegará às livrarias portuguesas a 23 de setembro (Porto Editora), podendo ser já reservado via Internet. Até final de setembro o livro será também publicado no Brasil, Espanha (em espanhol e catalão) e América Latina.

Falecido em 2010, José Saramago deixou trinta páginas com elementos para a sua nova obra, abordando a problemática do belicismo e do pacifismo, através da história de um empregado numa fábrica de armamento que subitamente descobre que o seu trabalho alimenta uma complexa máquina de interesses secretos (1).

O livro é ilustrado por Günther Grass, escritor alemão que sucedeu a Saramago nos prémios Nobel da Literartura em 1999 e também conhecido pela sua obra gráfica. Em 2000, Grass expôs em Almancil, no Centro Cultural de São Lourenço, as aguarelas que ilustravam o seu livro mais recente, “O Meu Século”. Em 2006, o Instituto Goethe mostrou em Lisboa uma retrospetiva da obra de Grass, intitulada “Imagens do seu escrever”, composta por desenhos, trabalhos gráficos, aguarelas e esculturas.

Quando Günter Grass revelou ter pertencido às Waffen-SS, a força de elite da Alemanha nazi, na sua juventude, Saramago foi uma das personalidades com prestígio internacional que saiu em defesa do escritor alemão, elogiando o seu sentido de responsabilidade e coragem. E tal como Grass, Saramago não queria morrer sem dizer tudo e assim o exprimiu: “Que quem se cala quanto me calei, não poderá morrer sem dizer tudo.”