Os artistas libaneses são pouco conhecidos fora do seu país,
especialmente as mulheres artistas – um fenómeno comum à maioria dos países
árabes, com honrosas exceções. Se as sociedades ocidentais só há poucas décadas
concederam às mulheres algum protagonismo nas artes, tradicionalmente
restringidas a atividades ocupacionais no seio do lar (pintura e piano nas
classes sociais mais favorecidas, para além dos inevitáveis “lavores”), nas
sociedades mais conservadoras, orientadas por tradições arreigadas a
preconceitos étnicos, sociais e religiosos, as aspirações artísticas femininas
são de tal modo restringidas que é muito difícil alguma mulher desenvolver uma
carreira artística e alcançar reconhecimento público nessa área. Embora
enquadrado na cultura árabe e regido pelas leis islâmicas, o Líbano é um dos
poucos países do mundo árabe que concede liberdades às mulheres: desde logo, o
direito de voto (obrigatório para os homens) e a possibilidade de optarem por
um modo de vida mais liberal. O filme “Caramel” (2007) da realizadora e atriz
libanesa Nadine Labaki retrata a situação atual nos meios citadinos libaneses, muito
diferente da que se vivia em Beirute em 1947, ano em que Saloua Raouda Choucair
(n. Beirute, 1916) realizou na Galeria Cultural Árabe a sua primeira exposição individual. Na realidade, tratou-se de uma exposição histórica: a primeira
exposição abstrata no Líbano e a primeira em todo o mundo árabe. Mas Saloua era mulher. As suas
primeiras exposições foram boicotadas (não vendeu nenhuma obra até 1962) apesar
de ter estudado pintura em 1935 com o mais proeminente pintor líbio do século
XX, Moustafa Farroukh (1901-1957), mas foi recolhendo apoios fora do
Líbano, tendo vivido cerca de três anos em Paris (1948 a 1951) para estudar na École
Supérieure des Beaux-Arts e mais um (1969) a convite do governo francês.
Tornou-se assim uma das primeiras mulheres árabes a expor num salão de arte em
Paris (Salon des Réalités Nouvelles, 1951, dedicado à arte abstrata).
Em 1959, a artista passou a dedicar-se também à escultura e a crescente
aceitação do seu trabalho fora do Líbano foi mudando a pouco e pouco a atitude
dos seus compatriotas: em 1974, a Associação de Artistas Libaneses patrocinou
uma exposição retrospetiva da artista em Beirute; em 1985, recebeu o prémio da
União Geral dos Artistas Árabes; em 1988, foi distinguida pelo governo líbio; em
2002, foi lançado em Beirute o livro "Saloua Raouda Choucair, Her Life
& Art"; em 2011, realizou-se em Beirute uma grande retrospetiva da sua
obra, com curadoria de Saleh Barakat – responsável (com Sandra Dagher) pela
primeira participação do Líbano na Bienal de Veneza, em 2007.
A 17 de abril de 2013, a Tate Modern acolhe em Londres a
primeira exposição de Saloua Raouda Choucair na Grã-Bretanha. Serão
expostas algumas pinturas abstratas dos anos 1940, como a célebre “Composição do Módulo Azul” (1947-51), o “Autorretrato” de 1943 e diversas esculturas em
madeira, metal, pedra e fibra de vidro, realizadas nos anos 1950-80. A
exposição decorre até 20 de outubro 2013.
Sem comentários:
Enviar um comentário