domingo, 31 de março de 2013

Saloua Raouda Choucair - a primeira artista abstrata do mundo árabe



Os artistas libaneses são pouco conhecidos fora do seu país, especialmente as mulheres artistas – um fenómeno comum à maioria dos países árabes, com honrosas exceções. Se as sociedades ocidentais só há poucas décadas concederam às mulheres algum protagonismo nas artes, tradicionalmente restringidas a atividades ocupacionais no seio do lar (pintura e  piano nas classes sociais mais favorecidas, para além dos inevitáveis “lavores”), nas sociedades mais conservadoras, orientadas por tradições arreigadas a preconceitos étnicos, sociais e religiosos, as aspirações artísticas femininas são de tal modo restringidas que é muito difícil alguma mulher desenvolver uma carreira artística e alcançar reconhecimento público nessa área. Embora enquadrado na cultura árabe e regido pelas leis islâmicas, o Líbano é um dos poucos países do mundo árabe que concede liberdades às mulheres: desde logo, o direito de voto (obrigatório para os homens) e a possibilidade de optarem por um modo de vida mais liberal. O filme “Caramel” (2007) da realizadora e atriz libanesa Nadine Labaki retrata a situação atual nos meios citadinos libaneses, muito diferente da que se vivia em Beirute em 1947, ano em que Saloua Raouda Choucair (n. Beirute, 1916) realizou na Galeria Cultural Árabe a sua primeira exposição individual. Na realidade, tratou-se de uma exposição histórica: a primeira exposição abstrata no Líbano e a primeira em todo o mundo árabe. Mas Saloua era mulher. As suas primeiras exposições foram boicotadas (não vendeu nenhuma obra até 1962) apesar de ter estudado pintura em 1935 com o mais proeminente pintor líbio do século XX, Moustafa Farroukh  (1901-1957), mas foi recolhendo apoios fora do Líbano, tendo vivido cerca de três anos em Paris (1948 a 1951) para estudar na École Supérieure des Beaux-Arts e mais um (1969) a convite do governo francês. Tornou-se assim uma das primeiras mulheres árabes a expor num salão de arte em Paris (Salon des Réalités Nouvelles, 1951, dedicado à arte abstrata).

Em 1959, a artista passou a dedicar-se também à escultura e a crescente aceitação do seu trabalho fora do Líbano foi mudando a pouco e pouco a atitude dos seus compatriotas: em 1974, a Associação de Artistas Libaneses patrocinou uma exposição retrospetiva da artista em Beirute; em 1985, recebeu o prémio da União Geral dos Artistas Árabes; em 1988, foi distinguida pelo governo líbio; em 2002, foi lançado em Beirute o livro "Saloua Raouda Choucair, Her Life & Art"; em 2011, realizou-se em Beirute uma grande retrospetiva da sua obra, com curadoria de Saleh Barakat – responsável (com Sandra Dagher) pela primeira participação do Líbano na Bienal de Veneza, em 2007.

A 17 de abril de 2013, a Tate Modern acolhe em Londres a primeira exposição de Saloua Raouda Choucair na Grã-Bretanha. Serão expostas algumas pinturas abstratas dos anos 1940, como a célebre “Composição do Módulo Azul” (1947-51), o “Autorretrato” de 1943 e diversas esculturas em madeira, metal, pedra e fibra de vidro, realizadas nos anos 1950-80. A exposição decorre até 20 de outubro 2013.

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