Abriu ao público a 24 de março, no Aldrich Contemporary Art Museum (Ridgefield, EUA), uma curiosa exposição sobre a utilização da
esferográfica no desenho desde 1950. A mostra decorre até 25 de agosto e reúne obras
de Alberto Giacometti (Suíça, 1901-1966), Alighiero Boetti (Itália, 1940-1994), Bill Adams (EUA,
1957), Dawn Clements (EUA, 1958), Jan Fabre (Bélgica, 1958), Joanne Greenbaum
(EUA, 1953), Martin Kippenberger (Alemanha, 1953-1997), Il Lee (seul, Coreia do
Sul, 1952), Rita Ackermann (Hungria, 1968), Russell Crotty (EUA, 1956), Toyin Odutola (Nigéria, 1985).
A ideia do funcionamento da caneta de ponta esférica
surgiu no final do século XIX e foi desenvolvida nos anos 30 do séc. XX, mas o
objeto que conhecemos como esferográfica deve-se a Laszlo Biro (1899-1985), um inventor
húngaro que emigrou para a Argentina em 1940, fugindo do conflito que
ensombrava a Europa.
Durante mais de 60 anos, após a sua popularização nos
anos 1950, a caneta esferográfica foi o principal utensílio de escrita em todo
o mundo e, apesar do uso do computador ter revolucionado a escrita, nunca se produziram
e venderam tantas esferográficas como hoje.
Como é reconhecido, trata-se de um objeto fiável,
durável, seguro contra derrames de tinta, fácil de utilizar e acessível – à
venda em toda a parte e de baixo custo. O que nem toda a gente sabe é que a esferográfica
foi e continua a ser utilizada por artistas na criação de imagens
impressionantes. Sendo um objeto vulgar, produzido em quantidades astronómicas
e ao alcance de todos, não encaixa nos parâmetros que o senso comum
convencionou para o utensílio artístico, cuja origem mítica evoca instrumentos
capazes de grandes prodígios, assombrosas “magias”. Basta lembrar a varinha
mágica da mitologia europeia, a caduceus de Hermes ou a vara de Moisés. Mas
como vai provando a arte contemporânea, que privilegia a experimentação de
novos materiais e utensílios, o artista pode criar com qualquer coisa, desde o
material mais nobre e raro a materiais vulgares e desprezados, do fino pincel
de marta ao graveto mais tosco e ao próprio dedo. O próprio objeto permite diversas abordagens ao nível do design.
Ainda nos anos 1940, o argentino Lucio Fontana (Rosário, 1899-1968) foi um dos primeiros artistas a
explorar as possibilidades do desenho com esferográfica. Alberto Giacometti e Andy Warhol também realizariam desenhos com esferográfica nos anos 1950 e 60, após a difusão da
Bic Cristal na Europa e na América do Norte (1951). Nos anos 70, o norte-americano
Cy Twombly (EUA, 1928-2011) expôs desenhos a esferográfica, no seguimento das suas experiências com materiais vulgares.
O conceito de esferográfica depende não só da ponta
esférica mas também do tipo de tinta (ISO 12757-2) e as possibilidades
expressivas ampliaram-se com as esferográficas de tinta colorida. A preto ou a
cores, a esferográfica foi utilizada por artistas das mais diversas tendências
artísticas em todo o mundo, por vezes combinada com outros meios e técnicas –
com destaque para as obras do alemão Martin Kippenberger, sobretudo da série
iniciada em 1987, “Desenhos de hotel”. Kippenberger combinou a esferográfica
com a caneta de feltro e aguarelas nos seus desenhos, recorrendo ainda à colagem e a materiais decalcáveis.
Artistas abstratos e figurativos continuam a utilizar
fluentemente a esferográfica, embora os desenhos hiper-realistas sejam
mais populares, com destaque para as obras de Juan Francisco Casas (Jaén, Espanha,
1976) e James Mylne (Londres, GB, 1981). Um alegado artista português
autodidata, Samuel Silva, tem difundido na internet alguns trabalhos que
apresenta como desenhos, havendo suspeitas sobre a sua autenticidade e até da
sua identidade. Existe um artista português chamado Samuel Silva (Samuel Joaquim
Moreira da Silva), nascido no Vale do Ave em 1983, que se dedica sobretudo à escultura
e à instalação.
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