quinta-feira, 28 de março de 2013

Desenhos a esferográfica desde 1950



Abriu ao público a 24 de março, no Aldrich Contemporary Art Museum (Ridgefield, EUA), uma curiosa exposição sobre a utilização da esferográfica no desenho desde 1950. A mostra decorre até 25 de agosto e reúne obras de Alberto Giacometti (Suíça, 1901-1966), Alighiero Boetti (Itália, 1940-1994), Bill Adams (EUA, 1957), Dawn Clements (EUA, 1958), Jan Fabre (Bélgica, 1958), Joanne Greenbaum (EUA, 1953), Martin Kippenberger (Alemanha, 1953-1997), Il Lee (seul, Coreia do Sul, 1952), Rita Ackermann (Hungria, 1968), Russell Crotty (EUA, 1956), Toyin Odutola (Nigéria, 1985).

A ideia do funcionamento da caneta de ponta esférica surgiu no final do século XIX e foi desenvolvida nos anos 30 do séc. XX, mas o objeto que conhecemos como esferográfica deve-se a Laszlo Biro (1899-1985), um inventor húngaro que emigrou para a Argentina em 1940, fugindo do conflito que ensombrava a Europa.

Durante mais de 60 anos, após a sua popularização nos anos 1950, a caneta esferográfica foi o principal utensílio de escrita em todo o mundo e, apesar do uso do computador ter revolucionado a escrita, nunca se produziram e venderam tantas esferográficas como hoje.

Como é reconhecido, trata-se de um objeto fiável, durável, seguro contra derrames de tinta, fácil de utilizar e acessível – à venda em toda a parte e de baixo custo. O que nem toda a gente sabe é que a esferográfica foi e continua a ser utilizada por artistas na criação de imagens impressionantes. Sendo um objeto vulgar, produzido em quantidades astronómicas e ao alcance de todos, não encaixa nos parâmetros que o senso comum convencionou para o utensílio artístico, cuja origem mítica evoca instrumentos capazes de grandes prodígios, assombrosas “magias”. Basta lembrar a varinha mágica da mitologia europeia, a caduceus de Hermes ou a vara de Moisés. Mas como vai provando a arte contemporânea, que privilegia a experimentação de novos materiais e utensílios, o artista pode criar com qualquer coisa, desde o material mais nobre e raro a materiais vulgares e desprezados, do fino pincel de marta ao graveto mais tosco e ao próprio dedo. O próprio objeto permite diversas abordagens ao nível do design.

Ainda nos anos 1940, o argentino Lucio Fontana (Rosário, 1899-1968) foi um dos primeiros artistas a explorar as possibilidades do desenho com esferográfica. Alberto Giacometti e Andy Warhol também realizariam desenhos com esferográfica nos anos 1950 e 60,  após a difusão da Bic Cristal na Europa e na América do Norte (1951). Nos anos 70, o norte-americano Cy Twombly (EUA, 1928-2011) expôs desenhos a esferográfica, no seguimento das suas experiências com materiais vulgares.

O conceito de esferográfica depende não só da ponta esférica mas também do tipo de tinta (ISO 12757-2) e as possibilidades expressivas ampliaram-se com as esferográficas de tinta colorida. A preto ou a cores, a esferográfica foi utilizada por artistas das mais diversas tendências artísticas em todo o mundo, por vezes combinada com outros meios e técnicas – com destaque para as obras do alemão Martin Kippenberger, sobretudo da série iniciada em 1987, “Desenhos de hotel”. Kippenberger combinou a esferográfica com a caneta de feltro e aguarelas nos seus desenhos, recorrendo ainda à colagem e a materiais decalcáveis.

Artistas abstratos e figurativos continuam a utilizar fluentemente a esferográfica,  embora os desenhos hiper-realistas sejam mais populares, com destaque para as obras de Juan Francisco Casas (Jaén, Espanha, 1976) e James Mylne  (Londres, GB, 1981). Um alegado artista português autodidata, Samuel Silva, tem difundido na internet alguns trabalhos que apresenta como desenhos, havendo suspeitas sobre a sua autenticidade e até da sua identidade. Existe um artista português chamado Samuel Silva (Samuel Joaquim Moreira da Silva), nascido no Vale do Ave em 1983, que se dedica sobretudo à escultura e à instalação.

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