sábado, 6 de abril de 2013

“Flash Mob” em Amsterdão para divulgar a reabertura do Rijksmuseum


A "Mob" patrocinada pela banca holandesa, a multinacional ING

O Rijksmuseum, em Amsterdão, fechado em 2003 (1) para obras de remodelação, vai finalmente reabrir ao público a 13 de abril, com grande pompa. A reabertura do museu foi anunciada por uma “Flash Mob” num centro comercial em Breda.

As “Flash Mobs”, divulgadas por filmes como “Set Up Revolution” (Scott Speer, 2012), são ações rápidas e inesperadas previamente combinadas pelos seus intervenientes, que no final se dispersam rapidamente. A “Mob” "Onze helden zijn terug!" ("Os nossos heróis estão de volta!"), constou de uma encenação histórica inspirada na tela de Rembrandt van Rijn (1606-1669) conhecida por “A Ronda Noturna”, a principal obra do Rijksmuseum e uma das obras mais intrigantes da denominada “idade de ouro da pintura holandesa”. Diversos milicianos do séc. XVII, alguns deles chegando a cavalo, perseguem um larápio em pleno centro comercial, surpreendendo os funcionários e frequentadores com os seus trajes inusitados, armas da época, correrias e acrobacias. No final, não cai o pano mas sim a moldura da ING, a multinacional holandesa.

Rembrandt, “A Ronda Noturna” (A companhia militar do capitão Frans Banning Cocq e o tenente Willem van Ruytenburg), 1462, pintura a óleo s/tela, 379.5X453.5 cm. Rijksmuseum, Amesterdão

O quadro representa a milícia do capitão Frans Banning Cocq e do alferes Willem von Ruytenburch, da companhia municipal de arcabuzeiros de Amesterdão – que encomendou a obra. Como era costume na época, as personagens que aparecem na tela pagaram para serem aí retratadas (2). A menina fortemente iluminada transporta um galo, o símbolo da corporação de arcabuzeiros. As crianças e o cão animam a cena dando-lhe vivacidade e realismo. A obra rompe com os convencionalismos estáticos da pintura de grupos, então na moda, e o jogo de sombras desenvolvido por Rembrandt (a partir de Caravaggio), agravado pela sujidade acumulada, induziu em erro os críticos franceses do século XIX, que lhe atribuíram o título de “A Ronda Noturna”. Foi depois provado que se trata de uma cena diurna mas o título ficou, assim como as dúvidas sobre a personagem iluminada e as suspeitas de que a obra teria um sentido oculto. Tal como outras grandes obras da Pintura Universal, inspirou várias conjeturas, uma das quais foi apresentada em filme por Peter Greenaway (“Rembrandt's J'Accuse”, 2008).

O novo Rijksmuseum foi arquitetado pelos espanhóis Cruz e Ortiz, incumbidos de recuperar o esplendor do edifício original de 1885, projetado pelo arquiteto holandês Pierre Cuypers (1827-1921). A remodelação foi de tal modo extensa que, dos cerca de 8.000 objetos expostos, apenas “A Ronda Noturna” não mudou de lugar.

Um dos destaques vai para a sala dedicada ao jovem Rembrandt, onde podem ser apreciadas algumas das suas primeiras obras (incluindo o célebre autorretrato de 1628-29), equipada com mobiliário da época e objetos de vidro e prata realizados por artífices conhecidos de Rembrant.

Para além de algumas obras de Jan Vermeer (entre as quais “A Leiteira”, de 1657-58, que serviu de base ao anúncio de uma conhecida marca de produtos láteos), encontram-se patentes no Rijksmuseum alguns tesouros da pintura europeia, como o retrato do arquiteto Giuliano da Sangallo e de seu pai Francesco (1482-85), do renascentista Piero di Cosimo (1462-1522), e o tríptico da "Adoração do Bezerro de Ouro" (1530), de Lucas van Leyden (1494-1533).

(1 - Reabriu temporariamente em 2006, para as comemorações dos 400 anos do nascimento de Rembrant.

(2) - A propósito deste costume, conta-se (Haskel) que o pintor barroco Il Guercino enviou a um cliente o seguinte recado: "Como o meu preço habitual por cada figura é de 124 ducados e como sua Excelência se limitou a pagar 80 ducados, terá apenas um pouco mais de meia figura”.

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