A "Mob" patrocinada pela banca holandesa, a multinacional ING
O Rijksmuseum, em Amsterdão, fechado em 2003 (1) para
obras de remodelação, vai finalmente reabrir ao público a 13 de abril, com
grande pompa. A reabertura do museu foi anunciada por uma “Flash Mob” num
centro comercial em Breda.
As “Flash Mobs”, divulgadas por filmes como “Set Up Revolution” (Scott Speer, 2012), são ações rápidas e inesperadas previamente
combinadas pelos seus intervenientes, que no final se dispersam rapidamente. A “Mob” "Onze helden zijn terug!" ("Os nossos heróis estão de volta!"), constou de uma encenação histórica inspirada na tela de Rembrandt van
Rijn (1606-1669) conhecida por “A Ronda Noturna”, a principal obra do Rijksmuseum e uma das obras mais intrigantes da denominada “idade de ouro da pintura
holandesa”. Diversos milicianos do séc.
XVII, alguns deles chegando a cavalo, perseguem um larápio em pleno
centro comercial, surpreendendo os funcionários e frequentadores com os seus
trajes inusitados, armas da época, correrias e acrobacias. No final, não cai o pano mas sim a moldura da ING, a multinacional holandesa.
Rembrandt, “A Ronda Noturna” (A companhia militar do
capitão Frans Banning Cocq e o tenente Willem van Ruytenburg), 1462, pintura
a óleo s/tela, 379.5X453.5 cm. Rijksmuseum, Amesterdão
O quadro representa a milícia do capitão Frans Banning
Cocq e do alferes Willem von Ruytenburch, da companhia municipal de
arcabuzeiros de Amesterdão – que encomendou a obra. Como era costume na época,
as personagens que aparecem na tela pagaram para serem aí retratadas (2). A
menina fortemente iluminada transporta um galo, o símbolo da corporação de
arcabuzeiros. As crianças e o cão animam a cena dando-lhe vivacidade e
realismo. A obra rompe com os convencionalismos estáticos da pintura de grupos,
então na moda, e o jogo de sombras desenvolvido por Rembrandt (a partir de
Caravaggio), agravado pela sujidade acumulada, induziu em erro os críticos
franceses do século XIX, que lhe atribuíram o título de “A Ronda Noturna”. Foi
depois provado que se trata de uma cena diurna mas o título ficou, assim como
as dúvidas sobre a personagem iluminada e as suspeitas de que a obra teria um
sentido oculto. Tal como outras grandes obras da Pintura Universal, inspirou
várias conjeturas, uma das quais foi apresentada em filme por Peter Greenaway
(“Rembrandt's J'Accuse”, 2008).
O novo Rijksmuseum foi arquitetado pelos espanhóis Cruz e Ortiz, incumbidos de recuperar o esplendor do edifício original de
1885, projetado pelo arquiteto holandês Pierre Cuypers (1827-1921). A
remodelação foi de tal modo extensa que, dos cerca de 8.000 objetos expostos,
apenas “A Ronda Noturna” não mudou de lugar.
Um dos destaques vai para a sala dedicada ao jovem
Rembrandt, onde podem ser apreciadas algumas das suas primeiras obras (incluindo
o célebre autorretrato de 1628-29), equipada com mobiliário da época e objetos
de vidro e prata realizados por artífices conhecidos de Rembrant.
Para além de algumas obras de Jan Vermeer (entre as quais
“A Leiteira”, de 1657-58, que serviu de base ao anúncio de uma conhecida marca de
produtos láteos), encontram-se patentes no Rijksmuseum alguns tesouros da
pintura europeia, como o retrato do arquiteto Giuliano da Sangallo e de seu pai
Francesco (1482-85), do renascentista Piero di Cosimo (1462-1522), e o
tríptico da "Adoração do Bezerro de Ouro" (1530), de Lucas van Leyden (1494-1533).
(1 - Reabriu temporariamente em 2006, para as comemorações
dos 400 anos do nascimento de Rembrant.
(2) - A propósito deste costume, conta-se (Haskel) que o
pintor barroco Il Guercino enviou a um cliente o seguinte recado: "Como o meu
preço habitual por cada figura é de 124 ducados e como sua Excelência se
limitou a pagar 80 ducados, terá apenas um pouco mais de meia figura”.
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