Abriu hoje ao público em Serralves, no Porto, e na Fundação
Carmona e Costa (1), em Lisboa, a maior retrospetiva de desenhos de Jorge
Martins realizada até à data, sob o título “A Substância do Tempo”.
Jorge Martins é sobretudo (re)conhecido pelos seus desenhos
abstratos e sem cor, um traço distintivo que unifica a sua obra ao longo de
mais de 50 anos de atividade artística, mas o pintor neofigurativo desenvolveu
ao longo das décadas um renovado olhar informado e crítico sobre o mundo
circundante, com influências mais evidentes do abstracionismo lírico, da arte
pop ou do minimalismo. Particularmente estudada desde os anos 80 (2) a sua obra
adquire especial sentido pela natureza do diálogo entre o figurativo e o
abstrato, expondo a diversidade de relações desproporcionais que se estabelecem
no dia-a-dia, a vários níveis, entre pessoas, ideias, espaços e objetos, aplicando
o princípio de “utilizar apenas a cor inevitável” (3).
Em Serralves, apresentam-se mais de 200 obras abstratas realizadas
entre 1965 e 2012, um percurso que se completa com as cerca de 150 obras mais figurativas expostas no Edifício
Espanha (antiga Bolsa Nova de Lisboa), sede da Fundação Carmona e Costa. A mostra de Serralves tem curadoria de Marta Moreira de Almeida e, a de Lisboa, de Manuel Costa Cabral.
Jorge Martins nasceu em Lisboa em 1940. Frequentou os cursos
de arquitetura e pintura da Escola de Belas Artes de Lisboa. Começou a expor em
1958, no I Salão de Arte Moderna da Casa da Imprensa, e individualmente desde
1960 (Galeria Gravura, Lisboa, Galeria Alvarez, Porto). Entre as várias
exposições que reuniram parte significativa da sua obra, contam-se “Desenhos,
1957-1987” na FCG em 1988, a retrospetiva “Pintura, 1958-1993” na FCG em 1993 e a exposição antológica “Simulacros / Uma Antologia”, enquadrada por um estudo
aprofundado de Raquel Henriques da Silva, que teve lugar no Centro Cultural de
Belém em 2006.
(1)-A Fundação
Carmona e Costa foi criada em 1997 para “desenvolver e dinamizar projetos na
área da arte contemporânea portuguesa”. Em parceria com outras instituições,
criou em 2003 um programa de apoio à arte contemporânea para projetos na área
do desenho.
(2)- Maria Filomena Molder publicou em 1984 o livro “Jorge Martins” e, no
ano seguinte, a FCG editou um livro e dedicou um colóquio à obra do artista,
que vivia então em Paris. Em 1981 e 1982, M. Barroso realizou dois filmes sobre
J.M., “Visible-Invisible” e “Doce Exílio”. Vários críticos de arte escreveram
prolixamente sobre a sua obra, com destaque para João Pinharanda e Rui Mário
Gonçalves.
(3)-“Preto.branco”, desenhos de Jorge Martins, FCG, 1983.
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