Eduardo Nery, "Estrutura Ambígua IV"
Pelas obras de Eduardo Nery, de traço rigoroso e espaços
arrumados, nos quais convivem o verso e reverso e perspetivas diversas de
formas totalmente díspares, harmonizadas no plano da pintura ou nos variados
suportes em que trabalhou, podemos entender a conceção que tinha do mundo e da
arte. A ideia base de toda a sua obra é a de construção, quadrado a quadrado,
cubo a cubo, tijolo a tijolo, vidro a vidro. Estruturas pensadas e testadas para um mundo
sem paredes estanques, a arte sem fronteiras artificiais entre estilos ou movimentos,
e por isso se dedicou também à gravura, azulejaria, tapeçaria, vitral, pintura
mural, arte pública, colagem e fotografia - para além da pintura. Por isso colecionava
arte africana. Por isso ajudou a fundar a Associação Portuguesa de Arte
Outsider, que valoriza a arte produzida fora dos circuitos culturais
convencionais e os seus autores, sem formação artística e afastados da
sociedade pelos mais diversos motivos. É esta conceção aberta e participada do mundo e da arte que
nos deixa a todos como herança.
O corpo principal da obra de Eduardo Nery estrutura-se no
construtivismo geométrico. Em 1969, Rocha de Sousa chamava a atenção para os
jogos perspéticos e espaços ilusórios dos seus quadros, que chegaram a incluir
formas tridimensionais articuladas com formas bidimensionais: as
pinturas-objeto, entre as quais as “Estruturas Ambíguas”. Nos anos 70, a sua
pintura reformula-se com a introdução de fundos planos e paradoxos de
representação do espaço, combinando formas díspares em imagens “de mistério e
de humor”. Ao nível da pintura, destacam-se ainda as suas paisagens abstratas
de temática cósmica, combinando spray e colagem, que realiza até aos anos 90. A
fase gestual de 2000/2001 antecede a pintura expressionista de máscaras e, em
meados da primeira década do século XXI regressa ao abstracionismo geométrico.
E. Nery, azulejos na Estação de Metro do Campo Grande: "jogo dialético entre modernidade e tradição" (E.N.).
O conceito de estrutura, na construção ou desconstrução das
formas e dos espaços, é transversal na obra de E. Nery, que começou por desejar
ser arquiteto antes de se tornar artista plástico. Os jogos visuais ou de
sentido (ilusões, ritmos, relações cromáticas) são a argamassa necessária à
coerência do conjunto - tal como as melodias que resultam da junção e
sobreposição de sons dissonantes. A propósito, Eduardo Nery era apaixonado por música, Jazz em particular - como grande parte dos artistas abstratos. Um género musical em que o improviso também é estrutural.
Natural da Figueira da Foz, onde nasceu em 1938, faleceu
hoje de manhã em Lisboa, aos 74 anos.
Video:
“A Arte e a Mente de… Eduardo Nery” (2010). O filósofo José
Neto conversa com Eduardo Nery.
Rocha de Sousa sobre Eduardo Nery:
- Artistas Portugueses Contemporâneos: Eduardo Nery.
- Fotografia.
- Obra pictórica.
- Obra em azulejo.
- Tapeçaria.
- Vitral.
Rocha de Sousa sobre Eduardo Nery:
- Artistas Portugueses Contemporâneos: Eduardo Nery.
- Fotografia.
- Obra pictórica.
- Obra em azulejo.
- Tapeçaria.
- Vitral.
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