
quarta-feira, 30 de março de 2011
ÂNGELO DE SOUSA (1938-2011)

sábado, 26 de março de 2011
Recordações da Casa Rosa

No folheto da apresentação da exposição, pode ler-se: "O confronto destes três universos, que em comum apresentam o recurso à figura e à narrativa - ainda que a realidade seja neles subvertida pela possibilidade da ficção - revela outros tantos imaginários que se poderão rever no espaço da Casa de Serralves, também ele fortemente ficcionado pela utopia do seu passado."


(1) Na realidade, a Casa de Serralves é uma obra colectiva. Charles Siclis (Paris, 1889-Nova Iorque, 1942) e José Marques da Silva (Porto, 1869-1947) foram os principais arquitectos mas o projecto também acolheu alterações do próprio Conde, do decorador Émile Jacques Ruhlmann e do seu sobrinho, o arquitecto Alfred Porteneuve.
terça-feira, 22 de março de 2011
ANTÓNIO SENA
Para além do Grande Prémio, será ainda atribuído em Setembro de 2011 o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, em concurso destinado a premiar uma obra de um artista nacional ou estrangeiro.
segunda-feira, 21 de março de 2011
CHOCOLATE
O senhor de meia idade que atravessa a rua, indolente e cabisbaixo, a caminho do seu apartamento frio esquecido nas entranhas da cidade aborrecida, detesta doces, vocifera contra o mel, abomina açúcar, odeia chocolate. Todos os chocolates, sem excepção. O último amigo do senhor tristonho, preocupado com o seu bem-estar, pois nem todos os ódios descontrolados ferem apenas o bom humor, tentou inutilmente convencê-lo das virtudes e bondades do chocolate. Que até se atribui a um deus asteca o roubo das sementes do cacau do jardim do Éden, para benefício do homem, provando-se assim que certos crimes compensam pois o abuso do cacau transformava os rapazes em homens e os homens em deuses. O senhor de meia idade maneava teimosamente a cabeça, que não, que as virtudes e bondades do chocolate eram enganos pecaminosos, pode lá um homenzeco lambuzado comparar-se a um deus? Pecados enganados, corrigia pacientemente o último amigo do senhor amargo. Que antes de ser pecaminosa tentação, o cacau correu como vinho na boda de casamento de Luís XIII de França, trazido do Brasil por monges espanhóis. Pois foi, troçou o senhor azedo, e por isso o rei demorou quatro anos a deitar-se com a rainha e o reinado deu no que deu, no Richelieu, que também detestava guloseimas mas tinha grandes defeitos. Que nada, insistia delicadamente o amigo, mas acabava por desistir da questão aborrecido com a teimosia cega do senhor azedo. Seguiam depois cada qual para seu lado, o senhor de meia idade cada vez mais fortalecido de razões para continuar amargo e o último amigo cada vez menos amigo até se tornar apenas o último.
O senhor de meia idade que atravessa sozinho a rua, de queixo e ombros caídos, a caminho do seu apartamento gelado no coração obscuro da cidade embrutecida, detesta tudo o que seja doce ou lhe pareça adocicado, mesmo à distância de um breve olhar de repulsa. Já não tem amigos, que julga ter perdido por serem intolerantes e rancorosos, mas descobriu recentemente com incontido espanto que o cacau, antes de ser uma bebida doce, era mezinha tão amargosa e intragável que só os corajosos a tomavam sem ameaças e as crianças fugiam sequer de falar nela. Ao senhor azedo não apetecem os aromas e os sabores complexos do cacau, muito menos o soberbo toque aveludado e o aconchego voluptuoso do chocolate. A lembrança dos malefícios, desde as maleitas dentárias ao pesadelo da obesidade, acodem-lhe ao espírito como tsunamis. Tentando apaziguar os piores temores, afunda o corpo seco na sua poltrona nua, cruza as finas canelas diante da lareira apagada e imagina-se a mastigar estoicamente o cacau amargo medicinal. Coroou-se a si próprio com uma coroa de espinhos artificiais e conforta-se com o prazer enganado, amargo e gelado, de ter afinal muitos motivos para detestar chocolate. Todos os chocolates, sem excepção.
Sérgio Reis
*Texto publicado no jornal “Vivências”, do Agrupamento de Escolas de Seia, Nº1, Fevereiro de 2011, escrito por ocasião do encontro promovido pela Biblioteca Escolar da EB 2 3 de Tourais/Paranhos sob o lema “Cacau, Chocolate – Origens”.
sábado, 19 de março de 2011
PINTURA NA MOITA-2
A Câmara Municipal e as diversas colectividades do concelho promovem anualmente um conjunto diversificado de inciativas, algumas delas dirigidas especificamente à pintura. A sala de exposições do Posto de Turismo acolhe geralmente duas exposições por mês, muitas vezes de pintura. De dois em dois anos, realiza-se em Alhos Vedros a Bienal de Pintura de Pequeno Formato - Prémio Joaquim Afonso Madeira, organizada conjuntamente pela Câmara Municipal da Moita, Junta de Freguesia de Alhos Vedros e o Círculo de Animação Cultural de Alhos Vedros (CACAV). No centro histórico da vila encontram-se com facilidade várias manifestações artísticas públicas, como pinturas murais e elementos escultóricos de cariz popular, sobretudo com intuitos decorativos.



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PINTURA NO TURISMO DA MOITA
Sala de exposições do Posto de Turismo da Moita
Horário (Segunda a Sexta): 9.30 - 12.30; 14.00 - 18.00
Ver também (link): "Pintura na Moita"


quarta-feira, 16 de março de 2011
MANIFESTO DO NADA
Ver esta performance no YouTube - parte 1 e parte 2


terça-feira, 15 de março de 2011
Exposição de Pintura na Moita

Se fosse necessário intitular esta exposição, escolheria um poema de Nuno Júdice, “A Vida”. O poema todo – pois transparecem nesses versos, como ecos, os principais conteúdos poéticos dos meus quadros - a vida que nos anima, cerca e enlaça, o inevitável peso da presença e da ausência, da incerteza e do acaso, dos jogos de luz e de sombra na construção da memória.
Sérgio Reis
A Vida
A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;
a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;
a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.
Nuno Júdice
(Teoria Geral do Sentimento, 1999)
Ver também:
domingo, 13 de março de 2011
As três faces da Deusa
Sala de exposições temporárias do Posto de Turismo de Seia, de 4 a 31 de Março 2011
No texto de apresentação da exposição, pode ler-se: “O trabalho de Victor Mota define-se com base numa profunda e criteriosa pesquisa sobre a sensibilidade e a relação de formas e conteúdos, no estudo moroso e cuidado de esboços que originam e enquadram o seu processo criativo”.
A estranheza do resultado, pedaços de realismo presos a formas antropomórficas simplificadas, incompletas, fala do compromisso do artista, tentando atravessar o espelho da natureza e da tradição rumo às maravilhas do artificialismo moderno. Ou, simplesmente, das vantagens de combinarmos o antigo e o moderno, as cadeias cíclicas da evolução, para projectarmos avisadamente o futuro. Ou ainda, como sugere o título da exposição, a representação do tempo através dos degraus míticos da vida da mulher, “As três faces da Deusa: Donzela, Mãe e Anciã”.
A exposição integra ainda oito esculturas de Carlos Oliveira, em alabastro cristalino, inseridas na mesma temática mas com preocupações essencialmente ornamentais, tirando partido da particularidade translúcida desse material para iluminar as formas esculpidas. Nas suas obras, Carlos Oliveira toda a experiência reunida ao longo do seu percurso, na indústria cerâmica, do vidro e das resinas, assim como através de pesquisas e investigação na área dos materiais e técnicas de aplicação.
Frequentou os cursos de modelação decorativa (1987), com o mestre Herculano Elias e Euclides Rebelo, e de escultura cerâmica de figura humana (1988) no CENCAL - Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica das Caldas da Rainha.
Participou ainda em workshops de cerâmica, com o ceramista e artista plástico galego Xhoan Viqueira (trabalhos sobre Bordalo Pinheiro) e com o designer belga Francis Beths (trabalhos sobre mobiliário urbano em cerâmica).
Iniciou a actividade artística na década de 90, tendo participado em várias exposições colectivas de cerâmica e escultura nas Caldas da Rainha, Óbidos e Massamá.
Em 1993, realizou a primeira exposição individual, nas Caldas da Rainha. Em 2010, mostrou o seu trabalho artístico em quatro importantes exposições individuais de cerâmica e escultura, na Capela de São Sebastião (“50 Esculturas de Santo António” e “60 Presépios”), no Céu de Vidro - Parque D. Carlos I (“Biodiversidade no Parque”) e na Junta de Freguesia de Nossa Senhora do Pópulo (“Presépios”), todas nas Caldas da Rainha.

Formação nas áreas de desenho e moldagem no CENCAL, onde teve como mestres Artur Lopes, Armando Correia e Herculano Elias.
Em 1989, fundou o seu atelier, onde realiza desde então todo o tipo de obras em cerâmica e escultura, bronze, fibras e resinas.
Expõe os seus trabalhos desde 2001, tendo realizado exposições individual nas Caldas da Rainha, Lisboa, Barreiro, Almada, Tui, Arruda dos Vinhos, Sobral de Monte Agraço. Participou em diversas exposições colectivas de cerâmica e escultura, nacionais e internacionais. Ver currículo completo.
Participou na realização de vários monumentos, no Funchal, Alemanha, Oeiras, Sagres, Cascais e Golegã.
Encontra-se representado em colecções particulares nacionais e estrangeiras.
É referenciado nos livros “Cerâmica e Escultura”, de Carlos Bajouca, e no Anuário Internacional de 2003, de Fernando Infante do Carmo.
NOTAS:
(2) Herculano Elias (n. 1932) é um ceramista caldense conhecido sobretudo pelas miniaturas cerâmicas, uma tradição familiar. As miniaturas são pequenas peças de faiança representando de modo realista figuras típicas, costumes regionais, cenas históricas ou representações religiosas tradicionais. A modelação é fundamental, destacando a destreza do artista pois dá ênfase ao pormenor à escala. Esta exigência de detalhe muito reduzido e a recusa de vidrado, impõe uma cuidada selecção de argilas e o recurso ao método da patine, para consolidar as peças e fortalecer os pormenores, o que confere às peças um brilho suave e discreto.
(3) Nos anos 80, as peças de Armando Correia (1936-2008) eram arredondadas e bojudas, evocando a escultura de Jorge Vieira, que foi seu professor na então Escola Técnica das Caldas da Rainha (actual Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro). Os volumes geometrizados e as texturas sensuais são características da obra de A.C. Nos anos 90, os projectos de correspondência com a literatura proporcionaram o desenvolvimento de uma gramática formal variada, com formas estilizadas, de que são exemplo as figuras do teatro de Gil Vicente e os mitos da Antiguidade Clássica. Na última década, as formas cónicas serviram de base a desenvolvimentos temáticos a cargo do desenho e da cor – como os presépios / reis magos, que realizou com a colaboração dos seus filhos Ivo Ximenes e Ruben Correia, que certamente darão continuidade às preocupações estéticas do artista caldense, falecido em 2008.
(4) Recorrente no figurado contemporâneo e que Armando Correia desenvolveu nas suas últimas peças.
quinta-feira, 3 de março de 2011
Demasiado ocupado para pintar?


Os Artistas Fantasmas.
Nós pintamos - você assina!"
quarta-feira, 2 de março de 2011
Serafim Correia, fotógrafo de Seia
“Primoroso artista da fotografia” (J. Quelhas Bigotte)
De Serafim Correia não se pode dizer simplesmente que é um fotógrafo. A sua actividade profissional é a fotografia mas, na medida em que recusa a produção de fotografias em série (utilizando máquinas que qualquer indivíduo pode operar) e porque privilegia a fotografia a preto e branco (estética e tecnicamente mais difícil), pode – e deve – ser considerado artista. Um artista que “pinta” com a luz.
Será talvez supérfluo sublinhar a importância deste espólio para uma correcta e completa história de Seia desde 1940, que não dispensa uma rede de fotobiografias cruzadas, assim como os registos fotográficos da evolução física da cidade, ou seja, da paisagem urbana, suas convulsões e desenvolvimentos. E se Serafim Correia é um excelente artista do retrato, é aqui – na classificação retórica de “paisagem” – que ele se revela um autêntico mestre, tirando partido da luz e da sombra para despertar a emoção do observador perante os volumes da serra, as texturas das pedras com história, os degraus do tempo, a segurança dos caminhos e o aconchego cúmplice dos recantos de Seia antiga e moderna.

Na Escola de Belas Artes do Porto, com o pintor portuense Joaquim Lopes, Serafim Correia apurou as técnicas de retoque fotográfico, que exige muita sensibilidade e rigor, mas foi com o pai – o grande fotógrafo Eduardo Correia (1889-1973) – que aprendeu as técnicas fotográficas, podendo ter sido um fotógrafo famoso a nível nacional, não fossem os custos da interioridade e a sombra majestosa do pai, cujos sucessos incluem diversos prémios em exposições nacionais e internacionais. Chegou a trabalhar dois anos num estúdio fotográfico em Paço D’Arcos, regressando depois a Seia, onde manteve a sua loja e estúdio desde 1964.
As suas fotografias foram publicadas em jornais e revistas nacionais e locais, tendo uma delas merecido destaque na primeira página do Diário de Notícias a propósito da inauguração da estátua de Afonso Costa pelo então presidente da República, General Ramalho Eanes, em 08 de Novembro de 1981. Na verdade, Serafim Correia fotografou todos os presidentes e figuras da República que passaram por Seia desde o início dos anos 60.
Participou em algumas exposições de fotografia mas os seus melhores trabalhos não se encontram divulgados por resultarem de encomendas particulares. Entre estes últimos, destaca-se um trabalho de grande dimensão (mais de dois metros de comprimento por um metro e meio de largura) e grande envolvimento visual, pertencente à firma MRG - Manuel Rodrigues Gouveia.
Em 2004, foi homenageado pelo Rotary Clube de Seia.

