quarta-feira, 2 de março de 2011

Serafim Correia, fotógrafo de Seia

Serafim Correia (1922-2011)
“Primoroso artista da fotografia” (J. Quelhas Bigotte)


A Cultura senense ficou mais pobre com o recente desaparecimento de Serafim Correia. O mais conhecido e respeitado fotógrafo de Seia faleceu a 23 de Fevereiro de 2011, aos 88 anos de idade.
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Para J. Quelhas Bigotte (“Escritores e Artistas de Senense”, 1986), Serafim Correia era um “primoroso artista da fotografia” e, digo eu, todas as pessoas de inegável mérito são insubstituíveis, ainda mais aquelas que nos deixam uma obra preciosa, ímpar, fruto do seu trabalho incansável, muitas vezes lutando com as mais diversas contrariedades. O resultado foi "só" o registo sistemático de praticamente todos os acontecimentos senenses desde 1940, através de fotografias de grande qualidade que constituem documentos fundamentais para a compreensão das transformações da então Vila na actual cidade de Seia. Serafim Correia não deve ser esquecido e a sua obra merece urgente divulgação e reconhecimento público.

De Serafim Correia não se pode dizer simplesmente que é um fotógrafo. A sua actividade profissional é a fotografia mas, na medida em que recusa a produção de fotografias em série (utilizando máquinas que qualquer indivíduo pode operar) e porque privilegia a fotografia a preto e branco (estética e tecnicamente mais difícil), pode – e deve – ser considerado artista. Um artista que “pinta” com a luz.

Será talvez supérfluo sublinhar a importância deste espólio para uma correcta e completa história de Seia desde 1940, que não dispensa uma rede de fotobiografias cruzadas, assim como os registos fotográficos da evolução física da cidade, ou seja, da paisagem urbana, suas convulsões e desenvolvimentos. E se Serafim Correia é um excelente artista do retrato, é aqui – na classificação retórica de “paisagem” – que ele se revela um autêntico mestre, tirando partido da luz e da sombra para despertar a emoção do observador perante os volumes da serra, as texturas das pedras com história, os degraus do tempo, a segurança dos caminhos e o aconchego cúmplice dos recantos de Seia antiga e moderna.



Serafim Correia, D. Rosa, D. Elvira, Eduardo Correia, Fernando e António Correia


Serafim dos Santos Correia nasceu no Porto, na Freguesia de Santo Ildefonso, em 12 de Outubro de 1922. Com 9 anos, vem para Seia, onde fez a 4ª classe. De volta ao Porto, frequenta a Escola Industrial de Faria Guimarães. Só em 1939 regressa a Seia, para trabalhar com o pai, tendo casado com D. Rosa Augusto Monteiro Correia, que lhe deu dois filhos: Fernando Correia e António Correia, que herdaram do pai e do avô o gosto pela fotografia.

Na Escola de Belas Artes do Porto, com o pintor portuense Joaquim Lopes, Serafim Correia apurou as técnicas de retoque fotográfico, que exige muita sensibilidade e rigor, mas foi com o pai – o grande fotógrafo Eduardo Correia (1889-1973) – que aprendeu as técnicas fotográficas, podendo ter sido um fotógrafo famoso a nível nacional, não fossem os custos da interioridade e a sombra majestosa do pai, cujos sucessos incluem diversos prémios em exposições nacionais e internacionais. Chegou a trabalhar dois anos num estúdio fotográfico em Paço D’Arcos, regressando depois a Seia, onde manteve a sua loja e estúdio desde 1964.

As suas fotografias foram publicadas em jornais e revistas nacionais e locais, tendo uma delas merecido destaque na primeira página do Diário de Notícias a propósito da inauguração da estátua de Afonso Costa pelo então presidente da República, General Ramalho Eanes, em 08 de Novembro de 1981. Na verdade, Serafim Correia fotografou todos os presidentes e figuras da República que passaram por Seia desde o início dos anos 60.

Participou em algumas exposições de fotografia mas os seus melhores trabalhos não se encontram divulgados por resultarem de encomendas particulares. Entre estes últimos, destaca-se um trabalho de grande dimensão (mais de dois metros de comprimento por um metro e meio de largura) e grande envolvimento visual, pertencente à firma MRG - Manuel Rodrigues Gouveia.

Em 2004, foi homenageado pelo Rotary Clube de Seia.
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Em 1996, em colaboração com o seu filho António Correia, também fotógrafo, elaborei um texto que foi publicado na PE/Revista” nº 2, suplemento do jornal Porta da Estrela de 20/01/1996:





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