Titti Garelli, “Rainha Gótica com Gato Esfinge”, acrílico
s/madeira
Há um fascínio secreto nos retratos efabulados de Titti
Garelli, a artista italiana que ilustrou em 1993 “As Fábulas de La Fontaine” com
12 sugestivas litografias, 6 das quais coloridas à mão, numa tiragem
limitadíssima. Intrigantes e algo perversos, os seus retratos representam,
segundo a autora, “meninas más”, naturalmente cruéis ou fruto das liberdades
educativas atuais. “São bonitas (…) e têm charme” mas não inspiram ternura,
como as bonecas, não são representações ideais da infância. São meninas más, crianças
e jovens desejosas de crescer muito depressa contra a vontade dos adultos, ou que
a tal são obrigadas, desafiando os limites entre realidade e fantasia, vigília e sonho,
presente e futuro. A imitar os adultos em teatros de armário, em jogos cujas regras não entendem, pois brincam sem regras,
e cujas consequências não temem pois “é tudo a fingir”. Acrescenta a artista: “Fui
obrigada a tornar-me uma menina boa. Por isso desenho meninas más”.
Titti Garelli é natural de Turim, onde vive e trabalha. Depois
dos estudos na Academia Albertina de Belas Artes, trabalhou como ilustradora
para importantes agências internacionais de publicidade (M.Cann Erickson, J.W.
Thompson, Young & Rubicam ou Leo Burnet) e marcas conhecidas (Nestlé,
Chicco, Barilla, Jegermeister, entre outras). A sua pintura é marcadamente
realista e psicológica, apelativa e impactante, ao gosto da linguagem publicitária.
Em 2000, expôs em Nova Iorque (Wiliamsbourg e Soho) uma
série de obras sob o título genérico de “As Meninas Más”, explicando que "As
crianças podem ser cruéis como os adultos, às vezes até mais, porque elas não têm
as nossas inibições nem o nosso condicionamento”. Continuou a expor meninas más
nos anos seguintes, enriquecendo a coleção com "anjinhos rancorosos e fadas
irreverentes".
Em 2007, apresentou na Galleria Via Porta Palatina, em
Turim, uma sequência de pequenos retratos (10X10 cm) realistas a que deu o
título de “A Volta ao Mundo em 80 Meninas”. Os retratos contavam uma viagem
imaginária à volta do mundo, apresentando rostos e cores representando 80
cidades ou países.
A pintura de Garelli possui uma forte evocação renascentista, sobretudo nos retratos. Na sua vasta galeria de "meninas más" não falta uma menina com arminho, lembrando a célebre “Dama com Arminho” de Leonardo da Vinci. Em algumas pinturas, Garelli esmera-se na criação realista de cenários e ambientes desconcertantes, por vezes exóticos, aventurando-se em descrições psicológicas mais complexas e ousadas.
A pintura de Garelli possui uma forte evocação renascentista, sobretudo nos retratos. Na sua vasta galeria de "meninas más" não falta uma menina com arminho, lembrando a célebre “Dama com Arminho” de Leonardo da Vinci. Em algumas pinturas, Garelli esmera-se na criação realista de cenários e ambientes desconcertantes, por vezes exóticos, aventurando-se em descrições psicológicas mais complexas e ousadas.
"Menina com Arminho. É evidente a inspiração renascentista de muitas obras de Garelli.
“A Pequena Bailarina”. Algumas obras de Garelli
aproximam-se dos ambientes e lugares mentais da infância que dominam a pintura narrativa
de Paula Rego.
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