sexta-feira, 31 de maio de 2013

As meninas más de Titti Garelli


Titti Garelli, “Rainha Gótica com Gato Esfinge”, acrílico s/madeira

Há um fascínio secreto nos retratos efabulados de Titti Garelli, a artista italiana que ilustrou em 1993 “As Fábulas de La Fontaine” com 12 sugestivas litografias, 6 das quais coloridas à mão, numa tiragem limitadíssima. Intrigantes e algo perversos, os seus retratos representam, segundo a autora, “meninas más”, naturalmente cruéis ou fruto das liberdades educativas atuais. “São bonitas (…) e têm charme” mas não inspiram ternura, como as bonecas, não são representações ideais da infância. São meninas más, crianças e jovens desejosas de crescer muito depressa contra a vontade dos adultos, ou que a tal são obrigadas, desafiando os limites entre realidade e fantasia, vigília e sonho, presente e futuro. A imitar os adultos em teatros de armário, em jogos cujas regras não entendem, pois brincam sem regras, e cujas consequências não temem pois “é tudo a fingir”. Acrescenta a artista: “Fui obrigada a tornar-me uma menina boa. Por isso desenho meninas más”.

Titti Garelli é natural de Turim, onde vive e trabalha. Depois dos estudos na Academia Albertina de Belas Artes, trabalhou como ilustradora para importantes agências internacionais de publicidade (M.Cann Erickson, J.W. Thompson, Young & Rubicam ou Leo Burnet) e marcas conhecidas (Nestlé, Chicco, Barilla, Jegermeister, entre outras). A sua pintura é marcadamente realista e psicológica, apelativa e impactante, ao gosto da linguagem publicitária.

Em 2000, expôs em Nova Iorque (Wiliamsbourg e Soho) uma série de obras sob o título genérico de “As Meninas Más”, explicando que "As crianças podem ser cruéis como os adultos, às vezes até mais, porque elas não têm as nossas inibições nem o nosso condicionamento”. Continuou a expor meninas más nos anos seguintes, enriquecendo a coleção com "anjinhos rancorosos e fadas irreverentes".

Em 2007, apresentou na Galleria Via Porta Palatina, em Turim, uma sequência de pequenos retratos (10X10 cm) realistas a que deu o título de “A Volta ao Mundo em 80 Meninas”. Os retratos contavam uma viagem imaginária à volta do mundo, apresentando rostos e cores representando 80 cidades ou países. 

A pintura de Garelli possui uma forte evocação renascentista, sobretudo nos retratos. Na sua vasta galeria de "meninas más" não falta uma menina com arminho, lembrando a célebre “Dama com Arminho” de Leonardo da Vinci. Em algumas pinturas, Garelli esmera-se na criação realista de cenários e ambientes desconcertantes, por vezes exóticos, aventurando-se em descrições psicológicas mais complexas e ousadas.

"Menina com Arminho. É evidente a inspiração renascentista de muitas obras de Garelli.

“A Pequena Bailarina”. Algumas obras de Garelli aproximam-se dos ambientes e lugares mentais da infância que dominam a pintura narrativa de Paula Rego.

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