“A Mesa Verde” no YouTube, pelo “ The Joffrey Ballet of
Chicago”
Os bailados “A Mesa Verde” e “Pandora”, aclamadas
obras do coreógrafo alemão Kurt Jooss (1901-1979), merecem hoje uma atenção
especial, um renovado olhar à luz do desnorte económico, político e social que
parece instalado na Europa, lembrando os riscos historicamente associados a
estes fatores – ou já sinais - de conflito internacional. A essência
humana mudou muito pouco no último século: o que mudou verdadeiramente foram os
estratagemas e as artimanhas para se manifestar no seu melhor e pior.
“A Mesa Verde”, estreado em Paris em 1932, surgiu no
contexto da crise económica que assolou a Europa na viragem da segunda década
do século XX, em consequência do “crash” da bolsa nos EUA, permitindo não só a
chegada de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, como chanceler, mas sobretudo a
fusão dos poderes de presidente e chanceler na figura do “führer”. O bailado critica
os horrores das guerras (destacando-se a sequência da dança da Morte), mas
também o modo como as guerras são discutidas e decididas. À volta de uma mesa (verde,
a cor das mesas de jogo) dez diplomatas caraterizados como personagens grotescas,
vestidas a rigor e mascaradas, discutem e negoceiam o que parece cada vez mais inevitável, a
guerra (1), cujo fim levará a novas discussões e negociações. No final dos anos 30, após muita discussão e negociação tentando adiar o que parecia inevitável, Hitler acendeu o rastilho de uma guerra europeia que depressa alastrou pelos outros continentes, com os resultados conhecidos.
O bailado “Pandora”, estreado em 1944, critica o modo
como são tomadas decisões fundamentais para o destino da humanidade,
desdobrando-se em imagens de tragédia. Na alegoria em 3 atos, Pandora liberta da
sua caixa misteriosa toda a espécie de monstros e convence as pessoas a
sacrificar os seus próprios filhos ao Deus Máquina. No ano seguinte à estreia de "Pandora", os
americanos lançavam bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasaki.
Kurt Jooss (1901-1979) ficou conhecido pelas suas
coreografias vanguardistas, combinando o bailado clássico com o teatro moderno.
A “Dança da Morte” (1927) foi mesmo considerado demasiado vanguardista para a
época, marcada por uma grande atividade artística na Europa. No caso da dança,
os anos 20 reuniram no palco europeu os grandes mitos do bailado moderno, de Balanchine
e Diaghilev (Ballets Russes) a Vaslav Nijinsky e Isadora Duncan. O trabalho inovador e
inspirador de Jooss abriu caminho a outros coreógrafos de referência, como Pina
Bausch, que foi sua aluna.
Após o sucesso de “A Mesa Verde”, fundou a companhia
Ballets Jooss, atuando nas principais cidades de vários países europeus. A sua
independência não agradou ao regime Nazi, que o acusou de colaborar com judeus.
Quando a Gestapo decidiu prendê-lo, Jooss já estava a caminho da Inglaterra e
tornou-se cidadão britânico em 1947.
(1)-Kurt Jooss entrevistado por Robert Joffrey.
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