Foi inaugurado na passada sexta-feira, em Lisboa, o Atelier-Museu
Júlio Pomar, com a presença do artista, do arquiteto Álvaro Siza Vieira e do
presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, entre diversas entidades e
convidados. Após a cerimónia oficial, o novo espaço museológico lisboeta abriu
ao público, que pode visitá-lo de terça a domingo, gratuitamente até outubro.
O Atelier-Museu Júlio Pomar (não confundir com a Fundação Júlio Pomar, com sede provisória na Travessa da Piedade, 36) trata-se de um sonho que começou a ganhar forma em 2000, quando a
CML adquiriu um antigo armazém do século XVII, ao Largo de Jesus, próximo da
residência de Júlio Pomar. O projeto de recuperação foi concebido por Siza
Vieira e as obras decorrem desde 2006, a várias velocidades, tendo ficado
concluídas este ano, pelo 87º aniversário do artista. Integra a estrutura
museológica do Município de Lisboa e o seu acervo compreende cerca de 400
obras, 100 das quais integram a exposição de abertura, intitulada “Em torno do
Acervo”, selecionadas pela diretora, Sara Antónia Matos. Representativas do
percurso artístico de Júlio Pomar, oferecidas pelo artista à Fundação, cedidas
por familiares e emprestadas por entidades, entre as quais a Fundação Calouste
Gulbenkian e a Culturgest (Caixa Geral de Depósitos).
Júlio Pomar afirmou-se no panorama artístico nacional
pela porta do neo-realismo, na década de 1940, inspirado pela pintura muralista
mexicana (de Rivera, Siqueiros e Orozco), evoluindo depois para uma figuração
cada vez menos narrativa, uma pintura abstratizante (anos 1960) e finalmente
abstrata, dominada pelo controlo da forma e pela cor (anos 1970), recorrendo
também à colagem e “assemblage” de materiais e objetos do quotidiano. Regressou depois ao
expressionismo, mantendo a exuberância cromática mas libertando a forma com
pinceladas abertas, privilegiando a expressão do sentimento através do gesto. A
reciclagem e os objetos adicionados ao quadro caraterizam a sua pintura na
primeira década do século XXI, jogando com as relações formais e sentidos dos
materiais e técnicas.
Entre as suas obras mais representativas das diversas
fases e momentos da sua carreira artística, que o artista divide em ciclos (a
série Maio e o ciclo do Arroz, nos anos 1940/50, a série Metro, Tauromaquia e o
ciclo das corridas, nos anos 60, a série erótica dos anos 70, o ciclo dos Tigres
nos anos 80, por exemplo, ou a recente e sugestiva série “Burros de Portugal”),
destacam-se “O Gadanheiro” (1945) e “O Almoço do Trolha” (1947), “Mogiganga”
(1963), “Le Bain Turc” (1971), “A Mesa do Arquiteto” (1977) e o polémico
retrato oficial de Mário Soares, exposto na Galeria de retratos oficiais
dos Presidentes no Museu da Presidência da República, em Belém - ao lado do igualmente polémico retrato do seu sucessor, Jorge Sampaio, da autoria de Paula Rego. A
década de 1980 é particularmente produtiva, pela diversidade de temas (para
além dos retratos de Mário Soares, Fernando Pessoa e Camões, a série Mitologia
e Corvos) e a intensa produção inspirada pelas viagens ao Brasil, sobretudo
pela Amazónia, onde esteve a convite de de Ruy Guerra, por ocasião das
filmagens de "Kuarup" (1989).
Desde a sua primeira exposição, em 1945 (Sociedade Nacional
de Belas Artes, Lisboa) mostrou o seu trabalho em diversas galerias e
instituições nacionais e estrangeiras, com destaque para as Bienais de São
Paulo (1953, 1975 e 1985), na Fundação Calouste Gulbenkian (1990), no Centro
Cultural de Belém (2004), na Galeria Municipal de Matosinhos (2007), no Museu
de Serralves (2008), no Museu do Neo-Realismo (2008) e uma exposição
retrospetiva no Centro de Arte Contemporânea Manuel de Brito (2009).
Em março 2013, foi inaugurado o seu painel “Contos Murais”, no Museu da cerveja, criado em Lisboa em junho de 2012 pela mesma equipa responsável pelo Museu do Pão, em Seia.
Em março 2013, foi inaugurado o seu painel “Contos Murais”, no Museu da cerveja, criado em Lisboa em junho de 2012 pela mesma equipa responsável pelo Museu do Pão, em Seia.
"Burro a tocar guitarra", 2013, da série "Burros de Portugal". Serigrafia editada pela Fundação J.P. para assinalar a abertura do Atelier-Museu Júlio
Pomar
VER DOCUMENTÁRIO "Júlio Pomar - O Risco", de António José de Almeida (realização) e Anabela Almeida (guião) - Panavideo.
VER DOCUMENTÁRIO "Júlio Pomar - O Risco", de António José de Almeida (realização) e Anabela Almeida (guião) - Panavideo.
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