“Retrato de família” – Museu da Guarda – 21 de Outubro a 29 de Novembro 2009. Entrada livre.
Comemorações do 120º Aniversário do nascimento de Abel Manta (1888-2008)
Decorre até ao final de Novembro, no Museu da Guarda, a exposição “Retrato de Família”, reunindo obras de pintura de Abel Manta (1888-1982), Clementina Moura (1898-1992), João Abel Manta (81 anos) e Isabel Manta (57 anos). A iniciativa conta com a colaboração da Câmara Municipal de Gouveia e Museu de Abel Manta, inserindo-se nas comemorações do 120º aniversário do nascimento do pintor gouveense e um dos pioneiros do modernismo português, a par de Amadeo de Souza-Cardoso ou Eduardo Viana.
Abel Manta, Auto-retrato com paleta, 1939
Abel Manta nasceu em Gouveia, a 12 de Outubro de 1888. Aos seis anos, passou a residir em Lisboa, mas, ao longo da sua vida, nunca perdeu o contacto com a sua terra natal.
Entre 1908 e 1915, estudou Pintura na Escola de Belas Artes de Lisboa. Em 1919, partiu para Paris, onde ficou seis anos, viajando pela Europa para estudar a pintura dos grandes mestres. Destacou-se como paisagista, onde alcançou um estilo próprio após a influência inicial de Cézanne, e como retratista, compondo expressivos auto-retratos e retratos incisivos de personalidades como Aquilino Ribeiro, Teófilo Russel, Paiva Couceiro, Bento de Jesus Caraça, o violinista Bohet, José de Bragança, o jornalista Luís Teixeira, para além do retrato de conjunto “Grupo do Consultório”, também conhecido por “A Leitura” (1955). Ainda na pintura, abordou igualmente com desenvoltura o tema da “natureza-morta”, sendo também autor de inúmeros desenhos e gravuras, alguns vitrais e caricaturas.
Abel Manta não foi mais conhecido pois era um artista discreto, movimentando-se sobretudo num grupo restrito de amigos cultos. Participou em diversas e importantes exposições colectivas mas, em toda a sua vida, realizou apenas uma exposição individual – em 1925, em Lisboa, no Salão Bobone. Concorreu a várias iniciativas internacionais como a Bienal de Veneza (1950) e Bienal de São Paulo (1955), mas essas tentativas não tiveram seguimento pois Abel Manta não pertencia ao “status quo” da época, apesar de ser admitido frequentemente nos salões do S.P.N. e nas exposições da SNBA, onde recebeu uma medalha em 1934. No entanto, realiza a magnífica composição “Beira” (obra que se perdeu no incêndio da Galeria de Arte Moderna, em 1981) para o pavilhão de Portugal na Exposição de Paris de 1937, três anos depois de ter sido recusado no concurso para professor da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa - facto que o próprio pintor consideraria depois ter sido decisivo para a sua carreira, permitindo-lhe manter-se na vanguarda do modernismo. Com alguma ironia, certamente, dizia que as suas “modestas pinturas” eram produto de “trabalho a horas vagas” (1).
Em 1927, casou com a pintora Clementina Carneiro de Moura (Lisboa, 1898-Lisboa, 1992). Diplomada em Pintura pela Escola de Belas Artes de Lisboa, onde foi dicípula de Columbano, Clementina Moura dedicou-se ao ensino técnico (nas escolas Afonso Domingos, Machado de Castro e Josefa d'Óbidos), sendo autora da obra “História da Arte Popular em Portugal”. A sua obra plástica inclui a pintura (“Auto-Retrato com o Filho João Abel“, “Vista de Gouveia”, … entre outras obras patentes no Museu Abel Manta, e as artes aplicadas aos tecidos. Neste contexto, ficou conhecida como a “mestre do pachwork”.
A 29 de Janeiro de 1928, nasceu em Lisboa o filho de Abel Manta e Clementina Moura, João Abel Manta, que se formou em Arquitectura em 1951. Mais conhecido como cartoonista e designer gráfico, João Abel Manta possui igualmente uma obra importante no âmbito da “arte pública” – integrada em edifícios e espaços públicos (murais, azulejos, pavimentos, etc.). Ler biografia de J. A. M. por Osvaldo Macedo de Sousa AQUI.
Em 1952, nasceu a neta de Abel Manta, Isabel Manta, filha de João Abel e de sua mulher, Sílvia. Diplomada em Arquitectura, é mestre em História de Arte pela Universidade Lusíada. Docente do ensino secundário desde 1979, lecciona História de Arte e Desenho. “No que respeita à pintura, não me levo muito a sério”, disse, numa entrevista. “Foi por opção e não por obrigação, que sou professora”.
Abel Manta pintou o seu último auto-retrato em 1975, quatro anos antes de ser condecorado pelo Presidente da República, Ramalho Eanes, com a comenda da Ordem de Sant'Iago de Espada. Outra distinção importante foi o 1º Prémio de Pintura na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1957.
O pintor gouveense faleceu em Lisboa a 09 de Agosto de 1982. Residia no Bairro Alto.
Ao longo dos últimos 27 anos, tem sido recordado em diversas iniciativas, exposições, edições e comemorações, com destaque para a retrospectiva na Bienal do Avante de 1984, comemorações do centenário do nascimento (1988) e 25 anos do seu desaparecimento (2007). Nesta última evocação, foi criado o Prémio Abel Manta de Pintura. O vencedor de 2009 foi um artista de Penacova, José Fonte – que participou em 1993 no Prémio Nacional de Pintura Tavares Correia, realizado em Seia.
José Fonte, "One Hundred and Twenty" - Prémio Abel Manta, Maio 2009. Isabel Manta fez parte do júri.
Para saber tudo sobre o Mestre gouveense, pode visitar o excelente site de Eduardo Mota, A Casa de Abel Manta, clicando AQUI. Eduardo Mota dirigiu o Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta, em Gouveia, que foi inaugurado em 1985, e publicou em 1987 o livro “Abel Manta”, uma edição integrada nas comemorações do I Centenário do Nascimento do Pintor Abel Manta.
(1)-citado por Eduardo Mota, “Abel Manta”, Gouveia, 1987.
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