Festival de Cinema de Ambiente da Serra da Estrela é hoje uma referência internacional
Sérgio Reis
(artigo publicado no semanário Terras da Beira, suplemento Especial CineEco, 15 de Outubro de 2009)
Fazendo uma retrospectiva mesmo ligeira dos 14 anos do CineEco - Festival Internacional de Cinema e Video do Ambiente da Serra da Estrela e do que testemunhei enquanto colaborador (1999), membro de júris (2000, 2001 e 2002) ou na mera qualidade de espectador interessado desde 1995, fica a impressão global de um acontecimento único na história de Seia, com potencialidades e benefícios evidentes para o concelho e região da Serra da Estrela. Além do afamado “Bom Cinema e Bom Ambiente”, há a destacar as múltiplas iniciativas paralelas para as quais foram convocados e envolvidos outros agentes culturais e os mais diversos públicos, sendo hoje clara a importância do festival no contexto global do desenvolvimento cultural senense e na projecção nacional e internacional de Seia, enquanto marca de qualidade e campo fértil de novas oportunidades. Quando participei nos júris do CineEco, o Festival tinha já uma ligação segura com os países lusófonos e ganhava crescente prestígio na Europa latina. Hoje, o festival senense beneficia de um grande prestígio internacional e afirmou-se finalmente na região e no país contra ventos e marés adversos.
(artigo publicado no semanário Terras da Beira, suplemento Especial CineEco, 15 de Outubro de 2009)
Fazendo uma retrospectiva mesmo ligeira dos 14 anos do CineEco - Festival Internacional de Cinema e Video do Ambiente da Serra da Estrela e do que testemunhei enquanto colaborador (1999), membro de júris (2000, 2001 e 2002) ou na mera qualidade de espectador interessado desde 1995, fica a impressão global de um acontecimento único na história de Seia, com potencialidades e benefícios evidentes para o concelho e região da Serra da Estrela. Além do afamado “Bom Cinema e Bom Ambiente”, há a destacar as múltiplas iniciativas paralelas para as quais foram convocados e envolvidos outros agentes culturais e os mais diversos públicos, sendo hoje clara a importância do festival no contexto global do desenvolvimento cultural senense e na projecção nacional e internacional de Seia, enquanto marca de qualidade e campo fértil de novas oportunidades. Quando participei nos júris do CineEco, o Festival tinha já uma ligação segura com os países lusófonos e ganhava crescente prestígio na Europa latina. Hoje, o festival senense beneficia de um grande prestígio internacional e afirmou-se finalmente na região e no país contra ventos e marés adversos.
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O Festival Internacional de Cinema e Video do Ambiente da Serra da Estrela nasceu de uma experiência relativamente bem sucedida, o I Festival Nacional de Vídeo Serra da Estrela, organizado em 1994 por um grupo de cinéfilos do qual faziam parte Carlos Teófilo Furtado e Mário Jorge Branquinho – ainda hoje as principais figuras da comissão executiva do CineEco. Por sua vez, esse festival de vídeo tinha surgido no contexto de uma nova dinâmica transversal criada pela vitória de Eduardo Brito nas eleições autárquicas de 1993, informada por dois grandes debates muito participados sobre as perspectivas culturais do concelho: a conferência integrada no II Encontro dos Antigos Alunos do Colégio Simões Pereira, em Novembro de 1992, e o debate organizado pelo Telecentro Rural de Seia, jornal Porta da Estrela e Associação Projecto Beirão, em Maio de 1994, quatro meses após a tomada de posse de Eduardo Brito. Ainda à procura de uma estratégia cultural no adiado desenvolvimento de Seia, o novo executivo decidiu em boa hora apoiar a transição do pequeno festival de vídeo para um verdadeiro festival internacional de cinema e vídeo. O primeiro CineEco serviu também para inaugurar o novo Salão dos Congressos, a primeira obra pública de vulto da nova Câmara.
Tratando-se de um festival dispendioso, no contexto das finanças locais, a Câmara Municipal procurou desde logo parceiros promotores, sobretudo na área do ambiente – considerando o peso institucional do Parque Natural e a marca turística Serra da Estrela. Nos primeiros anos, o CineEco foi crescendo ao sabor das ambições da organização em diálogo com a disponibilidade financeira dos promotores e patrocinadores. Em 1997, as limitações financeiras comprometeram a evolução do CineEco para Festival da Lusofonia, uma aspiração veiculada pela designação desse ano, a única a conter uma alusão à lusofonia (III Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Ambiente e Lusofonia da Serra da Estrela) mas não impediram a criação do prémio especial da lusofonia, o segundo maior do festival, que se manteve até ao presente. Em 2001 e 2006, as vitórias de Eduardo Brito nas eleições autárquicas com maioria absoluta (59,4 e 62,91%, respectivamente) prometiam novos impulsos financeiros para o CineEco mas os promotores e outros patrocinadores deixaram a Câmara como único suporte fiável do festival por ocasião das fortes restrições orçamentais impostas pelo governo de Durão Barroso em 2002, que quase paralisaram a dinâmica cultural nacional, agravada pela crise de 2003, a crise política gerada pelo curto governo de Santana Lopes, a contenção orçamental praticada pelo governo de maioria absoluta de José Sócrates, mais tarde agravada pela crise internacional. Mesmo assim, estes foram anos de grandes festivais, com destaque para o CineEco 2003, até então o maior de sempre (mais de trezentas obras a concurso, representando quarenta e um países) e o CineEco 2005, com novos recordes (mais de 400 obras de 45 países) que só seriam batidos em 2008 (512 filmes oriundos de cerca de 50 países). A qualidade global e moldura humana alcançadas em 2005, rondando os 10 mil espectadores, permitiram a conquista em 2006 de um importante galardão, o Prémio Nacional do Ambiente, atribuído pela Confederação Portuguesa de Associações de Defesa do Ambiente, integrada por 110 Associações de Defesa do Ambiente/ONGs de Ambiente.
Tratando-se de um festival dispendioso, no contexto das finanças locais, a Câmara Municipal procurou desde logo parceiros promotores, sobretudo na área do ambiente – considerando o peso institucional do Parque Natural e a marca turística Serra da Estrela. Nos primeiros anos, o CineEco foi crescendo ao sabor das ambições da organização em diálogo com a disponibilidade financeira dos promotores e patrocinadores. Em 1997, as limitações financeiras comprometeram a evolução do CineEco para Festival da Lusofonia, uma aspiração veiculada pela designação desse ano, a única a conter uma alusão à lusofonia (III Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Ambiente e Lusofonia da Serra da Estrela) mas não impediram a criação do prémio especial da lusofonia, o segundo maior do festival, que se manteve até ao presente. Em 2001 e 2006, as vitórias de Eduardo Brito nas eleições autárquicas com maioria absoluta (59,4 e 62,91%, respectivamente) prometiam novos impulsos financeiros para o CineEco mas os promotores e outros patrocinadores deixaram a Câmara como único suporte fiável do festival por ocasião das fortes restrições orçamentais impostas pelo governo de Durão Barroso em 2002, que quase paralisaram a dinâmica cultural nacional, agravada pela crise de 2003, a crise política gerada pelo curto governo de Santana Lopes, a contenção orçamental praticada pelo governo de maioria absoluta de José Sócrates, mais tarde agravada pela crise internacional. Mesmo assim, estes foram anos de grandes festivais, com destaque para o CineEco 2003, até então o maior de sempre (mais de trezentas obras a concurso, representando quarenta e um países) e o CineEco 2005, com novos recordes (mais de 400 obras de 45 países) que só seriam batidos em 2008 (512 filmes oriundos de cerca de 50 países). A qualidade global e moldura humana alcançadas em 2005, rondando os 10 mil espectadores, permitiram a conquista em 2006 de um importante galardão, o Prémio Nacional do Ambiente, atribuído pela Confederação Portuguesa de Associações de Defesa do Ambiente, integrada por 110 Associações de Defesa do Ambiente/ONGs de Ambiente.
A 15ª edição do CineEco representa o fim de uma era, assinalando o final de quatro mandatos consecutivos de Eduardo Brito à frente da Câmara de Seia (16 anos) e o fim de mais de 30 anos de actividade autárquica. São de esperar, por isso, algumas mudanças significativas no CineEco 2010, assim como nas mais diversas áreas da vida concelhia influenciadas pela autarquia. Quase certo será o envolvimento das escolas nas actividades promovidas pela Câmara, um dos sinais distintivos da estratégia cultural de Eduardo Brito, logo adoptada como princípio programático pelo CineEco. O festival possui uma inegável vocação formativa, ao nível da programação mas também da competição, atribuindo anualmente o Prémio de Educação Ambiental.
O principal objectivo do CineEco é promover e divulgar obras de cinema e vídeo que de algum modo abordem a problemática do Ambiente na sua mais ampla acepção, a do Homem no seu Meio – e por essa razão uma das secções paralelas do festival denomina-se precisamente “Outras terras, Outras gentes”. Nesse sentido, o festival contribuiu desde a primeira edição para a evolução de um conceito até então limitado ao Meio Ambiente. A sensibilidade pelos temas e problemas ambientais mudou muito desde 1995, à escala mundial, sendo hoje mais fácil encontrar grandes filmes abertamente ambientalistas, como os célebres documentários de Al Gore e Leonardo Di Caprio, que passou no CineEco 2007, ou o fantástico “Home”, a exibir em 2009. Além disso, verifica-se um acréscimo de inscrições (e da qualidade, segundo Lauro António) de filmes produzidos na Beira Interior, incluindo o concelho de Seia, comprovando os reflexos positivos do CineEco na área da criação e produção do cinema de autor.
Sendo o Homem parte indissociável e até produto do seu Ambiente, com o qual interage muitas vezes com resultados positivos, não quero deixar de me referir às pessoas excelentíssimas que conheci no CineEco, a começar pelo seu director técnico desde a primeira edição, Lauro António, a alma do festival senense e o elo fundamental de ligação com realizadores, produtores e outros festivais nacionais e internacionais. Mereceu plenamente a Campânula de Mérito Municipal (2009) pelos serviços prestados à Cultura senense desde 1995.
As equipas lideradas por Carlos Teófilo Furtado fizeram maravilhas com os meios disponíveis e orçamentos muito limitados. Como membro do júri tive acesso a quase todos os momentos representativos desses festivais e recordo com muito agrado a organização atenta, positiva e dinâmica. Não esteve isenta de erros, que são inevitáveis nos grandes eventos, mas foi suficientemente elástica para absorver contrariedades em vez de perder tempo e energias a lutar contra elas, aprendeu com os erros e superou-os prontamente.
Diversificados mas unidos pelas causas do bom cinema e do bom ambiente, os júris têm sido determinantes para elevar o patamar da qualidade e prestígio do festival. Recheados de nomes sonantes e personalidades fabulosas, a começar pelos distintos presidentes dos júris internacionais homenageados nas cerimónias oficiais do CineEco. Para reunir essas conhecidas figuras do cinema e das televisões nacionais, valeu o conhecimento e prestígio de Lauro António, que estruturou e moldou os júris (também) de acordo com a máxima do festival, “Bom Cinema e Bom Ambiente”.
As equipas lideradas por Carlos Teófilo Furtado fizeram maravilhas com os meios disponíveis e orçamentos muito limitados. Como membro do júri tive acesso a quase todos os momentos representativos desses festivais e recordo com muito agrado a organização atenta, positiva e dinâmica. Não esteve isenta de erros, que são inevitáveis nos grandes eventos, mas foi suficientemente elástica para absorver contrariedades em vez de perder tempo e energias a lutar contra elas, aprendeu com os erros e superou-os prontamente.
Diversificados mas unidos pelas causas do bom cinema e do bom ambiente, os júris têm sido determinantes para elevar o patamar da qualidade e prestígio do festival. Recheados de nomes sonantes e personalidades fabulosas, a começar pelos distintos presidentes dos júris internacionais homenageados nas cerimónias oficiais do CineEco. Para reunir essas conhecidas figuras do cinema e das televisões nacionais, valeu o conhecimento e prestígio de Lauro António, que estruturou e moldou os júris (também) de acordo com a máxima do festival, “Bom Cinema e Bom Ambiente”.
Um Bom Ambiente que passa por amizades de fortes laços, com destaque para o inesquecível Camacho Costa. O actor participou no CineEco pela primeira vez em 1996, como elemento do júri, tendo depois colaborado activamente na promoção e divulgação do festival. Esteve pela última vez no CineEco 2002 para rever amigos e apresentar o livro de Palmira Correia. A morte levou-o em 2003, ano em que a cerimónia de abertura do festival foi marcada pelas emoções: uma homenagem a Camacho Costa, que passou a ter um prémio com o seu nome no CineEco, e um espectáculo de Raul Solnado, assinalando os 50 anos de carreira do actor.
Por tudo isto e o muito mais que paira nas entrelinhas ou ficou por dizer, termino subscrevendo as palavras que Mário Jorge Branquinho escreveu a propósito do 10º CineEco, em Outubro de 2004: “Até aqui, valeu muito a dita Vontade e o empenho de quem na iniciativa apostou. A partir daqui a história deve continuar”.
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