sábado, 4 de julho de 2009

Henri Fantin-Latour (1836-1904)

Auto-retrato de Fantin-Latour *

Retratos de grupo - testemunhos de cumplicidades

A grande exposição de Verão do Museu da Fundação Calouste Gulbenkian mostra pela primeira vez na Península Ibérica um conjunto significativo de obras do pintor e litógrafo francês do século XIX, Henri Fantin-Latour (1836-1904).

Apesar da sua convivência com artistas e escritores progressistas, e de ter vivido numa época em que Paris era a Capital Cultural do mundo ocidental (1), Fantin-Latour era um pintor conservador, caracterizado por um estilo muito detalhado e intimista. Os seus detractores referem que nunca pintou a nova realidade das cidades nem a revolução industrial, construindo uma obra desfasada do seu tempo, mas os seus defensores alegam que pintou de modo único “a intimidade da família moderna da sua época”(2).

Já no seu tempo, Émile Zola procurara conciliar ambas as perspectivas, escrevendo que as pinturas do amigo “não saltam aos olhos, não nos fazem virar a cabeça ao passar” mas “a sua consciência, a sua verdade simples, tomam conta de nós e prendem-nos”.

A verdade é que Fantin-Latour ficou célebre pelas suas naturezas-mortas (entre as quais há a destacar os exuberantes arranjos florais) mas sobretudo por ter pintado os retratos de amigos como Claude Monet, Arthur Rimbaud, Paul Verlaine, Émile Zola, Charles Baudelaire, Gustave Courbet ou Pierre-Auguste Renoir. Mais do que testemunhos do relacionamento do artista com personalidades da cultura da época, os retratos de Fantin-Latour são documentos históricos.

"Hommage a Delacroix" (1864)*

No quadro “Homenagem a Delacroix” (Paris, 1864) vê-se o próprio Fantin-Latour com Baudelaire, Édouard Manet, James Whistler (3), Champfleury e outros, à volta de um quadro de Delacroix.

"An studio in Batignolles" (1870)*

Outra obra famosa, “Um Estúdio em Batignolles”, também conhecida como “Homenagem a Manet” (Paris, 1870), retrata Monet, Renoir e outros, no estúdio de Manet.

"Un coin de table" (1872)*

“Ao canto da mesa” (1872) retrata o grupo de poetas amantes da arte que fundou a revista “La Renaissance Littéraire et Artistique”. Da esquerda para a direita, sentados: Verlaine, Rimbaud, Valade, Hervilly, Pelletant. De pé, atrás, Bonnier, Blémont, Aicard.


"Autour du piano" (1885)*

Na fase final da sua carreira artística, dedicou-se também à litografia. Era um admirador de Richard Wagner, cuja obra musical promoveu em França e ilustrou com litografias imaginativas. Retratou, inclusive, outros admiradores da obra de Wagner, como no quadro “À Volta do Piano” (1885). Da esquerda para a direita, à volta do piano, Emmanuel Chabrier, Edmond Maître, Amédée Pigeon. De pé, Adolphe Julien, Arthur Boisseau, Camille Benoit, Antoine Lascoux e Vinvent d’Indy.

A exposição retrospectiva da obra de Fantin-Latour, comissariada por Vincent Pomarède (curador do Departamento de Pintura do Louvre, ex-Director do Museu de Belas Artes de Lyon), é composta por 60 pinturas e 20 desenhos e gravuras distribuídas por 10 núcleos. Decorre até 6 de Setembro, das 10:00 às 18:00 horas, na Galeria de Exposições da Sede da Fundação (45-A da Av. De Berna, Lisboa).

(1)-“A capital do século XIX”, segundo Walter Benjamin. A família Fantin-Latour mudou-se de Grenoble para Paris quando Henri Jean Théodore tinha seis anos de idade.
(2)-Vincente Pomarède, em entrevista ao Diário de Notícias, 26 de Junho 2009.
(3)-James Mac Neil Whistler (1834-1903) mudou o rumo da tradição realista anglo-saxónica com o quadro “Retrato da Mãe do Artista” (ou “Harmonia em cinzento e preto nº 1”, título original, de 1872), que se tornou mundialmente conhecido ao ser parodiado por Rowan Atkinson no filme de Mel Smith “Bean” (1997).
*Utilização de reprodução de obra de arte bidimensional em domínio público, segundo a lei em vigor na União Europeia.

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