Sérgio Reis, "Mon Diego", 1989, óleo s/tela (Col. José Santos)
Acontecimentos
recentes levaram-me a recordar a segunda exposição que realizei em Seia, em
1989, ano em que fui colocado na Escola Secundária de Seia para
profissionalização e ainda não contava fixar residência na então jovem cidade
(desde 1986). Calhou dar-me com um grupo de pessoas de espírito aberto, vontade
de trabalhar e gosto pela sua terra, que me acolheram muito bem e envolveram
nas suas dinâmicas sociais e culturais.
Em 1989, Seia
não dispunha de uma sala de exposições digna desse nome. Quando havia
necessidade de realizar alguma exposição documental ou de arte, optava-se
normalmente pelos Paços do Concelho ou pela antiga sala do bingo, no piso
superior do cineteatro, onde hoje se encontra o auditório da Casa da Cultura. Quando
se tratava de mostras e exposições de grande envergadura, procurava-se o salão
de festas dos bombeiros voluntários (como aconteceu com a Exposição Nacional de
Pintura “Prémio Tavares Correia”, que organizei em 1993 no âmbito dos Encontros
de Arte’93) ou o pavilhão gimnodesportivo, junto ao parque municipal, onde se mostravam
anualmente as potencialidades industriais e comerciais do concelho, o principal
objetivo da FIAGRIS – Feira
Industrial, Comercial e Agrícola de Seia.
A feira de negócios completava-se com a feira popular, tal como a festa
religiosa não dispensa os excessos profanos, atraindo muita gente dos concelhos
vizinhos e turistas de verão, mas principalmente os emigrantes que vinham da
Europa e das Américas matar saudades da sua terra natal e dar corda aos
negócios familiares.
Em suma, interessava-me mostrar os meus
trabalhos durante a FIAGRIS, perto do recinto da feira e em local digno. Como a
Câmara organizava então a FIAGRIS (só em 1995, salvo erro, as associações
setoriais passaram a organizar a feira), apresentei uma proposta ao vereador da
Cultura, Victor Moura, que não só apoiou a ideia da exposição como apresentou
uma solução que me agradou desde logo e foi determinante para o sucesso da
exposição: uma ampla loja desocupada na cave do Edifício Europa (Construções
Ventura), voltada para o anfiteatro e a dois passos de uma das
entradas da feira. A loja onde se encontra hoje a AGRISEIA, na rua Dr. António Melo Mota Veiga.
Graças às amplas janelas, iluminação
melhorada e porta aberta para a rua, a exposição suscitava curiosidade e foi
muito visitada, mantendo-se aberta no horário da feira graças à colaboração de
alguns jovens – entre os quais Beto Cruz, que vive presentemente na Amadora mas sem nunca esquecer a terra natal. Esteve presente nas
últimas edições da ARTIS com os seus projetos fotográficos “Marcas
de Amor” (2008) e “Não
Lápide” (2009), que também expôs em diversos locais de Lisboa e em
várias localidades do país.
Foram expostas 10 telas e 4 guaches. O
quadro principal era uma pintura a óleo intitulada “Mon Diego”, inspirada numa
das várias lendas sobre a origem do nome do rio Mondego, mas a sua maior
particularidade nada tem a ver com o tema mas sim com a técnica, já que deixei
de pintar a óleo por essa altura e essa foi, até hoje, a minha última pintura a
óleo. Felizmente, faz parte da coleção de um bom amigo, à data da exposição um
respeitável desconhecido, tal como os outros visitantes que distinguiram o meu
trabalho adquirindo algumas obras.
A exposição decorreu em Julho e Agosto de 1989 e as obras expostas eram as seguintes:
1 – “Mon Diego”, óleo s/tela
2 – “Interioridade”, acrílico s/tela
3 – “O Camponês e Suas Propriedades”,
acrílico s/tela
4 – “Pescadores”, acrílico s/tela
5 – “Marionetas”, acrílico s/tela
6 – “Caminhos de Névoa”, acrílico s/tela
7 – “Ao entardecer”
8 – “O Pastor e a Sua Atitude”, acrílico
s/tela
9 – “Iluminações”, acrílico s/tela
10 – “Recordações da Penha do Gato”,
acrílico s/tela
11 – “Arqueologia do Gesto - I”, guache
s/papel
12 – “Mineiros”, guache s/papel
13 – “Primavera”, guache s/papel
14 – “Sombras”
Outra curiosidade
desta exposição é que, no seguimento de uma entrevista, promovi um concurso
através da rádio da feira (som local), com uma pergunta de algibeira sobre
Pablo Picasso. A participação do
público foi generosa mas não houve vencedor, pelo menos a cem por
cento, e o participante que se aproximou mais da resposta certa recebeu uma pequena pintura como lembrança.
Sérgio Reis, "Interioridade", 1989, acrílico s/tela (Col. José Santos)
Sérgio Reis, "O Camponês e Suas Propriedades", 1989, acrílico s/tela (Col. José Santos)
Sérgio Reis, "Mineiros", 1989, guache s/papel (Col. João Fernandes)
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