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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

"Arte", de Yasmina Reza, 2016

Há Arte Concetual e "arte concetual". Nada de confusões. Mas a fronteira não é clara nem vem nos livros, é mais uma fronteira inventada e desenhada pelos "mercados". Tal como acontece aliás na música, na moda e até na gastronomia - com a famigerada "cozinha criativa".

Sobre esta temática, (re)vejam a peça "Arte", de Yasmina Reza, com encenação de António Feio em 1998 (nos links abaixo, com António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme). A peça está novamente em cena em Lisboa (Teatro Tivoli) e chegará ao Porto em junho (Teatro Sá da Bandeira). 
A não perder.



Ver a peça “Arte” no YouTube:

sábado, 11 de janeiro de 2014

Cildo Meireles em Serralves


“Amerikka” (1991-2013). Um chão de ovos e um teto de balas

A 26 de janeiro, termina em Serralves a exposição de Cildo Meireles, artista brasileiro (Rio de Janeiro, 1948) cujas obras de arte concetual se caraterizam pela espetacularidade e por uma linguagem crítica mais próxima do grande público e poderosamente bem disposta. Muitas das suas obras são interativas, transformando muitas vezes o espectador em participante ativo no funcionamento e entendimento da peça artística.

Conhecido pelas suas subtis provocações políticas durante a ditadura militar brasileira, Cildo constrói as suas obras concetuais orientando progressivamente o espectador para um sentido específico e acessível ao cidadão médio, remetendo para problemáticas comuns e não para construções filosóficas abstratas, funcionando como comentários críticos a realidades conhecidas de todos, com perspicácia e humor. Em “Olvido” ” (1987-89), uma tenda feita com milhares de notas de banco ergue-se no centro de um território coberto de ossos, rodeado por um muro circular de velas de cera. “Amerikka” (1991-2013) é o espaço compreendido entre um chão feito de 20.050 ovos e um teto com 40.000 balas de diversos calibres apontadas ao chão de ovos. O visitante é convidado a passear sobre os ovos (de madeira, em tamanho real) abstraindo da ameaça representada pelo teto de balas.

A obra mais impressionante da exposição é “Abajour” (2010), pela dimensão e meios envolvidos, interação de materiais e de linguagens artísticas, incluindo a instalação e a performance, mas sobretudo pela eficácia comunicativa. Inspirada num simples candeeiro, esta obra recorda-nos que o nosso mundo funciona e avança graças ao esforço anónimo de gente humilde, escravos de rotinas, que raramente compreendem a sua verdadeira importância pois vivem aprisionados em pequenos espaços físicos e mentais.

Organizada conjuntamente com o Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, com curadoria de João Fernandes (antigo diretor artístico do Museu de Serralves), a exposição completa-se com a peça “Nós Formigas” (2007/2013) no jardim, visível do piso inferior e visitável pelo exterior embora sob condições especiais. O visitante tem de descer a um buraco no solo e observar a obra de baixo para cima, debaixo de um cubo de pedra com várias toneladas suspenso por uma grua. Consegue-se ver a colónia de térmitas no fundo do cubo mas, confesso, entra-se naquele buraco com um nozito de receio teimoso na garganta.

 

“Olvido” ” (1987-89)


Outra proposta interessante: a desconstrução de escadas. Os elementos de escadas com 3 metros são recombinados criativamente. A perda da função prática conduz ao objeto artístico, intelectualmente mais interessante. Estes trabalhos foram expostos pela primeira vez em 2002, em Siena, Itália, completando a obra “Viagem ao centro do céu e da terra” – uma escada de ferro com 40 metros de comprimento, ao ar livre.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Arte Concetual em Serralves


Damián Ortega,  "Miracolo Italiano", 2005. Vista explodida de uma Vespa em peças reais.

Para os meses de verão, o Museu de Serralves apostou tudo na arte concetual, mostrando um importante conjunto de peças da Coleção de Serralves, uma exposição antológica de Mel Bochner, um dos fundadores da arte concetual e as projeções subjetivas de Alexandre Estrela. A arte concetual valoriza sobretudo a ideia, o conceito, o projeto que estrutura e suporta a obra – e não apenas o objeto físico, a componente “concreta” que materializa a obra concetual e sinaliza a sua interpretação. “Não existe pensamento sem um suporte de sustentação“, afirma Mel Bochner numa das suas obras expostas em Serralves. Por se afastar do entendimento corrente da obra de arte (um objeto artístico completo e fechado, que se dá simplesmente à observação), a arte concetual é desconcertante, não cria suficiente empatia com o público e por isso torna-se difícil de entender, não tem grande aceitação entre o público em geral. No entanto, suscita experiências artísticas mais complexas e enriquecedoras que a pintura ou a escultura convencionais, mobilizando meios e técnicas mais avançados e próprios do nosso tempo. Basicamente, deve-se a movimentos como a arte concetual a convicção de que a arte do nosso tempo nasce da interação de linguagens e saberes diversos, responsável pela fusão das especialidades clássicas da pintura e escultura através do artista plástico, cujas competências abrangem atualmente a fotografia, o vídeo, as novas tecnologias e até a música. Se a correspondência entre a pintura e a poesia, por exemplo, era inquestionável no século XIX, é hoje comum encontrar-se um artista plástico preocupado com teorias matemáticas ou embrenhado na compreensão dos materiais compósitos. Paralelamente, ao retirar protagonismo à obra física, a arte concetual baralhou as regras tradicionais do comércio artístico, impulsionando áreas expressivas como a poesia visual e a arte postal.

A exposição “Forma conceptual e ações materiais” (até 29 de setembro 2013) apresenta uma seleção de obras pertencentes à Coleção de Serralves e à Coleção de Desenhos da Madeira, realizadas por artistas portugueses e estrangeiros desde o início da arte concetual, na década de 1960. Por este motivo, assim como pela diversidade das abordagens artísticas, contexto histórico e origem geográfica dos artistas, a mostra permite entender a arte concetual nas várias vertentes e suportes – desde as obras em papel até às intervenções no espaço.

A peça mais apreciada pelo público encontra-se logo à entrada: a vista explodida de uma Vespa em peças, intitulada “Miracolo Italiano” e realizada por Damián Ortega em 2005). Esta obra repete a experiência da Vespa explodida em “Cosmic Thing” mas utilizando uma Vespa PX. O Mexicano Ortega (n. Mexico City, 1967) trabalha em Berlim, onde contactou com a obra do alemão Stefan Sous e desenvolveu o seu próprio projeto de formas explodidas. O artista holendês Paul Veroude foi o primeiro a suspender peças de objetos reais em vista explodida, na década de 1980, seguindo-se o alemão Stefan Sous e Damián Ortega. Estes dois artistas trabalham normalmente com cerca de duas centenas de peças e Veroude realizou trabalhos com cerca de 5800 peças. As obras mais conhecidas do holandês são os carros de Formula Um em vista explodida.

Outros artistas representados:  Ana Hatherly, Ana Santos, Ana Vieira, Ângelo de Sousa, António Sena, Armando Andrade Tudela, Dieter Roth, Dimitrije Basicevic Mangelos, Francis Alÿs, Guy de Cointet, James Lee Byars, Jorge Macchi, José Pedro Croft, Joseph Grigely, Julie Mehretu, Lucia Nogueira, Lourdes Castro, Lygia Pape, Manuel Alvess, Mirtha Dermisache, Mark Lombardi, Mona Hatoum, Pedro Cabrita Reis, Rirkrit Tiravanija, Tacita Dean, Trisha Donnelly.

Mel Bochner, “Master of the Universe”, 2010, óleo e tinta acrílica sobre tela (e painéis). Coleção Anita & Burton Reiner, Washington, EUA

A exposição antológica da obra de Mel Bochner, “Se a cor muda” (até 27 de outubro 2013), reúne trabalhos de todas as fases do artista, incluindo instalações e murais. Considerado um dos iniciadores da arte concetual, Bochner (Pittsburgh, EUA, 1940) parte da linguagem para o exercício plástico como intervenção cultural, mobilizando o aspeto visual das letras e palavras, a representação do som, frases correntes e até expressões provocatórias como estratégia de envolvimento do público. “A linguagem não é transparente” e torna-se ainda mais complexa se a cor muda, alterando ligações e conexões emocionais, sociais e até políticas. A exposição foi organizada pela Whitechapel Gallery, Londres, em coprodução com a Haus der Kunst de Munique e com a Fundação de Serralves.

Alexandre Estrela, “Viagem ao meio”, 2010. Os efeitos de luz e som sugerem uma forma natural agitada pelo vento.

"Meio Concreto” é a maior exposição de Alexandre Estrela (n. Lisboa, 1971) até à data e resulta do doutoramento do autor, que teve por tema “O concretismo da imagem em movimento”. Apresentando uma seleção de trabalhos realizados entre 2007 e 2012. Integra dois percursos, materializados pelas peças que são ativadas em dia par ou ímpar – permitindo visitar a exposição noutro dia com o mesmo bilhete. As peças desativadas, sombras mudas no espaço da exposição, adquirem assim interesse escultórico.
O filme e o vídeo são os meios mais utilizados por Alexandre Estrela, cujos trabalhos exploram as potencialidades da câmara, projetor de vídeo e écran. O artista recorre a efeitos visuais para criar equívocos e jogos de sentido, revelados nos textos que acompanham cada peça, desafiando a perceção habitual dos objetos e do espaço. A exposição decorre até 29 de setembro 2013.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Michael Landy – Santos ao vivo em Londres



Entre os artistas contemporâneos que reutilizam materiais e partes de objectos usados nas suas criações, destaca-se o britânico Michael Landy (n. Londres, 1963). As suas obras combinam a performance com a instalação e privilegiam a recontextualização, transformando em obra de arte o que parece vulgar e mundano. As suas propostas artísticas complexas e de grande impacto visual ganharam visibilidade no grupo londrino YBA - Young British Artists (Jovens Artistas Britânicos) e colocaram-no rapidamente entre os melhores representantes da Arte Concetual e instalação europeias. Em Break Down (2001), a sua principal obra, Landy destruiu todos os seus bens e objetos pessoais, a maior parte deles insubstituíveis. Outra das suas obras de referência é Art Bin (2010).

Uma série de trabalhos recentes de Michael Landy encontra-se em exposição até 24 de novembro na National Gallery, Londres. Esta exposição, intitulada “Saints Alive” (Santos ao Vivo), é o resultado de uma residência artística do artista na National Gallery. Landy ficou fascinado com as representações sagradas de santos e suas histórias, realizando várias esculturas cinéticas com acumulação de formas diversas e peças de objetos e máquinas. A esculturas são interativas, bastando ao visitante carregar num pedal para lhes dar movimento.
Entre as esculturas expostas pode ser apreciado (e animado) um São Jerónimo ou um São Jorge.