Damián Ortega, "Miracolo Italiano", 2005.
Vista explodida de uma Vespa em peças reais.
Para os meses de verão, o Museu de Serralves apostou tudo na
arte concetual, mostrando um importante conjunto de peças da Coleção de
Serralves, uma exposição antológica de Mel Bochner, um dos fundadores da arte
concetual e as projeções subjetivas de Alexandre Estrela. A arte concetual
valoriza sobretudo a ideia, o conceito, o projeto que estrutura e suporta a
obra – e não apenas o objeto físico, a componente “concreta” que materializa a
obra concetual e sinaliza a sua interpretação. “Não existe pensamento sem um
suporte de sustentação“, afirma Mel Bochner numa das suas obras expostas em
Serralves. Por se afastar do entendimento corrente da obra de arte (um objeto
artístico completo e fechado, que se dá simplesmente à observação), a arte
concetual é desconcertante, não cria suficiente empatia com o público e por
isso torna-se difícil de entender, não tem grande aceitação entre o público em
geral. No entanto, suscita experiências artísticas mais complexas e
enriquecedoras que a pintura ou a escultura convencionais, mobilizando meios e
técnicas mais avançados e próprios do nosso tempo. Basicamente, deve-se a
movimentos como a arte concetual a convicção de que a arte do nosso tempo nasce
da interação de linguagens e saberes diversos, responsável pela fusão das
especialidades clássicas da pintura e escultura através do artista plástico,
cujas competências abrangem atualmente a fotografia, o vídeo, as novas
tecnologias e até a música. Se a correspondência entre a pintura e a poesia,
por exemplo, era inquestionável no século XIX, é hoje comum encontrar-se um
artista plástico preocupado com teorias matemáticas ou embrenhado na compreensão
dos materiais compósitos. Paralelamente, ao retirar protagonismo à obra física,
a arte concetual baralhou as regras tradicionais do comércio artístico,
impulsionando áreas expressivas como a poesia visual e a arte postal.
A exposição “Forma conceptual e ações materiais” (até 29 de
setembro 2013) apresenta uma seleção de obras pertencentes à Coleção de
Serralves e à Coleção de Desenhos da Madeira, realizadas por artistas
portugueses e estrangeiros desde o início da arte concetual, na década de 1960.
Por este motivo, assim como pela diversidade das abordagens artísticas, contexto
histórico e origem geográfica dos artistas, a mostra permite entender a arte
concetual nas várias vertentes e suportes – desde as obras em papel até às
intervenções no espaço.
A peça mais apreciada pelo público encontra-se logo à
entrada: a vista explodida de uma Vespa em peças, intitulada “Miracolo Italiano”
e realizada por Damián Ortega em 2005). Esta obra repete a experiência da Vespa
explodida em “Cosmic Thing” mas utilizando uma Vespa PX. O Mexicano Ortega (n. Mexico
City, 1967) trabalha em Berlim, onde contactou com a obra do alemão Stefan Sous
e desenvolveu o seu próprio projeto de formas explodidas. O artista holendês Paul
Veroude foi o primeiro a suspender peças de objetos reais em vista explodida,
na década de 1980, seguindo-se o alemão Stefan Sous e Damián Ortega. Estes dois
artistas trabalham normalmente com cerca de duas centenas de peças e Veroude
realizou trabalhos com cerca de 5800 peças. As obras mais conhecidas do
holandês são os carros de Formula Um em vista explodida.
Outros artistas representados:
Ana Hatherly, Ana Santos, Ana Vieira, Ângelo de Sousa, António Sena,
Armando Andrade Tudela, Dieter Roth,
Dimitrije Basicevic Mangelos, Francis Alÿs, Guy de Cointet, James Lee
Byars, Jorge Macchi, José Pedro Croft, Joseph Grigely, Julie Mehretu, Lucia
Nogueira, Lourdes Castro, Lygia Pape, Manuel Alvess, Mirtha Dermisache,
Mark Lombardi, Mona Hatoum, Pedro Cabrita Reis, Rirkrit Tiravanija, Tacita
Dean, Trisha Donnelly.
Mel Bochner, “Master of the Universe”, 2010, óleo e tinta
acrílica sobre tela (e painéis). Coleção Anita & Burton Reiner, Washington,
EUA
A exposição antológica da obra de Mel Bochner, “Se a cor
muda” (até 27 de outubro 2013), reúne trabalhos de todas as fases do artista,
incluindo instalações e murais. Considerado um dos iniciadores da arte
concetual, Bochner (Pittsburgh, EUA, 1940) parte da linguagem para o exercício plástico
como intervenção cultural, mobilizando o aspeto visual das letras e palavras, a
representação do som, frases correntes e até expressões provocatórias como
estratégia de envolvimento do público. “A linguagem não é transparente” e
torna-se ainda mais complexa se a cor muda, alterando ligações e conexões
emocionais, sociais e até políticas. A
exposição foi organizada pela Whitechapel Gallery, Londres, em coprodução com a
Haus der Kunst de Munique e com a Fundação de Serralves.
Alexandre Estrela, “Viagem ao meio”, 2010. Os efeitos de luz
e som sugerem uma forma natural agitada pelo vento.
"Meio Concreto” é a maior exposição de Alexandre
Estrela (n. Lisboa, 1971) até à data e resulta do doutoramento do autor, que
teve por tema “O concretismo da imagem em movimento”. Apresentando uma seleção
de trabalhos realizados entre 2007 e 2012. Integra dois percursos,
materializados pelas peças que são ativadas em dia par ou ímpar – permitindo visitar
a exposição noutro dia com o mesmo bilhete. As peças desativadas, sombras mudas
no espaço da exposição, adquirem assim interesse escultórico.
O filme e o vídeo são os meios mais utilizados por Alexandre
Estrela, cujos trabalhos exploram as potencialidades da câmara, projetor de vídeo
e écran. O artista recorre a efeitos visuais para criar equívocos e jogos de
sentido, revelados nos textos que acompanham cada peça, desafiando a perceção habitual
dos objetos e do espaço. A exposição decorre até 29 de setembro 2013.
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