Azulejos de Maria Keil no Metro de Lisboa
No passado domingo, dia 10 de junho,
faleceu uma grande artista portuguesa do século XX, Maria Keil.
Artista multifacetada, com uma obra
muito diversificada (pintura, ilustração, azulejaria, fotografia),
trocou a pintura de cavalete pelo azulejo no início da década de 50, tornando-se uma
artista de referência na azulejaria europeia do século XX. Após algumas
exposições de pintura e de receber o Prémio de Revelação Souza-Cardoso em 1941
(1), decidiu acompanhar a obra do marido, o arquiteto Francisco Keil do Amaral (1910-1975) e “fazer coisas para a arquitetura” pois “não valia a pena
continuar a pintar, o mundo está cheio de boa pintura” (2).
Fez parte do grupo de artistas que
renovou o azulejo português (Jorge Barradas, Carlos Botelho, Bernardo Marques)
seguindo a estética inspirada pelo artista suíço radicado em Portugal Fred
Kradolfer (1903-1968), figura importante do grupo conhecido como “a equipa de
António Ferro” (3), dominada pelo grafismo, sínteses figurativas geometrizadas
e composições abstratas.
As suas primeiras obras de vulto datam
de 1954 (painéis de azulejos para a delegação da TAP em Paris e no aeroporto de
Luanda, atual Maputo) e ganharam grande visibilidade nacional com a encomenda
do Metro de Lisboa em 1957. Até 1972, pesquisou e criou ritmos padronizados com
vista a 19 estações do Metro, contribuindo com esse trabalho para o
renascimento da fábrica Viúva Lamego, apesar dos problemas que foram adiando o
pagamento à artista até que esta decidiu oferecer o seu trabalho à cidade de
Lisboa.
O conhecimento da sua obra no
estrangeiro intensifica-se nos anos 70, desde a exposição “Azulejos Portugueses” (Florença, 1970) e depois com a exposição
itinerante “5 Séculos de Azulejo em Portugal” (Brasil
e Venezuela, 1978). Em Portugal, destaca-se a exposição retrospetiva organizada
em 1989 pelo Museu Nacional do Azulejo.
Datam dessa década os seus interessantes
desenhos de gatos, ilustrando “O pau de fileira” (1977) e as colagens com
imagens retiradas de revistas.
A idade avançada de Maria Keil (nasceu
em 1914, em Silves) não limitou a curiosidade nem a criatividade da artista,
que decidiu dedicar-se à fotografia aos 80 anos, realizando em 1997 a sua primeira exposição de fotografia: «Roupa a Secar no Bairro Alto» no Museu Nacional do Traje
As Artes nacionais são muito ricas e diversificadas, fazendo cada vez menos sentido distinguir as artes pela sua "nobreza" ou origens mais ou menos nobres, e a prova é que há lugar para a erudição em todas as áreas, do artesanato às artes digitais. Claro que estas distinções têm origem em interesses corporativos e comerciais, a maior parte dos critérios de "qualidade" artística são definidos de acordo com estes interesses, que são igualmente os mais "historiáveis", de mais fácil registo histórico. Mas à conta desses interesses nem sempre justificáveis, muitos artistas com obra interessante e de vulto vão ficando de parte, ignorados ou esquecidos. Espero que Maria Keil, que trocou a pintura de cavalete pela pintura de azulejo, não seja mais um deles, que a artista possa ser recordada e a sua obra revisitada - em Canas de Senhorim, por exemplo.
As Artes nacionais são muito ricas e diversificadas, fazendo cada vez menos sentido distinguir as artes pela sua "nobreza" ou origens mais ou menos nobres, e a prova é que há lugar para a erudição em todas as áreas, do artesanato às artes digitais. Claro que estas distinções têm origem em interesses corporativos e comerciais, a maior parte dos critérios de "qualidade" artística são definidos de acordo com estes interesses, que são igualmente os mais "historiáveis", de mais fácil registo histórico. Mas à conta desses interesses nem sempre justificáveis, muitos artistas com obra interessante e de vulto vão ficando de parte, ignorados ou esquecidos. Espero que Maria Keil, que trocou a pintura de cavalete pela pintura de azulejo, não seja mais um deles, que a artista possa ser recordada e a sua obra revisitada - em Canas de Senhorim, por exemplo.
(1)– Promovido pelo SPN, com o óleo
“Autorretrato”.
(2)-Entrevista ao Diário de Notícias em
2 de outubro de 1985.
(3)-Bernardo Marques, Carlos
Botelho, Emmerico Nunes, José Rocha, Paulo Ferreira e Thomaz de Mello. Também
conhecida por “Equipa do SPN” (Secretariado de Propaganda Nacional).
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