O artista e ativista chinês Ai Weiwei
Apesar da crescente abertura ao mundo, após reaver Hong Kong
e Macau e no seguimento dos convites a Taiwan para integrar a República Popular
da China, o governo chinês mantém sob fortes restrições os direitos e
liberdades dos cidadãos e reprime com vigor a dissidência política. Esta inflexibilidade
do governo chinês, pouco condizente com os pacíficos ensinamentos da filosofia
tradicional chinesa e prioridades humanistas do socialismo internacional, tem
sido desastrosa para a imagem e ambições internacionais do gigante asiático,
sobretudo quando suscita o envolvimento de organizações internacionais não-governamentais
(ONGs) credíveis, como a Human Rights Watch ou a Amnesty International, e a
mobilização da opinião pública através das atuais tecnologias de informação e
comunicação.
A repressão exercida sobre ativistas como Liu Xiaobo (Prémio
Nobel da Paz de 2010), ou Ai Weiwei (arquiteto e artista chinês), conhecida
e condenada em todo o mundo, vai reavivando a memória dos lamentáveis
incidentes ocorridos em 1989 na Praça Tiananmen, de onde saíram muitos destes
ativistas, e não favorece a imagem internacional da República Popular da China.
O artista chinês Ai Weiwei (n. Pequim, 1957) é conhecido
sobretudo pelas suas obras de escultura, arquitetura e instalação, cuja
originalidade não dispensa um contínuo desejo e busca de rutura. Logo em 1978,
foi um dos fundadores do grupo vanguardista de arte “Estrelas”, que se desfez
quando Weiwei foi estudar para os EUA, na Parsons School of Design e na Art
Students League, em Nova Iorque. Regressou à China em 1993, por doença do pai
(o poeta chinês Ai Qing), onde deu início a alguns projetos que o tornaram
conhecido nos meios artísticos internacionais, especialmente o arquivo de arte
contemporânea China Art Archives & Warehouse, uma galeria para divulgar a
arte experimental chinesa, em Pequim, e o estúdio de arquitetura e design FAKE.
O seu primeiro projeto arquitetónico foi a sua casa-estúdio
em Caochangdi, em 1998, mas a sua obra mais grandiosa, mundialmente aplaudida,
é o Estádio Nacional de Pequim, “Ninho de Pássaro”, construído para os Jogos
Olímpicos de 2008. Até esse ano, a carreira artística internacional de Wewei
era relativamente conhecida e apreciada pelo público em geral, apesar das suas
participações nos principais certames e mostras coletivas internacionais, para
além das várias exposições individuais em galerias e museus de referência, na
Ásia, Austrália, América do Norte, América do Sul e Europa.
Apesar de sempre ter criticado as orientações políticas da
República (os seus pais estiveram detidos em Xinjiang por delito político), foi
na sequência das suas investigações sobre a dimensão humana do terramoto de
Sichuan que caiu em desgraça junto do poder político. A sua insistência em
contabilizar e divulgar a lista completa de jovens estudantes que perderam a
vida na catástrofe devido à má qualidade da construção das escolas públicas
irritou o governo, que fechou o seu blogue. Weiwei foi também agredido pela
polícia quando se manifestava contra a prisão de um colega da investigação,
tendo publicitado a cirurgia a que foi submetido em Munique para conter uma
hemorragia cerebral, alegadamente em consequência da agressão policial. Desde
então, agudizou-se o controlo e repressão do artista e ativista chinês, que foi
impedido de sair da China por motivos de segurança nacional, e posteriormente
detido sob a acusação de evasão fiscal. Libertado em junho de 2011, após
prometer parar com as críticas e pagar uma multa milionária pela alegada fuga
aos impostos (que foi paga com a ajuda de uma campanha internacional), Weiwei
continua a ser uma referência incómoda na diplomacia interna e externa da China,
no dia (19 de maio 2012) em que o ativista cego Chen Guangcheng deixou o país
rumo aos EUA, após ter fugido da prisão domiciliária – onde se encontrava por
exigir direitos para os deficientes chineses e condenar o aborto forçado nas
comunidades rurais.
Ai Weiwei, "Ninho de Pássaro", Pequim, 2008
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