Em Guimarães, estão a causar algum incómodo os dados comparativos do anuário estatístico regional do Instituto Nacional de Estatística, que destacam Braga (sub-região estatística do Cávado) nos principais parâmetros e colocam Guimarães (sub-região estatística do Ave) praticamente a par de Viana do Castelo (sub-região do Minho-Lima).
Estas três cidades são, nos números do Instituto Nacional de Estatística, dos destinos turísticos mais procurados na região norte de Portugal, mas as análises que os dados do INE proporcionam (1), recentram a ancestral rivalidade entre Guimarães e Braga, núcleo histórico e afetivo da nacionalidade (2), ambas Capitais Europeias, da Cultura e da Juventude, respetivamente.
Acontece que não tem faltado a Guimarães a promoção que tem faltado a Braga. Guimarães é Património da Humanidade há 10 anos, o seu castelo foi eleito uma das 7 Maravilhas de Portugal e é Capital Europeia da Cultura 2012. No entanto, Braga vai à frente na classificação provisória do INE no que respeita aos subcapítulos da Cultura. O lema da Capital Europeia da Juventude é discutível no contexto regional (“Todos somos Braga”) mas a organização, a Fundação Bracara Augusta, promete “a melhor capital europeia da juventude de sempre” e ficar na história graças à iniciativa “Estratégia Braga 2024”, cujo objetivo será constituir a rede europeia de Capitais Europeias da Juventude.
Guimarães 2012 apresentou um programa à altura da responsabilidade assumida em maio de 2009, mas Braga 2012 oferece igualmente eventos para todo o ano, distribuídos por três áreas: Y.WORLD; Y.YOU; Y.LIKE. O Y.WORLD tem dimensão europeia, visando promover o diáçogo intercultural e o debate das questões europeias da juventude. Os seus pontos altos serão a realização do Parlamento Europeu Jovem (17 a 25 de março), o Dia Internacional da Juventude (12 de agosto) e a “Aldeia das Religiões” (21 a 28 de outubro).
As Capitais Europeias da Cultura em Portugal têm retratado generosamente os males da cultura nacional: atrasos, improviso, desleixo, jogos de influências e lutas pelo poder. Foi assim em Lisboa (1994) e no Porto (2001). Basta folhear os jornais da época. Em Guimarães, já foi mesmo necessário apelar à ordem e à moralidade. Poderá argumentar-se que é assim em todo o lado mas Portugal é o nosso país e o que alguns fazem, aqueles que elegemos ou que foram nomeados para nos representar, compromete-nos a todos. Para o bem e para o mal.
Certo é que a realização de duas Capitais Europeias no mesmo distrito e no Minho, região de forte personalidade cultural e ímpares riquezas patrimoniais, constitui uma oportunidade única para a região. Esperemos que não seja mais uma oportunidade desperdiçada.
A abertura oficial da Capital Europeia da Juventude está marcada para 14 de janeiro em Braga. A Capital Europeia da Cultura em Guimarães, abre oficialmente a 21 de janeiro.
(1) - Confirmando os dados de dezembro do Instituto de Planeamento e Desenvolvimento de Turismo (IPDT), que foram considerados pouco fiáveis por se basearem no número de visitas aos postos de turismo. As estatísticas do INE são por natureza fiáveis, constituindo a base de todas as análises e decisões nos mais diversos domínios da vida nacional, o barómetro da nação que permite compararmo-nos com bastante certeza com outras nações e situarmo-nos no universo internacional. Servem igualmente de base à celebrada base de dados Pordata, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, presidida por António Barreto.
(2) -Juntamente com o Porto, que deu nome ao novo território independente (Porto Cale), um dos três locais no norte do país classificados como Património Mundial pela UNESCO: centro histórico do Porto, em 1996; gravuras de Foz Coa, 1998; centro histórico de Guimarães, 2001.
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