segunda-feira, 19 de julho de 2010

2º Festival das Artes de Coimbra

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Decorre em Coimbra, desde o dia 16 de Julho e até 01 de Agosto de 2010, o 2º Festival das Artes.
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Centrado no anfiteatro da Colina de Camões, na Quinta das Lágrimas, o festival promovido pela Fundação Inês de Castro organiza-se em ciclos (Ciclo da Música, Ciclo das Artes Plásticas, Ciclo do Património, Ciclo das Conferências, Ciclo da Esperança, Ciclo do Cinema, Ciclo da Coreografia, Ciclo da Gastronomia, Ciclo da Vida, Ciclo da Palavra), havendo ainda várias noites dedicadas à etnografia e folclore.

Com um programa rico e variado, o Festival das Artes abrange diversas formas de expressão artística, como a música, artes plásticas, fotografia, literatura, teatro e cinema.

Ver o programa completo no site do festival ou no Facebook.
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Colina de Camões - Quinta das Lágrimas

quarta-feira, 14 de julho de 2010

VIRGÍNIA PINTO

A artista senense Virgínia Pinto participa actualmente na exposição de obras seleccionadas para o Prémio Carmen Miranda, a decorrer até 5 de Agosto no Espaço Arte do Museu Municipal de Carmen Miranda, no Marco de Canaveses.

Vista parcial da exposição, com as duas peças de Virgínia Pinto

O concurso tinha como temas obrigatórios o “Centenário da República” e os “100 Anos do Dia Internacional da Mulher” e contou com a participação de 64 obras de 46 artistas. Das 17 obras expostas, apenas Virgínia Pinto representa a escultura, com duas peças, uma das quais (“Sentado no Espaço” – mármore, aço e cobre) esteve recentemente exposta na ARTIS IX.

Por maioria, o júri decidiu atribuir o Prémio Carmen Miranda 2010 a “Cem Sem” (técnica mista), de Lúcia David, e uma menção honrosa à pintura "República Portuguesa" (acrílico s/tela), de Gil Maia.
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"Grito"
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Virgínia Maria de Almeida Pinto nasceu em Sameice, Seia, a 09 de Março de 1976.
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Engenheira civil. A Pintura e gosto pelas artes surgiram em 1986, data dos primeiros trabalhos, através da pesquisa e desenvolvimento de técnicas combinando diferentes materiais, nomeadamente óleo, grafite, carvão e tinta.
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Iniciou-se na escultura em 2009, com trabalhos em mármore, inox e madeira.

"Sentado no espaço" - escultura em mármore, aço e cobre

Exposições individuais: Quinta do Crestelo (Seia, 2000); Salão das Magnólias (Seia, 2001); Bar Santa Sé (Viseu, 2004); Mais Um Bar (Viseu, 2008); Bar Lugar do Capitão (Viseu, 2008).

Exposições colectivas: Amigos do Fundão (2000); Exposição dos Artistas Senenses (Lisboa, 2004); “Jovens Artistas” – Centro Nacional de Cultura (Lisboa, 2004); EXPOVIS - Feira de São Mateus (Viseu) e ARTIS II a IX (Seia, 2003 a 2010); GóisArte 2010; Prémio Carmen Miranda 2010 (Marco de Canaveses, Julho e Agosto 2010); EXPOVIS - Feira de São Mateus 2010 (Viseu, Agosto e Setembro 2010).

terça-feira, 13 de julho de 2010

A. LIMA: OS BUSTOS (DE) SENENSES

Aureliano Lima é um dos escultores com mais obras públicas na Beira interior, com destaque para o concelho de Seia, onde existem três bustos de sua autoria. Tal como os bustos do Bispo da Guarda, D. José Alves Matoso (Pisão – Coja, 1953), do poeta Brás Garcia de Mascarenhas (Avô, 1958) e do Dr. Alberto Vale (Coja, 1959), os bustos existentes em Paranhos da Beira e Pinhanços datam da primeira fase da sua obra, antes de realizar a primeira exposição individual (Galeria Alvarez, Porto, 1963) e de rumar a Paris com uma bolsa da Fundação Gulbenkian (1965). O busto da Folhadosa é posterior: no pedestal indica-se o ano de 1970 e a biografia de Serafim Ferreira refere o ano de 1971 (1), havendo outro busto dessa época na Lousã (Dr. José Cardoso, 1970).
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Uma das suas principais obras, “O Grito” (1982), uma escultura de bronze com 4,30 metros de altura, encontra-se colocada no Largo do Município, em Nelas.


O busto existente em Paranhos da Beira, à entrada do adro da igreja, evoca o “culto e piedoso” (2) Padre João Abranches Martins (Paranhos, 1872-1949).


Em 1958, o povo de Pinhanços homenageou o Dr. Carlos Alves Rodrigues erguendo-lhe um monumento frente à igreja paroquial. Natural de Pinhanços (1893-1957), o Dr. Carlos Rodrigues “exerceu medicina com notável desinteresse” (3). Foi vice-Presidente da Câmara Municipal de Seia em 1931.

O busto do Dr. António Vieira de Tovar Magalhães Pinto e Albuquerque, visconde de Molelos e fundador do asilo de Folhadosa, encima o monumento que o povo lhe ergueu em frente do seu solar, no largo principal da povoação e junto à igreja. O 13º senhor do Paço de Molelos e último do solar da Folhadosa, nasceu em Coimbra em 1838 e faleceu em Molelos em 1920, não deixando descendência.


Estes bustos mostram volumes pouco vincados e estáticos, ao contrário de outros trabalhos de A. Lima - Miguel Torga, por exemplo. Os retratos têm personalidade mas sem arroubos emotivos e a intensidade expressiva concentra-se no olhar. Trata-se de obras que nada têm a ver com as esculturas geometrizadas que celebrizaram Aureliano Lima – sobretudo “A Homenagem” (Vila Nova de Gaia, 1979), “O grito” (Nelas, 1982) e “Monumento a Fernando Pessoa” (Feira, 1983).

Esculpindo "O Grito"
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“Sem os apoios que merecia e numa época em que não existia mercado de arte – numa época difícil, - Aureliano Lima, escultor e poeta – lutador – construiu a sua obra, honesto e decidido, coerente e firme” (Jaime Isidoro, 1986).
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Aureliano Lima nasceu em Carregal do Sal a 23 de Setembro de 1916, tendo vivido em Lagares da Beira desde 1921 até 1936. O seu pai emigrara para o Brasil e ele partiu para a Figueira da Foz, onde foi ajudante de farmácia. Em 1939, muda-se para Coimbra, onde instala um pequeno atelier e começa a esculpir. Inicia-se igualmente na escrita, beneficiando do convívio com poetas e escritores como Afonso Duarte, Paulo Quintela, Miguel Torga e Carlos de Oliveira – cujos bustos executa nos finais de 1948.

Em 1958, mudou-se para o Porto, radicando-se em Vila Nova de Gaia no ano seguinte. Aí desenvolveu e consolidou a sua obra, tanto ao nível da escultura como da pintura e da poesia, sem nunca perder a ligação com a Beira interior. Ainda em 1958, executa o busto do poeta de Avô-Oliveira do Hospital, Brás Garcia Mascarenhas. 1959, realiza o busto do Dr. Alberto Vale (Coja-Arganil) e do Dr. Carlos Alves Rodrigues (Pinhanços-Seia).

Esculpe e escreve activamente, participando em várias exposições colectivas, em colóquios e filmes (“Porto-Cidade do Trabalho”, de Manuel Guimarães) até 1965, ano em que ruma a Paris como bolseiro da Fundação Gulbenkian e frequenta os “Ateliers Szabo” (“Academie du Feu”). O ano de 1963 havia sido fundamental no relançamento da sua carreira, tendo realizado a primeira exposição individual (Desenho e Escultura, na Galeria Alvarez-Porto) e vencera um prémio literário (Prémio Galaica), cujo júri era composto por nomes sonantes das Letras portuguesas: Óscar Lopes, David Mourão-Ferreira, António Ramos Rosa, Egipto Gonçalves e Alberto Uva.

Regressado a Portugal, realiza diversas exposições individuais e participa em grandes colectivas, mantendo a ligação ao interior beirão: em 1971, realiza o busto do Dr. António Vieira, 2º Visconde de Molelos (Folhadosa-Seia) e, em 1975, do Dr. Veiga Simões (Arganil). Uma das suas obras mais conhecidas, “O Grito”, é inaugurada em Nelas em 1982, um ano antes da inauguração da sua maior obra, a escultura-monumento a Fernando Pessoa, em Santa Maria da Feira, com a presença de Miguel Torga e do Presidente da República de então, Ramalho Eanes.

No ano da sua morte (15 de Dezembro de 1984), participa em exposições colectivas (Porto, Gaia e 3ª Bienal de Cerveira) e no 1º Encontro de Escritores de Gaia, executa a medalha comemorativa dos 150 anos da elevação de Gaia a cidade e os bustos de Nunes Ferreira e Mário Cláudio.

Em 1985, foi publicada a antologia poética “Os Rios e os Lugares” (4), organizada e prefaciada por Serafim Ferreira. Em 1988, a Fundação Calouste Gulbenkian promoveu uma exposição restrospectiva da obra artística e literária de Aureliano de Lima.

O Museu Municipal de Carregal do Sal perpetua a memória do escultor e poeta.

(1) – Serafim Ferreira, “Aureliano, a Arte do Silêncio”, Biblioteca Pública Municipal de Vila Nova de Gaia, 1985.
(2) – J. Quelhas Bigotte, Monografia de Seia, 2ª edição,1986, pág. 463.
(3) – J. Quelhas Bigotte, Monografia de Seia, 2ª edição,1986, pág. 472.
(4) - Brasília Editora, Porto, 1985.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

GÓIS ARTE 2010

Auditório da Casa do Artista

No Auditório da Casa do Artista, decorreu a sessão solene de abertura do GóisArte 2010, com intervenções das diversas personalidades que constituíam a mesa e a presença destacada, entre o público, dos presidentes das Juntas de Freguesia e de um representante do Turismo do Centro.
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Nos discursos oficiais, salientou-se a importância do GóisArte no contexto local e sua relação com a Galiza - particularmente com o Município de Oroso, localidade galega que se geminou com Góis - registando-se a participação de cerca de 20 artistas galegos na exposição colectiva e no grupo luso-galaico de escultores que trabalhou duas semanas na concepção do monumento alusivo à geminação Góis-Oroso, assim como em 6 esculturas individuais - que estiveram em destaque no auditório durante a sessão de abertura.
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Seguidamente, foi inaugurada a exposição colectiva de obras participantes, nas galerias da Casa do Artista. Este ano sob o signo da biodiversidade / biodiversid'arte, a exposição reúne cerca de uma centena de obras de pintura, escultura, serigrafia e fotografia, num espaço que começa a ser pequeno para tantas obras ... e público.
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Foram seleccionadas para o GóisArte 2010 quatro obras de artistas senenses: Francisco Paulo (F. Paulo); Luíz Morgadinho; Sérgio Reis e Virgínia Pinto. No que me diz respeito, é a terceira vez que participo na colectiva de Góis: 2000, 2001 e 2010.
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O GóisArte foi criado em 1997, durante a presidência de José Cabeças, num esforço conjunto da Câmara Municipal de Góis e da Associação de Desenvolvimento de Góis e da Beira Serra, que contaram depois com o envolvimento pontual de outros organismos e associações. O executivo camarário seguinte, presidido por José Girão Vitorino (1947-2010) desenvolveu a iniciativa dando-lhe projecção nacional e criou laços com a Galiza. A actual presidente da Câmara, Maria de Lurdes Oliveira Castanheira, propõe-se levar ainda mais longe a iniciativa criada e desenvolvida pelos antecessores. Parece-me importante, mesmo urgente, começar por melhorar as condições de exposição das galerias da Casa do Artista, já que a mostra colectiva é a raiz e o cerne do GóisArte. Saúda-se o alargado intercâmbio cultural com Oroso e a próxima criação do Museu de Góis, no edifício do antigo hospital que se encontra em fase de recuperação.
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Ao longo das suas 14 edições, o júri de selecção do GóisArte integrou artistas de relevo das artes ibéricas, como Armando Martinez, Camarro, Geraldes da Silva, Jacqueline Moys, Mário Silva, Pinho Dinis (1921-2007), entre outros. Integrou ainda o júri, nos primeiros anos do evento, a mais importante artista local, Alice Sande (Pombal, 1925-Góis, 2005), que participou na Expo'98 com uma interessante exposição de pintura no Pavilhão do Território. Na Casa Museu Alice Sande funciona actualmente o Posto de Turismo de Góis.
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Sessão solene de abertura do GóisArte 2010, no auditório da Casa do Artista. Da esquerda para a direita: Dr. José Machado Lopes (representante do júri e do Movimento Artístico de Coimbra); José António Pereira de Carvalho (Presidente da Assembleia Municipal); Drª Maria de Lurdes Castanheira (Presidente da Câmara Municipal de Góis); D. Manoel Miras Franqueira (Alcaide de Oroso - Galiza, Espanha); Dr. António Sérgio (representante do Governo Civil de Coimbra).

Inauguração da exposição colectiva


Vista parcial da segunda sala da exposição colectiva.

Recanto da sala principal: ao centro, uma pintura de Maria Margaretha Velzeboer (Marvel), que participou na ARTIS IX em Seia. Antonia Broos e Antje Margaretha Iedema (AMIe) também estão em Góis e participaram na ARTIS 2010.


Carlos Inácio - "Biodiversida-me, Biodiversida-te, Biodiversida-nos", acrílico s/tela


Francisco Paulo - técnica mista

Geraldes da Silva

Luíz Morgadinho - "Faina Inumana e Criminosa", óleo s/tela

Oscar Aldonza Torres - "La Via del Conocimiento", terracota

Rita Duarte - "Espaços de Luz", óleo s/tela

Virgínia Pinto

Após a inaguração da exposição colectiva do GóisArte 2010, foi inaugurado um monumento evocativo da geminação Góis-Oroso. O monumento concebido por artistas portugueses e galegos, localiza-se na rotunda da saída rodoviária para a Lousã.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

OS BUSTOS DA REPÚBLICA

SIMÕES DE ALMEIDA (SOBRINHO) E O BUSTO DA REPÚBLICA

A representação tradicional da República foi inspirada na figura central de uma pintura panfletária de Eugène Delacroix (1798-1863), “A Liberdade Guiando o Povo” (1830). Neste quadro, o principal pintor do Romantismo francês mostra uma figura feminina com um barrete frígio, representando a Liberdade, destemida e determinada. Os seios descobertos, sem intuitos lascivos, exprimem a ideia de liberdade absoluta, contra os normativos morais vigentes. O barrete frígio, já utilizado na antiguidade pelos habitantes da Frígia (actual Turquia), foi adoptado pelo povo como símbolo revolucionário na tomada da Bastilha (1789) e tornou-se um dos principais símbolos da República Francesa.

Eugène Delacroix - "La Liberté guidant le peuple" (1830)

A Liberdade imaginada por Delacroix em 1830 foi logo depois representada em busto por diversos escultores, reproduzida e reinterpretada ao longo dos anos e décadas, até ao presente. Manteve o ar decidido, o barrete frígio, cobriu-se o peito e acrescentou-se o ramo de loureiro triunfal ou a foice, simbolizando a abundância.

Na França, a figura que representa a República é conhecida desde sempre por Marianne mas mudou várias vezes de aspecto desde 1944. Após o fim da II Guerra Mundial, a Associação dos Autarcas Franceses decidiu actualizar periodicamente a representação da República utilizando como modelo jovens francesas famosas, como a actriz Brigitte Bardot (1968), a cantora Mireille Mathieu (1978), a actriz Catherine Deneuve (1985), a modelo e designer Inès de la Fressange (1989), ou a modelo e actriz Laetitia Casta (2000). A apresentadora de TV Èvelyne Thomas (2003) foi a escolha mais controversa, apesar da sua popularidade.

Em Portugal, a propósito das Comemorações do Centenário da República, o escultor João Cutileiro lançou a discussão sobre uma eventual alteração do busto português mas a Comissão do Centenário opôs-se com autoridade e a proposta não reuniu consenso.

O busto português da República retém, assim, os traços fisionómicos de Ilda Pulga, uma jovem natural de Arraiolos que morreu em 1993 com 101 anos, mas a escolha dessa peça escultórica foi complexa e rodeada de polémicas – à boa maneira portuguesa.

Em 1910, a Câmara Municipal de Lisboa promoveu um concurso nacional para a criação do busto oficial da República portuguesa – naturalmente à imagem e semelhança da Marianne francesa. Concorreram 9 escultores. O vencedor, Francisco dos Santos (1878-1930), regressado de Paris em 1909, apresentou um busto elegante, com traços refinados, um trabalho erudito condizente com o modelo francês. Em segundo lugar ficou Simões de Almeida (sobrinho) (1880 – 1950), autor da proposta intitulada “Fraternitas”, que apresentava os traços da portuguesíssima Ilda Pulga, de rosto cheio e seios fartos. O terceiro lugar coube a Júlio Vaz Júnior (1877-1963), com a proposta intitulada “Austera” – um busto expressivamente austero, semblante grave e peito pudicamente encoberto por um enorme ramo de loureiro.

O júri do concurso escolheu de facto a obra mais bela e erudita mas foi o busto de Simões de Almeida que acabou por ser adoptado como símbolo oficial da República portuguesa em 1911. A razão desta preferência tem a ver com a sensibilidade e gosto populares, mas deve-se sobretudo à precipitação da propaganda republicana.
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As três propostas vencedoras (da esquerda para a direita):
Francisco dos Santos; Simões de Almeida; Júlio Vaz Júnior.
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Conhecido por José Simões de Almeida (sobrinho) para se distinguir do seu tio (Mestre escultor José Simões de Almeida), o autor do busto português da República nasceu em Figueiró dos Vinhos em 1880 e faleceu em Lisboa em 1950.
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Formou-se em Escultura em 1903, na Academia Real de Belas-Artes (depois Escola de Belas-Artes de Lisboa), onde foi aluno de seu tio e mais tarde professor de desenho e pintura.
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Bolseiro da Academia Nacional de Belas Artes, estudou escultura em Paris e Roma.
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Após a conquista da Câmara de Lisboa pelos republicanos nas eleições de 1 de Novembro, o novo presidente da Câmara, Anselmo Braamcamp Freire (1849 –1921), encomendou a Simões de Almeida (sobrinho) um busto para a República, que o escultor executou utilizando como modelo a jovem Ilda Pulga.

A República só teve símbolos oficiais em 1911 (e efígies republicanas nas moedas em 1912), razão pela qual esse busto marcou presença em diversos acontecimentos republicanos e cerimónias oficiais logo após o 5 de Outubro de 1910, com destaque para o funeral conjunto de Miguel Bombarda e de Cândido dos Reis (6 de Outubro de 1910), e granjeou a preferência de muitos lideres republicanos. Para o concurso nacional de 1910, Simões de Almeida apresentou uma proposta baseada nesse primeiro busto, com alterações suficientes para cumprir a exigência regulamentar de obras inéditas, mas rapidamente identificada pelo comum dos republicanos e a proposta vencedora do concurso nacional não teve aceitação popular. Encontra-se hoje exposta no Museu da República.
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Sérgio Reis
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*Publicado no jornal "Ecos da Nossa Escola" - Agrupamento de Escolas de Tourais-Paranhos, nº 16, Maio 2010

"A Ilustração Portuguesa"

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O RELÓGIO DO EDIFÍCIO PALLADIUM


O edifício das Galerias Palladium, antigos Grandes Armazéns Nascimento, situado no cruzamento da Rua de Santa Catarina com a Rua de Passos Manuel, mostra um interessante relógio com carrilhão e figuras que se movimentam no exterior do edifício.

De três em três horas, saem do relógio e apresentam-se de frente para Santa Catarina, num patamar do 1º andar, quatro imagens representando figuras emblemáticas do Porto: S. João, o Infante D. Henrique, Almeida Garrett e Camilo Castelo Branco. Após um desfile de dois minutos, ao som do carrilhão, as figuras regressam ao relógio.

O edifício foi projectado pelo arquitecto José Marques da Silva (Porto, 1869-1947) para o industrial António Nascimento. Construído em 1914, fazia parte do vasto plano de reconversão da baixa portuense realizado nessa época. A designação actual advém do facto de ter aí existido um café, o Palladium, entre 1939 e os anos 70.


Fotos: artes-vivas.blogspot.com

quinta-feira, 1 de julho de 2010

BMW ART CARS

Automóveis com Arte

Jeff Koons - BMW M3 GT2 Art Car 2010 Le Mans

O automóvel é uma área extremamente ligada ao design mas também propícia às abordagens artísticas, sem falar dos pintores que se dedicam aos temas da competição automóvel. É inegável a harmonia formal dos automóveis modernos, acentuada pelos aspectos aerodinâmicos, e existe uma estética indissociável dos automóveis de competição. Para além da beleza agressiva das formas, a pintura e decoração exterior dos carros de corrida, regra geral com objectivos distintivos e publicitários, não dispensam cuidados estéticos. Desde os pequenos mas aguerridos carros dos troféus aos ligeiros e rápidos monolugares da Fórmula 1, as linhas, formas e cores que os cobrem são parte importante no todo do automóvel e delas depende o próprio funcionamento da equipa. Reforçando esses laços, a BMW criou há 35 anos a BMW Art Car Collection, através das 24 Horas de Le Mans, a mais mediática prova de resistência mundial.

A ideia de correr com um carro decorado por um artista famoso foi levada à prática pela primeira vez em 1975, por Hervé Poulain, um piloto francês também dado às artes. A BMW gostou da ideia e Poulain convidou o artista americano Alexander Calder, seu amigo pessoal, para pintar um BMW 3.0 CSL destinado às 24 Horas de Le Mans de 1975. O carro #93 foi inscrito por Hervé Poulain, que alternou ao volante com Sam Posey (USA) e Jean Guichet (F) mas abandonou durante a corrida. Esse trabalho foi um dos últimos de Calder, que faleceu no ano seguinte.

O BMW #41 com a decoração de Stella

Em 1976, Poulain não correu em Le Mans, cabendo a Peter Gregg (USA) e Brian Redman (GB) pilotar o BMW decorado pelo pintor minimalista americano Frank Stella.

Esta iniciativa da BMW repetiu-se 17 vezes ao longo dos últimos 35 anos. Em 1977, o carro decorado pelo artista pop americano Roy Lichtenstein, inscrito e pilotado por Hervé Poulain, Marcel Mignot (F) e Anny-Charlotte Verney (F), terminou em 9º lugar.

Em 2010, Jeff Koons projectou a decoração do BMW M3 GT2 inscrito na prova clássica francesa pela BMW Motorsport e pilotado por Andy Priaulx (GB), Dirk Muller (DE) e Dirk Werner (DE). O BMW recebeu o número 79 evocando o sucesso de 1979, mas não terminou a corrida. Em 1979, o carro pintado por Andy Warhol e inscrito por Hervé Poulin terminou em 6º lugar, conduzido pelo próprio Poulain, Marcel Mignot (F) e Manfred Winkelhock (Alemanha). Os BMW Art Car só regressariam às 24 Horas de Le Mans em 2010.

Olafur Eliasson ligou a ciência à arte em 2007 e "escondeu" o BMW H2R

Em 2007, o 16º BMW Art Car foi directo das pistas de testes para o museu. Partindo do BMW H2R, um carro conceptual a hidrogénio, o artista dinamarquês Olafur Eliasson criou uma surpreendente estrutura integrando luz e som. Na pista de testes de Miramas, o carro com motor de 12 cilindros e 6.0 litros atingiu os 300 km/h.

Em 2009, Robin Rhode usou um BMW Z4 como "pincel"

Em 2009, a artista sul-africana Robin Rhode usou como “pincel” um BMW Z4 equipado com latas de tinta azul, vermelho e amarelo, para criar uma pintura expressionista abstracta. A experiência durou 12 horas e algumas imagens foram integradas num filme publicitário da BMW, “An expression of joy”.
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O Art Car de 2010 foi apresentado no Centro Pompidou, evocando as circunstâncias da apresentação do 3º Art Car, em 1977, decorado pelo artista americano Roy Lichenstein, e Hervé Poulain foi um dos convidados de honra.

O trabalho de Jeff Koons para o BMW M3 surpreendeu agradavelmente pela sugestão dinâmica e vibração das cores. Trata-se de um dos mais impressionantes Art Cars e cala muitos dos seus detractores. Para muitos críticos, Jeff Koons é um génio da arte mundial mas, para outros, o ex-marido de Cicciolina, política e actriz porno italiana, não passa de um artista vulgar.

Outra particularidade da sua participação na BMW Art Car Collection reside no método de trabalho, pois Koons não intervém directamente na execução das suas obras, tal como a maioria dos artistas pós-modernos. Ao contrário do que fizeram os artistas seus antecessores, Koons não pintou directamente na chapa do automóvel. A decoração foi impressa numa fina película autocolante, de acordo com o projecto do artista, e colada na carroçaria pintada com a cor de base.

Os carros da BMW Art Car Collection reflectem a evolução tecnológica, design e oscilações dos gostos culturais dos anos 70, 80, 90 e da última década, tendo sido expostos ao lado de outras obras de arte em museus como o Museu do Louvre, em Paris, Royal Academy, em Londres, Whitney Museum of Modern Art de Nova Iorque, Palazzo Grassi, em Veneza, Powerhouse Museum, em Sydney, Tel Aviv Museum of Art e museus Guggenheim de Nova Iorque e de Bilbao.

Lista dos 17 BMW Art Car (1975-2010)
Clicar sobre o nome do artista para ver um video no youtube

(Ano - modelo - artista/país – resultado em Le Mans)

1975 - BMW 3.0 CSL - Alexander Calder (USA) – versão de corrida: #93 (abandonou)
1976 - BMW 3.0 CSL - Frank Stella (USA) – versão de corrida: #41 (abandonou)
1977 - BMW 320i Group 5 - Roy Lichtenstein (USA) – versão de corrida: #50 (9º)
1979 - BMW M1 Group 4 - Andy Warhol (USA) – versão de corrida: #76 (6º)
1989 - BMW M3 Group A - Ken Done (Austrália)
1991 - BMW Z1A - R. Penck (Alemanha)
1991 - BMW 525i - Esther Mahlangu (África do Sul)
1995 - BMW 850CSi - David Hockney (Grã-Bretanha)
1999 - BMW V12 LMR - Jenny Holzer (USA) – versão de corrida: #16 (não participou)
2007 – BMW H2R – Olafur Eliasson (Dinamarca)
2010 - BMW M3 GT2 - Jeff Koons (USA)-versão de corrida: #79 (abandonou)

Fontes:

1975 - Alexander Calder

1976 - Frank Stella

Roy Lichenstein trabalhando no projecto

1977 - Roy Lichenstein

Andy Warhol

1979 - Andy Warhol

1982 - Ernest Fuchs

1986 - Robert Rauschenberg

1989 - Jagamara Nelson

1989 - Ken Done

1990 - César Manrique

Esther Mahlangu

1991 - Esther Mahlangu

1991 - R. Penck

1992 - Sandro Chia


1995 - David Hockney


Jenny Holzer

1999 - Jenny Holzer