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Obras de Soares Branco em Seia
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Bustos do Dr. Guilherme Correia de Carvalho (1989) e do Dr. António Melo Sena M. Veiga (1996)
Monumento aos Bombeiros (Seia, 1997) e Monumento ao Pastor (São Romão, 1998)
A verdadeira História de Seia, em matéria de monumentos, não passava até há bem pouco tempo de um rol de incúria e maus tratos - com algumas exceções redentoras. Ainda hoje parca em estátuas, não deixa de ser curiosa a presença esmagadora de obras de Soares Branco na cidade de Seia: os bustos do Dr. Guilherme Correia de Carvalho (1989) e do Dr. António Melo Mota Veiga (1996), o monumento aos Bombeiros (1997) e ao Pastor (1998). E só não tem mais pois não chegou a realizar o busto do Dr. Manuel de Almeida Sousa, que a respetiva Comissão de Homenagem lhe tinha encomendado. Esse trabalho foi posteriormente concretizado por Henadzi Lazakovich, o escultor bielorrusso radicado em Seia, que seguiu as linhas de composição de Soares Branco, bem patentes numa comparação estrutural entre os bustos do Dr. Guilherme e de Manuel Sousa.
Soares Branco completou o busto do Dr. Guilherme em maio de 1989. A figura (da cintura para cima, seguindo o conceito rigoroso de busto e não a conceção tradicional) tem uma estrutura triangular, a modelação dos volumes é pouco efusiva mas elegante e o conteúdo é sugestivo, destacando-se a serenidade da expressão e o relevo dado às mãos.
O busto do Dr. Guilherme foi tão apreciado que, sete anos mais tarde, Soares Branco foi chamado a realizar o busto do Dr. António Melo Sena Mota Veiga (1896-1988) - outro médico amigo do povo e falecido 21 dias após o Dr. Guilherme. Permitam-me sublinhar a evidência de Seia possuir, ontem e hoje, muito bons e dedicados médicos, havendo também a destacar o Dr. Simões Pereira e o Dr. António Maria de Senna, que teve a virtude acrescida de nascer em família humilde, e outros igualmente desaparecidos, como o pediatra Pessoa Mendes.
O busto do Dr. António Melo foi integrado no arranjo do espaço envolvente por ocasião das obras de ampliação do Hospital de Seia e a homenagem póstuma, no centenário do seu nascimento, foi o ponto alto das comemorações do feriado muncipal, a 3 de julho de 1996.
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Nos dois anos seguintes, foram inauguradas em Seia e São Romão duas obras de Domingos Soares Branco: o Monumento aos Bombeiros (1997) e o Monumento ao Pastor (1998). Enquanto Gouveia e Oliveira do Hospital já tinham, à data, as suas estátuas / monumentos ao pastor, o monumento aos bombeiros foi o primeiro da região, inaugurado com grande pompa no feriado municipal (3 de julho) pelo então Ministro da Administração Interna, Armando Vara, com a presença de várias delegações de bombeiros do distrito – que desfilaram com as bandeiras baixas e fitas pretas em sinal de protesto pelo conteúdo da reportagem televisiva “País em chamas”, transmitido pela RTP a 25 de junho. O Monumento ao Bombeiro em Oliveira do Hospital foi inaugurado em março de 2008 e é da autoria do escultor Luís Queimadela, que também concebeu o Monumento ao Empresário (2007).
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Soares Branco criou dois conjuntos escultóricos com várias peças interrelacionadas, destinados a pequenos espaços ajardinados. O Monumento aos Bombeiros Portugueses, junto ao quartel dos Voluntários de Seia, tem como elemento principal a figura em bronze de um bombeiro atacando o fogo - representado por outro elemento do conjunto. O Monumento ao Pastor ocupa uma rotunda na entrada da Vila de São Romão e é composto por três figuras (um pastor de capa e chapéu, um cão Serra da Estrela e uma ovelha) e foi inaugurado no dia 18 de julho de 1998, numa iniciativa conjunta da Câmara Municipal, Junta de Freguesia de São Romão e Rancho Folclórico “Os Pastores de São Romão”.
Domingos de Castro Gentil Soares Branco nasceu em Lisboa em 1925.
Discípulo de Leopoldo de Almeida e Simões de Almeida, distinguiu-se na escultura e no desenho anatómico, de modelo ou estátua. Dedicou-se ainda à medalhística e lecionou na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa durante 43 anos.
Na escultura, Soares Branco desenvolveu um estilo próprio com diversas fases, sempre com base em elementos figurativos. Em 1951, obteve o 2º prémio Soares dos Reis, do Secretariado Nacional de Informação.
Entre as suas diversas obras de índole religiosa, militar, histórica, desportiva, destacam-se: monumento a Sá Carneiro, Lisboa; estátua de Pio XII, em Fátima; busto de Adelino Amaro da Costa (Assembleia da República); estátua de Santo António de Lisboa (Lisboa); monumento comemorativo da Escola Prática de Infantaria, monumento a Beatriz Costa e monumento ao Soldado Infante (Mafra); esculturas dedicadas à Tauromaquia em Alcochete e Santarém. É também o autor da águia do Benfica, em Lisboa.
A sua obra, composta por mais de 13.000 peças (incluindo estudos, maquetas e esboços), encontra-se dispersa por várias localidades do país e um pouco por todo o mundo (Angola, Alemanha, África do Sul, Arábia Saudita, Cabo Bojador, Canadá, EUA, Hawai, Itália, Japão, Macau, Marrocos, Moçambique e Suécia). Após a realização, em Mafra, de uma importante exposição retrospetiva da sua escultura religiosa (dezembro de 2006-março de 2007), Soares Branco doou grande parte do seu espólio à Câmara Municipal de Mafra, que criou um museu com o seu nome, situado no Complexo Cultural Quinta da Raposa. Em dezembro de 2008, por ocasião do 83º aniversário do Mestre escultor, foi editado um livro sobre a sua vida e obra, intitulado “Conhecer Domingos Soares Branco”. Ver em http://www.cm-mafra.pt/arquivo/noticia.asp?noticia=1142.
Fontes: Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, vol. I; Jornal de Santa Marinha nº 81 (julho de 1996), nº 105 (julho de 1997) e nº 129; Porta da Estrela nº 435 (30 de Junho de 1996); “Conhecer Domingos Soares Branco” (C. M. Mafra, 2008).
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