domingo, 8 de fevereiro de 2009

OBRAS DE ARTE EM SEIA - 2

Este texto encontra-se redigido de acordo com as normas do novo Acordo Ortográfico
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Obras de Soares Branco em Seia
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Bustos do Dr. Guilherme Correia de Carvalho (1989) e do Dr. António Melo Sena M. Veiga (1996)
Monumento aos Bombeiros (Seia, 1997) e Monumento ao Pastor (São Romão, 1998)

A verdadeira História de Seia, em matéria de monumentos, não passava até há bem pouco tempo de um rol de incúria e maus tratos - com algumas exceções redentoras. Ainda hoje parca em estátuas, não deixa de ser curiosa a presença esmagadora de obras de Soares Branco na cidade de Seia: os bustos do Dr. Guilherme Correia de Carvalho (1989) e do Dr. António Melo Mota Veiga (1996), o monumento aos Bombeiros (1997) e ao Pastor (1998). E só não tem mais pois não chegou a realizar o busto do Dr. Manuel de Almeida Sousa, que a respetiva Comissão de Homenagem lhe tinha encomendado. Esse trabalho foi posteriormente concretizado por Henadzi Lazakovich, o escultor bielorrusso radicado em Seia, que seguiu as linhas de composição de Soares Branco, bem patentes numa comparação estrutural entre os bustos do Dr. Guilherme e de Manuel Sousa.

Em 1989, Seia homenageou o Dr. Joaquim Guilherme de Carvalho, que falecera em março de 1988, após doença prolongada. Conhecido como "o médico dos pobres", pela sua disponibilidade e bondade, "o verdadeiro médico de família" (J. Quelhas Bigotte, Monografia de Seia), deu nome à Escola EB 2,3 Nº1 de Seia em Junho de 2000.

Soares Branco completou o busto do Dr. Guilherme em maio de 1989. A figura (da cintura para cima, seguindo o conceito rigoroso de busto e não a conceção tradicional) tem uma estrutura triangular, a modelação dos volumes é pouco efusiva mas elegante e o conteúdo é sugestivo, destacando-se a serenidade da expressão e o relevo dado às mãos.

O busto do Dr. Guilherme foi tão apreciado que, sete anos mais tarde, Soares Branco foi chamado a realizar o busto do Dr. António Melo Sena Mota Veiga (1896-1988) - outro médico amigo do povo e falecido 21 dias após o Dr. Guilherme. Permitam-me sublinhar a evidência de Seia possuir, ontem e hoje, muito bons e dedicados médicos, havendo também a destacar o Dr. Simões Pereira e o Dr. António Maria de Senna, que teve a virtude acrescida de nascer em família humilde, e outros igualmente desaparecidos, como o pediatra Pessoa Mendes.

O busto do Dr. António Melo foi integrado no arranjo do espaço envolvente por ocasião das obras de ampliação do Hospital de Seia e a homenagem póstuma, no centenário do seu nascimento, foi o ponto alto das comemorações do feriado muncipal, a 3 de julho de 1996.
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Nos dois anos seguintes, foram inauguradas em Seia e São Romão duas obras de Domingos Soares Branco: o Monumento aos Bombeiros (1997) e o Monumento ao Pastor (1998). Enquanto Gouveia e Oliveira do Hospital já tinham, à data, as suas estátuas / monumentos ao pastor, o monumento aos bombeiros foi o primeiro da região, inaugurado com grande pompa no feriado municipal (3 de julho) pelo então Ministro da Administração Interna, Armando Vara, com a presença de várias delegações de bombeiros do distrito – que desfilaram com as bandeiras baixas e fitas pretas em sinal de protesto pelo conteúdo da reportagem televisiva “País em chamas”, transmitido pela RTP a 25 de junho. O Monumento ao Bombeiro em Oliveira do Hospital foi inaugurado em março de 2008 e é da autoria do escultor Luís Queimadela, que também concebeu o Monumento ao Empresário (2007).
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Soares Branco criou dois conjuntos escultóricos com várias peças interrelacionadas, destinados a pequenos espaços ajardinados. O Monumento aos Bombeiros Portugueses, junto ao quartel dos Voluntários de Seia, tem como elemento principal a figura em bronze de um bombeiro atacando o fogo - representado por outro elemento do conjunto. O Monumento ao Pastor ocupa uma rotunda na entrada da Vila de São Romão e é composto por três figuras (um pastor de capa e chapéu, um cão Serra da Estrela e uma ovelha) e foi inaugurado no dia 18 de julho de 1998, numa iniciativa conjunta da Câmara Municipal, Junta de Freguesia de São Romão e Rancho Folclórico “Os Pastores de São Romão”.

Soares Branco com Eduardo Brito, na inauguração do Monumento ao Pastor



Domingos de Castro Gentil Soares Branco nasceu em Lisboa em 1925.
Discípulo de Leopoldo de Almeida e Simões de Almeida, distinguiu-se na escultura e no desenho anatómico, de modelo ou estátua. Dedicou-se ainda à medalhística e lecionou na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa durante 43 anos.
Na escultura, Soares Branco desenvolveu um estilo próprio com diversas fases, sempre com base em elementos figurativos. Em 1951, obteve o 2º prémio Soares dos Reis, do Secretariado Nacional de Informação.
Entre as suas diversas obras de índole religiosa, militar, histórica, desportiva, destacam-se: monumento a Sá Carneiro, Lisboa; estátua de Pio XII, em Fátima; busto de Adelino Amaro da Costa (Assembleia da República); estátua de Santo António de Lisboa (Lisboa); monumento comemorativo da Escola Prática de Infantaria, monumento a Beatriz Costa e monumento ao Soldado Infante (Mafra); esculturas dedicadas à Tauromaquia em Alcochete e Santarém. É também o autor da águia do Benfica, em Lisboa.
A sua obra, composta por mais de 13.000 peças (incluindo estudos, maquetas e esboços), encontra-se dispersa por várias localidades do país e um pouco por todo o mundo (Angola, Alemanha, África do Sul, Arábia Saudita, Cabo Bojador, Canadá, EUA, Hawai, Itália, Japão, Macau, Marrocos, Moçambique e Suécia). Após a realização, em Mafra, de uma importante exposição retrospetiva da sua escultura religiosa (dezembro de 2006-março de 2007), Soares Branco doou grande parte do seu espólio à Câmara Municipal de Mafra, que criou um museu com o seu nome, situado no Complexo Cultural Quinta da Raposa. Em dezembro de 2008, por ocasião do 83º aniversário do Mestre escultor, foi editado um livro sobre a sua vida e obra, intitulado “Conhecer Domingos Soares Branco”. Ver em http://www.cm-mafra.pt/arquivo/noticia.asp?noticia=1142.
Fontes: Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, vol. I; Jornal de Santa Marinha nº 81 (julho de 1996), nº 105 (julho de 1997) e nº 129; Porta da Estrela nº 435 (30 de Junho de 1996); “Conhecer Domingos Soares Branco” (C. M. Mafra, 2008).

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