quinta-feira, 25 de março de 2010

ARTIS IX - Festa das Artes e Ideias de Seia

Galerias da Casa Municipal da Cultura de Seia, foyer do Cine-Teatro, átrio dos Paços do Concelho, salas de exposições temporárias do Tribunal de Seia e do Posto de Turismo - 8 Maio a 6 de Junho 2010

Entrada da Casa da Cultura - Jardim das Magnólias

Aproxima-se nova edição da Festa das Artes e das Ideias em Seia, a ARTIS IX - uma iniciativa do Município de Seia em colaboração com a Associação de Arte e Imagem de Seia.

Como refere Mário Jorge Branquinho no seu blogue, “a novidade deste ano tem a ver com a selectividade que vai haver nos trabalhos a expor por parte dos artistas locais. Ou seja, ser seleccionado para expor é desde logo um factor de reconhecimento pelo valor artístico da obra” – e do artista, nos domínios de Pintura, Escultura e Fotografia.

A existência de um júri, que se procurará constituir criteriosamente, e a presença de um conjunto diversificado de artistas plásticos nacionais, com propostas e projectos diferentes e desafiadores, abre uma janela de exigência e de qualidade numa iniciativa que procura outro reconhecimento e maior projecção. Esse esforço qualitativo interessa certamente aos artistas locais, após uma década de exposições colectivas cujo principal objectivo foi proporcionar uma panorâmica exaustiva da actividade artística no concelho.

Estão assim abertas as inscrições para as exposições colectivas de Pintura/Escultura e Fotografia dos artistas e fotógrafos locais. Regulamento e Ficha de Inscrição AQUI.

Como habitualmente, um artista e um fotógrafo locais serão distinguidos nesta edição da ARTIS, com exposições individuais: Ricardo Cardoso, na sala de exposições temporárias do Posto de Turismo de Seia, e José Carlos Calado, no átrio dos Paços do Concelho.
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Cine-teatro Jardim

Notícias em jornais da região sobre a ARTIS IX

Correio da Beira Serra

Jornal de Santa Marinha

Porta da Estrela

Sobre a estátua no túmulo de Afonso Costa

O escultor João da Silva e Afonso Costa


Quem procurar, no cemitério de Seia, o túmulo do advogado, político e estadista senense Afonso Augusto da Costa (Santa Marinha, Seia, 6 de março de 1871 — Paris, 11 de maio de 1937), depara com um jazigo subterrâneo enquadrado por duas esculturas: um anjo em granito, ao fundo, e uma grande estátua enigmática, no topo.

Estátua de Afonso Costa, da autoria de Dorita Castel-Branco, em Seia... no Largo Marques da Silva

O anjo é uma obra anónima interessante. As suas formas acompanham no geral a estética do “anjinho” barroco, mas o olhar vazio e o sorriso traquinas do anjo de pedra colocam aos pés do túmulo de Afonso Costa um autêntico arrepio tridimensional. No que respeita à estátua, datada de 1932, as suas características neo-góticas lembram de imediato a representação tradicional da Morte. Porém, vislumbra-se sob o pesado capuz um rosto feminino, belíssimo, cuja expressão doce, associada à sugestão funerária, evoca a Memória – certamente o sentido dessa escultura de João da Silva, escolhida para assinalar a última morada do controverso Afonso Costa.

Outra estátua de João da Silva muito semelhante à de Seia, pode ver-se no vão da escadaria principal do edifício da Reitoria, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Conhecida por “A Santa” - ou “A Sabedoria”, quando é apresentada como símbolo da universidade, essa figura feminina neo-clássica em granito é, na realidade, um monumento aos estudantes da Universidade do Porto mortos na Guerra de 1914-1918, inaugurado a 16 de outubro de 1948, onze anos depois do lançamento da primeira pedra. Já a estátua de bronze que integra o monumento a Augusto Gil, inaugurado na Guarda em 1935, representa a Poesia lançando flores com a mão esquerda e amparando a música (uma cítara) com a direita. Resumindo, não deixa de ser curioso terem a Guarda e Seia duas estátuas de João da Silva, realizadas com a diferença de poucos anos mas com destinos bem diversos: a da Guarda é uma “bandeira” cultural da cidade, objeto de inúmeras referências bibliográficas e variada iconografia, e a de Seia nem sequer aparece referida nos roteiros turísticos locais.


Afonso Costa foi sepultado em 1937 em Neuilly-sur-Seine, no jazigo de Robert Burnay, trasladado em 1950 para o cemitério do Père-Lachaise, em Paris, e finalmente sepultado em Seia em 6 de março de 1971, 34 anos após o seu falecimento (1). Tal como a estátua de João da Silva, o seu túmulo deveria ser referido no roteiro turístico de Seia, sem preconceitos nem quaisquer aspas.



Monumento aos Estudantes da Universidade mortos na Guerra de 1914-1918 da autoria do escultor João da Silva.


“Escultor João da Silva”, retrato de Abel Manta, 1919, 116X87, Museu de Abel Manta - Gouveia


João da Silva (Lisboa, 1880-1960) distinguiu-se como escultor ainda jovem, em França, e poderia ter alcançado outra projeção internacional “se o amor à pátria não o tivesse feito recusar a nacionalidade francesa” (2). Estudou escultura e medalhística em Paris e Genebra mas acompanhou já em Lisboa os alvores da República. Esteve envolvido na polémica escolha do busto da República Portuguesa, sendo apontado como autor do busto que esteve na Assembleia Constituinte em 1911, depois desaparecido. Como medalhista, foi o autor da primeira moeda de ouro da República Portuguesa, em 1916, poucos anos antes do amigo Abel Manta, de Gouveia, o pintar em dois retratos (3). Na década de 30, João da Silva criou ainda a célebre série de moedas com a caravela, que circularam até aos anos 60. Concebeu também autênticas obras-primas da joalharia para Jaime Leitão, reputado joalheiro lisboeta, assim como algumas peças destinadas à produção cerâmica das conceituadas marcas portuguesas Vista Alegre e Candal e da alemã Rosenthal.

Em 1914, decidiu não renovar o contrato como professor da Escola Marquês de Pombal, onde lecionava desde 1909, e passou a residir em Paris até 1932. Era cunhado de António Sérgio, com quem Afonso Costa fundou na capital francesa a Liga de Defesa da República (1927), grupo que se opunha à situação política portuguesa criada pela ditadura de 1926 e ascensão meteórica de António Salazar. Através de Rodrigues Miguéis (4) ficamos a saber que João da Silva era um “destemido antifascista e livre-pensador”, e certo é que declinou em 1949 o Prémio Soares dos Reis, que lhe fora atribuído pelo Secretariado Nacional de Informação. Recusar um prémio do S.N.I. constituía uma afronta invulgar à ordem infalível defendida pelo Estado Novo.

Obteve a Medalha de Honra da SNBA, a 1ª Medalha nas Exposições Internacionais do Rio de Janeiro (1908), de S. Luís e de Sevilha.

A Casa Museu João da Silva, depositária do espólio do escultor (estuques, bronzes, porcelanas, medalhas e joalharia) funcionou até ao falecimento da sua filha, Gabriela Silva, aos 94 anos de idade. Decorre um litígio entre a SNBA, o Grupo de Amigos de Lisboa e a Câmara Municipal de Lisboa quanto ao direito e acesso ao inventário da colecção.

João da Silva "distingue-se pela pureza da sua arte neo-clássica, estuante de harmonia e de graça. De técnica poderosa, ele sabe descobrir o encanto secreto das coisas e dos seres" (5).


NOTAS


(1)-Seia Católica nº 424, julho 1971 - citado por J. Quelhas Bigotte, Monografia de Seia, 2ª edição, julho 1986, pág. 334.

(2) - Excerto do requerimento apresentado na A.R. pela deputada Isabel Pires de Lima em 17 de Novembro de 2004, onde se questionava o futuro da Casa-Museu do escultor

(3)-Retratos datados de 1919, um dos quais se encontra patente ao público no Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta, Gouveia.

(4)-Aforismos e Desaforismos de Aparício” (1996), obra póstuma de José Rodrigues Miguéis (1901-1980) – citado em http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/85920.html

(5)-Seia Católica, nº 424, Julho 1971 – citado por J. Quelhas Bigotte, Monografia de Seia, pág. 334.

(6)-Fernando de Pamplona, Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, 2ª edição, Vol. V, pág. 187, Civilização Editora, Lisboa, 1988.

LER ARTIGO no PE online (publicado a 30 de Junho 2011)







sexta-feira, 5 de março de 2010

ALMA NUA - Anjos

Exposição de Pintura de Anjos Fernandes,“Alma Nua” - Casa Municipal da Cultura de Seia, 05 a 15 de Março de 2010.


No seu blog,apresenta-se assim: “O pintor Português Anjos Fernandes, que usa o pseudónimo “O Marginal”, nasceu em Marrazes, subúrbio da cidade de Leiria.” Mais adiante, num texto de 2006, José Manuel Silva explica que: “Anjos Fernandes é um homem singular a que ninguém consegue ficar indiferente e um criador subversivo, cultor de transgressão, em ruptura permanente com formas acomodadas de olhar para as coisas e para o mundo.”

Confesso que me impressionou a sua frontalidade e crueza, mas também a sua pintura tecnicamente esmerada, a composição desafiante, o pormenor precioso e vibrante, a cor sugestiva que gera e sublinha ambiências, paisagens, horizontes – e neles a energia do Mundo envolvendo rostos e olhos e mãos, fluindo com as pinceladas e as forças que crepitam em redes de espuma.

Obras como “A Tormenta”, “Túnel Cósmico”, “O Caos Terreno”, “Harmonia do Caos” ou “Energia Astral” parecem esclarecer tudo, em contraponto com “Alma Lúcida”, “Paisagem Harmónica”, “Soberbo” ou “Harmonia”, que integram igualmente o espectro da sensibilidade estética de Anjos Fernandes. Do conjunto – da exposição, enfim – sobressai um espírito inconformado e desadaptado, continuamente em busca de um sentido nos caminhos da criatividade artística, sob a bandeira da liberdade de ser e de viver.

Nas palavras de José Manuel Silva, o artista é “cultor de uma arte sem academia, sem cânones, sem regras sociais, poeta de ocasião, usa também os pincéis, as cores, as telas, como matéria do seu delírio criativo construindo um universo pictórico rico de contrastes, vagamente figurativos, desafiando à descoberta de um mundo tecido à medida das suas pulsões.”

A exposição inaugurou no dia 05 de Março, pelas 16 horas, marcando a reabertura ao público da sala de exposições e galerias da Casa Municipal da Cultura.

Anjos Fernandes nasceu em Marrazes, Leiria, em 1944.

Autodidacta, expôs em Leiria (2006, 2007 e 2008), Peniche, Castelo Branco, Faro, Guarda, Alenquer, Ponte de Lima, na Embaixada de Portugal em Andorra (2008) e nas cidades francesas de Toulouse (2008, 2009) e Bordeaux (2009).

É também poeta, com dois livros publicados: “O Grito da Alma” (Leiria, 2004) e “O Brilho da Alma” (Edição da Biblioteca José Saramago e Instituto Politécnico de Leiria, 2007).




"Túnel Cósmico" (1,35X0,85 cm)

"Renegados" (0,85X1,35 cm)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Fotografias de Herman Mertens em Seia


“LIGAÇÃO” - Fotografia de Herman Mertens, Foyer do Cine-Teatro da Casa Municipal da Cutura de Seia, de 12* de Março a 30 de Abril.
*A abertura foi adiada para o dia 12, por motivos imprevistos.

“Fotografar é para Herman Mertens mais do que carregar no botão. É entrar na imagem que vê. Sentir um momento da vida dos outros. Ou voltar aos tempos passados. Admirar um mundo que está perto de si, conhecido e encantado, ou em contrário, muito longe e estranho. São sempre aventuras numa fracção de segundo com "Ligação" ao eterno.” (1)

"Herman Mertens não se importa de fotografar com cor as pequenas e maiores verdades do mundo a cores, mas apanhou bem a pulsação da fotografia a preto e branco para desbravar as sombras por vezes fantasmagóricas do tempo, os caminhos e recantos mágicos dos espaços rurais e urbanos, mais claros ou difusos, socialmente enegrecidos ou artificialmente iluminados, os olhares fundos e escuros das gentes, os vestígios do trabalho e da longa espera do homem ao redor dos tempos, o homem aprisionado no seu quotidiano ou libertando-se nos ritmos da festa.

A composição é versátil - ora dominada pela verticalidade, ora pela combinação de oblíquas com horizontais, mas também simetrias e estruturas triangulares, entre esquemas de composição mais complexos, jogando com o contraste para definir e destacar linhas e manchas orientadoras da composição, mas diluindo a forma principal na sua própria aura de objecto perdido. Noutras obras, parece manter as personagens das suas fotografias presas pelo(s) olhar(es) de quem as vê – através de quem as viu (o fotógrafo) - conduzindo a outra percepção do mundo que nos rodeia, repleto de história(s) que vale a pena ver contar." (2)

Herman Mertens nasceu na Bélgica, perto de Antuérpia, em 1950. Reside em Portugal desde 2000, actualmente em Ervedal da Beira – Oliveira do Hospital. Ver o seu blog.
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Estudou publicidade e decoração de interiores, montras e exposições. Durante mais de 25 anos, trabalhou em artigos decorativos, têxtil e móveis. Nos últimos anos retomou a sua primeira paixão, a fotografia.

Participou no curso de Fotografia Aplicada e Fotografia de Grande Formato na Escola Superior de Tecnologia de Tomar e no Estúdio Carlos Relvas, na Golegã. Trabalha actualmente na área da publicidade, que combina com a sua primeira paixão – a fotografia.
Exposições individuais

“Arte e Fogo”

(Um incêndio florestal destruiu a casa de Herman Mertens, em Vale do Ferro, Ervedal da Beira. A tragédia inspirou uma exposição de fotografia no próprio local e depois na sede do concelho)

- Na sua casa ardida, Vale do Ferro, Maio 2007- Casa da Cultura Dr. César de Oliveira, Oliveira do Hospital, Junho 2007
- Livraria Apolo, Oliveira do Hospital, Julho 2007
- Lagar Vale dos Amores, Ervedal da Beira, Agosto 2007.

“Mo(nu)mentos da Vida”

- Lar de Ervedal da Beira, Novembro 2007- Vale do Ferro, Julho 2008

“Cantos Encantos”

- Lar de Ervedal da Beira, Novembro 2007- Vale do Ferro, Julho 2008

“Ligação”

- Livraria Apolo, Oliveira do Hospital, Janeiro a Março 2010
- Foyer do Cine-Teatro da Casa M. da Cultura de Seia, Março 2010

(1) - Agenda Cultural da CMS - Março 2010

terça-feira, 2 de março de 2010

Exposição em Resende

A Casa do Mundo - Exposição de Pintura de Sérgio Reis, Museu Municipal de Resende, 06 de Março a 18 de Abril de 2010.
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Vista parcial da exposição "A Casa do Mundo"
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A vereadora da Cultura, Dulce Pereira, apresentou o artista e a exposição
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Sérgio Reis apresentou os seus trabalhos. Ao fundo, Carla Vicente, responsável pelo Museu Municipal de Resende

O interesse dos visitantes marcou a inauguração da exposição

Dezenas de pessoas visitaram a exposição durante a tarde



José Vicente (
Multivica) concebeu um catálogo original, quase um "objecto"


A Casa do Mundo

O ponto de partida sempre foi o desafio de captar ambientes e sensações através de formas e cores. Não se trata de uma mera representação mas sim de repetidos exercícios de fixação de espaços voláteis, com contrastes de luz, cheios e vazios, repletos de presenças e de ausências, sombras, personagens abstractos que “vão e voltam, atravessam os quadros, saem de um para regressar noutro, passeiam através deles” (Teolinda Gersão). Pairam, diluem-se na cena, desaparecem em seguida nos seus armários e armaduras de fantasmas emancipadores do homem, anjos e demónios libertadores.

“Aquilo que às vezes parece
um sinal no rosto
é a casa do mundo
é um armário poderoso
com tecidos sanguíneos guardados
e a sua tribo de portas sensíveis.
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“Acendo os interruptores, acendo a interrupção,
as novas paisagens têm cabeça, a luz
é uma pintura clara (…).”

“A Casa do Mundo”, de Luiza Neto Jorge (“O Seu a Seu Tempo”, 1966)

A série Per.cursos é um regresso às composições abstractas, em painéis estreitos e extensos que lembram tiras de Banda Desenhada ou sequências fílmicas, nos quais o “lirismo das formas e dos motivos simbólicos se expande em traços delicados e cores esfuziantes” (Pires Laranjeira).

“O fascínio e a sedução das cores – as variações tonais dos azuis, predominantes num primeiro olhar, acalmam e não agridem; os verdes ambivalentes; a luz e o calor que brotam dos amarelos, alaranjados e vermelhos, recordam as paixões, os pecados e os perigos – e o movimento das linhas que desenham as formas picturais representadas, embarcam-nos numa “espiral do sentir (…) como diz Pedro Baptista. Fruir as obras deste artista é descobrir significados em que se acredita.”
Paula Valdrez

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Natureza Morta na Gulbenkian

"A Natureza Morta na Pintura Europeia" - "A Perspectiva das Coisas: a Natureza Morta na Europa, séculos XVII a XX", Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, de 12 de Fevereiro a 02 de Maio 2010.

Juan Sánchez Cotán, Matureza Morta (1602)

A partir de 12 de Fevereiro e até ao início de Maio, a Fundação Calouste Gulbenkian proporciona uma viagem ao género da Natureza Morta na Pintura Europeia dos séculos XVII e XVIII, o período de renovação e consagração do género.

Comissariada por Peter Cherry (do Trinity College de Dublin, especialista em natureza morta), "A Perspetiva das Coisas: a Natureza Morta na Europa, séculos XVII a XX" estende-se por dez núcleos com um total de 71 obras provenientes de colecções privadas e de museus como a National Gallery of Art (Washington), National Gallery (Londres), Metropolitan Museum de Nova Iorque), Museu do Louvre, Museu do Prado, entre outros.

A exposição mostra o género no seu esplendor, através de obras de diversos artistas europeus. Inclui uma das poucas naturezas-mortas pintadas por Rembrant, "Pavoas Mortas", assim como uma obra de Francisco Goya, "Natureza-morta com Lebres", e obras de Jean-Siméon Chardin, Fede Galizia, Juan Fernandéz, Paolo Porpora, Juan de Zurbarán, Juan Sánchez Cotán.

Em declarações à imprensa, João Castelo Branco, director do Museu Gulbenkian, considerou esta exposição como "o projecto mais ambicioso neste museu desde a sua abertura".


A Natureza Morta

Caravaggio, Cesto de Fruta

A representação de objectos inanimados de cunho realista remonta à Grécia antiga mas apenas se tornou género artístico no final do século XVI, quando o mercado da arte se abriu aos gostos dos burgueses ricos e a obra de arte deixou de ser um exclusivo da aristocracia rica – que dominava inclusive a Igreja. Nesta fase, destacaram-se os artistas Pieter Aertsen (1507 ou 1508 - 1575), Jacopo Bassano (1510 - 1592), Giuseppe Arcimboldo (1527 - 1593) e Caravaggio (1571 – 1610).


Juan van der Hamen y León, Natureza Morta (1627)

No início do século XVII, o espanhol Juan van der Hamen y León (1596 - 1631), grande rival de Diego Velásquez (1599-1660), introduz um novo paradigma no género, reduzindo o número de objectos da cena e colocando-os em diferentes níveis e planos (vide “Natureza-Morta com Frutas e Objectos de Cristal”, 1626).

A denominação “Natureza morta” terá surgido na Holanda no século XVII. O género é também conhecido por “natureza imóvel”, “vida imóvel” ("still life", "stilleben", nas línguas saxónicas). Na Espanha, vulgarizou-se o termo “Bodegodes” e o género tornou-se popular, permitindo a sobrevivência económica de pintores que não viviam sob a tutela do rei e de outros mecenas, ao mesmo tempo que permitiu apurar as técnicas de representação, pois a concorrência entre artistas obrigava-os a mostrar destreza técnica naturalista. As naturezas mortas espanholas do século XVIII e XIX retratam pormenorizadamente as condições socioeconómicas e os hábitos domésticos da classe média e alta.


Zurbarán, Natureza Morta com Limões

O género aborda a representação de seres inanimados, como frutas, flores, caça, livros, taças de vidro, garrafas, jarras de metal, porcelanas, entre outros objectos, o que fica explícito ao longo dos dez núcleos da exposição na Gulbenkian: "O encanto das coisas pintadas"; "Momentos preciosos"; "Um festim para o olhar"; "Doçarias"; "Jogos de luz"; "Natureza e artifício"; "Tributos florais"; "Animais de imolação"; "Questões de vida e de morte" e "Revivalismo e ruptura".

A Natureza Morta atingiu o seu auge no século XVIII, com Jean-Siméon Chardin (1699 - 1779), cujas telas de pequena dimensão evocavam a tradição holandesa da pintura de gabinete, sobretudo com “A Arraia” (1728). Esta obra distingue-se pela renovada composição (a disposição dos objectos sugere directamente a actividade humana) e representação das texturas do linho e da cerâmica.


Paul Cézanne, Natureza Morta com Maçãs (1890)

Com os impressionistas, a “natureza-morta” volta a ser encarada como nas origens, “natureza imóvel”, um género sem tema, em especial com Paul Cézanne (1839-1906) e Vincent van Gogh (1853 - 1890). A obra “Natureza morta com maçãs” (1890), de Paul Cézanne, marca esta fase. Um renovado interesse pela natureza, as novas tecnologias ligadas à pintura, o aparecimento da fotografia e o carácter experimentalista da arte moderna aboliram o naturalismo em favor de uma nova concepção de cor, luminosidade, figura e espaço. Os cubistas deram-lhe especial destaque, já que se proporcionavam às suas pesquisas plásticas de atelier, em especial Juan Gris (1887-1927), Pablo Picasso (1881-1973) e Georges Braque (1882-1963), Fernand Léger (1881 - 1955), Henri Matisse (1869-1954), Chäim Soutine (1893 - 1943), Pierre Bonnard (1867 - 1947), entre outros.

Giorgio Morandi (1890 - 1964) é um dos pintores modernos que mais tem abordado o tema da natureza-morta.


Maurice de Vlaminck, Natureza Morta, 1907

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Banksy, o artista sem rosto


Conhecido pelos seus trabalhos de rua em Londres, Bansky terá nascido em Bristol em 1975 – não se sabe ao certo, já que ninguém confirma a sua verdadeira identidade. Há entrevistas e até uma notícia que alegadamente revela o seu rosto mas subsiste a dúvida, alimentada pelo próprio artista no seu site.

Os seus graffittis e pinturas de rua, utilizando stencil, são a sua marca pessoal. Inesperadas e divertidas, as suas obras revelam grande cuidado ao nível da concepção e despertam facilmente a simpatia do observador. Através de imagens irónicas e sarcásticas, carregadas de crítica social, questiona os conceitos de autoridade e poder, chegando a realizar acções não autorizadas nos jardins zoológicos de Londres e de Bristol (entrando nas jaulas dos animais para deixar mensagens ao público visitante) ou na Disneylândia da Califórnia, EUA (boneco insuflável representando um prisioneiro de Guantánamo) em 2006.

A sua maior ousadia até à data foi levada a cabo em 2004, quando entrou no Museu do Louvre com uma tela de sua autoria com uma interpretação pessoal da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, e pendurou-a sem cerimónias numa das paredes do museu.

Recentemente, realizou o seu primeiro filme, “Exit Through The Gift Shop”, que estreou no Festival de Filmes de Sundance (21 a 31 de Janeiro de 2010) e que será apresentado extra-concurso no 60º Festival de Cinema de Berlim / Berlinale, que decorre entre 11 e 21 de Fevereiro de 2010.

Notícia do Evening Standard (Julho 2004), mostrando o verdadeiro (?) rosto de Banksy