terça-feira, 18 de setembro de 2012

A Máquina de Sonhar




A Máquina de Sonhar

À pergunta do surrealista Breton, "Não pode o sonho ser aplicado também na solução de problemas fundamentais da vida?" (1), tentou responder Stephen LaBerge inventando a máquina de sonhar, mas também o fizeram e fazem todos os artistas que exploram de algum modo a interação entre o mundo visível, palpável e finito, e o mundo imaginário, irreal, maravilhoso e mesmo absurdo. A Arte é na verdade uma poderosa máquina que induz sonhos lúcidos. Uma máquina de fazer sonhar. Seja com o objetivo de (re)vender sonhos, subverter a lógica instituída, buscar avidamente uma alternativa de futuro imaginado, uma nova utopia, a arte do nosso tempo pode ser entendida (também) como um filme onírico, com desfecho marcado para a primeira cena do próximo filme. Pois o sonho, que “comanda a vida” (António Gedeão), é afinal o motor mais impulsionante da humanidade.

A Pintura de Sérgio Reis

A pintura de Sérgio Reis possui vários aspetos distintivos, ao nível da forma e do conteúdo: o diálogo entre desenho e pintura, que convivem sem artifícios nas suas obras; predomínio das formas e cores planas, reduzindo a complexidade da forma à sua verdade essencial; utilização efusiva da cor, explorando os seus significados mais complexos e ocultos; predominância de conteúdos poéticos; o anonimato dos rostos, vazios, “desenhados pela ausência e pela distância, suficientemente transparentes para cabermos quase todos neles, para nos revermos uns aos outros em todos nós” (2). Trata-se de uma pintura pensada, uma estética refletida, não para exprimir o lado visível da realidade exterior mas sim o que ela inspira e produz no interior do indivíduo. E aí o artista aparece como o filtro interpretante e organizador do turbilhão de sensações por ele experienciadas e vividas, mas também como testemunha das transformações que marcam o seu tempo e redirecionam continuamente o futuro da humanidade.

(1) – André Breton, Manifesto do Surrealismo, 1924.
(2) - Texto de apresentação da exposição “Esta Gente”, Pintura de Sérgio Reis Museu Serpa Pinto, Cinfães, abril 2011

LER TEXTO NA PÁGINA OFICIAL DO CINE'ECO 2012

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