Uma exposição surpreendente no CAM, de 17 de fevereiro a 20 de março 2012. A artista brasileira Beatriz Milhazes apresenta quatro pinturas monumentais sobre o tema das 4 estações e várias colagens, para além de uma escultura com movimento (“Gamboa”, 2010) e uma obra em vinil criada propositadamente para a exposição em Lisboa, realizada em parceria com a Fundação Beyeler de Basileia (onde B. M. expôs precisamente há um ano).
O tema das 4 estações está longe de ser original, houve artistas que o trataram de passagem ou trabalharam incansavelmente (1), mas o interesse destes trabalhos de Beatriz Milhazes reside sobretudo no modo como a artista mobiliza formas e cores do imaginário popular brasileiro, desde o elemento decorativo caseiro ao movimento e ritmo do carnaval, para criar as suas composições, recorrendo sem preconceitos a materiais plásticos para a concretização das suas obras – formas produzidas industrialmente e elementos recortados e aplicados sobre as mais diversas superfícies. Em Portugal, Ana Pimentel tem realizado trabalhos do género, com elementos geométricos florais (também omnipresentes na cultura popular portuguesa), embora sem a grandiosidade das obras de Beatriz Milhazes.
As dimensões invulgares das obras da artista carioca (Rio de Janeiro, 1960) devem-se à sua experiência com espaços sobredimensionados, já que se dedica à cenografia e conceção de fachadas. A largura dos quadros sobre as estações do ano varia conforme a duração da respetiva estação no Rio de Janeiro. As 4 estações no Brasil nada têm a ver com as 4 estações na Europa, o que obriga o observador a questionar as suas referências culturais e a relançar o olhar pesquisador por outras realidades, não totalmente estranhas mas sempre desafiantes.
(1) - Por exemplo: Arcimboldo, Pieter Brueghel - o Velho, François Boucher, Jacopo Bassano, David Hockney e até Adrian Henri, entre muitos outros pintores famosos ou com obra conhecida.
Imagem: divulgação CAM.
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