Arte fotográfica e fotojornalismo na primeira exposição individual de fotografia de Mário Jorge Branquinho
Até final de outubro, decorre no foyer do cineteatro da Casa Municipal da Cultura de Seia uma exposição de fotografia de Mário Jorge Branquinho.
Fotógrafo amador desde há muitos anos, participou em várias exposições coletivas de fotografia, tendo obtido alguns prémios. Esta é a sua primeira exposição individual.
Intitulada “Fogo e Ferro Forjado”, o interessante conjunto de imagens expostas reúne dois conceitos próprios da fotografia: a fotografia como arte e a fotografia como documento. Enquanto expressão artística de uma experiência sensorial que procura a cumplicidade estética do espectador, permite-nos o acesso a um ambiente ancestral, onde as matérias se transmutam em clarões de luz e forjas incandescentes, o postigo através do qual se vislumbram as poderosas energias contidas nas profundezas da Terra, uma pálida ideia do Inferno imaginado já pelos gregos (1). Algumas imagens são autênticas preciosidades, mostrando o homem no centro de um cenário apocalíptico que ele próprio desencadeia, rodeado de fogo e de calor, que despertam e animam as sombras. No fundo, uma estética clássica, despertando as formas nas sombras vazias do fundo, explorada na pintura por Rembrandt ou Caravaggio e que continua a resultar muito bem na fotografia, para acentuar o dramatismo das cenas ou destacar a intensidade emotiva das personagens. Enquanto testemunho e denúncia de uma realidade vivenciada, a exposição de Mário Jorge Branquinho apresenta-nos belíssimos exemplos de fotojornalismo, revelando as difíceis condições em que o homem é obrigado a ganhar a vida e o sustento da família no início da segunda década do século XXI, e enquadra-se perfeitamente no Cine’Eco – XVII Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela. Apesar da “nova fórmula”, o Cine'Eco continua, e bem, construído em torno de uma ideia abrangente de “Ambiente”, extensível aos meios urbanos e ao denominador comum da presença transformadora do Homem.
As fotos referem-se ao trabalho de reciclagem de ferro-velho na Metalúrgica Vaz Leal, em Loriga, “faina frenética na cor do fogo de artifício estrelado e saltitante, (…) ancestral, a ferro e fogo forjado, com as portas abertas ao mundo”, segundo o autor.
Ao longo dos seus 17 anos de vida, o Cine’Eco já ofereceu ao seu público variadas exposições, sempre ligadas ao Cinema ou ao Ambiente, com muitas surpresas agradáveis. Esta é, a meu ver, uma delas, servindo também para destacar a presença continuada de Mário Jorge Branquinho na direção executiva do Festival, desde a primeira edição, e o seu papel como agente organizador e dinamizador da Cultura em Seia.
(1)- Quando a ideia de “lugar para onde os mortos vão”, o Hades, se fundiu com Geena, “lago de fogo”, e o pior lugar do mundo passou a ser imaginado - e representado - como um lago de fogo.
“Fogo e Ferro Forjado” – exposição de fotografia de Mário Jorge Branquinho, foyer do cineteatro da Casa Municipal da Cultura. Até final de outubro. 2ª a 6ª: 10-18.00 horas. Até ao fim do Cine’Eco, 15 de outubro: 2ª a domingo, 10-23.00 horas.
Sem comentários:
Enviar um comentário