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Em 1999, a I Exposição Colectiva de Artistas Senenses foi uma agradável surpresa para quem julgava Seia um vazio de artes e de artistas. De então para cá, as exposições colectivas de artistas senenses e depois a ARTIS – Festa das Artes e Ideias em Seia, vêm acrescentando mais e mais artistas a esse significativo número inicial, e outros vão sendo revelados ou (re)descobertos. No primeiro caso, temos por exemplo um Renato Paz, que Mário Jorge Branquinho deu a conhecer recentemente no seu blog www.seiaportugal.blogspot.com. No segundo caso, os artistas que residem longe da sua terra natal e por cá vão sendo lembrados e revisitados a pretexto de uma notícia, um contacto, uma efeméride. Este é o caso de Beto Cruz ou de Joaquim Pinto.
No ano passado, recuperei uma antiga informação de Tavares Correia, sobre a existência de um senense emigrado nos EUA que também se dedicava à pintura, de nome Joaquim Pinto, natural de Girabolhos. Graças ao professor José Alberto Silva, de Girabolhos, consegui a sua morada, em Kearny, New Jersey. Recebi ontem uma resposta simpática de Joaquim Pinto, com alguns dados biográficos e fotografias dos seus quadros.
Joaquim Guilherme Correia Pinto nasceu na freguesia de Girabolhos, concelho de Seia, a 30 de Agosto de 1942.
Na sua juventude, em 1956/57, trabalhou nos testes de subsolo com vista à construção da barragem do Rio Mondego, entre Girabolhos e Abrunhosa (Currais).
Em 1959, com 17 anos, emigrou para o Brasil. Instalou-se em São Paulo seis meses antes da inauguração da nova capital federal, Brasília. Aí, frequentou o Instituto Foto Cine Bandeirante, mas não chegou a terminar o curso pois os negócios levaram-no a mudou-se para Santos.
Após viver 10 anos no Brasil, resolveu tentar a sorte nos EUA. Chegou a Newark em Março de 1970, com um contrato de trabalho como cortador de carnes. Casou um ano depois, tendo três filhos (Sílvia, Suelly, António) e uma neta (Raquel).
Em 1974, na palestra de abertura de uma escola de pintura em Newark, ficou impressionado com uma demonstração de pintura ao vivo do pintor Manuel Roça e decidiu começar a pintar.
Parente de Tavares Correia (a sua avó era prima direita dos pais de Tavares Correia e do pai do Dr. Guilherme) recebeu do Mestre senense algumas orientações, perceptíveis nas suas obras. Quando Tavares Correia fez 90 anos, veio propositadamente dos EUA para comemorar a data e visitar a sua última exposição, a “exposição do Adeus”.
As paisagens de Joaquim Pinto imitam os parâmetros tradicionais, acrescidos de um sabor popular na selecção dos temas e tratamento “naïf” das formas, sobretudo nas obras mais antigas, como “Lincoln Tunnel” – pintado por ocasião do 200º aniversário dos EUA, em 1976). Quadros como “New York City Hall” (“Câmara Municipal de Nova Iorque”, I e II – com sombras) revelam uma maturidade técnica muito interessante, com a preocupação de captar os efeitos da luz do dia em dois momentos diferentes. Entre as diversas paisagens que pintou, contam-se algumas vistas da sua terra natal, Girabolhos.
O tema dos Descobrimentos mereceu igualmente a atenção de Joaquim Pinto, admirador dos feitos náuticos dos portugueses, inspirando-o na pintura de boas marinhas (“Velas ao Vento”, com excelentes pormenores técnicos contrastando com o exagerado velame da caravela, e “Sagres”).
Em Maio, a ARTIS permitirá (re)fazer o balanço da situação das artes em Seia, apesar de limitada devido às obras que fecharam a Casa da Cultura. No entanto, será sempre oportuno trazer a primeiro plano artistas – e outras pessoas – que projectam extra-muros o nome e as riquezas senenses, sejam elas naturais, patrimoniais ou humanas.
Pintura de Joaquim Pinto - "Lincoln Tunnel", 1976
Pintura de Joaquim Pinto - "Velas ao Vento"
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