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Vista parcial da exposição |
Encontra-se
patente na Casa da Cultura de Seia até 26 de março 2017, uma importante
exposição retrospetiva do artista senense Ricardo Cardoso, intitulada
"Grito para me fazer ouvir".
A mostra
permite acompanhar a evolução artística de Ricardo Cardoso desde o final da
década de 1990, então com marcadas influências do mundo fantástico e surreal de
H. R. Giger, e a construção de uma obra
surpreendente, marcada pela experimentação e por isso em continua metamorfose.
Ocupando todo o
espaço da Casa da Cultura (salão, galerias e foyer do Cineteatro), a exposição
reune dezenas de obras realizadas de 1999 a 2017, pintura a óleo sobre tela,
desenho e pintura sobre papel, privilegiando os grandes formatos, e alguma
escultura, para além da evocação de performances, condensadas na instalação que
ocupa boa parte do salão. Esta instalação resulta da performance realizada na
inauguração da mostra, no dia 4 de fevereiro, que deu o título à retrospetiva.
O artista
iniciou a sua atividade performativa em 2005, tendo já realizado performances
artísticas em diversas localidades, geralmente acompanhando as suas exposições.
Nas palavras do próprio, a performance começou “por ser uma brincadeira, depois
uma forma de entreter o observador” até adquirir muito sentido artístico e
enorme importância no contexto global da sua obra, como espaço de criação em
que o artista se envolve e expõe pessoalmente, manifestando ao vivo as suas
ideias, entendimentos e preocupações. Nem
por acaso, a primeira série de performances surge numa fase muito interessante
da obra do artista, caraterizada por um “trabalho mais inquieto e perturbador,
onde o negro e as personagens expressivas predominam”, grandes desenhos negros
onde o autor aprisionou alguns medos e desespero, oferecendo-os depois ao
público como se fossem enormes espelhos de amargura.
Mas a maior e
porventura melhor caraterística da obra de Ricardo Cardoso é a continuada
aposta na experimentação, arriscando suportes estranhos (como a rede metálica
em substituição da tela, por exemplo), interações de materiais em técnicas
mistas nem sempre convencionais e combinando nas suas obras elementos orgânicos
e geométricos, concretos e abstratos, realistas e surrealistas. Na opinião do
artista, o objeto artístico é apenas “um resíduo da obra de arte” e a sua
memória (como acontece na performance) o que originou produtos naturalmente
muito diversos ao longo dos últimos 18 anos, mas a matriz da sua obra “é a
mesma, onde prevalece a insatisfação, inquietude do ser e do presente,
procurando sempre a experiência e outro futuro”.
“Grito para me fazer ouvir” apresenta-se assim
como uma espécie de manifesto artístico, revelando o modo como o artista se vê,
o que o motiva, o papel social que pretende desempenhar, questionando
interventivamente as verdades instituídas e participando na transformação
dinâmica da sociedade com a sua participação crítica, estética e social. Para
além da sua relevância nas artes plásticas, Ricardo Cardoso é um jovem
empresário da área da conservação e restauro do Património e atual Presidente
da Associação de Arte e Imagem de Seia.
Ricardo Cardoso
nasceu em Seia em 1982. Licenciado em Artes / Desenho pela Escola Superior
Artística do Porto Guimarães e também
formado em Conservação e Restauro de Madeiras – Arte Sacra pelo Cearte de
Coimbra, expõe desde 2002, em vários pontos do país. Foi distinguido com
Menções Honrosas no Agirarte (Oliveira do Hospital, 2010), no 7º Concurso de
Arte Jovem (São Romão, 2002) e homenageado pelos artistas de Seia no âmbito da
Artis IX (2010). Trabalha em São Romão, onde possui o seu atelier, no Bairro
dos Moinhos, ocupando um pavilhão da antiga
Fábrica Camello. Para além do espaço de
trabalho, o atelier inclui uma galeria de arte, aberta a exposições de outros
artistas.
Sérgio Reis
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Ricardo Cardoso |