“Os tubos de tinta estão em aparente desalinho sobre o chão. No cavalete, um espaço num desafio. Os pincéis estão ao alcance da mão.” (1)
Faleceu hoje em Valbom, Gondomar, o pintor Júlio Resende. Uma referência cultural da cidade do Porto e uma figura de relevo no panorama artístico nacional da segunda metade do século XX, Resende completaria 94 anos em 23 de outubro. Para amanhã, 22 de setembro, estava prevista a sua presença em Lisboa, na inauguração da exposição "Resende, uma mão cheia de cor: um pintor de mão cheia", na galeria São Roque.
Faleceu hoje em Valbom, Gondomar, o pintor Júlio Resende. Uma referência cultural da cidade do Porto e uma figura de relevo no panorama artístico nacional da segunda metade do século XX, Resende completaria 94 anos em 23 de outubro. Para amanhã, 22 de setembro, estava prevista a sua presença em Lisboa, na inauguração da exposição "Resende, uma mão cheia de cor: um pintor de mão cheia", na galeria São Roque.
Como artista, Resende iniciou-se no neorrealismo, na peugada de Dórdio Gomes e tendo por companheiros artistas como Júlio Pomar, Manuel Guimarães (que se destacou no cinema) ou Fernando Lanhas. Foi grande amigo de Vergílio Ferreira (que escreveu um belíssimo texto para o primeiro documentário sobre J.R., realizado em 1968 por Manuel Guimarães), Roger Avermaete, Angel Crespo, Júlio Charrua, Eugénio de Andrade, José Régio, Jorge Amado, Mário Cravo Fillho, entre muitas outras destacadas figuras da cultura francesa, belga, brasileira e espanhola, havendo ainda a referir a sua presença em Osaka em 1970, para a direção plástica do Espetáculo de Portugal na Exposição Mundial de Osaka, liderando uma equipa constituída por Amândio Silva, Ângelo de Sousa e José Rodrigues.
Realizou a primeira exposição individual em 1944, no Salão Silva Porto, dois anos antes de completar o curso da ESBAP e de seguir para Paris com uma bolsa do Instituto para a Alta Cultura, que conseguiu renovar até 1948. Aí lançou as fundações de uma carreira artística internacional, muito diversificada (desenho, pintura, gravura, pintura a fresco, vitral, painéis cerâmicos, ilustração de obras literárias e cenários teatrais), com diversos prémios (Prémio Nacional de Pintura da Academia de Belas-Artes, Prémios Armando de Basto e Sousa Cardoso, Prémio Especial da Bienal de Arte de S. Paulo, 1º lugar no Concurso para o Monumento ao Infante D. Henrique, Medalha de Prata na Exposição Internacional de Bruxelas, 1º Prémio de Artes Gráficas na X Bienal de S. Paulo, entre outros) e distinções, com destaque para: Medalha de Ouro da Cidade do Porto, o Grau de Oficial da Ordem de Santiago de Espada em Portugal e da Ordem de Mérito Civil do Rei de Espanha, etc. As suas obras públicas mais conhecidas em Portugal são os murais "Ribeira Negra", na Ribeira do Porto, e o da estação de Sete Rios do Metropolitano de Lisboa.
Enquanto professor, Júlio Resende foi uma referência fundamental para sucessivas de gerações de estudantes de arte – muitos deles futuros artistas – que passaram pela Escola Superior de Belas Artes do Porto entre 1963 (quando entrou para a ESBAP como primeiro assistente de Pintura, após ter sido aprovado “em mérito absoluto” em concurso para professor dessa escola superior) e 1987 (quando atinge o limite de tempo de serviço no ensino e profere a última lição). Quando era estudante acalentava a ideia de seguir a carreira artística, de modo a que a arte pudesse ser o seu modo de vida, mas logo percebeu que haveria de seguir uma carreira no ensino, por “emergência”, como ele próprio confessou na sua autobiografia. Em 1948, assumiu um horário de professor numa escola de olaria em Viana do Alentejo, pouco tempo depois de ter regressado de Paris, onde residiu dois anos com a família - a esposa Maria da Conceição e a filha Marta Maria. Após concluir o Curso de Ciências Pedagógicas na Faculdade de Letras de Coimbra, no início dos anos 50, e depois de alguns anos a lecionar no ensino secundário, concorreu para professor da ESBAP. Essa carreira atingiu o seu auge a partir de 1975/76, quando se dedica por inteiro à gestão escolar na ESBAP, sendo o iniciador das “Exposições Encontro”, visando levar as artes ao interior do país, e o grande impulsionador das comemorações dos 200 anos da ESBAP (1980).
Criou em 1996 “O Lugar do Desenho – Fundação Júlio Resende”, para divulgar o seu volumoso acervo (mais de duas mil obras, principalmente desenhos) e "promover acções culturais com a comunidade".
(1)-Júlio Resende, “Autobiografia”, edição “O Jornal”, Lisboa, 1987.
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