Pintor premiado em Portugal e no estrangeiro, Alfredo Keil distinguiu-se igualmente na música, compondo a marcha “A Portuguesa” durante a onda patriótica e anti-britânica de 1890. Essa marcha foi tocada na Revolta do Porto em 1891 e por esse motivo esteve proibida durante quase 20 anos, até ser adoptada como Hino oficial da República Portuguesa pela Constituição de 1911.
Filho de um alfaiate alemão radicado em Lisboa, Johan Christian Keil, Alfredo Cristiano Keil nasceu a 8 de Julho de 1854 na capital portuguesa. Em criança, teve aulas de pintura e música, para as quais revelava grande talento. Aos 14 anos, foi estudar artes para Nuremberga, na Baviera, em cuja Academia os alunos aprendiam desenho, pintura e música. Dois anos depois, regressou a Portugal por motivos de saúde e devido à Guerra franco-prussiana, continuando os seus estudos de pintura na Academia das Belas Artes de Lisboa. Expôs pela primeira vez os seus trabalhos em 1875, na Sociedade Promotora de Belas Artes – onde ganhou duas medalhas de bronze, às quais somou as duas medalhas de prata no ano seguinte, uma Menção Honrosa na Exposição Universal de Paris em 1878 e a medalha de Ouro da Exposição do Rio de Janeiro em 1879. Todo este sucesso internacional nas artes plásticas, em poucos anos, convenceu o governo português a agraciá-lo com o hábito de Cristo, em 1885, e logo no ano seguinte foi a Espanha receber a Ordem de Carlos III.
Considerado um romântico tardio ou um neo-romântico, devido à sua formação artística alemã e às características da sua pintura, “de um romantismo discreto, amável, sem exageros, temperado pelo clima realista da pintura do seu tempo” (Fernando de Pamplona), gosto pelos requintados interiores aristocráticos e “maneira delicada de tratar as figuras femininas” (Maria Luísa Bártolo).
"A Carta", óleo s/tela, 1874, 92x73 cm
Esta marcha teve uma enorme receptividade popular e, a 31 de Janeiro de 1891, os revoltosos do Porto marcharam contra a monarquia ao som de “A Portuguesa”. Após o fracasso da revolta, Alfredo Keil, que fora amigo do rei D. Luís I (1838-1889), perdeu prestígio junto dos seus amigos monárquicos e a marcha ficou proibida de ser tocada em público. Só voltaria a ouvir-se no dia 5 de Outubro de 1910. Foi declarada Hino oficial da República Portuguesa pela Constituição de 1911, reconfirmado pela Constituição de 1976. A letra do Hino, cujos versos foram ligeiramente alterados pelo Estado Novo em 1957(1), deve-se a Henrique Lopes de Mendonça (1856-1931), oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, historiador, arqueólogo, poeta, romancista e dramaturgo.
Alfredo Keil já não viveu os acontecimentos de Outubro de 1910. Falecera exactamente três anos antes da proclamação da República, em Hamburgo, de doença. Viajava muito, participando em diversos acontecimentos musicais e para apresentar as suas obras no estrangeiro. Em 1893, a apresentação da sua ópera “Irene” em Turim foi um sucesso de tal ordem que o pintor-compositor-maestro português recebeu uma condecoração do rei Humberto de Itália. Através da sua música neo-romântica exaltou grandes figuras da História de Portugal, sendo considerado um pioneiro do “nacionalismo musical”. À data da sua morte, com apenas 57 anos, trabalhava na ópera comemorativa da chegada de Vasco da Gama à Índia, que deixou inacabada.
Alfredo Keil foi também um grande coleccionador de arte e autor de contos, romances e estudos artísticos, mas caiu no esquecimento nos tempos conturbados da Primeira República (1910-1926) devido às suas antigas amizades monárquicas. A sua filha Guida foi a primeira portuguesa a obter o divórcio em Portugal após a proclamação da República, para casar com Francisco Coelho do Amaral Reis, 1º Visconde de Pedralva, de Canas de Senhorim.
No antigo solar do visconde, na rua Keil do Amaral – Canas de Senhorim, residem actualmente o arquitecto Francisco “Pitum” Keil do Amaral (bisneto de Alfredo Keil, filho de Francisco Keil do Amaral, arquitecto e 2º visconde de Pedralva, e da pintora Maria Keil), a esposa Lira e a filha, a bailarina Leonor Keil do Amaral. Nas Casas do Visconde, têm promovido importantes actividades culturais, animando sem apoios institucionais a vida cultural de Canas de Senhorim.
Sérgio Reis
(1)-Para além da actualização ortográfica, foram alterados os versos “Contra os Bretões marchar, marchar” e “Desfralda a invicta bandeira”.
No seu atelier de pintura na Avenida da Liberdade, havia um piano a que o artista recorria frequentemente para tocar as melodias ditadas pela inspiração e a música começou a conquistar progressivamente as suas preocupações e prioridades. Compôs melodias e óperas que foram sucessos colossais no seu tempo, tendo escrito também peças de teatro. Sobretudo na última década do século XIX, escreveu hinos e marchas promovendo os valores e heróis nacionais. A sua composição mais famosa foi a marcha “A Portuguesa”, inspirada por sentimentos patrióticos contra o ultimato do governo inglês de 11 de Janeiro de 1890.
Esta marcha teve uma enorme receptividade popular e, a 31 de Janeiro de 1891, os revoltosos do Porto marcharam contra a monarquia ao som de “A Portuguesa”. Após o fracasso da revolta, Alfredo Keil, que fora amigo do rei D. Luís I (1838-1889), perdeu prestígio junto dos seus amigos monárquicos e a marcha ficou proibida de ser tocada em público. Só voltaria a ouvir-se no dia 5 de Outubro de 1910. Foi declarada Hino oficial da República Portuguesa pela Constituição de 1911, reconfirmado pela Constituição de 1976. A letra do Hino, cujos versos foram ligeiramente alterados pelo Estado Novo em 1957(1), deve-se a Henrique Lopes de Mendonça (1856-1931), oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, historiador, arqueólogo, poeta, romancista e dramaturgo.
Alfredo Keil já não viveu os acontecimentos de Outubro de 1910. Falecera exactamente três anos antes da proclamação da República, em Hamburgo, de doença. Viajava muito, participando em diversos acontecimentos musicais e para apresentar as suas obras no estrangeiro. Em 1893, a apresentação da sua ópera “Irene” em Turim foi um sucesso de tal ordem que o pintor-compositor-maestro português recebeu uma condecoração do rei Humberto de Itália. Através da sua música neo-romântica exaltou grandes figuras da História de Portugal, sendo considerado um pioneiro do “nacionalismo musical”. À data da sua morte, com apenas 57 anos, trabalhava na ópera comemorativa da chegada de Vasco da Gama à Índia, que deixou inacabada.
Alfredo Keil foi também um grande coleccionador de arte e autor de contos, romances e estudos artísticos, mas caiu no esquecimento nos tempos conturbados da Primeira República (1910-1926) devido às suas antigas amizades monárquicas. A sua filha Guida foi a primeira portuguesa a obter o divórcio em Portugal após a proclamação da República, para casar com Francisco Coelho do Amaral Reis, 1º Visconde de Pedralva, de Canas de Senhorim.
No antigo solar do visconde, na rua Keil do Amaral – Canas de Senhorim, residem actualmente o arquitecto Francisco “Pitum” Keil do Amaral (bisneto de Alfredo Keil, filho de Francisco Keil do Amaral, arquitecto e 2º visconde de Pedralva, e da pintora Maria Keil), a esposa Lira e a filha, a bailarina Leonor Keil do Amaral. Nas Casas do Visconde, têm promovido importantes actividades culturais, animando sem apoios institucionais a vida cultural de Canas de Senhorim.
Sérgio Reis
(1)-Para além da actualização ortográfica, foram alterados os versos “Contra os Bretões marchar, marchar” e “Desfralda a invicta bandeira”.
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Escutar no YouTube: "Poursuite op.12 Nº3" de Alfredo Keil. A pianista é Gabriela Canavilhas, actual Ministra da Cultura - em 2010, desde Outubro de 2009.
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