“olhas: e separam-se de ti as terras:
Uma que vai para o céu, outra que cai”
Rainer Maria Rilke, “Poemas”
Ontem, 5 de Maio, desceu à terra o corpo do Zé Miranda. O seu espírito, esse, ficará ligado a muitos rostos e lugares, a uma multiplicidade de boas memórias, e continuará muito presente para os seus familiares e amigos. Um espírito aberto e livre, como sempre foi Zé Miranda em vida.
Muito mais que um grande amigo, o Zé Miranda era praticamente família. Amigo do seu amigo, cúmplice de viagens por caminhos e carreiros do gosto, embarcadiço da cultura popular, artes avulsas, artesanatos, vivia o mundo pelo lado do convívio com pessoas e lugares, sabores do mar e da terra, pessoas com histórias de vida, objectos com histórias de gente – sem fronteiras de terras nem de gentes nem de ideias.
Apreciava particularmente o fado castiço. Lia avidamente Mia Couto. Ele próprio era um grande contador de histórias, infelizmente pouco dado à escrita. Revelava dia a dia uma enorme confiança e esperança na juventude, que o respeitava e ouvia, e por isso gostou muito de ser professor – na EB 2, 3 de Mafra – até se sentir traído pelos políticos da educação.
Faleceu inesperadamente aos 58 anos e repousa agora no cemitério do Sobreiro (Mafra), sua aldeia natal – a mesma que viu nascer o ceramista e escultor José Franco (falecido no passado dia 14 de Abril, aos 89 anos) que o Zé Miranda admirava e cuja obra ajudou a divulgar, junto de amigos, conhecidos – e dos seus alunos, a quem procurou incutir o gosto pelas artes tradicionais ligadas ao barro e pelo artesanato em geral.
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4 comentários:
Nem imagina a alegria que foi poder ler esse pequeno mas grande texto, onde me revejo inteiramente. Partiu um grande HOMEM, um grande AMIGO e principalmente um grande PAI. Tenho imensas saudades dele.
Um abraço
Tiago Miranda
militante da vida. revolucionario na forma de viver, mais do que um amigo ou um contador de historias foste um rei, sem poltrona mas rei, sem castelo mas rei, sem reinado mas rei, rei na forma de olhar, de mimar, chorar, de sorrir e ensinar que o limite nao sao as estrelas mas sim o lado esquerdo do peito.
Ao teu lado enfrentamos dragoes, fizemos das simples mulheres deusas e das gentes mais simples poetas. todos os dias eu morremos um bocado por ti, mas todos o dias sorrimos porque sebemos que estas aqui..
ao poeta, benfiquista,"dizidor" de historias e ao REI... os nossos coraçoes de saudade...
RICARDO E ANABELA
É com um orgulho do tamanho do mundo que afirmo que tive o prazer de conviver com o "Tio Miranda"!!
Convivi com ele no seu refugio, no seu castelo, onde era invencível...Foi ai que ouvi as mais belas historias, onde tive as conversas mais interessante que algum dia irei ter....
Um grande bem aja pelas suas palavras que descrevem o Tio Miranda exactamente como ele é, sim é porque apenas esta a nossa espera num outro lugar.
Até breve Tio Miranda
Tenho a lágrima ao canto do olho. Mas o Zé, o meu colega e amigo Zé, disse-me para a limpar: lágrimas só de riso, quando me derrotava à moeda, ou quando o meu sporting perdia. Obrigado pela tua presença em tantas noites de lágrimas de riso, Zé. Obrigado, também, a quem assim o sabe recordar, e guardar connosco.
Adriano
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