Paula Rego em 2011, no Porto
A Dama Pé-de-Cabra e outras histórias
Abriu em Londres, na Marlborough Fine Art (1), a
exposição de Paula Rego intitulada “A Dama Pé-de-Cabra e outras histórias”, com
novas incursões da artista pelos contos tradicionais portugueses.
A exposição consta de 6 grandes trabalhos em pastel sobre
o conto tradicional português do séc. XI, “A Dama Pé-de-Cabra” (2), já vistos
na Casa das Histórias (Cascais, julho a outubro de 2012) e 8 novos trabalhos
sobre outras histórias, a propósito de um poema do controverso Hilaire Belloc (3)
ou inspirados na figura de Pierrot. Encontra-se ainda exposta a maqueta
escultural “O recreio”. Tal como muitos outros pintores (falaremos disso neste
blogue, a propósito do meticuloso Barocci), Paula Rego utiliza maquetas com
figurinos para estudar as cenas mais complexas.
Uma destas novas obras agora apresentadas na Marlborough,
intitulada “Avareza”, está a causar algum embaraço em Cascais pois uma das
figuras representadas assemelha-se bastante ao atual presidente da Câmara,
Carlos Carreiras. A Fundação Paula Rego é uma das fundações que o Governo quer
extinguir mas o autarca de Cascais já declarou em diversas ocasiões que a Casa
das Histórias irá manter-se, restando saber como e com que condições.
Inaugurada em 2009 com pompa e circunstância, a Casa das Histórias passou por
uma polémica mudança de diretora em 2010 (saiu Dalila Rodrigues e entrou Helena
de Freitas) mas a notícia da extinção da Fundação deixou Paula Rego desgostosa
e é compreensível que se sinta enganada.
No entanto, algumas personagens de outras obras da mesma
exposição (que pode ver AQUI), fazem lembrar figuras públicas portuguesas - semelhanças
que podem ser intencionais ou meramente fortuitas, cabendo a última palavra à
autora. As diferenças entre a representação das personagens das histórias e as
personagens assumidas pelos modelos habituais de Paula Rego (Lila Nunes, Anthony
Rudolf), além da sua importância na composição, permitem as mais diversas leituras,
que não devem ser imediatas, precipitadas, dada a sua subjetividade. O mesmo
não aconteceu em 1960 na obra “Salazar vomitando a Pátria”, cujo título não
deixava margem para dúvidas.
A artista portuguesa (Dama do Império Britânico desde
2010) privilegia na sua obra o universo maravilhoso, violento e grotesco das
histórias tradicionais, repositório dos piores medos e das maiores esperanças,
explorando as tensões entre a realidade e fantasia, entre o belo e o grotesco.
A exposição decorre até 01 de março de 2013.
(1)-A galeria que representa Paula Rego desde 1987.
(2)-Recolhido por Alexandre Herculano na obras “Lendas e
Narrativas” (1851).
(3)-“Do
you remember an Inn, Miranda?” de Hilaire Belloc (1870-1953)
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