Apesar da angústia que se vive atualmente na cultura nacional, o dia 14 de dezembro de 2011 marcou o início oficial de Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura, com a apresentação do programa e da estreia da Fundação Orquestra Estúdio, e inaugurou o Centro de Arte Moderna Gerardo Rueda, em Matosinhos.
A Capital Europeia da Cultura em 2012 (na verdade, são duas, Guimarães e Maribor, na Eslovénia) ainda não chegou às televisões e o Centro de Arte Moderna matosinhense passou por lá como cenário de vaias e insultos ao primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, testemunhados pelo convidado especial para a inauguração, Jose Maria Aznar, antigo chefe do governo espanhol.
Mas Guimarães 2012 e o novo CAM são duas realizações fantásticas (no sentido moderno do termo) neste contexto de crise cada vez mais psicológica. Após uma infância turbulenta, o projeto da Capital Europeia da Cultura atingiu a maioridade e vai concretizar-se com 70% da verba inicialmente prometida. O CAM de Matosinhos irá funcionar com um custo anual na ordem dos 150 mil euros, suportado por 6 patrocinadores encabeçados pela Câmara Municipal de Matosinhos e pela Fundación Gerardo Rueda, presidida por José Luiz Rueda Jiménez. No fundo, trata-se de um protocolo ibérico de cooperação cultural, o que também é salutar e de aplaudir, mesmo que seja a prazo (3 anos).
Gerardo Rueda Salaberry (Madrid, 1926-1996) foi um pintor e escultor espanhol de referência na arte abstrata ibérica do século XX, fundador (com Fernando Zóbel e Gustavo Torner) do Museu de Arte Abstrata Espanhol de Cuenca, em 1966. Muito celebrado em Espanha, foi convidado a expor nos mais conhecidos museus espanhóis, que organizaram grandiosas retrospetivas após a sua morte, em 25 de maio de 1996. No verão de 2011, a Galeria Municipal de Matosinhos acolheu a exposição “Diálogos com a Coleção Gerardo Rueda”. A propósito, é de referir que o português não aparece entre as oito línguas faladas pelo site da Fundación Gerardo Rueda.
O Centro de Arte Moderna Gerardo Rueda foi construído no espaço de um antigo parque de estacionamento e integra-se no complexo dos Paços do Concelho de Matosinhos. A exposição permanente inclui artistas espanhóis como Pablo Serrano, Manuel Millares, Joan Miró, Chillida, para além de Gerardo Rueda, e portugueses como Alberto Carneiro, Noronha da Costa, Gerardo Burmester, José de Guimarães e Nikias Skapinakis, entre outros.
Nem de propósito (mais uma vez, aliás), é de salientar os bons ofícios da Fundación Gerardo Rueda em Portugal, pois decorre na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, em Lisboa, até 22 de janeiro de 2012, a exposição "Vieira da Silva - Gerardo Rueda: um diálogo convergente". Bernardo Pinto de Almeida sublinha no seu texto a comprovada influência de Vieira da Silva na pintura abstrata brasileira e no desenvolvimento do neo-concretismo, sendo igualmente visível a sua influência em muitos outros artistas europeus. A exposição destaca, nas palavras de BPA, um "diálogo secreto" entre Vieira e Rueda mas, como dizia o outro, "não havia necessidade". A diferença de idades e o contexto artístico em que cada um viveu explica mal a necessidade (ou será oportunidade) de estabelecer tais correspondências pois será mais a obra de Vieira da Silva a explicar a de Rueda e não o contrário.
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