quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

MALANGATANA (1936-2011)


Já não se encontra entre nós o artista e poeta moçambicano Malangatana Valente Ngwenya, que o cancro levou a 5 de Janeiro de 2011, a cinco meses de completar 75 anos.

Nascido a 6 de Junho de 1936 na vila de Matalana, então território português, a sua vida é um exemplo de persistência e compromisso na luta por um futuro melhor para todos. Após diversas ocupações e empregos modestos(1), teve a sorte de conhecer homens como o arquitecto Garizo do Carmo (que lhe despertou o gosto pelas artes), Augusto Cabral e Zé Júlio (que o apoiaram nos primeiros passos como artista) e o arquitecto “Pancho” Guedes (2) (que patrocinou a sua estreia e primeiros sucessos como artista profissional), mas Malangatana também soube corresponder – e bem – às expectativas. Uma vida preenchida, que se estendeu por vários países, sempre com Moçambique e Portugal no centro de todos os rumos e no coração, prestigiando Moçambique e desenvolvendo culturalmente a sua terra natal, sobretudo através da Fundação Malangatana e do Centro Cultural de Matalana, graças a protocolos e colaboração diversa com organismos e entidades internacionais. E também como deputado nacional (1990) e membro da Assembleia Municipal de Maputo (1998, 2003).

Centro Cultural de Matalana

Como artista, praticamente autodidata, tocou quase todos os géneros: desenho, pintura, gravura, escultura, cerâmica, murais (pintados ou gravados em cimento), tapeçaria. Frequentou em Lourenço Marques (actual Maputo) o Núcleo de Arte e foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em 1971, para estudar gravura e cerâmica em Portugal.

As suas temáticas acompanharam a situação colonial de Moçambique até 1975, incluindo toda a guerra colonial (realizou a primeira exposição individual em 1961), a independência e a guerra civil, passando depois a destacar a dureza da vida quotidiana enquadrada por valores humanistas e, desde a década de 80, a sensualidade e o amor. Os seus textos e poemas (Malangatana foi também músico e poeta, encontrando-se representado na “Antologia da Poesia Moderna Africana”), assim como as entrevistas que concedeu, reafirmam paralelamente as preocupações dominantes em cada fase da sua obra, o que reforça a sua consistência global, confrmando-o não só como o “Picasso” africano mas, sobretudo, como figura incontornável da Cultura africana do século XX.

Notas
(1) -
Relance sobre a vida de Malangatana (Fundação José Saramago).
(2) - O arquitecto Amâncio d’Alpoim Miranda Guedes, conhecido como Pancho Guedes, nasceu em 1925 em Portugal. Estudou em diversas cidades africanas, de S. Tomé e Príncipe a Joanesburgo, Lisboa e Porto. Leccionou arquitetura na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo. Foi também pintor, escultor e coleccionador de arte e artesanato.
Nos anos 50 e 60, viveu em Moçambique, onde realizou mais de 500 projectos de arquitectura - e conheceu Malangatana. Começou a pintar quando ainda era estudante de arquitectura em Joanesburgo. Participou na Bienal de S. Paulo, Brasil, em 1961, e na Bienal de Veneza em 1975.
Comendador da Ordem de Santiago e Espada, recebeu a Medalha de Ouro de Arquitetura do Instituto dos Arquitectos Sul-africanos. Doutor “honoris causa” pelas universidades de Pretória e Wits, na África do sul.

1 comentário:

Jose Santos disse...

Viva caro amigo Sérgio Reis
Depois de ler este texto sobre Malangatana quero só dizer-lhe que o conheci em Maputo e estive com ele uma segunda vez em Lisboa.
Era uma pessoa duma extrema afabilidade.
Falou comigo como se fossemos amigos e conhecidos de longa data. Era uma pessoa simples que conseguia cativar os outros com uma facilidade estupenda.
Na altura da sua morte coloquei no meu espaço de Olhares algumas fotos que fiz em Moçambique, em sua homenagem e para ter espaço para poder referi-lo nos textos anexos às fotos.
Quem desejar ver essas fotos e ler os meus sentidos textos, basta clicar a seguir em :

http://olhares.aeiou.pt/galeriasprivadas/?id=204992

Parabéns também para si que no seu blog lhe presta uma homenagem bem merecida
Um abraço
José Santos