domingo, 29 de setembro de 2013

Este não é claramente o mundo da Arte

Pablo Picasso "Desnudo, hojas verdes y busto", 1932

Foi recentemente divulgada a descoberta no Uruguai de uma obra de Ticiano (c. 1473/1490 — 1576), o principal pintor veneziano do Renascimento. Este tipo de descobertas (verdadeiros "achamentos") não são cada vez mais raras e dão que pensar. Outro quadro de Ticiano foi encontrado em finais de 2012 na National Gallery, em Londres. As notícias sublinham o valor certamente exorbitante destas pinturas, sabendo-se que duas outras obras de Ticiano, realizadas décadas depois, foram vendidas em 2012 por 54 milhões de euros (“Diana e Calisto”) e 50 milhões de euros (“Diana e Actaeon”).

O valor exorbitante que certas obras artísticas atingem nos mercados nada tem a ver com Arte, apesar de chamarem a atenção – e ao conhecimento geral – determinadas obras de artistas universais. Terá mais a ver com os negócios especulativos com objetos únicos produzidos ou usados pelas personagens míticas vulgarmente conhecidos por “famosos”, na linha das cuecas sujas de Elvis Presley (2012, não licitada) e do vestido branco que Marilyn Monroe usou no filme “O Pecado Mora ao Lado” (vendido em 2011, na Califórnia, por 4,6 milhões de dólares).

Autores como Christopher Mason (1), consideram o negócio dos leilões como um dos mais nublosos e obscuros capítulos da Economia da Arte (outro, será o negócio das falsificações), tendo sido tema de vários estudos e inúmeros debates, motivando o surgimento de atitudes e movimentos artísticos que promovem a produção desinteressada de obras de arte, a arte pela arte, e a troca de bens artísticos.

Atualmente, qualquer rabisco ocasional de Pablo Picasso, por exemplo, vale milhões. Nem admira que muitos artistas contemporâneos conhecidos comercializem a própria assinatura, a autoria de algo independentemente das qualidades da obra produzida. O quadro de Picasso "Desnudo, hojas verdes y busto"  (Nu, folhas verdes e busto), de 1932, detém o recorde mundial na pintura, ao ser vendido em 2010 por 81 milhões de euros (106,4 milhões de dólares). A obra de Egon Schiele “Selbstdarstellung mit Wally” (Autoretrato com Wally), guache de 1914, foi vendido em 2013 por 9 milhões de euros, detendo o recorde para uma obra em papel.

(1)-Christopher Mason, “The art of the steal: inside the Sotheby’s-Christie’s Auction House scandal” (A arte de roubar: por dentro do escândalo das casas de leilão Sotheby’s e Christie’s).

Egon Schiele “Autoretrato com Wally", 1914, guache e lápis s/papel

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