Não gostei particularmente da entrevista de Eduardo Batarda ao jornal Expresso (Revista Única, Expresso #2038, 19 de novembro 2011), a propósito da exposição retrospetiva “Outra vez não. Eduardo Batarda”, que inaugura amanhã em Serralves. Aprecio a irreverência do artista, cada vez mais necessária nos dias que correm, mas algumas provocações são forçadas e em certa medida gratuitas ou talvez menos pensadas. Por exemplo, quando ele diz, logo no início da entrevista publicada, que os artistas “para serem admiráveis têm que se comportar como escumalha, porque (…) um artista tem que matar os outros todos”.
Batarda diz muitas coisas acertadas e preza muito as suas verdades mas também é certo que cultiva uma imagem de contestatário quase sempre silencioso – ao contrário de um Luiz Pacheco, por exemplo, que falava e escrevia muito, disparando em todas as direções, ou de um João César Monteiro. Mas a capacidade criativa pode ter uma raíz e objetivos contestatários, o verdadeiro criativo apercebe-se da necessidade e oportunidade da criação e sonha desesperadamente mudar alguma coisa com isso, mesmo que o negue ou desvalorize. Ao escrever isto, lembrei-me de Alberto Pimenta e de Jorge Palma, não sei porquê. Entre estes e tantos outros criativos que realmente interessam, Eduardo Batarda tem essa fundamental capacidade de questionar a consciência que temos do mundo que nos rodeia, recorrendo à provocação e à ironia subtil. Como é aliás referido no texto de apresentação da exposição, passo a citar: “A obra de Eduardo Batarda assume-se como um desafio: como interpretar a pintura e as suas imagens, referências e comentários?”
À revelia das verdades artificiais que sustentam o mundo atual e o renovam continuamente, Eduardo Batarda construiu a sua obra desde o final dos anos 60, após a licenciatura em Pintura na ESBAL. Um percurso que a exposição em Serralves pretende mostrar, desde as primeiras obras até aos trabalhos de 2011. Uma trajetória artística com reconhecimento inicial em Inglaterra (prémios Sir Alan Lane e John Minton) e consagração em 2007, com a atribuição do Grande Prémio EDP. É este prémio que justifica esta exposição em Serralves, produzida pela Fundação EDP e a Fundação de Serralves, finalmente de reconhecimento pela especificidade da obra de Batarda, “um elemento estranho no saudável e pacato contexto da pintura nacional” (Miguel von Hafe Pérez).
Já escrevi sobre Eduardo Batarda neste blogue, a propósito da sua exposição “Bicos” (Galeria 111, 2010), mas queria evocar as suas origens na Beira Alta lembrando que o pai era natural da Guarda (Maçainhas de Baixo). Eduardo Batarda e o irmão José António, três anos mais novo, nasceram em Coimbra. Batarda era o apelido da mãe, natural do Redondo.
Comecei este texto dizendo que não gostei da entrevista de Eduardo Batarda (que conheci quando lecionou na ESBAP) mas não é totalmente verdade. Gostei muito do final, quando ele diz: “Acredito nas coisas que me comovem”. E logo depois: “Gostava de me dar melhor com algumas pessoas, gostava que não tivessem morrido duas ou três, gostava que não estivessem doentes três ou quatro”. Não é só um grande artista que diz isto numa entrevista, mas sobretudo uma excelente pessoa.
A exposição “Outra Vez Não. Eduardo Batarda” é inaugurada amanhã, 25 de novembro (entrada livre para a inauguração, das 22h00 às 24h00), abre ao público no dia seguinte e prolonga-se até 11 de março 2012.
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