Estreia hoje em Portugal o thriller "Enemy" (2014), cujo argumento, do espanhol Javier
Guillón, é baseado no romance “O Homem Duplicado”, do Nobel português José Saramago, publicado em 2002. Realizado por Denis Villeneuve, o filme chega já premiado (Prémio
Méliès d'Argent no Festival Internacional de Cinema Fantástico da Catalunha, em
Sitges) ao nosso país, contando com a participação dos atores Jake Gyllenhaal (“Brokeback
Mountain”, “Prince of Persia”, “Prisioners”), Mélanie Laurent, Sarah Gadon e
Isabella Rossellini.
O "Homem Duplicado" é uma história de suspense sobre o
conceito de identidade, saber quem somos enquanto indivíduos, únicos, numa época dominada pela imagem e por relações humanas
e profissionais baseadas na aparência. Segundo Saramago (1), a pergunta central do livro é "quem sou eu?" e não quem é o outro. A semelhança física extrema entre duas
personagens, os sósias Tertuliano Máximo Afonso, professor de História, e Daniel
Santa-Clara, ator, aproxima-os e lança-os no desafio de testarem a sua
semelhança trocando de identidade. Uma situação que se verifica também com
alguns gémeos, tentados a trocar de papéis usando as semelhanças físicas. A
ameaça identitária criada pela descoberta da duplicação só desaparece quando é
eliminada. O sobrevivente pode assim escolher uma das identidades disponíveis
mas o efeito perverso da duplicação é que, num mundo tão diverso, a duplicação
possa ser mais generalizada e o homem duplicado descobre que tem afinal não um
mas vários rivais. O fio da narrativa é tão forte em "O Homem Duplicado" que
chega a secundarizar o prazer do texto nessa obra de Saramago, apresentada pelo
próprio sob o lema “"O caos é uma ordem por decifrar" (Livro dos
contrários) e uma citação de Laurence Sterne, “Acredito sinceramente ter
intercetado muitos pensamentos que os céus destinavam a outro homem”.
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