sábado, 14 de dezembro de 2013

Nos 105 anos de Manoel de Oliveira

Manoel de Oliveira cruzou a meta dos 105 anos. Não escrevi propositadamente “o realizador” pois Manoel de Oliveira é muito mais do que isso: uma grande figura da Cultura europeia do século XX e XXI, uma referência para sucessivas gerações em Portugal e no estrangeiro, um exemplo de vitalidade e de resistência – física, moral e cultural. Sobretudo, um artista do cinema, que  impôs internacionalmente uma estética cinematográfica muito própria, resistindo a todas as malfeitorias críticas, antes e depois de 1974, e aos “consensos culturais” que visam controlar a  política de subsídios para as artes nacionais. 

Há poucos dias, ficou a saber-se que Manoel de Oliveira chegou a acordo com a Fundação de Serralves para a instalação da Casa do Cinema Manoel de Oliveira no Parque, utilizando as antigas garagens da Casa de Serralves, com projeto de Siza Vieira. A Casa terá uma exposição permanente sobre a figura e obra de M. O. constituindo (mais) uma excelente aposta da Fundação e uma mais valia cultural para a cidade do Porto. A assinatura deste protocolo provocou uma declaração da CMP sobre o destino a dar ao edifício construído há anos na Foz para acolher a Casa do Cinema Manoel de Oliveira. Como é sabido, as divergências entre M. O. e o  executivo liderado por Rui Rio inviabilizaram a oportuna ocupação do edifício projetado por Souto Moura. Segundo o novo responsável pela Cultura do Porto, Paulo Cunha e Silva, o aproveitamento desse espaço será incluído na estratégia municipal para o cinema.

Uma faceta pouco divulgada de Manoel de Oliveira, cuja longevidade terá muito a ver com o seu gosto pela prática desportiva, é a de corredor de automóveis. Com o seu irmão Casimiro de Oliveira, participou em grandes provas de automobilismo, tendo alcançado excelentes resultados. Ao volante do Edfor (um Ford Especial, obra do engenheiro nortenho Eduardo Ferreirinha) venceu em 1938 a Rampa do Gradil e o terceiro prémio do Circuito da Gávea, no Rio de Janeiro (1). Nesse ano, realizou o documentário “Já se fabricam automóveis em Portugal”, destacando o esforço pioneiro dos irmãos Ferreirinha. Em Portugal, construíram-se carros de  marcas lusas como Edfor, Alba,  Marlei, FAP, Olda. O projeto de um Fórmula 1 (Bravo Marinho) não passou do papel em 1976.

Capa do livro de José Barros Rodrigues, vendo-se Manoel de Oliveira, então com 30 anos, junto do Edfor, desportivo de produção nacional e motor Ford V8. 


(1)-VI Grande Prémio da Cidade de Rio de Janeiro, 12 de junho  de 1938. O antigo circuito da Gávea, com 11 km de extensão, era muito rápido e perigoso, conhecido como “Trampolim do Diabo”. Algumas secções do circuito, ainda hoje sem bermas, assemelham-se à Circunvalação do Porto e à estrada marginal do Douro. As condições do piso, empedrado e cruzado pelos carris dos elétricos, também eram comuns no Porto. Manoel terminou a prova em 3º. Casimiro, em Bugatti 51, foi 5º.

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