Manoel de Oliveira cruzou a meta
dos 105 anos. Não escrevi propositadamente “o realizador” pois Manoel de
Oliveira é muito mais do que isso: uma grande figura da Cultura europeia do
século XX e XXI, uma referência para sucessivas gerações em Portugal e no estrangeiro, um exemplo de vitalidade e de resistência – física, moral e
cultural. Sobretudo, um artista do cinema, que impôs internacionalmente uma estética
cinematográfica muito própria, resistindo a todas as malfeitorias críticas,
antes e depois de 1974, e aos “consensos culturais” que visam controlar a política de subsídios para as artes nacionais.
Há poucos dias, ficou a saber-se
que Manoel de Oliveira chegou a acordo com a Fundação de Serralves para a
instalação da Casa do Cinema Manoel de Oliveira no Parque, utilizando as antigas
garagens da Casa de Serralves, com projeto de Siza Vieira. A Casa terá uma
exposição permanente sobre a figura e obra de M. O. constituindo (mais) uma
excelente aposta da Fundação e uma mais valia cultural para a cidade do Porto.
A assinatura deste protocolo provocou uma declaração da CMP sobre o destino a
dar ao edifício construído há anos na Foz para acolher a Casa do Cinema Manoel
de Oliveira. Como é sabido, as divergências entre M. O. e o executivo liderado por Rui Rio inviabilizaram a
oportuna ocupação do edifício projetado por Souto Moura. Segundo o novo responsável
pela Cultura do Porto, Paulo Cunha e Silva, o aproveitamento desse espaço será incluído
na estratégia municipal para o cinema.
Uma faceta pouco divulgada de Manoel
de Oliveira, cuja longevidade terá muito a ver com o seu gosto pela prática desportiva, é a de
corredor de automóveis. Com o seu irmão Casimiro de Oliveira, participou em
grandes provas de automobilismo, tendo alcançado excelentes resultados. Ao
volante do Edfor (um Ford Especial, obra do engenheiro nortenho Eduardo
Ferreirinha) venceu em 1938 a Rampa do Gradil e o terceiro prémio do Circuito
da Gávea, no Rio de Janeiro (1). Nesse ano, realizou o documentário “Já se fabricam
automóveis em Portugal”, destacando o esforço pioneiro dos irmãos Ferreirinha.
Em Portugal, construíram-se carros de marcas
lusas como Edfor, Alba, Marlei, FAP, Olda.
O projeto de um Fórmula 1 (Bravo Marinho) não passou do papel em 1976.
Capa do livro
de José Barros Rodrigues, vendo-se Manoel de Oliveira, então com 30 anos, junto do Edfor, desportivo de produção nacional e motor Ford V8.
(1)-VI Grande
Prémio da Cidade de Rio de Janeiro, 12 de junho de 1938. O antigo circuito da Gávea, com 11 km
de extensão, era muito rápido e perigoso, conhecido como “Trampolim do Diabo”.
Algumas secções do circuito, ainda hoje sem bermas, assemelham-se à
Circunvalação do Porto e à estrada marginal do Douro. As condições do piso, empedrado
e cruzado pelos carris dos elétricos, também eram comuns no Porto. Manoel terminou
a prova em 3º. Casimiro, em Bugatti 51, foi 5º.
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