Desde a
década de1940,os carpinteiros de Acra, capital do Gana, dedicam-se à confeção
de caixões artísticos personalizados.
Essa arte funerária tornou-se a principal característica distintiva da arte
popular na região do povo Ga e chegou recentemente
a todo o mundo através de um anúncio da Coca-Cola e da Internet. Agora é
possível encomendar à distância um caixão personalizado, em forma de garrafa de
Coca-Cola ou de automóveis de todas as marcas e modelos, aviões, telemóveis e objetos
diversos, animais, frutos ou legumes.
A arte
funerária teve expressão relevante ao longo da história da Humanidade,
atingindo alto nível de sofisticação em determinadas civilizações, épocas e
momentos históricos. Basta lembrar a arte funerária no antigo Egipto, a
escultura tumular gótica, os aparatos funerários do Barroco ou a estatuária
fúnebre do Romantismo e Simbolismo no século XIX.
No
contexto da arte funerária, que inclui os mais diversos objetos e
representações, destaca-se a arte tumular – ligada a rituais de sagração e
conservação do corpo, condição fundamental no antigo Egipto (Livro dos Mortos)
como no Cristianismo (ressuscitação de Lázaro – Evangelho segundo São João, ressurreição
dos mortos - Apocalipse), mas támbém ligada a sistemas culturais de ostentação
de poder e riqueza. As culturas nómadas ou que praticaram a cremação, por razões práticas ou por motivos
religiosos, quase não têm arte funerária.
No início
do século XX, a nobreza nativa do Gana ainda viajava comodamente instalada em
palanquins com formas e cores distintivas, inspiradas em formas naturais ou na mitologia local. Em meados da década de
1940, um carpinteiro do Acra, Ataa Oko, decidiu homenagear a esposa falecida
construindo-lhe um caixão inspirado nesses palanquins, a que acrescentou uma
tampa.
A ideia
foi bem acolhida na comunidade e seguida por outros carpinteiros de Acra, que a
desenvolveram desde os primitivos caixões de tábuas toscas às estruturas
atuais, mais elaboradas e incorporando materiais modernos. O objetivo desta
curiosa arte tumular é que o caixão se identifique com o seu ocupante e, para
tal, nada melhor que cada qual encomende a forma do seu caixão – como acontecia nos antigos
sarcófagos e nos túmulos medievais. Tal como outrora, os caixões do Gana
veiculam o imaginário moderno do gosto popular, de formas naïves ou
sofisticadas, de grande eficácia comunicativa e surpreendente realismo de
formas e cores. Da simples galinha aos automóveis de luxo , passando pelos mais
diversos objetos comuns, os carpinteiros de Acra praticamente não conhecem o
impossível e há inclusive empresas que gerem as encomendas através das redes
sociais e garantem a entrega da obra praticamente em todo o mundo – a tempo do
funeral ou para figurar em coleções de arte.
Apresentada pela primeira vez na Europa
em 1989, no Museu Nacional de Arte
Moderna em Paris, a curiosa arte
funerária do Gana merece crescente atenção das galerias e museus de arte
internacionais, dando a conhecer a obra de artistas como Ataa Oko, Kane Kwei, Paa
Joe, Kudjoe Affutu, Ata Owoo, Eric Kpakpo, Eric Adjetey.
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