quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

LAGOA HENRIQUES (1923-2009)

Autor de desenhos e esculturas, poeta, conferencista, inspirador de sucessivas gerações de criadores artísticos, Mestre Lagoa Henriques faleceu na noite de 21 de Fevereiro de 2009, em Lisboa, aos 85 anos, após doença prolongada.

António Augusto Lagoa Henriques nasceu em Lisboa a 27 de Dezembro de 1923.

Diplomou-se na Escola Superior de Belas Artes do Porto, com nota máxima, e participou nas Exposições Gerais de Artes Plásticas (1946-51), na Bienal de São Paulo e na Exposição Internacional de Bruxelas (1957) antes de ser nomeado assistente de Barata Feyo em 1959.

Entre 1960 e 1963, trabalhou em Itália com o escultor Marino Marini. De regresso a Portugal, aceitou o cargo de professor de desenho e escultura (1963) na EBAP. Em 1966, mudou-se para a ESBAL.

Um grande incêndio destruiu o seu atelier no início dos anos 70. O incidente marcou-o e representou um momento de viragem na sua obra, caracterizada pela ligação das formas eruditas ao quotidiano, o contacto com as pessoas, a cidade e a natureza. “O grande problema do nosso tempo é conciliar a técnica com a ética, a estética e a poética”, disse.
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A sua obra mais conhecida é a estátua de Fernando Pessoa, na esplanada do Café Brasileira, no Chiado, exemplo emblemático do seu conceito de intervenção artística. É autor das estátuas de Ferreira Borges, no Palácio da Justiça, Porto, de Guerra Junqueiro, em Lisboa, e de Alves Redol em Vila Franca de Xira - famosa sobretudo pelo polémica que suscitou ao retratar o escritor nu, apenas com a boina na cabeça.
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Estátua de Alves Redol

Recebeu os Prémios Soares dos Reis, Teixeira Lopes e o Prémio do Real Gabinete Português de Leitura, 1ª Medalha SNBA e o Prémio de Escultura da II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian.

Representado no MNAC, M. Soares dos Reis, FCG, MAM em São Paulo, entre muitos outros.

Fontes: Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, Fernando de Pamplona, Ed. Civilização; Arte Portuguesa-Anos Quarenta, vol. 2, FCG, 1982; Jornal Público, 22/02/2009

OBRAS DE ARTE EM SEIA - 3

OBRAS DE ERNÂNI OLIVEIRA EM SEIA
Painel de azulejos do Posto de Turismo de Seia
Serigrafia sobre Seia


Aproveitando o momento das obras de transformação do Solar de Santa Rita em Museu do Brinquedo, a Câmara Municipal construiu um pequeno edifício térreo, ao fundo desse espaço, para acolher o Posto de Turismo de Seia – que funcionava então num pequeno espaço do Mercado Municipal.

A obra, executada pela própria autarquia com apoio financeiro do programa comunitário Leader, através da ADRUSE, incluía uma sala de exposições – cujo objectivo era oferecer aos artesãos senenses um espaço nobre de exposição dos seus produtos – e a colocação, no exterior, de um painel de azulejos reproduzindo uma obra de Ernâni Oliveira, executado por Hernâni Cardoso. O novo Posto de Turismo foi inaugurado a 31 de Outubro de 2000.
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O painel inventaria sumariamente alguns locais de interesse turístico do concelho, (como a Cabeça da Velha, o centro histórico de Seia, a Serra da Estrela, a capela de São Pedro e a Igreja da Misericórdia), algumas actividades económicas típicas da região (pastorícia, produção de queijo da Serra e têxteis), sem esquecer a campânula (campânula herminii), planta característica da Estrela.

O painel regista alguns pequenos defeitos, fruto da precipitação na aplicação dos azulejos devido à apressada conclusão da obra.

A Câmara Municipal editara anos antes uma serigrafia de Ernâni Oliveira, que foi reproduzida num desdobrável promocional do concelho, em 1998.
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.Ernani Oliveira nasceu em Lisboa a 27 de Dezembro de 1936.
Licenciado em artes Plásticas, pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Foi bolseiro da Academia das Belas Artes de Lisboa em Paris.
Leccionou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, durante seis anos, e na Escola de Artes António Arroio, até 1998.
Participou em inúmeras exposições colectivas e individuais de pintura, em Portugal e no estrangeiro. Trabalha regularmente com as Galerias de Arte «A Grade» em Aveiro, «DITEC» e «Nova Imagem» em Lisboa.Autor de vários projectos de grandes dimensões, com destaque para os vitrais da Cadeia Civil do Porto, com 60 metros quadrados, e a pintura do Salão Nobre da Câmara Municipal de Tondela, com as dimensões de 2 por 6,5 metros. Realizou ainda vários painéis decorativos, entre os quais um painel alusivo aos Descobrimentos, para a EXPO/98, e o painel para o Posto de Turismo de Seia.
O artista tem editado serigrafias com regularidade e desenvolve igualmente a actividade de designer de comunicação em jornais diários, semanários e agências de publicidade.
Recebeu por duas vezes o Prémio Júlio Mardel, da Academia das Belas Artes de Lisboa.
Fontes:
Jornal de Santa Marinha nº 179, 01/11/2000 e JSM nº 206; desdobrável turístico “Seia – Porta aberta para a Serra da Estrela”, 1998.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Censura em Braga?

Dois dias após uma decisão pouco informada e precipitada do Ministério Público ter criado um caso de censura no carnaval de Torres Vedras, que foi prontamente remediado, chega a notícia de novo acto de “censura” a “pornografia” em Braga, desta vez na Feira do Livro que se realizou na cidade dos arcebispos por ocasião do carnaval. No seguimento de uma queixa, a PSP invadiu o recinto da feira e apreendeu cinco exemplares de “Pornocracia”, um livro da controversa escritora francesa Catherine Breillat, que exibia na capa a reprodução de um quadro famoso de Gustave Courbet (1819-1877), “A Origem do Mundo” (1866), afinal a representação hiper-realista do aspecto exterior do órgão sexual feminino. Alguns bracarenses mais pudicos, ofendidos com tal pornografia, decidiram proteger o mundo do pecado (original) e, de caminho, exigir a punição dos responsáveis.

A estória saltou para a comunicação social como pulga em cachorro, despertando razões e emoções. Vieram depois os juristas classificar como erro a apreensão dos livros e a PSP apressou-se a dar o feito por não feito com a maior desculpa de ser a imagem a reprodução de uma obra de arte.

O peculiar báculo de D. João Peculiar

Outra estória curiosa ocorrida igualmente em Braga tardou a saltar para as notícias. Em Agosto de 2007, causou polémica a estátua de um antigo bispo de Braga, D. João Peculiar (que coroou D. Afonso Henriques como primeiro rei de Portugal), a segurar um báculo com formas que lembravam um pénis. O embaraço foi tanto que nem a Câmara, nem a diocese nem a Junta de Freguesia quiseram assumir a propriedade da estátua, que foi retirada. O povo divertiu-se com o pormenor peculiar da estátua de D. João Peculiar, arquitectada por um tal "Escultor Raul Xavier" (?), que deve ter levado um belo puxão de orelhas dos autarcas e do clero.

O "Escultor Raul Xavier" deve ter-se inspirado, afinal, numa obra menos conhecida do controverso artista alemão Thomas Palme (Immenstadt, 1967).

"A Verdade Desvelada pelo Tempo" foi novamente velada por Berlusconi

Porém, como acontece com tudo, os portugueses (no caso, os de Braga) não são os piores. Em Agosto do ano passado, o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, mandou retirar o quadro “A Verdade Desvelada pelo Tempo” de Giambattista Tiepolo da sede do governo italiano, em Roma, e substituiu-o por uma cópia em que a Verdade aparece com o seio tapado. Segundo explicou o porta-voz do primeiro-ministro italiano, o seio e o mamilo da Verdade apareciam mesmo no meio das imagens televisivas durante as conferências de Berlusconi, conhecido internacionalmente pelo seu pudor e rectidão, e de outros membros do seu governo de centro-direita. Comentando a decisão de Berlusconi, o director do Museu do Vaticano fez questão de sublinhar que “Temos mais nus que qualquer outro museu do mundo”.

Claro que há limites para tudo, e aí os Berlusconi de Braga poderão ter alguma razão. Basta ver que o site do Ministério da Cultura italiana abre com a imagem de Dafne, um nu de Gian Lorenzo Bernini (ver em http://www.beniculturali.gov.it/). Imagine-se se abrisse com "A Origem do Mundo", de Courbet.

Fontes: “Báculo fálico suscita polémica”, Jornal de Notícias, 26/08/2007; “Director do Museu do Vaticano repreende Berlusconi”, Diário de Notícias, 10/08/2008.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Exposição "Centenário de Tavares Correia"

Foi inaugurada no dia 21 de Fevereiro, na sala de exposições do Posto de Turismo de Seia, uma exposição comemorativa do centenário de Tavares Correia (1908-2008).

Apesar de tardia, a comemoração tem o mérito de proporcionar uma importante exposição, que reune algumas obras interessantíssimas e bem representativas da melhor fase da pintura de Tavares Correia.

Para além de alguns desenhos realizados durante a sua formação na Sociedade Nacional de Belas Artes, nos anos 20, a exposição mostra obras que Tavares Correia exibiu em Paris, de pequeno formato, assim como apontamentos de viagem (desenhos, aguarelas) e um bom conjunto de retratos: sua mãe, a esposa e o avô materno - que Tavares Correia recordava com saudade - para além dos auto-retratos.

O Dr. José Albano do Couto Tavares Segurão (1844-1932) era Sub-Delegado de saúde à data do nascimento do neto - no antigo Solar de Pedro de Cêa, situado na cerca do castelo. Chegou a Presidente da Câmara Municipal (1914) e Administrador do Concelho. Foi o Dr. Albano quem ofereceu a Tavares Correia os primeiros materiais de desenho e pintura, em 1925.

À entrada da sala de exposições, pode ver-se um auto-retrato da última fase da pintura de Tavares Correia, baseado numa foto de que o artista gostava particularmente. Esta foto foi reproduzida em catálogos das suas exposições anuais e no cartaz do Prémio Nacional de Pintura Tavares Correia, a seu pedido, por ocasião dos Encontros de Arte '93. No quadro pode ainda ver-se o brasão dos Corrêa de Carvalho.
Aqui ficam algumas imagens da exposição.

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D. Esther Tavares do Couto Segurão Corrêa




Dr. José Albano do Couto Tavares Segurão

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Ano Internacional da Astronomia


No ano em que se comemoram os 200 anos do nascimento de Charles Darwin, os 150 anos da publicação do seu revolucionário livro "A Origem das Espécies" e o 400º aniversário da invenção do telescópio e das primeiras observações astronómicas de Galileu Galilei, são inevitáveis as associações entre a teoria darwinista da evolução e a teoria heliocêntrica no processo de construção do Homem contemporâneo, no conhecimento de si próprio e do Mundo que possui e mobiliza para gerar mais conhecimento, rumo às estrelas.

Na cronologia das Espécies, foi apenas ontem que a descoberta de horizontes cada vez mais largos e fundos levou o Homem a erguer-se (homo erectus), deixando de olhar o chão para olhar em frente, e depois para as estrelas. Com o tempo, compreendeu a influência dos astros no quotidiano da Terra e entendeu finalmente o seu exacto lugar no Universo. Não foi por acaso que a compreensão dos fenómenos celestes registou grandes avanços no século XIX, originando uma significativa revolução das mentalidades e consequente descrédito do criacionismo (teoria bíblica da criação do mundo por Deus em sete dias).

Recordar Galileu Galilei significa, igualmente, evocar um exemplo da clarividência e persistência - que teve elevados custos: obrigado a abjurar perante a Inquisição, para salvar a vida, acabaria por morrer em prisão domiciliária nove anos depois, em 1642. Pressionada pelas evidências científicas, a Igreja absorveu as teorias defendidas por Galileu, mas a Igreja Anglicana só em Setembro de 2008 reconheceu publicamente que tratou mal Charles Darwin, pedindo desculpa por não o ter então entendido e por ter encorajado outros a não o entender.
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O Ano Internacional da Astronomia possui um interesse adicional para Portugal, em especial para o Interior, já que o Coordenador Global é o português Pedro Russo (prusso@eso.org), natural de Figueira de Castelo Rodrigo. Outra figura em destaque é Rosa Doran (rosa.doran@nuclio.pt), responsável internacional pelo Galileo - Teacher Training Program.
A abertura oficial do AIA 2009 decorreu no dia 31 de Janeiro na Casa da Música, no Porto, com um programa aberto à comunidade.

Consultar programa das actividades em Portugal.
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Espaço: a última fronteira?


“Este ano é o ano da astronomia. É também um bom ano para passar a gostar de astronomia. Eu não disse saber, embora o saber venha pelo mesmo caminho. Eu disse “gostar”, olhar com gosto, com espanto, com curiosidade, para o mundo. (...)” - José Pacheco Pereira, “A lagartixa e o jacaré”, revista ´Sábado” nº 249, 05 de Fevereiro de 2009.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

ARCO 09 - Crise passou ao lado


Encerrou hoje, no Parque Ferial Juan Carlos I, em Madrid, a 28ª edição da ARCO - Feira de Arte Contemporânea.

A Feira decorreu entre os dias 11 e 16 de Fevereiro (13 a 16 para o público em geral), apresentando 238 galerias de 32 países de todo o mundo, além dos Solo Projects (participantes independentes) e diversas actividades de divulgação das artes: conferências, palestras, livrarias e revistas especializadas em arte contemporânea. Nestas últimas, incluía-se uma revista portuguesa, a "Artes&Leilões".

A Índia foi o país convidado, representada por 15 galerias. Das obras de artistas indianos, destacou-se o “Aquasaurus” de Jitish Kallat, um camião feito com ossos de dinossauro.

Portugal foi representado por 12 Galerias já conhecidas da organização, incluindo uma galeria de arte de Viseu, a António Henriques (Pavilhão 10, stand 10ª40-23) e uma galeria açoriana, a Fonseca Macedo. Este ano, devido ao mau momento económico internacional, a participação portuguesa recebeu um apoio do Ministério da Cultura, materializado num "seguro de risco”.

Realizada sob o signo da crise mundial, não se esperava muito desta Feira em matéria de vendas, mas os primeiros balanços, da organização e dos galeristas, apontam para uma repetição das vendas de 2008. Registou-se uma quebra nas compras das instituições, compensada pelos compradores privados – que apostaram em valores seguros. De resto, dada a imprevisibilidade das vendas, as galerias optaram por apresentar mais artistas consagrados. No que respeita a visitantes, mais de 250 mil pessoas passaram pelo portão do Parque Ferial Juan Carlos I.

Para a edição de 2010, foi já anunciado novo corte no número de expositores e uma alteração de monta, que visa reduzir custos: em vez de um país convidado, será uma cidade a merecer destaque. Para a 29ª edição, em 2010, foi escolhida a cidade de Los Angeles.

A próxima grande feira internacional será a TEFAF 2009 - Feira Mundial de Arte e Antiguidades de Maastricht, em Março.

Mais dados sobre a ARCO 09 em:
http://www.ifema.es/ferias/arco/in.html.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Inauguração da exposição "Luzes" - Fotografias de José Santos, em Viseu

Com uma boa moldura humana, José Santos apresentou-se como artista e mostrou os seus trabalhos fotográficos no Museu Grão Vasco, em Viseu, a meio da tarde do dia 14 de Fevereiro.

A inauguração contou com a presença de algumas individualidades e amigos do empresário, agora artista, que apreciaram com admiração a qualidade visual e consistência técnica das fotografias expostas, algumas delas de grande formato.
Também esteve presente uma equipa de reportagem da VTV - Viseu TV (ver "Agenda Cultural" de 19 de Fevereiro em www.viseu.tv).














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No folheto de apresentação da exposição, José Santos escreveu:

"Aceitar fazer uma exposição pela primeira vez, pode ser uma decisão muito difícil, porque aquilo que se faz e de que se gosta pode ser atraente para nós e repulsivo para outros olhos.

O entusiasmo de alguns amigos entre os quais: Maria Encarnação Almeida (Senhora São) do Posto de Turismo de Seia, Mário Jorge Branquinho e os pintores Helena Abreu, António Joaquim e Sérgio Reis, ajudaram a minha tomada de decisão.

Da boca do Dr. Alberto Correia, antigo Director do Museu Grão Vasco, sempre parco em comentários, ouvi palavras que me animaram´.

Por outro lado, e ainda, o facto de se virem a abrir vários espaços de exposição mais ajudaram a reduzir o receio do possível ridículo da minha decisão em expor.

O profissionalismo do pintor Sérgio Reis constituiu o refúgio necessário para evitar alguns erros que por mim poderiam ser mais facilmente cometidos.

É quase só dele a selecção de peças exposta, assim como os títulos a elas atribuídos.

De si que vai apreciar as peças expostas, espero que seja benevolente comigo e releve o meu atrevimento."

josesantos.seia@gmail.com

"Luzes" ocupa duas salas de exposição temporária do Museu Grão Vasco, em Viseu, e decorre até ao dia 21 de Março.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Dez Anos sem Maluda (1934-1999)

Este texto está redigido de acordo com as novas normas do Acordo Ortográfico

Telhados de Lisboa, 1996, serigrafia

Passam hoje (10 de fevereiro) dez anos sobre a morte de Maluda, a pintora apaixonada pelo espaço, geometria e cores da paisagem urbana, animadora de tertúlias, conhecida do grande público pelos belíssimos selos dos CTT reproduzindo obras suas.

Maluda (Maria de Lurdes Ribeiro), nasceu em Goa, antigo Estado Português da Índia, em 1934. “Vim do Oriente, onde nasce a luz; passei por África, onde aprendi a amar a vida; cheguei à Europa, onde estudei pintura na cidade das luzes; depois fixei-me em Lisboa. Gradualmente refiz o percurso labiríntico em direção à luz. Cada passo revela, à sua maneira, esse jogo de sombras e de luz que é a vida e a morte, a sabedoria e a ignorância. Eu pinto. É uma aventura que não troco por nenhuma outra.” (Maluda - Revista Galeria de Arte, nº 5, julho/agosto de 1996).

Em Lisboa, onde se fixou em 1967, Maluda chegou à síntese da paisagem – formas simplificadas, bem definidas e ritmadas, cores luminosas, fundos / espaços abertos. Em 1968, pinta os seus primeiros quadros sobre Lisboa. Dois anos depois, realizou a sua primeira exposição individual – na Galeria do Diário de Notícias, em Lisboa. No ano seguinte, instalou a sua casa-atelier na Rua das Praças, em Lisboa.
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Em 1974, pintou o retrato de Ana Zanatti (foto Homem Cardoso, "Gente" Nº 23, Abril de 1974)

Em 1986, pintou a obra “Portel”, provavelmente a sua melhor obra, eleita por José-Augusto França como um dos “100 Quadros Portugueses do Século XX”.

A partir de 1985, realizou alguns desenhos para selos dos CTT. A primeira série, “Quiosques portugueses” viria a receber um prémio mundial em 1987, nos EUA, num concurso em que participaram vinte países). Em 1989, o seu selo “Évora Património Mundial” recebeu em Périgaud (França) o prémio mundial para o melhor selo. A sua última exposição individual, em 1998, é precisamente sobre “Os selos de Maluda”, patrocinada pelos CTT.


“Quiosques portugueses”, 1985

Prémio de pintura da Academia Nacional de Belas Artes de Lisboa (1979). Prémio de artes plásticas Bordalo Pinheiro, atribuído pela Casa da Imprensa (1994).

São igualmente obras de sua autoria os logótipos do “Estoril Open” de ténis (1989) e do “Portugal Open” de golfe (1992), assim como o retrato do Professor Victor Crespo para a galeria de Presidentes da Assembleia da República (1997). Sobre a artista, escreveu Vieira da Silva: “Os quadros de Maluda são um hino, um louvor à vida, ou seja à construção do abrigo humano”. Mais dados sobre Maluda e a sua obra em http://maludablog.umnomundo.eu/

Ponte de Lima, 1978

Fontes (para além das que se encontram referidas no texto): "Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses", Vol. IV, Fernando de Pamplona; Correio da Manhã - revista CM, 1985; Jornal de Notícias 30/9/1987.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

OBRAS DE ARTE EM SEIA - 2

Este texto encontra-se redigido de acordo com as normas do novo Acordo Ortográfico
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Obras de Soares Branco em Seia
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Bustos do Dr. Guilherme Correia de Carvalho (1989) e do Dr. António Melo Sena M. Veiga (1996)
Monumento aos Bombeiros (Seia, 1997) e Monumento ao Pastor (São Romão, 1998)

A verdadeira História de Seia, em matéria de monumentos, não passava até há bem pouco tempo de um rol de incúria e maus tratos - com algumas exceções redentoras. Ainda hoje parca em estátuas, não deixa de ser curiosa a presença esmagadora de obras de Soares Branco na cidade de Seia: os bustos do Dr. Guilherme Correia de Carvalho (1989) e do Dr. António Melo Mota Veiga (1996), o monumento aos Bombeiros (1997) e ao Pastor (1998). E só não tem mais pois não chegou a realizar o busto do Dr. Manuel de Almeida Sousa, que a respetiva Comissão de Homenagem lhe tinha encomendado. Esse trabalho foi posteriormente concretizado por Henadzi Lazakovich, o escultor bielorrusso radicado em Seia, que seguiu as linhas de composição de Soares Branco, bem patentes numa comparação estrutural entre os bustos do Dr. Guilherme e de Manuel Sousa.

Em 1989, Seia homenageou o Dr. Joaquim Guilherme de Carvalho, que falecera em março de 1988, após doença prolongada. Conhecido como "o médico dos pobres", pela sua disponibilidade e bondade, "o verdadeiro médico de família" (J. Quelhas Bigotte, Monografia de Seia), deu nome à Escola EB 2,3 Nº1 de Seia em Junho de 2000.

Soares Branco completou o busto do Dr. Guilherme em maio de 1989. A figura (da cintura para cima, seguindo o conceito rigoroso de busto e não a conceção tradicional) tem uma estrutura triangular, a modelação dos volumes é pouco efusiva mas elegante e o conteúdo é sugestivo, destacando-se a serenidade da expressão e o relevo dado às mãos.

O busto do Dr. Guilherme foi tão apreciado que, sete anos mais tarde, Soares Branco foi chamado a realizar o busto do Dr. António Melo Sena Mota Veiga (1896-1988) - outro médico amigo do povo e falecido 21 dias após o Dr. Guilherme. Permitam-me sublinhar a evidência de Seia possuir, ontem e hoje, muito bons e dedicados médicos, havendo também a destacar o Dr. Simões Pereira e o Dr. António Maria de Senna, que teve a virtude acrescida de nascer em família humilde, e outros igualmente desaparecidos, como o pediatra Pessoa Mendes.

O busto do Dr. António Melo foi integrado no arranjo do espaço envolvente por ocasião das obras de ampliação do Hospital de Seia e a homenagem póstuma, no centenário do seu nascimento, foi o ponto alto das comemorações do feriado muncipal, a 3 de julho de 1996.
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Nos dois anos seguintes, foram inauguradas em Seia e São Romão duas obras de Domingos Soares Branco: o Monumento aos Bombeiros (1997) e o Monumento ao Pastor (1998). Enquanto Gouveia e Oliveira do Hospital já tinham, à data, as suas estátuas / monumentos ao pastor, o monumento aos bombeiros foi o primeiro da região, inaugurado com grande pompa no feriado municipal (3 de julho) pelo então Ministro da Administração Interna, Armando Vara, com a presença de várias delegações de bombeiros do distrito – que desfilaram com as bandeiras baixas e fitas pretas em sinal de protesto pelo conteúdo da reportagem televisiva “País em chamas”, transmitido pela RTP a 25 de junho. O Monumento ao Bombeiro em Oliveira do Hospital foi inaugurado em março de 2008 e é da autoria do escultor Luís Queimadela, que também concebeu o Monumento ao Empresário (2007).
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Soares Branco criou dois conjuntos escultóricos com várias peças interrelacionadas, destinados a pequenos espaços ajardinados. O Monumento aos Bombeiros Portugueses, junto ao quartel dos Voluntários de Seia, tem como elemento principal a figura em bronze de um bombeiro atacando o fogo - representado por outro elemento do conjunto. O Monumento ao Pastor ocupa uma rotunda na entrada da Vila de São Romão e é composto por três figuras (um pastor de capa e chapéu, um cão Serra da Estrela e uma ovelha) e foi inaugurado no dia 18 de julho de 1998, numa iniciativa conjunta da Câmara Municipal, Junta de Freguesia de São Romão e Rancho Folclórico “Os Pastores de São Romão”.

Soares Branco com Eduardo Brito, na inauguração do Monumento ao Pastor



Domingos de Castro Gentil Soares Branco nasceu em Lisboa em 1925.
Discípulo de Leopoldo de Almeida e Simões de Almeida, distinguiu-se na escultura e no desenho anatómico, de modelo ou estátua. Dedicou-se ainda à medalhística e lecionou na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa durante 43 anos.
Na escultura, Soares Branco desenvolveu um estilo próprio com diversas fases, sempre com base em elementos figurativos. Em 1951, obteve o 2º prémio Soares dos Reis, do Secretariado Nacional de Informação.
Entre as suas diversas obras de índole religiosa, militar, histórica, desportiva, destacam-se: monumento a Sá Carneiro, Lisboa; estátua de Pio XII, em Fátima; busto de Adelino Amaro da Costa (Assembleia da República); estátua de Santo António de Lisboa (Lisboa); monumento comemorativo da Escola Prática de Infantaria, monumento a Beatriz Costa e monumento ao Soldado Infante (Mafra); esculturas dedicadas à Tauromaquia em Alcochete e Santarém. É também o autor da águia do Benfica, em Lisboa.
A sua obra, composta por mais de 13.000 peças (incluindo estudos, maquetas e esboços), encontra-se dispersa por várias localidades do país e um pouco por todo o mundo (Angola, Alemanha, África do Sul, Arábia Saudita, Cabo Bojador, Canadá, EUA, Hawai, Itália, Japão, Macau, Marrocos, Moçambique e Suécia). Após a realização, em Mafra, de uma importante exposição retrospetiva da sua escultura religiosa (dezembro de 2006-março de 2007), Soares Branco doou grande parte do seu espólio à Câmara Municipal de Mafra, que criou um museu com o seu nome, situado no Complexo Cultural Quinta da Raposa. Em dezembro de 2008, por ocasião do 83º aniversário do Mestre escultor, foi editado um livro sobre a sua vida e obra, intitulado “Conhecer Domingos Soares Branco”. Ver em http://www.cm-mafra.pt/arquivo/noticia.asp?noticia=1142.
Fontes: Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, vol. I; Jornal de Santa Marinha nº 81 (julho de 1996), nº 105 (julho de 1997) e nº 129; Porta da Estrela nº 435 (30 de Junho de 1996); “Conhecer Domingos Soares Branco” (C. M. Mafra, 2008).

sábado, 7 de fevereiro de 2009

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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

OBRAS DE ARTE EM SEIA - 1

“Torneio dos Doze de Inglaterra” – fresco de Martins Barata (1966)
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Quem passar pela sala de reuniões da Câmara Municipal de Seia, onde funcionou a sala de audiências do Tribunal de Seia até Outubro de 1998, encontrará um fresco de grandes dimensões representando um torneio medieval. Intitulada “Torneio dos Doze de Inglaterra”, a obra é da autoria do pintor Jaime Martins Barata e evoca o célebre episódio dos doze cavaleiros, que se reuniram em Seia antes de partirem para Inglaterra. Ver mais em Martins Barata.

O fresco do antigo Tribunal de Seia data de 1966 e insere-se no vasto plano de remodelação da rede de Tribunais portugueses, iniciado no final dos anos 50 do século XX, que mobilizou diversos arquitectos e artistas. Jaime Martins Barata já era então conhecido pelos seus frescos e, em 1959, chegou mesmo a descobrir um importante melhoramento nessa técnica, que se reflectiu nos resultados visuais dos trabalhos que realizou durante os anos 60.

Jaime Martins Barata nasceu em Castelo de Vide em 1899 e faleceu em 1970, em Lisboa. Ver mais dados em
www.geneall.net/P/per_page.php?id=283703.

Conviveu com grandes figuras do seu tempo (Cottinelli Telmo, Jorge Barradas, Abel Manta, Almada Negreiros, Fernando Pessoa, Abel Manta, Leitão de Barros...), em particular Roque Gameiro, de quem se tornou amigo e partilhou o gosto pela aguarela, acabando por casar com a sua filha em 1925. Era já, então, professor de Desenho no Liceu de Setúbal, uma profissão com a qual sempre se identificou, mesmo quando alcançou a fama, em 1940, com dois trípticos de grandes dimensões destinados ao Pavilhão de Lisboa da Exposição do Mundo Português e posterior convite para realizar uma série de selos para os CTT. O seu trabalho seguia temas consensuais e os valores estéticos do regime, o que agradava aos decisores políticos. Chamado a colaborar com o Estado nos anos 60, Martins Barata realizou uma série de frescos em vários edifícios públicos (sobretudo Palácios da Justiça), dispersos um pouco por todo o país, sendo dignos de destaque os seus frescos nos Palácios de Justiça do Montijo (1959), do Porto (1961), Aveiro (1962), Olhão (1963), Fronteira (1966), Castelo Branco (1968), e Vila Pouca de Aguiar (1969). O fresco do Palácio de Justiça de Fronteira, representando a batalha dos Atoleiros, era considerado pelo artista como a sua melhor obra, tendo sido realizado no mesmo ano do fresco de Seia (1966), o que permite curiosas comparações.

Para além de frescos, Martins Barata produziu alguns cartões para tapeçaria e alguma pintura a óleo, sobretudo retratos. No Palácio de Justiça de Oliveira do Hospital, encontra-se uma tapeçaria deste artista multifacetado e polivalente, intitulada "Viriato" (1966). O facto de ser hoje relativamente desconhecido no contexto da arte nacional deve-se à sua opção por uma vida de isolamento (não apreciava a vida social, não expunha os seus trabalhos nem dava entrevistas), mas também ao esquecimento a que foi votado após o 25 de Abril de 1974, ocorrido quatro anos após a sua morte, devido ao seu alinhamento com a estética do Estado Novo.

Após a construção e entrada em funcionamento do novo Tribunal de Seia, a Câmara Municipal tomou posse do espaço, que sofreu obras de remodelação, e encomendou em 2002 a limpeza e restauro do fresco de Martins Barata à empresa Pintura Livre, Lda, especializada em conservação e restauros, que devolveu à obra a integridade e colorido originais.

Fontes: sites indicados;“Martins Barata, um Pintor (quase) esquecido”, Notícias Magazine / DN, 25/03/2001. Agradecimentos especiais a João M. B. Cabral.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

1000

Saiu para as bancas no passado dia 28 de Janeiro, o JL nº 1000, com uma edição especial e a oferta de um livro de poesia da Leya, a dois meses de festejar 29 anos de existência - sempre com o mesmo director, José Carlos de Vasconcelos.
Tudo começou em 1981 - e pode dizer-se que o JL me tem acompanhado ao longo da minha actividade de professor pois comecei a leccionar no ano lectivo de 1980-81 e a ler o Jornal de Letras, Artes e Ideias, desde o nº1.
Criado por um grupo de amigos (José Carlos Vasconcelos, Eduardo Pardo Coelho, Augusto Abelaira e Fernando Assis Pacheco) para substituir os suplementos literários que pontuavam nos jornais nacionais de então, o JL mostrou ser um jornal diferente logo no primeiro número, saído a 3 de Março de 1981. A primeira página era dominada pelo desenho de João Abel Manta, que assina igualmente mais oito ilustrações dispersas pelas 36 páginas do jornal, sem contar com a última página, onde se repete toda a primeira página mas invertida da direita para a esquerda, criando um efeito original. O jornal custava 25$00 - 12,5 cêntimos.
Folheando o meu precioso exemplar, releio uma entrevista de Assis Pacheco a José Cardoso Pires, um conjunto de notícias breves sobre a publicação de Poesia Toda, de Herberto Helder, uma homenagem a Óscar Lopes nos 40 anos de vida literária, várias sobre teatro, música e dança, nova exposição de Júlio Pomar em Paris. Francisco Belard escreve sobre cinema português e Eduardo Prado Coelho sobre cinema húngaro. As páginas 12 e 13 são dedicadas à TV e à rádio. Nas três páginas seguintes, Eduardo Lourenço escreve sobre Jorge de Sena, de quem se dá a conhecer três poemas inéditos. Segue-se um artigo de Augusto Abelaira, um texto de Eduardo Prado Coelho sobre Vergílio Ferreira, com algumas páginas inéditas do seu livro "Conta-Corrente 2", outro de Fernando Belo sobre "A crise dos cristãos de esquerda". José Sesinando escreve sobre música na página 22 e Alexandre Pinheiro Torres na página 23, antecedendo um artigo de Nuno Bragança. Na página 26, Manuel Maria Carrilho escolheu "Metamorfoses do Corpo", de José Gil, para "O livro da quinzena", seguido de um magnífico estudo de Paula Morão sobre a fotografia de Jorge Molder. Seguem-se algumas páginas de crítica e teoria literária, história, cinema (Resnais, e um texto de João Mário Grilo sobre Godard), música (incluindo um texto de João Freitas Branco), teatro ("O Judeu" no Teatro Nacional) e a crítica (e crítica a sério, sublinhe-se) de Sílvia Chicó às exposições mais recentes.
O JL nº1 criou grandes expectativas em relação ao nº 2 (17 de Março de 1981), amplamente satisfeitas ao longo das suas 32 páginas recheadas de artigos assinados por grandes nomes das letras e da cultura, com diversas ilustrações de João Abel Manta, seguindo o modelo do primeiro número excepto na solução invertida da capa na última página.

Ao longo dos 1000 números publicados, o JL foi mudando de aspecto gráfico e formato (actualmente mais pequeno que o inicial), passou a edição a cores, actualizou os seus conteúdos e diversificou-se ainda mais com o recurso a suplementos especializados e parcerias editoriais, acabando por seguir uma linha mais comercial, pertencendo actualmente ao grupo Impresa / Mediapress de Pinto Balsemão. Este rumo não comprometeu os objectivos e especificidades do jornal, permitindo uma mais ampla presença e acção nos diversos espaços de cultura, inclusive nos cantos remotos do espaço lusófono.
Continuo a depositar grandes esperanças na continuidade do JL e, tal como aconteceu com o nº 2, aguardo com expectativa a publicação do nº 1001.

Dora Tracana - Pessoa poética


Nasceu a 1 de Janeiro na Guarda e vive actualmente entre Seia – onde trabalha – e Coimbra – onde concluiu a licenciatura em escultura / variante Pedra e Madeira, em 1995, na Escola Superior de Tecnologias Artísticas de Coimbra, e frequenta actualmente o mestrado em comunicação estética.


A escultura de Dora Tracana faz sentido, desdobra-se em simbologias e narrativas poéticas perspectivadas pelo título - “A Porca da Vida” ou “O Tempo; Pêndulo, Cruz, Paixão”, por exemplo (ver estas e outras esculturas em www.amar-arte.blogspot.com), mas sua principal característica distintiva é o modo como explora a dialéctica dos materiais e a interacção de formas significantes para questionar o sentido da vida e comunicar a sua interpretação do mundo.


Organizando alguns dos temas recorrentes, obtemos uma espécie de mapa de leitura: o Corpo, o Tempo, o Sofrimento, a Verdade, o Amor. Em "O Tempo; Pêndulo, Cruz, Paixão", por exemplo, para além da articulação específica de formas e de materiais, que têm uma gramática e sentidos próprios, a autora combinou os diversos elementos simbólicos para conferir ao conjunto um acentuado dramatismo, sobrepondo a ideia da passagem/contagem do tempo à de sofrimento para nos confrontar com duas verdades incontornáveis da vida e despoletar em cada um de nós a reflexão fundamental: quando, onde, como sofri, e porquê - pois só através desta reflexão conseguiremos saber se nos identificamos ou não com a perspectiva da autora. Seja qual for a conclusão, essa experiência passará a fazer parte das nossas vidas.


O conjunto de cinco peças expostas na Casa da Cultura de Seia (anteriormente vistas no CISE) permite uma experiência igualmente enriquecedora. Num texto intitulado "Pessoa", a autora explicita o seu projecto e apela à construção criativa da autenticidade da Pessoa, convocando cada um em particular ("TU").


"PESSOA


Este projecto pretende reflectir uma sociedade, através de cinco exemplares. Pode-se visualizar, nas peças escultóricas, um tronco (corpo), as raízes que o aguentam (suporte) e uma hélice em volta do corpo (vida). O corpo é o suporte do rosto (mascara), consoante a forma como esse suporte segura a mascara assim esta nos transmite uma expressão diferente. Temos então cinco corpos, Cinco suportes diferentes e cinco expressões diferentes. Tento com isto transmitir que muitas vezes somos moldados pelo meio em que estamos inseridos. A PESSOA pode ser a interpretação do papel que lhe coube representar. Consoante o texto que lhe foi destinado assim pensa, fala, actua, vive. Podemos encarnar a PESSOA do papel que nos foi destinado a representar no palco da vida. Podemos adaptar-nos ao molde que nos foi sorteado. A identidade do indivíduo tem por base o molde do meio que nos sufoca ou liberta, mas nunca a identidade de um indivíduo é uma realidade definitivamente estabelecida.


TU podes construir A PESSOA


Depende de ti seres TU.”



As 5 peças relacionam-se pela estrutura comum (poste/tronco; base/raízes/pés/garras) e por uma faixa branca que "estende" aos pés das figuras um excerto conclusivo de um texto da autora:
“A identidade do indivíduo tem por base o molde do meio que nos sufoca ou liberta, mas nunca a identidade de um indivíduo é uma realidade definitivamente estabelecida.”
A identidade de cada figura é dada por uma máscara suspensa do tronco por uma espécie de mola/hélice que envolve todo o "corpo" criando espaços próprios de movimento, acção, vida.

Fontes (biografia e foto da artista): Agenda Cultural CMS/Casa Municipal da Cultura de Seia.

Lucas Marrão nasceu em Seia há 185 anos

Lucas de Almeida Marrão nasceu em Seia a 5 de Fevereiro de 1824, há 185 anos, na quinta do fidalgo senense Luís Pinto de Mendonça Arrais, futuro Visconde de Valongo, de quem seus pais eram caseiros.

Nascido na Casa das Obras, em Seia, a 04 de Julho de 1787, Luís Pinto de Mendonça Arrais tornou-se 1º Barão (1835) e depois 1º Visconde de Valongo (1842) pelo seu valoroso desempenho nas Lutas Liberais - comandando o Batalhão de Voluntários da Rainha D. Maria II que desembarcou numa praia próxima do Porto (e não no Mindelo, Vila do Conde) e nas batalhas travadas em Valongo em 1832 e 1833, onde quase perdeu a vida. Já com o título de Visconde, foi Governador Civil do Porto em 1847.

Reza a história que o próprio Visconde de Valongo descobriu a vocação do jovem Lucas, vendo-o esculpir num pedaço de madeira uma figura religiosa (Nossa Senhora, segundo Quelhas Bigotte; Santo António, na versão do Dr. Luís Pinto de Albuquerque, relatada pelo Dr. António Dias) e que o tomou sob a sua protecção. No entanto, a certidão de baptismo de Lucas Marrão mostra claramente que ele já vinha sendo protegido desde criança pois os seus padrinhos de baptismo eram fidalgos da Casa de Tourais, um oficial de nome Lucas Maximo de Frias, oficial do Regimento de Milícias da Covilhã, e sua mulher, Francisca Augusta Napoles. Sem colocar em causa a verdade historiável, não deixa de ser curiosa tanta preocupação fidalga com o filho de um simples caseiro.

Sob a protecção da família Mendonça Arrais, frequentou a aula de Desenho Histórico da Academia de Belas-Artes, entre 1847 a 1852, onde foi discípulo de António Manuel da Fonseca (1796-1890), pintor e escultor que exerceu larga influência no seu tempo. Ali, obteve prémios nos concursos de 1847/48, 1948/49 e 1949/50.

Participou na exposição da Academia Real de Belas Artes em 1852, com quatro telas originais e uma cópia de uma tela de Vieira Portuense (“Júpiter e Leda”), assim como na Exposição da Sociedade Promotora de Belas Artes de 1880 e na de 1884.

Entre as suas obras mais conhecidas, destacam-se o “Retrato da Infanta D. Isabel Maria” (col. Conde de Almarjão); “Defronte de um Altar”, de 1879 (col. D. Caetano de Portugal); “Retrato de El-Rei D. Luís” (Câmara Municipal da Seia). Retratou o Visconde de Valongo (1842), D. José Pinto de Mendonça Arrais (irmão do Visconde de Valongo, bispo de Pinhel e da Guarda) e o Dr. José da Mota Veiga, entre outros. (Ver AQUI alguns trabalhos de Lucas Marrão na Biblioteca Nacional Digital).

Em Seia, não restam (ao que se saiba) muitas obras de Lucas Marrão. Num artigo publicado no jornal “A Voz de Seia”, segundo notícia de José Alberto Ferreira Matias, o Dr. António Dias referia a existência de muitos desenhos desse autor na Casa das Obras de Vila Cova. Pintou as bandeiras da confraria do Santíssimo Sacramento e dois quadros com “Os Evangelistas” para a extinta capela do Morgado de Nossa Senhora das Preces. São-lhe atribuídos sete dos oito quadros representando a Via-sacra existentes nas paredes laterais da Igreja da Misericórdia – já que um deles é nitidamente de outro autor, tal como J. Quelhas Bigotte já havia notado pois omitiu-a. Várias pinturas de Lucas Marrão encontram-se na posse de descendentes do Visconde de Valongo - como a Viscondessa de Valdemouro, filha do 2º Visconde de Valdemouro, nascido em Seia em 1896 e falecido em Águeda em 1938.

A obra mais conhecida do artista senense, pelo nível artístico e insubstituível valor documental é a litografia “Vista da Villa de Cea, tirada do alto da Senhora do Rosário” (1845). Em 1997, foi editada pela Câmara Municipal de Seia uma reprodução dessa litografia, colorida pelo artista senense António Júlio Vaz Saraiva.


A litografia mostra com grande pormenor a Casa das Obras (da família do Visconde de Valongo, hoje Câmara Municipal de Seia), a Colegiada (destruída à passagem das tropas francesas invasoras), o castelo em ruínas e a zona envolvente, o Solar dos Botelhos, a Capela de S.Pedro e a Igreja da Misericórdia.

O Dr. António Dias levou aos jornais senenses do seu tempo, nos anos 40 do século XX, os ecos do trabalho publicado pelo Coronel Henrique de Campos Ferreira de Lima (“Dois artistas esquecidos - Lucas de Almeida Marrão e João Baptista Minas”) na “Revista de Guimarães”, em 1944, acrescentando-lhes o resultado da sua própria pesquisa, muito esclarecedora e incontornável para um estudo sério sobre Lucas Marrão. Em 1997, a propósito da edição, pela Câmara Municipal, da “Vista da Villa de Cea, tirada do alto da Senhora do Rosário”, José Alberto Ferreira Matias (filho do grande jornalista e insigne senense Luís Ferreira Matias) divulgou essa pesquisa em quatro artigos do Jornal de Santa Marinha (nº 96, 98, 100 e 101, de 1 de Março a 16 de Maio de 1997) ilustrados com as fotos e reproduções que aqui se mostram, com a devida referência e agradecimentos a José Alberto Ferreira Matias, a Serafim Correia (autor das fotografias dos quadros da Misericórdia), à Misericórdia de Seia e ao Jornal de Santa Marinha, na pessoa do seu Director, Eduardo Cabral.

As telas atribuídas a Lucas Marrão. Ao centro, o quadro de outro autor (fotos de Serafim Correia - JSM).


Outra obra muito conhecida de Lucas Marrão evoca o episódio político da Revolta do Porto, em Outubro de 1846, que degenerou em guerra civil: a prisão do Duque da Terceira e companheiros na Cadeia da Relação do Porto, por ordem de Silva Passos. Entre eles, estava o Visconde de Valongo, nomeado para comandar a 4ª Divisão Militar. Lucas Marrão também estaria com o Visconde de Valongo, considerando a pormenorizada descrição da cena na litografia de 1848, ou esse desenho terá sido inspirado e instruído pelo Visconde? Certo é que a Patuleia foi uma guerra civil cruel, que terminou em Junho de 1847, antecâmara da grave crise de 1849 (em que até os teatros fecharam), acontecimentos vividos por Lucas Marrão aos vinte e poucos anos, antes e durante a frequência da Academia de Belas Artes de Lisboa como “aluno voluntário”, ou seja, aluno externo. Aliás, a sua matrícula data de 10 de Novembro de 1847, ainda no rescaldo da guerra civil, mas no ambiente protector da capital. Vinte dias depois, o Visconde de Valongo é nomeado Governador Civil do Porto, onde os vapores revolucionários ainda pairavam. Já existia a Academia Portuense de Belas-Artes, criada por Passos Manuel em Novembro de 1836 e que ainda hoje funciona no mesmo edifício, como Escola Superior de Belas Artes da Universidade do Porto.

Lucas Marrão dedicou-se também à fotografia, uma novidade na época, que conciliou com a pintura. Abriu um estúdio em Lisboa, a “Photographia Artística”, chegando a realizar alguns trabalhos fotográficos para a Casa Real - segundo refere J. Quelhas Bigotte na sua Monografia de Seia.

Faleceu em Lisboa a 20 de Agosto de 1894. Em 1981, a Câmara Municipal de Seia atribuiu o seu nome a uma rua de Seia (junto ao Mercado Municipal, do lado do Solar de Santa Rita/Museu do Brinquedo) - ver Ruas de Seia com nome de artistas em "Escrita(s)".


Fontes:
Bigotte, J. Quelhas, “Monografia da Vila e Concelho de Seia”, 2ª edição,1986.
Bigotte, J. Quelhas, “Escritores e Artistas Senenses”, 1986.
H.C. Ferreira Lima, “Dois artistas esquecidos - Lucas de Almeida Marrão e João Baptista Minas” in “Revista de Guimarães”, vol. 54, Fasc. 1-2, 1944 - Biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian
Pamplona, Fernando, “Dicionário de Pintores e Escultores”, Vol. IV
Matias, José Alberto Ferreira, “A propósito duma litografia de Seia”, in Jornal de Santa Marinha nº 96, 98, 100 e 101, Seia, 1997.
Biblioteca Nacional de Portugal/Biblioteca Digital