segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Dora Tracana - Pessoa poética


Nasceu a 1 de Janeiro na Guarda e vive actualmente entre Seia – onde trabalha – e Coimbra – onde concluiu a licenciatura em escultura / variante Pedra e Madeira, em 1995, na Escola Superior de Tecnologias Artísticas de Coimbra, e frequenta actualmente o mestrado em comunicação estética.


A escultura de Dora Tracana faz sentido, desdobra-se em simbologias e narrativas poéticas perspectivadas pelo título - “A Porca da Vida” ou “O Tempo; Pêndulo, Cruz, Paixão”, por exemplo (ver estas e outras esculturas em www.amar-arte.blogspot.com), mas sua principal característica distintiva é o modo como explora a dialéctica dos materiais e a interacção de formas significantes para questionar o sentido da vida e comunicar a sua interpretação do mundo.


Organizando alguns dos temas recorrentes, obtemos uma espécie de mapa de leitura: o Corpo, o Tempo, o Sofrimento, a Verdade, o Amor. Em "O Tempo; Pêndulo, Cruz, Paixão", por exemplo, para além da articulação específica de formas e de materiais, que têm uma gramática e sentidos próprios, a autora combinou os diversos elementos simbólicos para conferir ao conjunto um acentuado dramatismo, sobrepondo a ideia da passagem/contagem do tempo à de sofrimento para nos confrontar com duas verdades incontornáveis da vida e despoletar em cada um de nós a reflexão fundamental: quando, onde, como sofri, e porquê - pois só através desta reflexão conseguiremos saber se nos identificamos ou não com a perspectiva da autora. Seja qual for a conclusão, essa experiência passará a fazer parte das nossas vidas.


O conjunto de cinco peças expostas na Casa da Cultura de Seia (anteriormente vistas no CISE) permite uma experiência igualmente enriquecedora. Num texto intitulado "Pessoa", a autora explicita o seu projecto e apela à construção criativa da autenticidade da Pessoa, convocando cada um em particular ("TU").


"PESSOA


Este projecto pretende reflectir uma sociedade, através de cinco exemplares. Pode-se visualizar, nas peças escultóricas, um tronco (corpo), as raízes que o aguentam (suporte) e uma hélice em volta do corpo (vida). O corpo é o suporte do rosto (mascara), consoante a forma como esse suporte segura a mascara assim esta nos transmite uma expressão diferente. Temos então cinco corpos, Cinco suportes diferentes e cinco expressões diferentes. Tento com isto transmitir que muitas vezes somos moldados pelo meio em que estamos inseridos. A PESSOA pode ser a interpretação do papel que lhe coube representar. Consoante o texto que lhe foi destinado assim pensa, fala, actua, vive. Podemos encarnar a PESSOA do papel que nos foi destinado a representar no palco da vida. Podemos adaptar-nos ao molde que nos foi sorteado. A identidade do indivíduo tem por base o molde do meio que nos sufoca ou liberta, mas nunca a identidade de um indivíduo é uma realidade definitivamente estabelecida.


TU podes construir A PESSOA


Depende de ti seres TU.”



As 5 peças relacionam-se pela estrutura comum (poste/tronco; base/raízes/pés/garras) e por uma faixa branca que "estende" aos pés das figuras um excerto conclusivo de um texto da autora:
“A identidade do indivíduo tem por base o molde do meio que nos sufoca ou liberta, mas nunca a identidade de um indivíduo é uma realidade definitivamente estabelecida.”
A identidade de cada figura é dada por uma máscara suspensa do tronco por uma espécie de mola/hélice que envolve todo o "corpo" criando espaços próprios de movimento, acção, vida.

Fontes (biografia e foto da artista): Agenda Cultural CMS/Casa Municipal da Cultura de Seia.

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