No quadro “São João Batista” (1513), Leonardo da Vinci retrata
o jovem Salai.
O mais recente romance de Mário Cláudio é uma séria viagem
à oficina de Leonardo da Vinci (1452-1519), com uma base histórica credível, focada
na relação do mestre com os seus dois discípulos, Gian Giacomo Caprotti e
Francesco Melzi, muito em particular o primeiro, a que Leonardo chamava Salai
ou Il Salaino, “pequeno diabo”, "diabrete".
A vida de Leonardo regista diversos factos que alguns
biógrafos entendem ser a prova da sua homossexualidade, hipótese que continua a
gerar polémica nos meios eruditos. Quando ainda trabalhava com Verrocchio,
Leonardo foi ilibado por falta de provas de uma acusação anónima, mas manteve
depois uma relação muito próxima com os seus discípulos. Era comum os mestres
da época, e não só nas oficinas de artistas, contratarem jovens para o serviço
das suas casas, onde cresciam como se fossem da família e aprendiam o seu ofício.
Salai chegou ao estúdio de Leonardo em 1490, com apenas 10 anos de idade. Melzi, filho
de um aristocrata milanês, tornou-se seu aprendiz em 1506.
Apesar dos defeitos de Salai, que Leonardo classificou nos
seus escritos como "ladrão, mentiroso, teimoso e glutão", o rapaz de
Oreno era o favorito do mestre, que o utilizou como modelo. O quadro mais conhecido, retratando Salai, é o São João Batista (1513), existindo um desenho erótico realizado sobre um retrato de Salai - ou sobre um esboço do quadro - intitulado "O Anjo Incarnado" (c. 1515), descoberto na Alemanha em 1991. Após a morte do aprendiz, provavelmente num
duelo, Leonardo manteve o seu retrato (como São João Batista) junto à cabeceira até ao
último suspiro, em França. Francesco Melzi acompanhou o mestre até à morte e
assegurou depois a publicação póstuma dos seus escritos, imortalizando o génio
de Leonardo da Vinci.
“Retrato de Rapaz” (D. Quixote, 139 páginas, 12,90€)
evoca o pintor, o escultor, o inventor, o anatomista, a pretexto de um mergulho
nas relações humanas e sociais de uma época que viu nascer o Humanismo. Pelo
arrojo do tema e pela coragem de abordar um aspeto controverso da vida de Leonardo da Vinci, este romance adquire particular relevância
na obra de Mário Cláudio, 30 anos depois de “Amadeo” (1984),
sobre o pintor Amadeo de Souza-Cardoso.
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