José João Brito, Grupo escultórico de Homenagem aos Pescadores de Matosinhos, 2005, bronze. Foto: Sérgio Reis
À entrada da praia do Titã, no vasto areal de Matosinhos,
cinco grandes figuras de bronze com cerca de três metros de altura evocam a
tragédia de 2 de dezembro de 1947, os pescadores que não regressaram da faina e todos os sobreviventes que continuaram diariamente a ir ao mar, enfrentando com destemor as suas fúrias e a saudade dos familiares e amigos então desaparecidos.
O monumento é da autoria do escultor José João Brito (n.
Coimbra, 1941), que se baseou numa pintura de Augusto Gomes (n. Matosinhos, 1910-1976). Pela expressão e
pose das figuras de José João Brito perpassa o mesmo arrepio de aflição, dor e perda que o pintor matosinhense fixou na tela. Um trabalho
largamente conseguido pois a tensão dramática da cena mantém-se vista de
qualquer perspetiva – e mesmo do seu interior. Acessível no próprio areal, o
monumento permite a circulação entre as figuras, representando as mães, esposas
e órfãos dos pescadores levados pelo mar.
José João Brito é formado em escultura pela ESBAP (atual
FBAUP). Em 1967, foi-lhe atribuído o Prémio de Escultura “Teixeira Lopes”. Dedicou-se
também à cerâmica, pintura, desenho, gravura e medalhística – tendo sido
distinguido em 1995 com o prémio da melhor medalha sobre o tema “Descobrimentos
Portugueses”, instituído pela Imprensa Nacional Casa da Moeda. As suas obras
podem ser vistas na estação do metropolitano de Martim Moniz em Lisboa ou na
Murtosa, onde seu pai exerceu medicina.
O naufrágio coletivo de 1947 foi o maior desastre
marítimo ocorrido na costa portuguesa. Na madrugada de 2 de dezembro, uma
súbita alteração das condições do mar apanhou os pescadores desprevenidos em
plena faina. A maior parte deles conseguiu chegar a terra mas quatro traineiras
naufragaram. Morreram 152 pescadores, que deixaram 71 viúvas e mais de 100
órfãos. Muitos matosinhenses descendem desses pescadores tragicamente desaparecidos.
O monumento foi inaugurado em 4 de junho de 2005, pelo
então presidente da Câmara, Narciso Miranda, com a presença de um sobrevivente
do naufrágio e da viúva de um dos pescadores que pereceram no desastre. À data do naufrágio, a economia de Matosinhos baseava-se na pesca, para abastecimento das localidades que fazem hoje parte do Grande Porto e para a indústria conserveira local.
Augusto Gomes, “Tragédia do Mar”, óleo s/ tela, 124X164cm
"Tragédia do Mar" / Homenagem aos Pescadores de Matosinhos (pormenores)
José João Brito, Homenagem aos Pescadores de Matosinhos, 2005, bronze. Fotos: Sérgio Reis
Sem comentários:
Enviar um comentário