segunda-feira, 15 de agosto de 2011

MANUEL BAPTISTA

“Fora de Escala: Desenhos e Esculturas (1960-1970)” no Centro Cultural de Lagos

Graças à colaboração da Fundação EDP com o Centro Cultural de Lagos e ao seu envolvimento no Allgarve’11, a exposição Fora de Escala: desenhos e esculturas de Manuel Baptista (1960-1970) realizada no Museu da Eletricidade entre 26 de fevereiro e 15 de maio de 2011, pode ser vista em Lagos até 8 de outubro.

A exposição reune desenhos e projetos menos conhecidos do artista algarvio, realizados desde meados dos anos 60 a meados dos anos 70. Alguns desses projetos só recentemente foram concretizados em esculturas, para a exposição homónima no Museu da Eletricidade, o que amplia o interesse da exposição em Lagos. O crítico e curador da exposição/Fundação EDP, João Pinharanda, fala mesmo em “rara oportunidade histórica”, a propósito da exposição de Lisboa, classificando justamente a exposição como “uma das mais significativas exposições nacionais deste ano” (1)

Joaquim MANUEL Guerreiro BAPTISTA nasceu em 1936 em Faro, cidade onde reside. Em 1957, matriculou-se na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa para frequentar Arquitetura mas acabou por se licenciar em Pintura, em 1962. Foi bolseiro da FCG em Paris (1962-63) e do IAC em Ravena (1968). Lecionou pintura na Escola de Belas Artes de Lisboa até 1972.
Artista abstrato geometrizante, a sua obra é marcada pelos grandes espaços iluminados e cores do Algarve, em formas justapostas que lembram a “confluência da luz e da sombra” (Rocha de Sousa, “Manuel Baptista – relato duma pesquisa coerente”, Colóquio-Artes, junho de 1974), relevos e “formas recortadas que dá origem a um subtil claro-escuro e que permite sucessivas leituras das superfícies” (Fernando Azevedo, catálogo da exposição “Pintura Portuguesa de Hoje, Abstratos e Neo-Figurativos”, Lisboa, Salamanca, Barcelona, 1973). Uma obra que se alarga à tapeçaria e à gravura.

Realizou a sua primeira exposição individual em 1957, no Círculo Cultural do Algarve, Faro. Apresentou a sua primeira exposição retrospetiva de desenho e pintura (1956-1988) em Loulé, no Convento do Espírito Santo. Até 2011, realizou mais de trinta exposições individuais e participou em largas dezenas de exposições coletivas.

Nos anos 60, passou a registar o seu pensamento estético em cadernos diversos, ideias expressas pelo desenho, com uma sequência lógica e datada. Alguns desses registos e cadernos (1961-1993) integram a exposição, relacionados com as esculturas finalmente realizadas em 2011: “Porta-arbustos” (1968-70/2011); “Arbusto 1” (sem data/2011); “Duplo Arbusto” (1968-70/2011); “Envelope 1” (1968-70/2011); “Arbusto 2” (1968-70/2011); “Camisa e Gravata” (1973/2011 - Alumínio); “Camisa e Gravata” (1973/2011 – Néon e alumínio); “Objeto Suspenso (Metal)” (1968-70/2011); “Novelo” (1968-70/2011); “Mesa Posta (sem data/2011); “Objeto Suspenso” (1968-70/2011 – réguas de madeira); “Duplo Objeto” (sem data/2011); “Casulo” (1968-70/2011); Arbusto Paisagem (sem data/2011); “Ball of Thread” (1968-70/2011); “Corbeille” (1973/2011). A exposição permite, assim, redescobrir uma faceta pouco conhecida do artista e contribuir para a reescrita da história da escultura portuguesa da década anterior a 1974. Nessa década, vários artistas não conseguiram concretizar os seus projetos e, segundo João Pinharanda (3), “a História da Arte em Portugal teria sido diferente" se as tivessem concretizado.
Em 1990, realizou uma exposição retrospetiva de pintura (1963-1990) na SNBA. Em 1996, teve lugar da Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea , em Almada, a primeira exposição antológica. A exposição “Fora de Escala” no Museu da Eletricidade (2011) representou, para o artista, “a concretização de um sonho”(3).

Foi distinguido com vários prémios, entre os quais: 1º Prémio de Pintura no I Salão de Vila Franca de Xira (1960); 1º Prémio de Pintura na Exposição Guérin (1968); Prémio Soquil (1970); 2º Prémio ARÚS (1982); Grande Prémio de Pintura da IV Bienal de Vila Nova de Cerveira (1984); Prémio de Aquisição na II Mostra de Lagos (1984).

A exposição oferece ainda dois videos, o primeiro dos quais sobre a reunião com o artista para escolher os projetos, materiais e cores. O segundo, apresenta imagens da montagem da exposição no Museu da Eletricidade, em fevereiro de 2011.

(1)- Textos de apresentação da exposição no Museu da Eletricidade, CCL e Allgarve’11.
(2)-Maria João Avillez, “Os Pintores do Levante”, Público Magazine, 24 de julho 1994.
(3)- Em declarações à Lusa por ocasião da exposição no Museu da Eletricidade.

Vista parcial da exposição (sala do r/c). Em primeiro plano, "Porta-arbustos" (1968-70/2011, acrílico e alumínio)

"Arbusto 1" (sem data/2011, alumínio)

Cadernos de desenhos (1961-1993)

"Arbusto 2" (1968-1970/2011, acrílico). Ao fundo, "Envelope 1" (1968-70/2011 - acrílico)

"Mesa Posta" (sem data/2011, madeira)

"Corbeille" (1973/2011, alumínio e néon)

Sugestões para um verão de artes


O verão português é tradicionalmente animado por eventos artísticos de grande dimensão e projeção, a juntar ao sem número de acontecimentos culturais que compõem – e bem - a oferta turística nacional. Pode até dizer-se que não há terra sem a sua exposição, feira, museu, todas de visita recomendada a quem desejar sentir de facto o espírito local e compreender verdadeiramente essas terras e as suas gentes. No entanto, essas mostras de autênticos tesouros locais são para se descobrir com surpresa, saboreando o encanto e a maravilha, e por isso eu nunca as incluiria num roteiro de viagem. Abundam acontecimentos artísticos de verão que, tal como os festivais de música ou de gastronomia, justificam por si só uma viagem ou um desvio, ou mesmo uma aventura de férias no Portugal desconhecido. Alguns deles são mesmo imperdíveis, por via de uma certa dimensão histórica (pelo que trazem de novo ou de irrepetível) ou devido à sua periodicidade bienal - especialmente quando se avizinham tempos difíceis, que podem baralhar as pintas dos dados da cultura e abalar o futuro de alguns destes eventos culturais.

Assim, deixo aqui algumas sugestões para um verão de artes, de norte a sul do continente, Madeira e Açores.

16ª Bienal de Cerveira - vista parcial da exposição no Forum Cultural

A 16ª edição da Bienal de artes mais antiga de Portugal oferece até 17 de setembro um conjunto diversificado de iniciativas centradas nas exposições em Vila Nova de Cerveira, a “Vila das Artes”. Cerca de 150 obras do concurso internacional e artistas convidados distribuem-se pelo Fórum Cultural, Castelo de Cerveira e Casa Vermelha. Se necessitar de um bom motivo para seguir até Vigo, a Bienal alargou-se esta ano à maior cidade da Galiza.

O Festival Internacional dos Jardins de Ponte de Lima é um evento paisagista que se realiza anualmente desde 2005 na vila mais antiga de Portugal, com objetivos vanguardistas e ambientais. Decorre de maio a outubro, na margem direita do Lima, este ano sob o tema “A Floresta no Jardim”. Concorreram 58 projetos de 12 países para os 11 espaços disponíveis. É também um dos poucos festivais pensados com um ano de antecedência e, para 2012, o tema é surpreendente e inspirador: “Jardins p’ra Comer”.


"My Choice" inaugurou a sede da EDP no Porto


Exposição “My Choice”, na nova sede da EDP no Porto. Até outubro, mostram-se 87 obras de 51 artistas, selecionadas por Paula Rego da vasta coleção de arte do British Council. Entre elas, obras pouco conhecidas de David Hockney e uma obra de Lucian Freud, recentemente falecido. Visite também a exposição “Off the Wall” no Museu de Serralves, ali perto, organizada pelo Whitney Museum of American Art, de Nova Iorque.

Coimbra continua a fazer boa figura com o seu Festival das Artes, este ano dedicado às “Paixões”. O festival termina a 31 de julho mas a exposição coletiva “A Pulsão do Amor”, que reune 20 artistas portugueses e estrangeiros, decorre até 17 de setembro, no Edifício do Chiado. Uma boa oportunidade para ver parte da coleção do Millenium BCP.

Lisboa mostra a exposição “Ecos do Fado na Arte Portuguesa”, uma viagem pela arte portuguesa dos séculos XIX a XXI. Dotado de características únicas e marcantes, candidato a Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela Unesco, o Fado inspirou diversos artistas nacionais de renome e essas obras podem ser apreciadas até 17 de setembro na Sala do Risco, no Terreiro do paço. Ainda em Lisboa, no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, decorre até 09 de outubro uma importante exposição retrospetiva de João Penalva, um dos artistas portugueses mais internacionais, radicado em Londres há cerca de 40 anos.

O Festival de Performance e Artes da Terra, Escrita na Paisagem, decorre até setembro em Évora e outras localidades alentejanas, com várias exposições, teatro, dança, música, performance, workshops. Duas instalações inspiradas em Christo e Sam Spencer transformam o centro de Évora, palco central do festival e ponto de encontro de cumplicidades culturais com Avis, Estremoz, Montemor-o-Novo e Moura.



A programação das artes no âmbito do ALLGARVE’11 continua insuficiente e sem uma linha orientadora – para além de exibir as principais coleções institucionais portuguesas. Nesta 5ª edição, mostram-se obras da coleção da Fundação EDP em três exposições, duas das quais com particular interesse. “Da discussão nasce a luz”, reune em Loulé grandes nomes da escultura portuguesa contemporânea, muito bem representada na colecção da EDP. De notar, a feliz conjugação das esculturas com a vocação religiosa do espaço do Convento de Santo António dos Capuchos de Loulé. No Centro Cultural de Lagos, não deve perder-se a exposição de desenhos e esculturas do artista algarvio Manuel Batista (n. Faro, 1936). Foi também acertada a colocação da obra de Joana Vasconcelos (“Tutti Frutti”) no Aeroporto de Faro, uma importante porta de entrada no Algarve. Em Faro, mostra-se fotografia de Francisco Tropa e Eduardo Gageiro.


No Porto Santo, Madeira, decorre até final de agosto a IV Bienal Internacional de Arte Contemporânea, com obras de artistas de 35 países expostas nos mais diversos edifícios públicos e jardins. No início desse mês, a Feira dos Petiscos vai ajudar à festa.


Nos Açores, as Festas da Praia da Vitória, na Ilha Terceira (29 de julho a 7 de agosto), serão marcadas este ano por uma forte aposta nas artes plásticas devido à recente formação da Academia da Juventude e das Artes. Na Ilha do Faial, a exposição do Concurso Multiartes Porto PIMtado será inaugurada a 27 de agosto e decorrerá até 25 de setembro, na Fábrica da Baleia.


Exposição de aguarelas de António Cavaco Silva (Boliqueime, 1947-2010), na Galeria de Arte Pintor Samora Barros, Albufeira - 6 a 30 de Agosto 2011