A partir de 12 de Fevereiro e até ao início de Maio, a Fundação Calouste Gulbenkian proporciona uma viagem ao género da Natureza Morta na Pintura Europeia dos séculos XVII e XVIII, o período de renovação e consagração do género.
Comissariada por Peter Cherry (do Trinity College de Dublin, especialista em natureza morta), "A Perspetiva das Coisas: a Natureza Morta na Europa, séculos XVII a XX" estende-se por dez núcleos com um total de 71 obras provenientes de colecções privadas e de museus como a National Gallery of Art (Washington), National Gallery (Londres), Metropolitan Museum de Nova Iorque), Museu do Louvre, Museu do Prado, entre outros.
A exposição mostra o género no seu esplendor, através de obras de diversos artistas europeus. Inclui uma das poucas naturezas-mortas pintadas por Rembrant, "Pavoas Mortas", assim como uma obra de Francisco Goya, "Natureza-morta com Lebres", e obras de Jean-Siméon Chardin, Fede Galizia, Juan Fernandéz, Paolo Porpora, Juan de Zurbarán, Juan Sánchez Cotán.
Em declarações à imprensa, João Castelo Branco, director do Museu Gulbenkian, considerou esta exposição como "o projecto mais ambicioso neste museu desde a sua abertura".
A representação de objectos inanimados de cunho realista remonta à Grécia antiga mas apenas se tornou género artístico no final do século XVI, quando o mercado da arte se abriu aos gostos dos burgueses ricos e a obra de arte deixou de ser um exclusivo da aristocracia rica – que dominava inclusive a Igreja. Nesta fase, destacaram-se os artistas Pieter Aertsen (1507 ou 1508 - 1575), Jacopo Bassano (1510 - 1592), Giuseppe Arcimboldo (1527 - 1593) e Caravaggio (1571 – 1610).
No início do século XVII, o espanhol Juan van der Hamen y León (1596 - 1631), grande rival de Diego Velásquez (1599-1660), introduz um novo paradigma no género, reduzindo o número de objectos da cena e colocando-os em diferentes níveis e planos (vide “Natureza-Morta com Frutas e Objectos de Cristal”, 1626).
A denominação “Natureza morta” terá surgido na Holanda no século XVII. O género é também conhecido por “natureza imóvel”, “vida imóvel” ("still life", "stilleben", nas línguas saxónicas). Na Espanha, vulgarizou-se o termo “Bodegodes” e o género tornou-se popular, permitindo a sobrevivência económica de pintores que não viviam sob a tutela do rei e de outros mecenas, ao mesmo tempo que permitiu apurar as técnicas de representação, pois a concorrência entre artistas obrigava-os a mostrar destreza técnica naturalista. As naturezas mortas espanholas do século XVIII e XIX retratam pormenorizadamente as condições socioeconómicas e os hábitos domésticos da classe média e alta.
O género aborda a representação de seres inanimados, como frutas, flores, caça, livros, taças de vidro, garrafas, jarras de metal, porcelanas, entre outros objectos, o que fica explícito ao longo dos dez núcleos da exposição na Gulbenkian: "O encanto das coisas pintadas"; "Momentos preciosos"; "Um festim para o olhar"; "Doçarias"; "Jogos de luz"; "Natureza e artifício"; "Tributos florais"; "Animais de imolação"; "Questões de vida e de morte" e "Revivalismo e ruptura".
A Natureza Morta atingiu o seu auge no século XVIII, com Jean-Siméon Chardin (1699 - 1779), cujas telas de pequena dimensão evocavam a tradição holandesa da pintura de gabinete, sobretudo com “A Arraia” (1728). Esta obra distingue-se pela renovada composição (a disposição dos objectos sugere directamente a actividade humana) e representação das texturas do linho e da cerâmica.
Com os impressionistas, a “natureza-morta” volta a ser encarada como nas origens, “natureza imóvel”, um género sem tema, em especial com Paul Cézanne (1839-1906) e Vincent van Gogh (1853 - 1890). A obra “Natureza morta com maçãs” (1890), de Paul Cézanne, marca esta fase. Um renovado interesse pela natureza, as novas tecnologias ligadas à pintura, o aparecimento da fotografia e o carácter experimentalista da arte moderna aboliram o naturalismo em favor de uma nova concepção de cor, luminosidade, figura e espaço. Os cubistas deram-lhe especial destaque, já que se proporcionavam às suas pesquisas plásticas de atelier,
Giorgio Morandi (1890 - 1964) é um dos pintores modernos que mais tem abordado o tema da natureza-morta.
Maurice de Vlaminck, Natureza Morta, 1907
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